O VÍCIO DA BOLA
por Evandro Sousa
Desde cedo, ainda garoto, o futebol corria nas minhas veias. A minha escolinha foram as ruas enladeiradas de paralelepípedos do bairro de Santa Teresa. Corria atrás da bola todo dia, de dia e de noite, era um vício. Nas quadras do colégio Tomaz de Aquino antes de começar a aula, no recreio, na aula de “ginástica”, não tinha tempo, nem hora, todo dia era dia de bola.
A medida que fui crescendo, passamos a jogar no Capri, campinho de terra, em um terreno de um castelo abandonado, próximo ao Museu da Chácara do Céu. Nos sábados e feriados, as peladas eram concorrida, e conheci outros viciados da bola por lá. Era permitido jogar com um pé direito ou esquerdo de umpar de conga ou kichute, alguns dividiam o par com o outro, conforme o pé, uma tornozeleira, outros tinham um “rainha”, não interessava, o importante era jogar. Guará, Vitinho, Wilsinho, Beto Negão, Sizinho, Xuxito, Gusto, Thomas “Banks” e tantos outros. Ah, Sizinho era um jogador alto, canhoto que chutava forte e tirava onda com a galera quando fazia gol. Sizinho era como chamavam o Sérgio Pugliese, que ainda é viciado em bola.
Logo conheci Seu Miguel, presidente do Santa Teresa FC, time de pelada que disputava seus jogos nos torneios do Aterro do Flamengo. Com sua Kombi, todos os domingos pela manhã, saía recolhendo os meninos, como ele chamava, para mais um jogo. A charanga do Santa Teresa e seus torcedores que desciam do Morro do Fallet para empolgar a molecada. Mas ao mesmo tempo eu jogava futebol de salão pelo Ginástico Português, clube social, localizado no centro do Rio de janeiro
Santa Teresa FC
Ate que fui convidado para fazer um teste no Flamengo. Me deram um cartão com minha foto e o local onde eu teria que me apresentar para o teste. Me sentia jogador do Flamengo, apesar de ser botafoguense. Durante um mês e meio, toda terça à tarde, me dirigia para a Ilha do Governador e o campo do Cocotá parecia a bandeira do Brasil, só era verde no losango, o meio era careca e muita areia. O treinador era o saudoso Dida, paciente, e mais de 300 meninos a cada terça tinham vinte e cinco minutos pra mostrar o que valiam. Todo mundo corria atrás da bola e no final ele dizia quem tinha que voltar (minoria) e a tantos outros um boa sorte. Assim, fui ficando, cada vez que meu nome estava na lista da próxima semana, saía feliz da vida. Depois, fomos para outra base de avaliação em Marechal Hermes. Lá passei mais seis semanas com um grupo mais selecionado, e assim eu e mais dois garotos fomos parar na Gávea. Tive a oportunidade de ver Zico, meu ídolo, treinar exaustivamente e repetitivamente faltas até escurecer, ao ponto do goleiro Cantareli nem enxergar aonde a bola entrava. Mas a passagem não foi duradoura. Em um período de viagens do juniores, o treinador Julio César me pediu para aguardar ele chegar de viagem, mas fui treinar no Botafogo escondido. O supervisor descobriu, me deu uma bronca, fiquei envergonhado e fui embora. No Botafogo, o treinador era Joel, ele disse que eu não iria ficar e ordenou que eu fosse trabalhar e ajudar a minha mãe que tinha mais futuro. Nem Botafogo, nem Flamengo.
Estava de férias, jogava minhas peladas e em uma viagem a cidade de Caruaru, Pernambuco, onde nasci, souberam que tinha passado pelo juniores do Flamengo, e me convidaram para jogar o Campeonato Pernambucano de Juniores pelo Central SC. Fomos campeões Pernambucanos em 1983, primeiro título oficial do Central de Caruaru, e logo fui promovido para o profissional. Na equipe principal, fomos campeões do módulo amarelo da Série B do Campeonato Brasileiro de 1986. Vale destacar que durante o Campeonato Brasileiro pelo Central, fomos jogar a principal contra o Fluminense, no Maracanã, e quando cruzamos nos vestiários com o pessoal do Botafogo, que tinha feito a preliminar, cruzei com o treinador Joel Martins, aquele que havia me dispensado do Botafogo e dito que eu não teria sucesso.
Em seguida, em 1988, fui para o Santanese, clube da 3ª divisão do Campeonato Paulista.
Em 1989, contratado pela Chapecoense, fui capitão do time e muito bem recebido pelos dirigentes e povo daquela cidade. Capitão que é capitão ajuda na gestão do grupo, e em uma situação caricata me chamaram para resolver um problema com o jogador Lima, que havia se lesionado. Recém-emprestado pelo Atlético-PR, o atleta gostava da noite, e havia uma ordem para fechar a porta da concentração às 23h. Acontece que Lima se empolgou e chegou depois da hora. Como fecharam a porta e não abriram, ele escalou o muro lateral do prédio, subindo pela calha de alumínio, que não resistiu, e o jogador caiu em cima da garagem do vizinho. Resultado: lesão e demissão por indisciplina.
Em seguida, tive uma passagem pelo Brusque, onde disputei segunda divisão do Brasileiro, antes de ser contratado pelo Joinvile, quando tive o prazer de jogar com Nardela, Moreno e outros bons jogadores.
No final de 1990, embarquei para Portugal com a promessa de que estava tudo acertado com o Braga, mas era conversa do empresário, que queria que eu fizesse teste. Quase voltei, mas fiquei dois meses treinando em um clube de Lisboa em um campo de terra, até que vesti a camisa dV Torrense, clube da cidade de Torres vedras. Assinamos por seis meses, e depois de 27 anos na segunda divisão, conseguimos o acesso à primeira, no último jogo, no último minuto. Uma festa, a cidade parou para celebrar o feito e Fiquei mais dois anos no clube.
Em seguida fui convidado para ir para Tirsense FC, clube da 2ª divisão da cidade de Santo Tirso, próximo ao Porto. Fomos campeões ganhando o acesso à primeira divisão e só perdemos um jogo, o último. Em seguida na elite do futebol português, fizemos um excelente campeonato, mas, até onde eu sei, não fomos às competições europeias por questões políticas no clube. Ganhei o prêmio de melhor médio direito estrangeiro do campeonato.
Com a campanha, fomos contratados pelo Braga com objetivo de alcançar às competições europeias. Não conseguimos, voltei para o Tirsense que tinha caído de divisão e a estrutura já não era mesma. Em seguida fui para o Marco de Canaveses, clube de uma excelente estrutura de trabalho, na segunda divisão. Acontece que antes de acabar o campeonato, faltando oito jornadas, o treinador entregou o cargo e juntamente com a diretoria me indicou para assumir como treinador. Na época, com 34 anos, fiquei assustado, mas peguei o desafio, e ainda tivemos um aproveitamento de quase 70%. Chegaram a falar que, se eu tivesse assumido antes, o clube subira.
De férias no Brasil, fui convidado pelo presidente do Central, um delegado na época, para assumir o time, pois tinha caído de divisão, estavam sem dinheiro e sem estrutura para contratar. Uma lembrança, toda vez que o presidente queria conversar comigo ele colocava as duas pistolas em cima da mesa, não para me intimidar, mas para dizer sempre que quem tentasse prejudicá-lo ganharia bala. Aceitei o desafio, com uma equipe de garotos da região fomos campeões da segunda divisão do Campeonato Pernambucano, meu terceiro título no Central e oficial do clube.
Em seguida a AGA, clube da cidade de Garanhuns-PE, me convidou para um projeto de subida de divisão. O amadorismo era grande, mas também uma escola para mim. Conquistei mais uma vez o Campeonato Pernambucano da segunda divisão, em 2001. Montamos uma bela equipe e, além disso, ajudamos a gerenciar o clube na primeira divisão, que terminamos em 5º lugar com o menor orçamento da competição.
Fiz cursos de gestão esportiva, de treinador, depois estive no Porto de Caruaru, clube de formação que lançou grandes jogadores no Brasil e no mundo, como: Rômulo (Flamengo), Josué (São Paulo), Araújo e tantos outros. Lá fui treinador, supervisor e até coordenador técnico.
Mas teve um tempo que cansei do amadorismo, e a falta de oportunidade em um clube melhor me desestimulou. Mas como futebol é um vício, me convidaram para ser comentarista em uma rádio de Caruaru, e durante alguns anos colaborei com as resenhas esportivas. Certa vez, estava comentado um jogo entre Central x Náutico, e as cabines de rádio ficavam bem acima da torcida do Timbu. Após comentar que o time do Náutico era fraco, a torcida só não invadiu a cabine graças a Deus e aos policiais militares. O vício continua, assistindo na TV, nos campos, e hoje colaborando com o Museu da Pelada com a minha história.
CANTUSCA 2018
Não é de hoje que o Canto do Rio Foot-ball Club tem o desejo de retornar ao futebol profissional. Após sete anos afastado das grandes competições, o clube retornará em 2018 aos campeonatos estaduais, que não disputa desde 2010. Para concretizar o sonho, o alvianil lançou na última quinta-feira, dia 30, o Projeto Cantusca 30, com o objetivo de unir 30 parceiros para recolocar o clube no cenário esportivo nacional.
Empresas importantes já se associaram à iniciativa como a concessionária Enel, a Universidade Estácio de Sá, a Academia JHAreias.Com, a Plural Sports e a Gráfica Nitcolor.
O projeto é inédito em todo o Brasil e tem como mentor João Henrique Areias, especialista com mais de 30 anos de experiência em Marketing Esportivo. O desenvolvimento prático foi feito por Gustavo Macedo, coordenador de negócios da Academia JHAreias.Com. Os objetivos da iniciativa são audaciosos e buscam recolocar o Cantusca na primeira divisão do Carioca, entre os dez melhores do estado, classificar o time para grandes competições nacionais (Série D do Brasileiro e Copa do Brasil) e renovar e posicionar a marca do clube como uma referência na região metropolitana, no estado do Rio de Janeiro e no Brasil.
O Canto do Rio já tem em sua agenda de 2018 o Campeonato Carioca de Profissionais (Série C) e Carioca Sub-20. Em breve, o clube divulgará informações sobre Estádio, Centro de Treinamento, comissão técnica e elenco.
O QUARTO PODER
por Idel Halfen
A expressão “quarto poder” foi cunhada tendo como base uma espécie de equiparação da imprensa aos três poderes do Estado: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, de forma que o poder da mídia servisse como um contraponto no que diz respeito ao zelo pela liberdade de expressão e defesa contra eventuais ações de censura.
O tema é vasto e possui vários desdobramentos e pensamentos em torno dele, porém, nesse texto a proposta é questionar até que ponto é legítimo abusar do “poder” da mídia para sobrepujar as decisões dos demais poderes constituídos.
Como instrumento para esse questionamento vamos utilizar um infográfico publicado na seção de esportes do jornal O Globo em 4 de dezembro de 2017, no qual foram listados todos os clubes campeões brasileiros de futebol e os anos de seus respectivos títulos.
Nesse material foi possível constatar que o título de 1987 aparece tendo dois campeões, valendo salientar que o STF já havia decidido em favor de um deles. Claro que a decisão do tribunal dá margem a concordâncias e discordâncias, mas esse não é o ponto que pretendo explorar, e sim o respeito que deveria haver pelo veredito.
Essa necessidade se faz ainda mais presente nesse momento em que a disseminação de informações através de redes sociais atinge proporções absurdas, sendo que muitas delas aparecem distorcidas, ou pior, são totalmente mentirosas. Tal cenário seria uma ótima oportunidade para consolidar o posicionamento dos veículos dito independentes como guardiões e propagadores da verdade, contribuindo assim para referendar sua credibilidade, além de prestar um serviço honesto a quem demanda por eles.
Não questiono o direito de a imprensa opinar ou mesmo de relatar toda a sua contrariedade sobre alguma medida, aliás, penso que esse é um dos seus deveres, pois dessa forma proporciona à população a possibilidade de refletir sobre os temas, ao invés de simplesmente acatá-los como verdades absolutas.
Pode até ser que para alguns, o fato de um veículo de comunicação estabelecer por conta própria quem foi o campeão há 30 anos pareça um mero detalhe. Respeito, apesar de eu achar que qualquer competição esportiva deva ser valorizada e respeitada.
Entretanto, o ponto que mais preocupa é a constatação de que a própria credibilidade e uma decisão proferida pela maior instância judiciária do país possam ser ignoradas por questões estranhas ao que o próprio jornal prega em seus editoriais.
É claro que não podemos ficar cegos ao fato de que os meios de comunicação, muito diferentes do que eram no passado, fazem parte de conglomerados que buscam obstinadamente a rentabilidade de seus ativos, o que poderia indicar que uma linha editorial favorável à maioria da população viesse a facilitar o atingimento dos objetivos econômicos. Contudo, creio ser possível “agradar” essa maioria através de artigos e opiniões sem que haja a necessidade de se distorcer os fatos e ignorar decisões judiciais.
A IRMANDADE DO RÁDIO
por Claudio Lovato
Isto começou a acontecer há muito tempo e continua até hoje.
São quatro amigos que moram em uma pequena cidade do interior. Uma cidade cercada de morros, quente como uma fornalha no verão, fria como uma geleira no inverno.
Uma cidade pequena que tem um clube de futebol que fez e continua fazendo estragos e história entre os grandes.
Em todos os dias de jogo, os quatro amigos – Renê, Lauro, Francisco e Cléber – se reúnem no bar do primeiro para ouvir pelo rádio a transmissão do jogo daquele time que é do coração de todos eles.
Só os quatro – porque quando é dia de jogo Renê fecha as portas do bar, e ninguém ousa bater; todo mundo sabe que em dia de jogo o Renê fecha a birosca.
As narrações. É tudo por causa delas.
Renê, Lauro, Francisco e Cléber só ouvem os jogos com a narração feita por uma certa pessoa, numa estação que só eles conhecem.
O narrador é Jairo, Jairão, irmão deles todos.
Tudo por causa das narrações do Jairão.
Tentando explicar: as narrações do Jairão são capazes de transportar o ouvinte não apenas para dentro do estádio, mas para dentro do próprio campo de jogo.
Fazem o ouvinte escutar o jogo de pé, de tanta vibração que aquela voz é capaz de transmitir; aquela voz é adrenalina e paixão puras e concentradas.
Tentando explicar: as narrações do Jairão misturam descrição técnica minuciosa com poesia delirante; leitura tática precisa com a fantasia mais viajante.
Levam o ouvinte para um outro estágio da experiência de acompanhar o jogo pelo rádio; fazem o ouvinte viver uma experiência transcendental, mística, religiosa.
As narrações do Jairão são aquilo a que se chegou de mais perfeito em termos de manifestação física do amor pelo futebol.
E lá estão eles de novo, os quatro, nesta quarta-feira à noite de chuva, vento e frio, sentados em torno da mesa que fica no meio do boteco, tomando suas cervejas e suas pingas, fumando seus cigarros, olhos marejados, sempre marejados, como velhos marujos à deriva, ainda assim felizes por estarem no lugar ao qual pertencem mais do que a qualquer outro.
Estaria tudo isso dentro de uma certa normalidade se não fosse um fato que tornaria tudo incompreensível e inaceitável e inacreditável e bizarro para os que dele tivessem conhecimento fora daquele grupo de amigos-irmãos; o fato que tornou tudo mais triste na vida deles, mas que, ao mesmo tempo, deu origem a essa celebração que acontece em cada dia de jogo do time e que os fez enxergar a vida (e a morte) de uma nova forma, de um jeito que não conseguem explicar – nem querem.
Não, Jairão não está mais entre eles. Sim, Jairão sempre esteve entre eles, e continua e sempre estará, a cada novo jogo nessa estação de rádio que só eles conhecem e que se encarrega de mantê-los unidos, aconteça o que acontecer.
HAMLET NO LAVÍNIA E O BLUES DO PICOLÉ DE FRAMBOESA
por Marcelo Mendez
(Foto:Fabiano Ibidi)
Sim, o cronista está feliz.
Com todos os raios multi coloridos de um domingo em fúria e seu calor absolutamente dantesco, aqui estou eu, poeta das letras ludopédicas, buscador renitente de um verso lírico, sagaz caçador de poemas improváveis, vivendo um daqueles amores que redimem o homem de todas as besteiras que ele faz.
Um instante na vida em que nada parece incomodar. O pernilongo, a conta de luz, o entregador de gás que demora, a pia que entope, o cachorro que late, o esquilo que corre a cerca… Nada atrapalha e tudo vira verso. Toda a Poesia do mundo reina no olhar de um homem em meio a umas de amor.
Pois é…
Munido de todo esse sentimento, parti do Jardim Lavínia em São Bernardo para ali, cobrir a Copa Regional. Me foi dito que ali aconteceria algo parecido com uma pré temporada dos times de várzea. Uma besteira, copiada dos clubes profissionais que decerto em outros tempos que não estes de amor, eu reclamaria horrores, rogaria todas as pragas do universo contra a pauta e arrumaria boas dores de cabeça ao bom editor.
No entanto, sabedor das coisas da várzea que sou, bem imaginei que dali não sairiam grandes coisas. Afinal, depois das festanças do término dos principais campeonatos da várzea do ABC, calor de novembro, domingo de manhã, enfim; ninguém ali correu muito.
O jogo era entre Jardim do Ipê e Águia Branca. Sob um sol intenso de 35 graus, em uma grama sintética que jogava isso para uns 40 graus sem dó, as duas equipes duelavam bravamente em preguiça de fazer inveja a Dorival Caymmi. Uma leseira para ser curtida ao som de Bob Marley a cantar seu hino “Catch a fire”. Uma canseira tamanha, que contaminava a todos ali na cancha.
Dona Raquel, 59 anos, moradora do Ipê, ali a meu lado se queixava do preço do sorvete de picolé e do serviço apresentado pelo moço que suava em bicas para ganhar seus trocados.
– Eu até queria comprar, mas olha lá onde ele tá… Lá do outro lado. Não vou dar essa volta debaixo de sol.
Munido do mesmo drama, Seu Salvador, 61 anos, morador do Bairro Assunção, se apertando em uma pequena sombra ao lado do campo, relatava ao cronista sua decisão:
– Eu queria até tomar um café afinal são onze horas. Mas com esse calorão, sabe como é… Uma cervejinha é mais de Deus né…
Não querendo atrapalhar a sagração do simpático senhor, nada disse, apenas sorri. Tomando como um consentimento de causa, lá foi Seu Salvador em rumo da cerveja santa a refrescar suas quenturas.
Segui ali.
Príncipe cansado como um Hamlet resoluto, por detrás de meus óculos escuros, permaneci atento a qualquer outro réquiem de encanto que por ali reinasse. Vez por outra, dava uma olhadela no campo. Via por lá uns meninos tentando entender o porquê de seus suores em bicas mas de imediato entendi que ali não estava o que eu procurava. Não seria da cancha que sairia o verso. Por vezes é assim.
A poesia do futebol de várzea mora na improbabilidade, no imprevisto, no insólito. No que há de mais corriqueiro aos olhos nus da normatividade das rotinas diárias, está o que na várzea, inevitavelmente acaba se tornando épico. Sempre esta lá. Toda hora tem algo a se tornar imortal por aqueles cantos. Cabe ao cronista ficar atento para ver. E se por vezes não ver, bem…
Dei a volta no campo para Dona Raquel em busca dos picolés. Comprei dois de Framboesa…