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QUEREMOS ALMA!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Sinceramente não consigo entender toda essa ira por parte da torcida do Flamengo. Esse time deveria estar sendo exaltado por ter chegado aonde chegou. Foi longe demais!!!!

Há tempos venho chamando a atenção para a péssima qualidade do futebol carioca e o Flamengo está incluído nisso. O Flamengo terminou o Brasileiro com o mesmo número de pontos do Vasco, não se esqueçam disso.

Se ganhasse a Sul-Americana, esse torneio fraco que reúne os times que ficaram no meio da tabela em seus campeonatos regionais, estaria iludindo a torcida e daria chance à diretoria de gabar-se, de vir com esse discursinho de dever cumprido. A mim nunca enganaram! Time fraco, gerente de futebol fraco, técnico fraco. E pelo amor de Deus, o Independiente foi melhor do que o Flamengo e ponto!

Lembrem-se que o rubro-negro classificou-se para a próxima Libertadores com um gol de pênalti, no último minuto, contra um Vitória que lutava contra o rebaixamento. Não se iludam, esse time não os representa. Assim como os vascaínos não devem se enganar achando que esse grupo, sem contratações, irá muito longe. E não me venham com essa conversa mole de cansaço porque time bom ganha todos os torneios, inclusive os caça níqueis.


O Cruzeiro não ganhou a Tríplice Coroa com aquele timaço? O Real Madrid ganhou todos os torneios nesse ano, inclusive esse em cima de um Grêmio sem alma. O problema é que o melhor jogador do São Paulo é o Cuevas, o melhor chutador do Brasil é o Otero, o Flamengo se encheu de argentinos, peruanos e colombianos e nosso futebol vive uma esquizofrenia.

Sou a favor do intercâmbio, sim, mas de profissionais que venham nos acrescentar algo. O Vasco já anunciou um novo argentino e o Rueda se diz aluno do Parreira, esquece….. reparem que não sou eu quem bate na mesma tecla, mas o nosso futebol é que não sai da lugar.

Ganhamos sem convencer e até a Olimpíada foi nos pênaltis. Os argentinos também vivem uma péssima fase e só vejo Paulo Dybala como um destaque dessa nova geração, mas eles não perderam a alma, são mais nacionalistas do que nós, se entregam, jogam com brilho nos olhos, e a torcida reconhece. Nosso problema é que o futebol foi para o fundo do poço e arrastou a alma com ele.

BOTÃO DIDA

por Edmar Facó


Desde pequeno, Dida é meu ídolo. Na final do Carioca de 1955, ele fez quatro gols e o Flamengo venceu por 4×1 o América, no Maracanã, conquistando o segundo tricampeonato carioca.

Desde pequeno, gosto de brincar de botão sozinho ou com amigos. Gostava de reinventar jogos de futebol com os times cariocas do Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, São Cristóvão, Madureira, Olaria, Portuguesa, Bonsucesso e Canto do Rio. Nos campeonatos que eu organizava, entravam todos os times e ídolos.

Em junho de 58, do alto dos meus nove anos e meio, contratei o personagem da final do segundo tri para reforçar o time de botão e disputar a Copa do Mundo na vila onde morava. Minha seleção de botão foi a da Áustria. Não venci a Copa do Meiér na Vila, mas a seleção brasileira foi campeã da Copa do Mundo na Suécia.

A cada dia que eu brincava de jogar botão, tipo sete dias por semana, ficava mais cobra. Eu e meus botões. Com eles reinventava os passes e gols do Flamengo, em especial do Dida nos gramados. Com eles, era o técnico, jogador e narrador de partida. Estava em campo e no rádio. Eu e meus botões.


Joguei muito, até uns 17 anos, quando aposentei o Dida e todos meus botões numa caixa de tênis Kichute, no fundo de uma gaveta.

Mais tarde voltei a jogar para ensinar ao meu irmão-temporão-quase filho e meus dois filhos ,e o Dida voltou a brilhar nas mesas de botão. Os meninos dividindo seu tempo com os jogos de Atari. No Maraca, brilhava o Zico, ídolo dos filhos. Até que em um treino, com o filho que gostava de jogar botão, na hora de um chute ao gol… Creeeck… Dida se contundiu seriamente e quebrou as duas pernas em 3 pedaços. Foi operado de emergência com super-bond, com direito a transplante: encavalei os pedaços em cima de outro botão e refiz as superfícies e a bainha. Ele continuou jogando.

Depois de aposentado, joguei por uns tempos na Praça dos Cavalinhos na Av. Maracanã, nas manhãs de domingo, com um grupo em torno das mesas que um amigo botonista armava por lá. Um dia parou e não voltou. 

O mais legal na brincadeira de jogar botão é encontrar os amigos para um papo furado e discutir numa boa as regras, que estão sempre sendo mexidas desde sua criação, e comentar os jogos e notícias de futebol.


O jogo de botão foi criado pelo carioca Geraldo Cardoso em 1930. Antes de mim, do Dida e do Maracanã. E ele nem sabe, mas sinto saudade das partidas de botão nas mesas ou chãos contra os amigos da vila e ruas vizinhas, dos jogos no estádio de futebol torcendo na arquibancada pelo Dida e o Flamengo, ao lado do pai, amigos e a Charanga do Jaime, assim como dos deslocamentos de casa para o Maraca e da volta para casa de trem ou bonde.

Saudade dos golaços do Dida, dos amigos e do pai.

Até hoje, esporadicamente, ainda brinco de jogar botão, sozinho ou com novos amigos botonistas. A coluna grita e ri.

Em 2018, o meu botão Dida vai fazer 60 anos em junho; e seu técnico, 70 anos em dezembro.

Notas:

Botão = Jogador em forma de disco de várias alturas, diâmetros e inclinações das bainhas. Feitos de plástico, galalite, acrílico, osso, coco etc. Inicialmente eram botões usados em casacos, capas e batinas.

Dida, o botão = Amarelo opaco de galalite; altura 2,5mm, diâmetro da base 42,5mm e bainha 55º. Após a contusão e transplante em 95, encavalei sobre um botão transparente de janela de lotação; altura nova 5,25mm, novo diâmetro da base 45,5mm e bainha 55º. Medidas tiradas com régua escolar, pois não tenho paquímetro. O melhor e maior artilheiro do mundo dos campos de mesa e chão.

Paleta = ficha antiga de lotação ou de cassino ou disco similar de galalite.

Bolinha = de miolo de pão ou papel prata de bombom ou feltro ou dadinho ou disquinho ou botão de camisa ou etc.

Goleiro = caixa de fósforos com peso dentro ou de madeira ou de galalite.

Técnico = usa a paleta para movimentar os botões e é o narrador dos jogos. E as vezes apitava o jogo junto com juiz.

Dida, o jogador = Edvaldo Alves Santa Rosa. É o segundo maior artilheiro do Flamengo; o primeiro é o Zico que sempre diz que Dida foi seu grande ídolo. Zico, todo final de ano, organiza uma pelada com ídolos veteranos na Arena. Dida continuam brilhando com os ídolos eternos no Maraca céu.


Áustria = Na Copa do Méier entrou em campo com; Pompéia, Tomires, Pavão, Jadir, Dequinha, Jordan, Garrincha, Didi, Henrique, Dida e Babá. Na Copa da Suécia, Brasil 3×0 Áustria no 1°jogo, com Dida em campo. Ele se contundiu e foi substituído pelo jovem Pelé que com Garrincha e mais noves foram campeões invictos.

Maracanã = Estádio de Futebol construído para Copa de 1950 e foi considerado o maior templo do futebol mundial. Praticamente demolido em 2012 (mas isso é outro conto) e no seu lugar, construído uma Arena Multiuso para a Copa de 2014.

ESPECULAÇÕES DE FINAL DE ANO

por Idel Halfen


Com o fim da temporada brasileira de futebol os noticiários se voltam às possíveis transferências de jogadores, muitas delas efeitos de especulações infundadas plantadas por empresários ou por jornalistas ávidos por audiência.

Um simples comentário sobre a qualidade de um jogador tem a capacidade de ser transformado em “interesse na contratação”, uma mera sondagem chega ao público como “negociações avançadas”. Tais distorções talvez até consigam satisfazer os objetivos comerciais de curto prazo dos veículos, porém, imputam expectativas que, além de frustrarem os torcedores, expõem os jogadores cujas transferências não são efetivadas.

Sobre a frustração do torcedor não há muito que falar, cabe a ele guardar na memória quais veículos merecem credibilidade e não mais acessar os sensacionalistas mentirosos, a menos que tenha vocação para gostar de ser enganado, tema que não cabe aqui abordar.

Já sobre os jogadores a discussão é bastante interessante por envolver conceitos de gestão.

Estabelecido que nem toda notícia sobre transferência é verdadeira, cabe relatar que o fato de recusar uma proposta não faz de nenhum jogador uma má pessoa, tampouco do clube preterido uma instituição desacreditada.


Todo profissional tem o direito de avaliar as propostas que lhe chegam e optar pela que lhe pareça melhor, no futebol isso fica mais evidente em função dos noticiários, mas no meio corporativo esse tipo de situação é também ou até mais comum.

Deve também ficar claro que cada ser humano tem sua própria escala de valores, a qual pode se transformar ao longo da vida. Em vista disso, julgar as decisões estando de fora se caracteriza numa indubitável prova de ignorância, afinal de contas, o fato de uma escolha ser diferente da que faríamos não significa que a outra seja pior, nem melhor…

Um profissional costuma considerar em sua escolha: a remuneração oferecida, o tempo do contrato, a estabilidade, as perspectivas de crescimento, a visibilidade, o ambiente/cultura,  a situação financeira da organização, a localização, a imagem passada e, no caso do futebol, o comportamento da torcida e as chances de se sagrar vitorioso. Reforço que o grau de importância dedicado a cada um desses pontos varia em função das características e anseios individuais.


E onde entra o marketing nessa história? No caso de um clube futebol, partindo da premissa que exista um perfil pré-definido em termos de faixa etária, personalidade e momento na carreira, caberia ao clube identificar quais atributos costumam ser mais valorizados pelos jogadores com tais perfis e ao marketing trabalhar para que a instituição seja percebida como ótima nos pontos cuja avaliação contenham algum grau de subjetividade.

No caso de empresas, existem até publicações que elaboram rankings sobre as melhores para se trabalhar. Esses rankings atualmente têm o poder de balizar a escolha de muitos profissionais, além de ajudarem na retenção de talentos.

É claro que existem expressivas diferenças entre o esporte e o mercado corporativo, mas penso que a busca pela adaptação das práticas que têm dado certo em outros setores deveria ser um objetivo a ser perseguido pelos gestores, independentemente do ramo em que atuam.

O FINO DA BOLA

por Marcos Vinicius Cabral


Por alguns anos, foi atribuído erroneamente ao bairro Menino Deus, em Porto Alegre, a música do cantor e compositor baiano Caetano Veloso.

Anos depois, em entrevista ao programa Patrola da RBS TV (afiliada da Rede Globo na cidade gaúcha), o gênio da MPB relata ter conhecido, na capital do Rio Grande do Sul, um “menino” tão lindo que para ele era um “Deus”, razão da escolha do título de sua bela canção.

Se os versos harmônicos deste sucesso de 1978 tornaram o bairro conhecido despretensiosamente, havia ali, desde muito cedo, um garoto que costumava jogar bola até o sol se despedir.

Com as estrelas batendo à porta do céu em sua chegada, o pequeno “Maurinho”, então com 10 anos de idade, era chamado por seu Oquelésio e pela saudosa dona Luzia para vir tomar banho, jantar e dormir.

No dia seguinte, a maratona recomeçava: colégio, casa, futebol até tarde e casa novamente.

Com destreza, começou precocemente a mostrar na ponta-direita do União dos Onze – time tradicional do bairro – um futebol que chamava atenção.

– Começamos a disputar campeonatos da cidade no campo da Redenção e enfrentar Grêmio e Inter. Eu com 10 anos já jogava com garotos de 12, 13 anos. Eu vestia a camisa 7 e apesar de ser ponta-direita, voltava para ajudar na marcação – diz mostrando um sentido de coletividade desde pequeno.

Certa vez, foi jogar contra o Grêmio defendendo as cores amarelo e verde do União dos Onze, na casa do temido adversário.

Com os olhos fixados no gramado do campo suplementar – que ficava ao lado do estádio Olímpico – olhava os pingos fortes da chuva, que fizeram com que o confronto contra o tricolor gaúcho fosse cancelado.

Porém, antes de ir embora, um convite mudaria sua vida para sempre:


– Foi uma coisa bacana e bem casual. Estava vendo o treino dos meninos do Grêmio e o diretor gremista Fernando Zacouteguy, que havia jogado com meu pai há anos no futebol amador da cidade, me convidou. A partir de então, iniciei nas categorias de base do clube! – diz lembrando que começou como lateral-direito.

Mesmo se destacando nas categorias inferiores da equipe gaúcha de 1971 a 1975, foi pouco aproveitado e não foram poucas às vezes em que subia e descia de categoria numa gangorra sem fim.

Nesse período, convensou com seu pai sobre os rumos da carreira, enquanto questionava-se qual rumo seguir dali por diante.

Com uma velocidade impressionante, a história veio de encontro aos ouvidos argutos de seu Abílio dos Reis – considerado o maior garimpador de talentos do futebol gaúcho, tendo inclusive uma biografia escrita contando alguns causos de suas descobertas envolvendo a dupla “Gre-Nal” – e assim, quis o destino que se transferisse para o Internacional.

Na equipe colorada, com apenas 17 anos foi lançado e efetivado pelo técnico Ênio Andrade, que via nos treinos qualidades no menino para fazer parte do plantel.

No Beira-Rio, trocava passes com Falcão, chupava laranja com Jair, dividia esparadrapo com Mário Sérgio, pegava gaze emprestado com Batista, revezava aparelhos na academia de musculação com Valdomiro, matava a sede após os treinos  no mesmo bebedouro onde o goleiro Benítez também matava a sua e extraia o máximo dessa rica convivência que aqueles jogadores lhe proporcionavam.

Certa vez, em um treino de dois toques, Falcão o reeprendeu por não ter dado um “bico” na bola.

– Mas onde é o bico? – teria respondido o camisa 4 ao (futuro) Rei de Roma, deixando-o desconcertado.

No ano de 1979 – ano da conquista do tricampeonato brasileiro de forma invicta – o futebol conheceria um dos maiores zagueiros de sua história: Mauro Geraldo Galvão ou simplesmente Mauro Galvão!

Logo no primeiro ano de sua profissionalização, ganhou a primeira “Bola de Prata” da carreira! Criado em 1970 pela revista esportiva Placar, o prêmio era concedido para os melhores jogadores do Campeonato Brasileiro.

Envergou por 392 vezes a camisa do Sport Club Internacional, sendo tetracampeão gaúcho (1981-1984) e acabou convocado por Jair Picerni para as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984.

Havia na chamada “Sele-Inter”, 11 jogadores do time colorado que partiram daqui desacreditados, como o restante dos jogadores.


Mesmo tendo atletas da estirpe de Gilmar Rinaldi e Dunga, que seriam campeões mundiais em 1994 nos EUA, Gilmar Popoca, do Flamengo de Zico & Cia. – que viria a ser considerado o melhor jogador da competição – e Luís Carlos Winck e Aloísio, que conquistariam títulos expressivos, o Brasil ficou com a medalha de prata.

Na decisão, sucumbiu diante de 102 mil torcedores no estádio Rose Bowl, em Los Angeles, na derrota por 2 a 0 para a França, que havia conquistado a Eurocopa meses antes.

Dois anos depois, na Copa do Mundo no México, sofreu com o forte calor do Estádio Jalisco em Guadalajara e com a derrota nos pênaltis para a França de Platini,Tigana e Giresse. 

Sentado no banco de reservas, ao lado de Valdo e Leão, usando a camisa 16, viu a coreografia das bandeiras verdes e amarelas sumirem das arquibancadas, que acreditavam no título de Telê Santana e seus comandados Oscar, Edinho, Júnior, Falcão, Zico e Sócrates, remanescentes da brilhante seleção de 1982, na Espanha. 

Seria inimaginável que após sete anos vivendo as glórias de um time vitorioso, que lhe proporcionara uma Olimpíadas e uma Copa do Mundo, o destino reservaria a Mauro Galvão um desafio à altura de seu talento: trocar o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro!


Pois foi no segundo semestre de 1986, que ele trocaria o frio das serras gaúchas pelo sol das praias cariocas e desembarcaria na cidade maravilhosa para jogar no Bangu Atlético Clube – que havia sido vice-campeão brasileiro um ano antes, perdendo a final para o Coritiba, em pleno Maracanã – a convite de Paulo César Carpegiani, seu treinador no Beira-Rio.

Apesar da conquista da Taça Rio de 1987 – um grande feito para uma equipe modesta – e do bom time montado pelo contraventor Castor de Andrade, se transferiu com Paulinho Criciúma e Marinho para o Botafogo.

– Mesmo estando 21 anos sem ganhar um título, o glorioso já era um time grande e precisava apenas exercer essa grandeza dentro de campo e recuperar a confiança no seu torcedor. E foi o que fizemos com a conquista do título carioca daquele ano”, diz lembrando do jejum de 21 anos que o clube da estrela solitária amargava.

O ano de 1989, foi um divisor de águas na vida profissional do camisa 4 alvinegro.

Além do carioca, foi campeão da 34° edição da Copa América, pela Seleção Brasileira – sua primeira e única conquista com a amarelinha – exibindo nos gramados auriverdes, um futebol exuberante.

Garantido na Copa do Mundo da Itália, ficou marcado na famosa “Era Dunga”, e foi eliminado pela Argentina de Diego Maradona, mesmo desempenhando bem o papel de líbero.

Depois disso, mesmo com o insucesso do Brasil nos campos italianos, foi valorizado e vendido para defender as cores preto e branco do Football Club Lugano, onde desfilou seu futebol por 6 anos.

Na Suíça, aprendeu outro idioma, conheceu novas culturas e cresceu intelectualmente e decidiu em comum acordo com a esposa Ana Galvão a hora de voltar.

Retornou ao Brasil em 1996 para, finalmente, defender o Grêmio, clube este que, na infância, quase o fez desistir do sonho de ser jogador profissional de futebol.

Conquistou nos dois anos em que permaneceu no Olímpico, o Campeonato Brasileiro de 1996 e a Copa do Brasil de 1997.

Atleta semovente e em busca de objetivos, venceu um Campeonato Brasileiro pelo Internacional, em 1979 e um pelo Grêmio, em 1996, curiosamente, em um intervalo de 17 anos, que foi a idade que deu seus primeiros chutes numa bola de futebol profissionalmente. 

Com uma carreira marcada pela técnica com que jogava, evitava as jogadas ríspidas dentro das quatro linhas e fora delas, não fugia dos marcadores implacáveis em nenhum momento.

Assim foi, quando entrou de sola em uma dividida contra a incerteza e levou a melhor: o Vasco da Gama seria seu novo clube, e pela segunda vez, trocaria o frio do Sul pelo calor do Rio, chegando novamente à cidade maravilhosa.

Se naquele 20 de dezembro de 1979, no Maracanã, o camisa 4 colorado foi algoz dos vascaínos marcando Roberto Dinamite e Cia., chegava a São Januário para cravar com letras garrafais seu nome na galeria de imortais do Gigante da Colina.

Com um “animal” rugindo cada vez mais forte e amedrontando os adversários, Edmundo foi o grande nome da conquista do Campeonato Brasileiro de 1997, e fez com que o experiente zagueiro pensasse no impensável: estender o vínculo com o cruzmaltino e tentar a inédita Libertadores e o inédito Mundial de Clubes, no ano em que o Vasco da Gama assoprou 100 velinhas.

O objetivo inicial foi alcançado e Mauro Galvão como capitão da equipe levantou pela primeira vez na sua carreira a taça de campeão da Libertadores da América, mas na disputa da Taça Interclubes o Vasco foi derrotado pelo Real Madrid, e deixou escapar o título inédito.

O sucesso no Vasco fez Mauro Galvão permanecer no clube até o fim da temporada de 2000, onde ainda conquistou os títulos do Torneio Rio-São Paulo em 1999 e da Copa Mercosul e do Campeonato Brasileiro em 2000. 

No início da temporada de 2001, ele retornou ao Grêmio para encerrar a carreira e ainda conquistou o Campeonato Gaúcho de Futebol de 2001 e a Copa do Brasil do mesmo ano.


Em 2002, aos 40 anos de idade, após a disputa de mais uma Taça Libertadores, Mauro Galvão decidiu encerrar a sua vitoriosa carreira.

Parecia jogar de terno em sua área de trabalho e despachava o perigo tamanha facilidade, com a suavidade de um vinho colhido em sua melhor safra.

Este era Mauro Galvão, que jogou o “fino da bola” para alegria de Diogo, de 32 anos, seu filho e seu fã número 1, além é claro, dos torcedores colorados, alvirrubros, botafoguenses, gremistas, vascaínos e todos amantes do bom futebol.

Portanto, feliz aniversário nesses seus 56 anos de vida completados hoje!

POSSE DE BOLA

por Zé Roberto Padilha


O Júnior não estava presente e o Casagrande esqueceu de avisar ao Galvão. Dentro da transmissão de Real Madrid x Grêmio existia uma outra disputa acontecendo fora do foco da bola. Ele, que nunca jogou, e quem mais assiste, e quem fala e transmite, só acompanha e julga a partida pelos rumos da bola. São 22 jogadores, 11 de cada lado e um apenas detêm momentaneamente a sua posse. E quanto aos outros que precisam tentar roubá-la para serem notados e se tornarem, como Luka Modric, protagonistas da festa?

Quem jogou sabe, correr atrás de quem não erra um passe desgasta. Assim sofriam os adversários do Barcelona na era Guardiola. Contra uma equipe como o Real Madrid, então, que não erra passe e ainda é aguda em seus contra-ataques, extenua. Um convidado da TV Globo nos chamava atenção: Kross não erra um passe há seis meses. A bola chega aos pés do Marcelo e cola. Na do Cortez se descola. Quem aguenta?


Só havia uma chance do Grêmio equilibrar a posse de bola na final contra o Real Madrid e dividir as rédeas do jogo: tirar a partida do campo e levar para as quadras. No Basquete eles teriam apenas trinta segundos para ficar com a bola. No voleibol, apenas três toques. E no tênis apenas um. No futebol, a posse, ilimitada, é dos que não erram passes. E eles sabem como poucos não subestimar tal fundamento.

Tão poderosa, a equipe espanhola acompanha por satélites escaltes de todos os jogos pelo mundo. Quando o computador avisa que há um Casemiro surgindo em São Paulo que não erra um passe, manda contratá-lo. Há algum tempo ele recebia mais sinais do Brasil, e levaram Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Romário e Rivaldo e quem mais reinava por aqui e o dinheiro pudesse comprar. Mas os craques sumiram daqui. E os sinais passaram a vir de Portugal. Lá havia um que além do passe não errava um chute. E uma cabeçada.


Luan nunca correu tanto, junto aos seus companheiros de meio-campo, para fechar os espaços de um time que não erra passes. No Campeonato Brasileiro, foram os que menos erraram e por tal envolveram adversários. Sábado provaram o contrário. Quando a conseguiam, só tinham pernas para tocar para os lados. Uma posse de bola acima de 70% significa que você se desgastou 70% e quando a tem a seus pés restou apenas 30% de energia. A partida do meio campo do Grêmio fora do foco da bola foi admirável. Com ela, desgastados, mal tinham forças para dar um chute a gol.

Perder da mais poderosa equipe do mundo não vai tirar o mérito desta bela equipe que, ontem, se tornou a segunda melhor do futebol mundial. Se faltou a bola para jogar melhor, sobrou a raça, a superação para evitar o pior. E Luan, como toda criança, com as bolas nos pés se diverte. Sem ela, chora. Parabéns, Grêmio!