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Natal Solidário

NATAL SOLIDÁRIO

texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel

Fim de ano é aquela época festiva de presentear quem a gente ama. No caso do Museu, a paixão é pela pelada, seja ela qual for. Por isso, a convite do parceiro Anderson Jedi, fomos até a favela da Kelson’s, no Complexo da Maré, para prestigiar o racha do volante Michel, campeão da Libertadores pelo Grêmio, e aproveitamos a oportunidade para equipar a escolinha de futebol da região.

Foi no grandioso campo de terra da Kelson’s que Michel deu os primeiros passos no mundo da bola. Escoradas na grade, dezenas de crianças observavam o jogador do Grêmio e, apesar das dificuldades, viam através dele que o sucesso só depende de si mesmo.

Disposta a ajudar e reduzir um pouco as barreiras, a equipe do Museu da Pelada se comprometeu a “abastecer” as escolinhas de futebol que passam por dificuldades, com a doação de coletes, bolas, redes e materiais esportivos em geral. Vale ressaltar que, como não temos nenhum tipo de patrocínio, tudo isso é sempre proporcionado com a colaboração de amigos e a venda das camisas do Museu para quem nos admira e nos acompanha.

– Foi aqui nesse terrão batido que o sonho começou a se construir. Era chuteira rasgada, bola velha. Fico muito feliz de estar aqui hoje podendo mostrar que o sonho pode se tornar realidade! – disse Michel.

A entrega do material foi feita pouco antes da bola rolar e a felicidade era visível no rosto de cada garoto. De acordo com o volante do Grêmio, o futebol ajuda na formação do ser-humano.

– O futebol ajuda a construir sonhos e tirar os menores da criminalidade. A gente tem que fazer o que pode e, por isso, eu agradeço ao Museu da Pelada pela força que vocês estão dando a gente hoje.

Professor da escolinha, Farney de Lira se desdobra para conseguir orientar todos os garotos. Embora ainda jogue futebol profissionalmente, reconhece a importância de suas aulas.

– Muitos jovens estão perdidos nas drogas, mas graças a Deus e ao nosso amigo Michel estamos conseguindo alcançá-los. O Museu da Pelada é um canal de benção para as nossas vidas, que esteja sempre nos ajudando porque nós estamos precisando desse recurso! – finalizou para uma salva de palmas da garotada.

Além de equipar as escolinhas, salvamos acervos pessoais e ajudamos ex-jogadores no que for preciso, pois foram eles que fizeram nossa infância mais alegre. A intenção é uma só: estarmos juntos, sempre, abrindo portas para quem precisa e celebrando a vida em nossas resenhas memoráveis!

JOIA DA COLINA

Embora esteja sempre relembrando os craques do passado, o Museu da Pelada não pode deixar de lado as promessas que têm um futuro brilhante pela frente. Durante a pelada de fim de ano do volante Michel, do Grêmio, na favela da Kelson’s, conhecemos o menino Léo Araújo, joia da base do Vasco.


Com apenas dez anos de idade, o lateral-direito do sub-10 da Colina já acumula diversos títulos com a camisa cruzmaltina, sobretudo contra o Flamengo.

– Já joguei três finais contra o Flamengo e ganhamos todas! Eles secam a gente porque sabem que na final eles perdem sempre!

Vale destacar que Léo faz parte das equipes de futebol de salão e de campo do Vasco da Gama e, por isso, precisa de muita organização para conciliar as atividades com os estudos na Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha, onde cursa o quarto ano do Ensino Fundamental.


Antes de chegar ao Vasco, no entanto, o garoto jogava futebol de salão pelo Clube Vital, em Quintino. Durante um duelo contra o cruzmaltino, no ano passado, comeu a bola e foi convidado para treinar em São Januário.

– Me sinto muito feliz em estar vestindo a camisa do Vasco da Gama e conquistando vários títulos. Enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal! – disse o jovem cheio de personalidade.

Ao ser perguntado sobre qual era o seu maior sonho e quem era a grande inspiração no futebol, o lateral não titubeou:

– Me inspiro no Daniel Alves e no Michel, que é aqui da comunidade. Sonho em jogar no Real Madrid e conseguir ajudar a minha família.

A torcida do Museu da Pelada é que o sonho desse jovem se torne realidade e que ele continue com alegria nas pernas para resgatar a poesia perdida do futebol brasileiro!

Festa do Areia Leme

festa do AREIA LEmE

texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel

Poucas coisas são tão certas quanto a presença do Museu da Pelada na tradicionalíssima festa de fim de ano do Areia Leme, um dos maiores times de futebol de praia da história! Contamos os dias para chegar dezembro e receber o convite do zagueirão Dime Cordeiro.

Esse ano não foi diferente e, mesmo em meio a tantos compromissos de fim de ano, sempre arranjamos um jeitinho de participar dessa resenha.

– A gente já faz essa festa há 20 anos. Antes a pelada rolava no campo de 11, mas estamos ficando mais velhos e a tendência é o campo ir diminuindo! – revelou Dime.

Com mais de 50 anos de existência, é natural que muitos craques tenham vestido a mais tradicional camisa roxa e preta do Leme. Por isso, a pelada de fim de ano é uma das mais concorridas e reúne diversas personalidades:

= Teve uma vez que o Ronaldo Fenômeno veio prestigiar a gente e teve que ficar no banco. Eram tantos craques juntos, que ele só entrou no segundo tempo! – lembrou o zagueiro.

Quem também não perde uma edição da festa é o parceiro Sergio Sapo. Mesmo machucado e sem poder entrar em campo, o craque fez questão de comparecer e incendiar as resenhas.

– O Dime era o terror das “garotinhas” aqui no Leme. Ele jogava muito e era o terror delas!

À medida que a resenha rolava, os boleiros iam chegando e o carinho de todos pelo Areia Leme impressionava. Júnior, Benjamim, Gilmar Popoca e até mesmo o técnico Jair Ventura… para qualquer lado que olhávamos, víamos um craque. Sem contar o trio Dime, Neymar e Neyvaldo, que mandam e desmandam na região.

– É sempre um luxo estar nas areias do Leme! – comemorou Sylvinho Blau-Blau.

Que venha 2018 e comece a contagem regressiva para mais uma festa de fim de ano do Areia!

MALANDROS E O ROBÔ

por Rubens Lemos


A cabeleira de Dé, o Aranha, incorporação do malandro adequado aos sambas de Bezerra e Moreira da Silva, atiçava galeras, desafiava estruturas concretas do Maracanã. O povo amava o estilo black power de uma tendência febril entre os craques de talento e cobertura vasta acima do pescoço. Uma sílaba e futebol de pelada pura, Dé, sempre foi fácil de pronunciar, difícil de prever e certeza de golear.

Dé é uma imagem multiplicada em tantos craques irreverentes, machos ao encarar sem tremer, multidões de 150 mil pessoas no Maracanã, sutis no toque em que a bola não recebia agressões ou patadas. Carícias e trivelas no corte da ginga e do balanço afro de um Geraldo Assobiador, de um PC Cajú, de um Pintinho, de um Adílio em gestação. Suingue de escape musical e background de fintas desconcertantes.

Nas veias do boleiro no tempo do meu tempo que é o tempo do Museu da Pelada pulsava humanismo. Tomava cerveja em botecos, frequentava puteiros, inventava modas berrantes, colecionava chacretes, pagava em fascínios no quadrilátero em relva. Caneta, elástico, um-dois, toca e passa, vocabulário ritmado por chuteiras e estéticas berrantes e psicodélicas. Jogador espelhava o sonho do geraldino de Trem da Central.

O oposto ortodoxo de um tempo em VHS, é o androide Cristiano Ronaldo. É um momunento à safra jovem de pernas de pau acomodada em sofás convidativos ao sexo ao sono, eles, os babacas, jogando videogame ou o que seja em enlatado futebolês, babando o greco-português de mármore, um atacante sem tempero e um metrossexual cultuado por marmanjos de barba, pança e netos.


Cristiano Ronaldo é o artificialismo inimigo de todo saudosista. Nunca será Romário feiticeiro, Bebeto engomadinho e habilidoso, Careca destruidor técnico, Reinaldo, a graça humilhante e frágil. CR7 pode ser tudo em Euros, menos em paixão. Desde o dia em que deu cotovelada Odvaniana em uma fã que o filmava no celular, carimbou o símbolo do mercenário vilão de filme de 007. O Gajo é lindo? Elas decidem.

Belo mesmo seria vê-lo de bobo numa roda com Romário, PC Caju, Djalminha e Rivelino. E Dé, de black power, com areia na mão, para enfiar nos olhos de um ídolo de barro. Craque e criança formam a simbiose do amor à bola. CR7 idolatra o bolso e tomaria um fado elétrico dos malandros do Brasil.

O ENTORTADOR

por Eliezer Cunha


Um time: Flamengo. Um elenco: Zico e mais 10. Um enigma: Júlio César ou quem preferir; Uri Geller apelido dado a ele que lembrava o paranormal israelense que fazia muito sucesso na época como entortador de talheres. Zico e mais dez já não eram mais os ovacionados, queríamos ele, que a bola simplesmente chegasse a ele. O entortador de zagueiros.

Jogo fácil ele brincava com os adversários, jogo difícil era ele a esperança de furar e desmontar qualquer bloqueio. “Passa a bola para o o Uri Geller”, gritava a torcida, levantávamos a todo passe para ele dado, a esperança de gol aumentava consideravelmente.

Por que tanta esperança em um menino de pernas tortas franzino que acabava de chegar do time do Remo, esquecido por todos, diretoria, jogadores, torcida e imprensa? Aliás para quem tem Zico e mais 10 não precisávamos mais de nada. Então eis que surge ele, o Uri Geller, e rouba as cenas das tardes de domingo.

Quanto aos zagueiros e principalmente os laterais, restavam a apreensão dos vestiários “Ele joga?”, perguntavam os zagueiros e os treinadores. “Quantos na sobra?”, perguntam os cabeças de área. “Um, dois, três?”, respondiam os treinadores. Sacrificavam quase o meio de campo todo para barrarem o Uri Geller.

Escutávamos gritos de desespero dos laterais: “Volta para marcar ponta desgraçado…”. Víamos a reedição de nosso moleque travesso Garrincha, nossa esperança nas cores vermelho e preto. Deixarmos para trás, enfim, nossos traumas em preto e branco, parodiando Chico Buarque. Não existe mais esquemas, táticas, treinos, retrancas …. passa a bola para o Uri que ele resolve.

A alegria enfim voltou as campos brasileiros, a várzea triunfará novamente e nos redimirá do óbvio e do taticamente correto, sob o comando de um menino franzino e esquecido num canto do país.