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Festa do Areia Leme

festa do AREIA LEmE

texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel

Poucas coisas são tão certas quanto a presença do Museu da Pelada na tradicionalíssima festa de fim de ano do Areia Leme, um dos maiores times de futebol de praia da história! Contamos os dias para chegar dezembro e receber o convite do zagueirão Dime Cordeiro.

Esse ano não foi diferente e, mesmo em meio a tantos compromissos de fim de ano, sempre arranjamos um jeitinho de participar dessa resenha.

– A gente já faz essa festa há 20 anos. Antes a pelada rolava no campo de 11, mas estamos ficando mais velhos e a tendência é o campo ir diminuindo! – revelou Dime.

Com mais de 50 anos de existência, é natural que muitos craques tenham vestido a mais tradicional camisa roxa e preta do Leme. Por isso, a pelada de fim de ano é uma das mais concorridas e reúne diversas personalidades:

= Teve uma vez que o Ronaldo Fenômeno veio prestigiar a gente e teve que ficar no banco. Eram tantos craques juntos, que ele só entrou no segundo tempo! – lembrou o zagueiro.

Quem também não perde uma edição da festa é o parceiro Sergio Sapo. Mesmo machucado e sem poder entrar em campo, o craque fez questão de comparecer e incendiar as resenhas.

– O Dime era o terror das “garotinhas” aqui no Leme. Ele jogava muito e era o terror delas!

À medida que a resenha rolava, os boleiros iam chegando e o carinho de todos pelo Areia Leme impressionava. Júnior, Benjamim, Gilmar Popoca e até mesmo o técnico Jair Ventura… para qualquer lado que olhávamos, víamos um craque. Sem contar o trio Dime, Neymar e Neyvaldo, que mandam e desmandam na região.

– É sempre um luxo estar nas areias do Leme! – comemorou Sylvinho Blau-Blau.

Que venha 2018 e comece a contagem regressiva para mais uma festa de fim de ano do Areia!

MALANDROS E O ROBÔ

por Rubens Lemos


A cabeleira de Dé, o Aranha, incorporação do malandro adequado aos sambas de Bezerra e Moreira da Silva, atiçava galeras, desafiava estruturas concretas do Maracanã. O povo amava o estilo black power de uma tendência febril entre os craques de talento e cobertura vasta acima do pescoço. Uma sílaba e futebol de pelada pura, Dé, sempre foi fácil de pronunciar, difícil de prever e certeza de golear.

Dé é uma imagem multiplicada em tantos craques irreverentes, machos ao encarar sem tremer, multidões de 150 mil pessoas no Maracanã, sutis no toque em que a bola não recebia agressões ou patadas. Carícias e trivelas no corte da ginga e do balanço afro de um Geraldo Assobiador, de um PC Cajú, de um Pintinho, de um Adílio em gestação. Suingue de escape musical e background de fintas desconcertantes.

Nas veias do boleiro no tempo do meu tempo que é o tempo do Museu da Pelada pulsava humanismo. Tomava cerveja em botecos, frequentava puteiros, inventava modas berrantes, colecionava chacretes, pagava em fascínios no quadrilátero em relva. Caneta, elástico, um-dois, toca e passa, vocabulário ritmado por chuteiras e estéticas berrantes e psicodélicas. Jogador espelhava o sonho do geraldino de Trem da Central.

O oposto ortodoxo de um tempo em VHS, é o androide Cristiano Ronaldo. É um momunento à safra jovem de pernas de pau acomodada em sofás convidativos ao sexo ao sono, eles, os babacas, jogando videogame ou o que seja em enlatado futebolês, babando o greco-português de mármore, um atacante sem tempero e um metrossexual cultuado por marmanjos de barba, pança e netos.


Cristiano Ronaldo é o artificialismo inimigo de todo saudosista. Nunca será Romário feiticeiro, Bebeto engomadinho e habilidoso, Careca destruidor técnico, Reinaldo, a graça humilhante e frágil. CR7 pode ser tudo em Euros, menos em paixão. Desde o dia em que deu cotovelada Odvaniana em uma fã que o filmava no celular, carimbou o símbolo do mercenário vilão de filme de 007. O Gajo é lindo? Elas decidem.

Belo mesmo seria vê-lo de bobo numa roda com Romário, PC Caju, Djalminha e Rivelino. E Dé, de black power, com areia na mão, para enfiar nos olhos de um ídolo de barro. Craque e criança formam a simbiose do amor à bola. CR7 idolatra o bolso e tomaria um fado elétrico dos malandros do Brasil.

O ENTORTADOR

por Eliezer Cunha


Um time: Flamengo. Um elenco: Zico e mais 10. Um enigma: Júlio César ou quem preferir; Uri Geller apelido dado a ele que lembrava o paranormal israelense que fazia muito sucesso na época como entortador de talheres. Zico e mais dez já não eram mais os ovacionados, queríamos ele, que a bola simplesmente chegasse a ele. O entortador de zagueiros.

Jogo fácil ele brincava com os adversários, jogo difícil era ele a esperança de furar e desmontar qualquer bloqueio. “Passa a bola para o o Uri Geller”, gritava a torcida, levantávamos a todo passe para ele dado, a esperança de gol aumentava consideravelmente.

Por que tanta esperança em um menino de pernas tortas franzino que acabava de chegar do time do Remo, esquecido por todos, diretoria, jogadores, torcida e imprensa? Aliás para quem tem Zico e mais 10 não precisávamos mais de nada. Então eis que surge ele, o Uri Geller, e rouba as cenas das tardes de domingo.

Quanto aos zagueiros e principalmente os laterais, restavam a apreensão dos vestiários “Ele joga?”, perguntavam os zagueiros e os treinadores. “Quantos na sobra?”, perguntam os cabeças de área. “Um, dois, três?”, respondiam os treinadores. Sacrificavam quase o meio de campo todo para barrarem o Uri Geller.

Escutávamos gritos de desespero dos laterais: “Volta para marcar ponta desgraçado…”. Víamos a reedição de nosso moleque travesso Garrincha, nossa esperança nas cores vermelho e preto. Deixarmos para trás, enfim, nossos traumas em preto e branco, parodiando Chico Buarque. Não existe mais esquemas, táticas, treinos, retrancas …. passa a bola para o Uri que ele resolve.

A alegria enfim voltou as campos brasileiros, a várzea triunfará novamente e nos redimirá do óbvio e do taticamente correto, sob o comando de um menino franzino e esquecido num canto do país.

 

QUEREMOS ALMA!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Sinceramente não consigo entender toda essa ira por parte da torcida do Flamengo. Esse time deveria estar sendo exaltado por ter chegado aonde chegou. Foi longe demais!!!!

Há tempos venho chamando a atenção para a péssima qualidade do futebol carioca e o Flamengo está incluído nisso. O Flamengo terminou o Brasileiro com o mesmo número de pontos do Vasco, não se esqueçam disso.

Se ganhasse a Sul-Americana, esse torneio fraco que reúne os times que ficaram no meio da tabela em seus campeonatos regionais, estaria iludindo a torcida e daria chance à diretoria de gabar-se, de vir com esse discursinho de dever cumprido. A mim nunca enganaram! Time fraco, gerente de futebol fraco, técnico fraco. E pelo amor de Deus, o Independiente foi melhor do que o Flamengo e ponto!

Lembrem-se que o rubro-negro classificou-se para a próxima Libertadores com um gol de pênalti, no último minuto, contra um Vitória que lutava contra o rebaixamento. Não se iludam, esse time não os representa. Assim como os vascaínos não devem se enganar achando que esse grupo, sem contratações, irá muito longe. E não me venham com essa conversa mole de cansaço porque time bom ganha todos os torneios, inclusive os caça níqueis.


O Cruzeiro não ganhou a Tríplice Coroa com aquele timaço? O Real Madrid ganhou todos os torneios nesse ano, inclusive esse em cima de um Grêmio sem alma. O problema é que o melhor jogador do São Paulo é o Cuevas, o melhor chutador do Brasil é o Otero, o Flamengo se encheu de argentinos, peruanos e colombianos e nosso futebol vive uma esquizofrenia.

Sou a favor do intercâmbio, sim, mas de profissionais que venham nos acrescentar algo. O Vasco já anunciou um novo argentino e o Rueda se diz aluno do Parreira, esquece….. reparem que não sou eu quem bate na mesma tecla, mas o nosso futebol é que não sai da lugar.

Ganhamos sem convencer e até a Olimpíada foi nos pênaltis. Os argentinos também vivem uma péssima fase e só vejo Paulo Dybala como um destaque dessa nova geração, mas eles não perderam a alma, são mais nacionalistas do que nós, se entregam, jogam com brilho nos olhos, e a torcida reconhece. Nosso problema é que o futebol foi para o fundo do poço e arrastou a alma com ele.

BOTÃO DIDA

por Edmar Facó


Desde pequeno, Dida é meu ídolo. Na final do Carioca de 1955, ele fez quatro gols e o Flamengo venceu por 4×1 o América, no Maracanã, conquistando o segundo tricampeonato carioca.

Desde pequeno, gosto de brincar de botão sozinho ou com amigos. Gostava de reinventar jogos de futebol com os times cariocas do Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, São Cristóvão, Madureira, Olaria, Portuguesa, Bonsucesso e Canto do Rio. Nos campeonatos que eu organizava, entravam todos os times e ídolos.

Em junho de 58, do alto dos meus nove anos e meio, contratei o personagem da final do segundo tri para reforçar o time de botão e disputar a Copa do Mundo na vila onde morava. Minha seleção de botão foi a da Áustria. Não venci a Copa do Meiér na Vila, mas a seleção brasileira foi campeã da Copa do Mundo na Suécia.

A cada dia que eu brincava de jogar botão, tipo sete dias por semana, ficava mais cobra. Eu e meus botões. Com eles reinventava os passes e gols do Flamengo, em especial do Dida nos gramados. Com eles, era o técnico, jogador e narrador de partida. Estava em campo e no rádio. Eu e meus botões.


Joguei muito, até uns 17 anos, quando aposentei o Dida e todos meus botões numa caixa de tênis Kichute, no fundo de uma gaveta.

Mais tarde voltei a jogar para ensinar ao meu irmão-temporão-quase filho e meus dois filhos ,e o Dida voltou a brilhar nas mesas de botão. Os meninos dividindo seu tempo com os jogos de Atari. No Maraca, brilhava o Zico, ídolo dos filhos. Até que em um treino, com o filho que gostava de jogar botão, na hora de um chute ao gol… Creeeck… Dida se contundiu seriamente e quebrou as duas pernas em 3 pedaços. Foi operado de emergência com super-bond, com direito a transplante: encavalei os pedaços em cima de outro botão e refiz as superfícies e a bainha. Ele continuou jogando.

Depois de aposentado, joguei por uns tempos na Praça dos Cavalinhos na Av. Maracanã, nas manhãs de domingo, com um grupo em torno das mesas que um amigo botonista armava por lá. Um dia parou e não voltou. 

O mais legal na brincadeira de jogar botão é encontrar os amigos para um papo furado e discutir numa boa as regras, que estão sempre sendo mexidas desde sua criação, e comentar os jogos e notícias de futebol.


O jogo de botão foi criado pelo carioca Geraldo Cardoso em 1930. Antes de mim, do Dida e do Maracanã. E ele nem sabe, mas sinto saudade das partidas de botão nas mesas ou chãos contra os amigos da vila e ruas vizinhas, dos jogos no estádio de futebol torcendo na arquibancada pelo Dida e o Flamengo, ao lado do pai, amigos e a Charanga do Jaime, assim como dos deslocamentos de casa para o Maraca e da volta para casa de trem ou bonde.

Saudade dos golaços do Dida, dos amigos e do pai.

Até hoje, esporadicamente, ainda brinco de jogar botão, sozinho ou com novos amigos botonistas. A coluna grita e ri.

Em 2018, o meu botão Dida vai fazer 60 anos em junho; e seu técnico, 70 anos em dezembro.

Notas:

Botão = Jogador em forma de disco de várias alturas, diâmetros e inclinações das bainhas. Feitos de plástico, galalite, acrílico, osso, coco etc. Inicialmente eram botões usados em casacos, capas e batinas.

Dida, o botão = Amarelo opaco de galalite; altura 2,5mm, diâmetro da base 42,5mm e bainha 55º. Após a contusão e transplante em 95, encavalei sobre um botão transparente de janela de lotação; altura nova 5,25mm, novo diâmetro da base 45,5mm e bainha 55º. Medidas tiradas com régua escolar, pois não tenho paquímetro. O melhor e maior artilheiro do mundo dos campos de mesa e chão.

Paleta = ficha antiga de lotação ou de cassino ou disco similar de galalite.

Bolinha = de miolo de pão ou papel prata de bombom ou feltro ou dadinho ou disquinho ou botão de camisa ou etc.

Goleiro = caixa de fósforos com peso dentro ou de madeira ou de galalite.

Técnico = usa a paleta para movimentar os botões e é o narrador dos jogos. E as vezes apitava o jogo junto com juiz.

Dida, o jogador = Edvaldo Alves Santa Rosa. É o segundo maior artilheiro do Flamengo; o primeiro é o Zico que sempre diz que Dida foi seu grande ídolo. Zico, todo final de ano, organiza uma pelada com ídolos veteranos na Arena. Dida continuam brilhando com os ídolos eternos no Maraca céu.


Áustria = Na Copa do Méier entrou em campo com; Pompéia, Tomires, Pavão, Jadir, Dequinha, Jordan, Garrincha, Didi, Henrique, Dida e Babá. Na Copa da Suécia, Brasil 3×0 Áustria no 1°jogo, com Dida em campo. Ele se contundiu e foi substituído pelo jovem Pelé que com Garrincha e mais noves foram campeões invictos.

Maracanã = Estádio de Futebol construído para Copa de 1950 e foi considerado o maior templo do futebol mundial. Praticamente demolido em 2012 (mas isso é outro conto) e no seu lugar, construído uma Arena Multiuso para a Copa de 2014.