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CRAQUE DOS GRAMADOS E DOS ESTÚDIOS

por Mateus Ribeiro


Ana Thais Matos é jornalista esportiva, e atua tanto no estúdio quanto no gramado.

Desde criança, sempre gostou de praticar esportes. Tempos depois, resolveu trocar os tênis e chuteiras pelo microfone.

Uma profissional competente, de opiniões firmes e concretas, Ana Thais foi extremamente solícita e cordial, e concedeu uma entrevista para o Museu da Pelada. Falamos sobre o ambiente machista do futebol, sobre a participação das mulheres no jornalismo esportivo e demais temas que devem ser abordados.

Confira no bate papo abaixo um pouco mais da história de Ana Thais Matos:

Vamos começar falando um pouco sobre o início de tudo. Como e quando surgiu a vontade de trabalhar com jornalismo esportivo?

Eu entrei na faculdade mais velha (com 23 para 24 anos), e no primeiro ano eu trabalhava em outra área, que não tinha nada a ver com jornalismo. No fim do primeiro ano eu fui encaminhando o que eu faria (iria pra cultura, política ou esportes). A oportunidade no esporte surgiu antes das outras, com a possibilidade de ser estagiaria no jornal Lance!, mas era apenas pra cobrir a rodada (quartas-feiras e fim de semana), e aí começou a trajetória no esporte, editoria que estou até hoje.   


Você sofreu algum tipo de “resistência” por parte de amigos ou familiares pelo fato do ambiente do futebol ser extremamente machista?

Resistência nenhuma, amigos e familiares sempre me apoiaram porque sabiam que eu era do esporte desde criança. Sou ex-jogadora, não com muito talento, mas somei mais de 10 anos entre beach soccer, futsal e futebol de campo. Também joguei vôlei.

Não faz muito tempo, a participação de mulheres na grade esportiva de emissoras de TV e rádio era mínima. Eram raras as apresentadoras de jornais ou programas esportivos, e fora isso, a participação de mulheres em debates se resumia praticamente em assistentes de palco que liam e-mails. Hoje, a evolução é notável (e constante), visto que em quase todo debate temos uma mulher participando ativamente. Sabemos que o caminho é longo, mas você acha que um dia a participação feminina no jornalismo esportivo será do mesmo tamanho que a masculina?

Difícil falar sobre o futuro, e eu não vejo tanta evolução, não. Vivemos um momento de transição e voltamos às origens do que já aconteceu nos anos 70 e 80 com Regianne Rither, Claudete Troiano e outras. O que fazemos agora em 2017 não é surpresa. Mulher sempre teve como repórter, apresentadora e comentarista, mas como toda sociedade, somos poucas em tudo. Mas isso vai mudar, não sei a proporção e não sei o tempo.

Qual você considera seu maior momento no jornalismo? E o mais difícil?

Meu maior/melhor momento no jornalismo foi a cobertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016. Meu inglês não é muito bom, então foi um desafio conviver 17 dias na Arena do Vôlei de Praia – um esporte dominado por americanos e brasileiros. Mas foi o melhor momento, era a Disney dos esportes.

O mais difícil são os ataques em estádios de futebol em todo Brasil pelo fato de eu ser mulher. Não só comigo, mas com todas as companheiras de profissão.

Ainda falando sobre o jornalismo esportivo em geral: de tempos para cá, a onda “engraçadinha” vem ganhando um espaço muito grande, em um tempo curto. Pessoalmente, acho que as coisas passaram um pouco dos limites. E você, qual sua opinião sobre tudo isso? Acha que é um caminho sem volta?


Depende do que é ser engraçado. Hoje a mídia tradicional passa por uma crise de identidade (na minha opinião), ela ainda não entendeu se tem que manter os mesmos comentaristas e narradores falando sempre as mesmas coisas, e pra um consumo interno, ou se vai expandir e falar pra quem não tem tempo de assistir TV para formar opinião. Nesse vácuo surgem os engraçadinhos e os youtubers. Existem canais ótimos e comunicadores ótimos, que contribuem demais para o debate – Bolívia do Canal Desimpedidos é o meu preferido, ele fala sério de uma forma objetiva que faz o moleque em casa pensar. Ele não humilha ninguém para omitir opinião, faz culto à imagem (valorizando jogadores antigos e novatos) e eu acho que é o melhor comunicador para futebol no ano – nas mídias não tradicionais. Fora isso,  existem apenas discussões muito rasas, o que é o futebol e o esporte no Brasil e no mundo. Vale a pena ser engraçado? Sim, muito, mas não vale a pena faltar com respeito. Eu não preciso humilhar um argentino para ser engraçada, e também não preciso levar ao pé da letra se Renato Gaúcho foi ou não melhor que Cristiano Ronaldo.

As pessoas dizem “nossa o futebol tá chato, não pode brincar mais”. Pois é, trago verdades. Não pode. Não pode chamar de bicha, não pode chamar negros de macacos, mulheres de vagabunda e por aí vai. O esporte é de inserção e não de exclusão.

Você imagina que um dia o futebol feminino possa ser valorizado no Brasil? Acha que os clubes e investidores irão abrir os olhos e se importar com as milhares de jogadoras sem incentivo espalhadas pelo Brasil?


Quero acreditar que sim, mas não vejo movimentação para isso. Precisaríamos tornar a liga mais competitiva, e conseqüentemente, mais rentável. Mas dá para fazer futebol feminino bom e sem passar na TV também, uma coisa não está ligada a outra. Se os clubes optarem em abraçar o futebol feminino como uma modalidade competitiva, tudo vai melhorar. Tem que investir na parte física e nas categorias de base, para que lá na frente, com 16, 20 anos, as garotas de 10 anos hoje tenham condições físicas de jogar de igual para igual com as norte americanas por exemplo. Antes de pensar na TV, temos que pensar na estrutura básica do esporte.

Uma das coisas que mais me incomoda e deprime no futebol atual é toda essa loucura financeira em transações de jogadores. Qualquer jogador hoje é negociado por quantias estratosféricas. Você acha que um dia essa roda vai enguiçar? Ou a tendência é que esses valores sejam cada vez mais absurdos?


Essa roda vai e volta, hoje se conta numa mão os clubes com dinheiro no Brasil e com possibilidade de pagar dívidas futuras. Mas a estrutura é viciada, existem clubes de deixam de pagar impostos, mas aí ganha títulos em um ano e passa dois no desespero, depois retoma de novo. Existem clubes que gastam dinheiro sem avaliar o produto, parece quando eu compro uma calça no shopping, pago uma fortuna, aí uma amiga me levou pra conhecer o Bom Retiro e eu descobri que a mesma calça sai 80% mais barato. Brinco com essa comparação, mas o dinheiro sai do meu bolso, num clube de futebol sai do clube ou patrocinadores. Aí as pessoas passam, e o clube fica. Mas fica como?

Vamos ser sinceros, todos nós sabemos que os profissionais da imprensa torcem por algum time. Vocês costumam brincar uns com os outros quando o time de um ou outro perde?

Internamente sim.

NO ESPORTE x ATRAVÉS DO ESPORTE

por Idel Halfen


Confesso não ser um grande entusiasta da expressão “marketing esportivo”. Isso se deve à descaracterização que essa atividade vem sofrendo ao longo do tempo e faz com que o mercado seja povoado, em grande parte, por “especialistas” que apenas gostam de esporte, sem, contudo, terem o devido conhecimento do que efetivamente vem a ser marketing.

Além do que, tenho como crença que o marketing é uma atividade indispensável a qualquer ramo de atuação e, dessa forma, sua aplicação é inerente ao esporte. 


Todavia, aproveitarei um conceito utilizado por alguns especialistas do ramo para desenvolver o tema que dá título ao artigo. Trata-se da divisão do marketing esportivo em duas vertentes: o marketing no esporte e o marketing através do esporte.

Segundo eles, o primeiro acontece através da aplicação do marketing nos agentes cuja atuação está relacionada primordialmente à atividade esportiva.

São esses, os clubes, as confederações, os atletas e as empresas que têm, em seu portfólio, produtos e serviços voltados ao segmento, como é o caso, por exemplo, de Adidas, Asics, Gatorade, além das agências e organizadores de eventos.

Já o marketing através do esporte contempla organizações e empresas que usam o esporte como plataforma de marketing. Partindo dessa vertente, chegamos ao cerne do artigo visto ser crescente o número de marcas, sem nenhuma relação prévia ou até sinergia com a atividade, que têm desfrutado da experiência de atuar no esporte.


E antes que venham creditar esse movimento à exposição proporcionada pela audiência dos grandes eventos, alerto que, em muitos desses, a política de aparição da marca nas arenas e ginásios é bastante restritiva, vide como exemplo os Jogos Olímpicos e o torneio de tênis de Wimbledon. Assim, podemos inferir que o grande motivador dessas marcas para a “entrada” no esporte, seja a possibilidade de associar seu posicionamento e imagem à superação, amizade, respeito, excelência e tantos outros princípios nobres atrelados à atividade.

Independentemente das razões ou da forma que o esporte tenha ligação com o marketing é fundamental que se saiba “o que é” e “para o que” serve o marketing.

OS ETERNOS CONTRAS

 

por Washington Fazolato


Não há, em todo o universo boleiro, quem possa se arvorar a afirmar que jogou pelada sem nunca ter participado de algum “contra”.

Para o não-iniciados, vamos a etimologia da palavra: “Contra” vem do futebolês arcaico e rotula partidas entre times de ruas, bairros, vilarejos e cidades diferentes. 

Esclarecidas as dúvidas, vamos dar aos “contras” o valor que eles merecem no hall da fama das peladas.

No passado – e ainda em alguns lugares afastados dos grandes centros – os contras tinham caráter quase sacrossanto.

Geralmente, os convites surgiam quando um time começava a se destacar no contexto local e sua fama ultrapassava os limites geográficos de sua rua. 

No dia e hora marcado, partiam resolutos rumo ao campo de disputa, que podia ser uma rua asfaltada, uma quadra, um campo de terra, um terreno baldio ou quem sabe – sonho máximo – um campo gramado.

O local não importava. 

O importante era a aura de desafio, de batalha épica, de final de Copa do Mundo.

Os melhores eram escalados, com critérios rígidos: o atacante que não treme, o goleiro firme, a zaga imbatível, o meio-campo refinado etc.

Não havia espaço para experimentos, nem para pipoqueiros.

A pé, de ônibus, de kombi, de trem, partíamos para os contras.

Acompanhados dos pais, tios, amigos, seguia alegre a caravana.


Geralmente os contras, dentro de sua mitologia própria, acabavam invariavelmente em partidas duras, disputadas palmo a palmo, com lances que beiravam a violência.

No entanto, findo o jogo, todos deviam se abraçar, se cumprimentar e parabenizar o oponente.

Passei um desses contras às voltas com um atacante magrelo, alto, habilidoso e escorregadio.

Depois viria a saber que ele atuava no juvenil do América-RJ.

Cotoveladas, empurrões e trancos marcaram minha disputa com ele.

Após o apito final, apertou minha mão, sorrindo e me disse:

– Valeu, meu zagueiro!

Viramos amigos.

Infelizmente, nos tempos modernos, das quadras de society com grama sintética, é pouco provável que alguém saiba o que é um “contra”.

Talvez imaginem que seja um duelo bélico, que deverá resultar em mortos, feridos e depredações.

O respeito, a cordialidade e o espírito de confraternização estão meio fora de moda.

A essência dos “contras” se perdeu.

 

MICHELI, O PAREDÃO

Em uma das tradicionais enquetes que fazemos com o intuito de estimular a resenha entre a rapaziada que acompanha o Museu da Pelada, perguntamos se tiravam o chapéu para Marcelinho Carioca e fomos surpreendidos com um comentário de Alexsandro Micheli: “Eu tomei o gol duzentos dele”. Em alguns segundos a nossa ficha caiu e fortaleceu aquela história que o mundo da bola é cruel e gira mais rápido do que se possa imaginar. Micheli fez parte daquela campanha histórica do Flamengo-PI na Copa do Brasil de 2001, que vinha dando o que falar até enfrentar o poderoso Corinthians e ser goleado. 

Muito solícito, o goleirão topou conversar com a equipe do Museu da Pelada e, sem fugir de nenhuma pergunta, falou sobre sua carreira, pelada e até mesmo aquela goleada que interrompeu o sonho na Copa do Brasil.

Como surgiu sua paixão pelo futebol?


Como todo brasileiro, essa paixão já nasce com a gente. E vim de uma família que todos os meus tios jogaram. Profissionalmente só eu e um tio e hoje em dia tenho um primo que está dando continuidade. Está no juvenil do América MG e já foi convocado várias vezes para seleção da sua categoria.

Onde jogou suas primeiras peladas?

As primeiras peladas foram em um campo pertinho de onde meus pais moram em Ubá-MG. Hoje infelizmente o progresso acabou vencendo e já não existe mais.

Sempre foi goleiro? Geralmente, nas peladas, os goleiros são aqueles que não têm muita habilidade com os pés…

Desde criança gostava de jogar no gol. Já nasci com esse dom. Não tive esse problema de ser ruim na linha e me mandarem para o gol. Já nasci dentro dele.

Qual era o goleiro que te inspirava?


Foram vários, mais sempre fui fã do Taffarel. Um goleiro extremamente técnico e seguro. Foi referência para muitos goleiros consagrados que atuam até hoje. Cheguei a jogar contra ele no Campeonato Mineiro de 96.

Como surgiu o convite para treinar em um time?

Tenho um amigo da minha cidade (Ubá -MG) que o primo dele era treinador do juvenil do Cruzeiro na época. E foi assim que surgiu a oportunidade de fazer um teste no Cruzeiro em 1988.

Por quais times jogou?

Comecei no infantil do Cruzeiro em 1988, e por lá me profissionalizei em 94. Joguei em alguns times de Minas, Tupi, Valério, Ipatinga, Paraisense e Mamoré, depois joguei um Carioca pelo Itaperuna, também joguei no Flamengo do Piauí.

Você jogou junto com o Ronaldo a Taça BH, né? Como era sua relação com ele? Ainda tem contato?


Sim, jogamos juntos em 93 quando ele chegou no Cruzeiro. Eu já era juniores e ele infantil. Já chegou no nosso juniores sendo titular e fazendo gols. Fomos campeões da Taça BH de juniores, titulo que o Cruzeiro não conquista há mais de nove anos. Ele já se mostrava totalmente diferenciado. Ele era um meninão, super simples, brincalhão. A última vez que estive com ele foi em 2004, em um jogo das Eliminatórias para Copa de 2006, contra a Argentina em BH. Ele fez três gols de pênalti.

Qual era a sua maior virtude embaixo das traves?

Sempre fui muito tranquilo. Saía muito bem nas bolas cruzadas na área, mas era horrível com as saídas com a bola no pé. Peguei a época em que começou a ser proibido o goleiro pegar a bola com a mão quando recuada. Aquilo quando começou foi um caos!

Consegue eleger seu maior momento na carreira? Algum jogo inesquecível…


O grande momento que carrego comigo foi quando fui convocado pelo Renê Simões para seleção brasileira sub-17. Para mim ser convocado para uma seleção é algo formidável. Infelizmente, um ano ano depois sofri um acidente no ônibus do Cruzeiro e quase tive meu braço amputado. Fiquei três anos longe do futebol e isso quebrou uma sequência muito boa que eu estava tendo. Um jogo inesquecível… foram os dois jogos da Copa do Brasil de 2001 contra o Sport Recife. Nas ocasiões, fui eleito o melhor jogador em campo, quando defendia o Flamengo do Piaui. 

E o pior?

Nesse caso não foi o pior, mas foi horrível. Eliminamos o Sport Recife e iríamos pegar o Corinthians. O nosso time começou ser a sensação, pois era um time simples, e nunca, até então, um time do Piaui havia ganhado um jogo pela Copa do Brasil e nós chegamos às oitavas. Só que pegamos o Coringão que era praticamente uma seleção. Fiz de tudo para o nosso treinador jogar fechado e sair nos contra ataques, só que ele preferiu encarar de igual para igual. Resultado: tomamos de 8 a 1. Jogamos tudo o que tinha feito até então por água abaixo. Nesse jogo que eu tomei o gol 200 do Marcelinho pelo Timão.  

Qual foi a sensação de levar o gol 200 do Marcelinho?


Indiferente por ter sido o gol 200 dele, mas a sensação é a pior possível quando um goleiro toma gol. Para o goleiro, tomar gol em qualquer situação, sendo os 200 do Marcelinho, os 1000 do Pelé ou em um amistoso é a pior possível. Quando se toma um gol todos estão vendo e comemorando a sua ineficiência de não ter evitado a bola entrar. Faz parte. Costumo falar que goleiro nasceu para tomar gol e não evitar.

O que fazia quando o Pé de Anjo ajeitava a bola para soltar aquelas pedradas venenosas?

Isso era complicado rapaz. Pouquíssimos jogadores batem na bola igual a ele. Só que eu costumava copiar o Dida, que quando jogava no Cruzeiro invertia a barreira nas faltas contra o Marcelinho. E nesse jogo que fiz contra ele, apesar de ter tido poucas faltas, inverti a barreira e tive êxito. Deu certo, ele não fez gol de falta. Fez um de pênalti, que por sinal quase peguei, e o primeiro que foi o de 200, uma jogada do lateral Andre Luiz, que foi no fundo e cruzou para o Marcelinho pegar de primeira. Um golaço, por sinal.

Por fim, ainda joga alguma pelada?

Muito pouco. A última foi no dia 4 de junho desse ano e me resultou uma ruptura total do tendão de aquiles. Estou de molho até então nas peladas, mas pelo visto só vou ficar nas arquibancadas agora.

SAUDADE DO CEREZO

por Serginho 5Bocas


A maior lembrança que guardo de Toninho Cerezo foi na Copa da Espanha quando ele, apesar de não ter jogado na estreia por suspensão automática, gastou a bola nas quatro partidas seguintes em que esteve em campo. Eu vi e posso afirmar que ele fez parte de um dos melhores meios de campo, se não o melhor, de todos os tempos, mas quem foi Cerezo?

Volante que iniciou e se consagrou no Atlético Mineiro, alguns achavam que ele era desengonçado, outros implicavam com sua meia arriada e diziam que era um grande peladeiro, todo o mais puro desdém ou desconhecimento de causa mesmo. O certo é que fez parte de uma geração mineira espetacular e ao lado de Reinaldo, Paulo Isidoro, Marinho, Eder, Palhinha, entre outros, fez história no Galo.

Marcou presença em duas Copas do Mundo (78 e 82) e quase esteve na terceira (86), sendo cortado poucos dias antes da competição por contusão. Na verdade, Telê fez uma opção entre os “velhos” e os lesionados, escolhendo levar, Falcão, Zico, Sócrates e Junior, deixando Cerezo de fora.


Cerezo por duas vezes foi considerado o melhor jogador do Campeonato Brasileiro numa época em que as feras jogavam todas por aqui. Depois da Copa de 82, foi levado para a Itália, onde jogou na Roma ao lado de Falcão e na Sampdoria, comandando uma garotada espetacular. Neste período, venceu um Campeonato Italiano, duas Copas Itália, uma Recopa Europeia e um vice na Liga dos Campeões em 1992, já aos 37 anos.

Cerezo ainda teve fôlego aos 38 anos para comandar o São Paulo de Telê no Mundial de Clubes contra o Milan em 1993. Jogou tanto nesta partida que ganhou o carro Toyota de melhor em campo.


Na seleção, seu melhor momento foi em 1982 com o mesmo Telê. Estava jogando o fino até a derradeira partida contra os italianos, quando ficou injustamente marcado porque passou uma bola perigosa na intermediaria para o lateral Júnior, que perdeu a dividida para Paolo Rossi e daí saiu o segundo gol. Depois ainda foi infeliz, porque foi atrasar de cabeça para o goleiro um cruzamento despretensioso de Antognoni e originou o escanteio do terceiro gol italiano. A tarde foi muito madrasta com Cerezo.

Aquilo tudo foi uma tremenda covardia do destino com um “cracaço” de bola. Ele, ao lado de Falcão, formava uma dupla de encher os olhos, seus talentos eram complementares e também tinham muita coisa em comum. A saída de bola era primorosa e ambos apoiavam o ataque constantemente.


Quem dera hoje tivéssemos um peladeiro desse na seleção brasileira, alguém que fizesse a transição da defesa para o ataque com a rapidez, facilidade e a tranquilidade que Cerezo fazia, que estivesse no campo todo e se apresentasse para o jogo com a qualidade que ele disponibilizava para o time.

Ai que saudade do Cerezo!

Nota: Meu sonho de infância como de qualquer garoto flamenguista daquela época era ser Zico, até começar a jogar campo e querer ser Falcão ou Cerezo, que jogavam na “minha”, o Pelé e o Garrincha dos volantes. Não deu para mim nem de longe.