alunos-do-neca
ALUNOS DO NECA
texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel
Para fechar 2017 com chave de ouro e coroar esse ano que foi repleto de boas resenhas, nada mais justo do que um encontro com grandes craques. Carlos Roberto, Moreira, PC Caju e Betinho Cantor marcaram presença no Zeca Bar F.C., em Ipanema, e comandaram o papo ao lado de Carlos Alberto Victorino, filho do grande Neca, ex-jogador do Botafogo e, posteriormente, um dos maiores reveladores de craques do futebol brasileiro.
Não precisamos nem falar que o “garimpeiro” logo se tornou a pauta da resenha e foi lembrado com muito carinho por seus alunos. Foi ele o responsável por lapidar grandes joias que fizeram parte da Selefogo.
Carlos Roberto, PC Caju e Zeca, o dono do bar
– A gente era garoto e aprendia muitos macetes com ele. Era proteção de bola, como bater na bola… Ele ensinava os fundamentos com muita qualidade e dedição – lembrou Carlos Roberto.
Quem também não mediu as palavras para elogiar o “seu” Neca foi PC Caju:
– Olha a safra de craques que ele revelou para o Botafogo. Isso não tem preço! Se você pegar os jogadores que passaram pelas mãos do seu Neca você vai ver que eles têm um comportamento exemplar até hoje.
Muito mais do que um grande professor de futebol, Neca era uma espécie de “paizão” da garotada e também contribuía demais com a formação pessoal dos jovens, cobrando respeito e disciplina.
– Eu não conheci meu pai, mas eu via nele uma linha a seguir. E sei que muitos jogadores estiveram na mesma posição que eu – ressaltou Moreira.
PC Caju destacou ainda a falta que Neca faz no futebol atual.
– Além do futebol estar muito ruim hoje em dia, acho que falta educação para os jogadores. Esse jogo pegado, cartões amarelos, expulsões… Falta disciplina. Dos jogadores daquela geração do Botafogo dos anos 60, quase todos vingaram.
Vale destacar que Neca foi um grande jogador e, de acordo com PC, esse é um pré-requisito fundamental para se tornar um bom técnico. Por isso, o craque não deixou de mostrar sua indignação com uma lista de treinadores brasileiros que nunca fizeram sucesso dentro das quatro linhas e hoje dominam o mercado.
– Eles são formados em Educação Física. Como vão conseguir corrigir um passe, um domínio se não têm fundamento? Parreira ganhou a Copa e fortaleceu essa classe. Futebol defensivo, jogam para não perder… Eles tomaram conta do mercado e nunca chutaram uma bola.
Orgulhoso, o filho de Neca não tirava o sorriso do rosto, mesmo tendo sido preterido pelo pai, que o orientou a seguir os estudos. No fim da resenha, ainda fomos brindados com a famosa canção “Você Tem Tempo”, de Betinho Cantor, dos bons tempos do Rio de Janeiro.
Que venha 2018!
Alunos do Neca
ALUNOS DO NECA
texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel
Para fechar 2017 com chave de ouro e coroar esse ano que foi repleto de boas resenhas, nada mais justo do que um encontro com grandes craques. Carlos Roberto, Moreira, PC Caju e Betinho Cantor marcaram presença no Zeca Bar F.C., em Ipanema, e comandaram o papo ao lado de Carlos Alberto Victorino, filho do grande Neca, ex-jogador do Botafogo e, posteriormente, um dos maiores reveladores de craques do futebol brasileiro.
Não precisamos nem falar que o “garimpeiro” logo se tornou a pauta da resenha e foi lembrado com muito carinho por seus alunos. Foi ele o responsável por lapidar grandes joias que fizeram parte da Selefogo.
Carlos Roberto, PC Caju e Zeca, o dono do bar
– A gente era garoto e aprendia muitos macetes com ele. Era proteção de bola, como bater na bola… Ele ensinava os fundamentos com muita qualidade e dedição – lembrou Carlos Roberto.
Quem também não mediu as palavras para elogiar o “seu” Neca foi PC Caju:
– Olha a safra de craques que ele revelou para o Botafogo. Isso não tem preço! Se você pegar os jogadores que passaram pelas mãos do seu Neca você vai ver que eles têm um comportamento exemplar até hoje.
Muito mais do que um grande professor de futebol, Neca era uma espécie de “paizão” da garotada e também contribuía demais com a formação pessoal dos jovens, cobrando respeito e disciplina.
– Eu não conheci meu pai, mas eu via nele uma linha a seguir. E sei que muitos jogadores estiveram na mesma posição que eu – ressaltou Moreira.
PC Caju destacou ainda a falta que Neca faz no futebol atual.
– Além do futebol estar muito ruim hoje em dia, acho que falta educação para os jogadores. Esse jogo pegado, cartões amarelos, expulsões… Falta disciplina. Dos jogadores daquela geração do Botafogo dos anos 60, quase todos vingaram.
Vale destacar que Neca foi um grande jogador e, de acordo com PC, esse é um pré-requisito fundamental para se tornar um bom técnico. Por isso, o craque não deixou de mostrar sua indignação com uma lista de treinadores brasileiros que nunca fizeram sucesso dentro das quatro linhas e hoje dominam o mercado.
– Eles são formados em Educação Física. Como vão conseguir corrigir um passe, um domínio se não têm fundamento? Parreira ganhou a Copa e fortaleceu essa classe. Futebol defensivo, jogam para não perder… Eles tomaram conta do mercado e nunca chutaram uma bola.
Orgulhoso, o filho de Neca não tirava o sorriso do rosto, mesmo tendo sido preterido pelo pai, que o orientou a seguir os estudos. No fim da resenha, ainda fomos brindados com a famosa canção “Você Tem Tempo”, de Betinho Cantor, dos bons tempos do Rio de Janeiro.
Que venha 2018!
Chamada quem foi melhor
craque da semana
Essa semana a disputa é entre Aldair e Ricardo Gomes
À SOMBRA DAS KICHUTES IMORTAIS
por Ricardo Dias
Em 77 Rivelino saiu do Fluminense para uma aventura mal-sucedida na Arábia. Bem, ele saiu, eu entrei. Resolvi participar da peneira para os infantis. Naquele tempo a coisa não era como hoje, que mais parece um vestibular para o Instituto Rio Branco; havia uma seqüência de testes mas era num clima mais amistoso, sem o peso que há hoje – a carreira de jogador não era tão valorizada, a fome no país era menor. Pois fui, tendo me informado previamente com dois colegas de colégio que treinavam lá.
Por algum motivo me acompanhou um amigo de peladas, vascaíno, que resolveu não só ir comigo, como ir à rigor – mas rigor vascaíno: camiseta cavada (com uma rica estampa do Cebolinha, furada), short puído, meião listrado de preto e branco, e sob tudo isso, um par novinho de Kichutes.
Quem tem menos de 35 não sabe o que é. Explico. Era um tênis que imitava uma chuteira, de borracha (grossa) e lona (idem). Tinha uns pitocos enormes na sola que simulavam as travas de uma chuteira, o que resultava a impossibilidade chutar “por baixo”, como convém; só saía de bico, mesmo.
Como nos encontramos na porta, não pude fazer nada para evitar a tragédia, a não ser tentar fazer o possível para fingir não conhecê-lo. Existe um Deus, e a peneira foi adiada. Na quarta-feira seguinte, voltei. Havia cerca de 30 ou 40 garotos se amontoando, e o teste seria na base de ir entrando e jogando; o técnico se gabava de à primeira olhada saber se o cidadão era aproveitável ou não. O treino começou, as pessoas iam entrando, e eu batendo bola na lateral. Lá pelas tantas só sobrei eu, fazendo embaixadas sozinho. O técnico (José Faria, foi treinador da seleção do Marrocos em 82) claramente não fazia fé, talvez meu biotipo: na época tinha quase 1,80 m (hoje tenho 1,90) e uns 45 quilos (hoje, bem, não interessa!). De óculos. Por falta de coisa melhor, me chamou e disse: entra no lugar daquele lá. Problema.
Uso óculos. O campo do Fluminense, naquela época (e hoje ainda) tem uma iluminação horrorosa. Como tinha dado meus óculos para um auxiliar dele segurar (não lembro o nome, era um sujeito sisudo, manco), não enxergava bulhufas, mas não podia dizer isso. Limitei-me a entrar correndo e gritar um “sai você” genérico, eles que se virassem. Esclarecido qual dos três deveria sair, lá fui eu para o outro lado do campo, o mais distante possível do olho clínico do Professor Faria.
O sistema nervoso é uma coisa interessante; estava lá para mostrar meu futebol. Foi só entrar em campo para rezar para a bola não vir em minha direção. Mas veio. Quando percebi que era ela – sem os óculos podia ser um pombo, um ladrilho ou um quilo de açúcar – já vinha um adversário voando e tomando-a de mim. Quando dei pela coisa, já não conseguia ver a bola de novo, eles já estavam a mais de cinco metros. Imediatamente intuí o técnico balançando a cabeça.
Mal me refizera do baque, estava inclusive ofegante, sei lá por quê, lá vinha a bola de novo. Desta vez dei um passo à frente e tentei travar a bola. O raio daquele campo era uma calombeira só; até autobol jogavam nele! Pois quando tentei pisar nela, um buraco a fez quicar. Pois foi quicar e o ponta-esquerda do outro lado, doido para se fazer às minhas custas, que vinha rente que nem pão quente, passou direto. A bola quicou milimetricamente sobre seu pé, num drible sensacional – pelo menos para quem estivesse um pouco distante. Virei o corpo, levantei a cabeça, não vi nada mas não deixei que isso me impedisse: com a pose que estudara durante muito tempo, lancei a bola ao ataque. Quis o destino que caísse nos pés de alguém do meu time, que fez o gol. Não o vi, mas o ouvi perfeitamente.
Na bola seguinte o ponta já veio com mais respeito, e para inovar passei a bola para alguém que eu conseguia ver. Trilou neste instante o apito final, e lá fui eu ver o que o técnico diria. Estava cercado de garotos:
– Não precisa voltar – ou – volta quarta-feira. Pensei, não sem certa razão: se ele não falar comigo, não vai poder me mandar embora! Então, fui sorrateiramente para o vestiário, e nem tomei banho. Resgatei meus óculos de cima da mesa e fui pegar o 416, literalmente com as calças na mão.
Com surpreendente rapidez chegou a nova quarta-feira. Voltei ao clube meio ressabiado, imaginando o que o Professor diria. Pelo visto não só lembrou-se de mim como notou minha saída à francesa (lato e stricto senso), me saudando:
– Olha o porco de volta!
Supus que isto fosse uma permissão para treinar, o que fiz, sem muito brilho mas também sem fazer muita besteira. Desta vez tomei banho (sem molhar a cabeça, para não dar bandeira em casa), e tive a permissão formal para voltar a treinar. Passou a me chamar de Gigante Branco – era o nome de um desinfetante da época, numa alusão à minha altura e à cor saudável da minha pele.
Treinei uma meia dúzia de vezes, até que o joelho acelerou o que fatalmente aconteceria pela via técnica. Torci-o, e adeus, simples assim. Nunca mais pisei naquele gramado. O melhor de tudo é que eu queria fazer uma surpresa para meu pai; não contei nada sobre estar treinando lá, para um dia convidá-lo a assistir a um jogo ou algo assim. Acabei não deixando de fazer uma surpresa, quase ficando reprovado no colégio…
Resolvi escrever esta história até para me expor à execração pública: tivesse continuado, estaria no lugar do Cerezo na Copa de 82 e jamais teria dado aquele passe para o Paolo Rossi, como também não perderia o pênalti na semifinal de 86. Em 90 eu não teria jogado mesmo, teria brigado com o Lazaroni, e em 94 com certeza teria feito ao menos um gol no tempo regulamentar, apesar da pressão contrária do Parreira e do Zagallo.
Em 98 me despediria do futebol não deixando ninguém contar ao Ronaldinho sobre seu pesadelo (eu sei a diferença entre um pesadelo e uma convulsão, o que não parece ser o caso do Dr Lydio), e em 2002 não iria, apesar das súplicas, em solidariedade ao Romário, parando com a bola credor do respeito e da admiração dos amantes do futebol, deixando o país, deixa ver… octacampeão mundial.
Isso sem falar no Fluminense…
RETROSPECTIVA
edição de vídeo: Izabel Barreto
O ano vai chegando ao fim e, por isso, nada mais justo do que fazer uma retrospectiva com algumas resenhas bacanas que fizemos até aqui. No meio de tantas lendas carismáticas, com histórias para lá de divertidas, foi dificílimo escolher as principais matérias. Como dizem no meio do futebol, é aquela dor de cabeça que todo treinador gosta.
O mais importante é que, sem medir esforços e com a ajuda de vocês, seguimos em busca da poesia perdida do futebol, colocando a mão na massa e dando o devido valor que os nossos ídolos merecem!