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LIBERTADORES 20 ANOS – A FESTA

entrevista: Alexandre Perdigão | texto: Matheus Rocha | vídeo: Herbert Cabral |                edição: Daniel Planel

A AGC – Associação Grandes Cruzeirenses fez mais uma grande festa para relembrar seus ídolos, em dezembro de 2017. Desta vez, os homenageados foram os bicampeões da Libertadores de 1997. Como não poderia ser diferente, o Museu da Pelada fez marcação cerrada e esteve por lá.

Foi uma festa no Espaço Meet / Porcão, em Belo Horizonte. Estiveram presentes grandes jogadores daquele time. O evento teve a lembrança de jogo-a-jogo com um documentário feito pela Memória Celeste, com causos e tudo mais.

O Cruzeiro expôs as duas taças Libertadores (1976 e 1997) e ainda a recém-conquistada Copa do Brasil 2017.

O ponto alto da festa foi uma surpresa que não era esperada nem pela AGC. No meio da festa, sem confirmar, apareceu Dida. Não por menos, foi ovacionado no meio da festa. Por volta dos 30 minutos do segundo tempo da final, fez duas defesas incríveis, ainda quando não havia gol no placar. Como disse o Galvão Bueno na transmissão daquele jogo, no momento da defesa: “Se o título vier, metade dele já tem dono, é do goleiro Dida!”. E todo cruzeirense sabe disso.

Daquele time que jogou a final, além do goleiro Dida, também marcaram presença os laterais Vitor e Nonato e o zagueiro Gélson, além dos meio-campistas Fabinho e Elivélton e o atacante Marcelo Ramos. Ainda do elenco, também receberam homenagens os meio-campistas Reginaldo, Léo, Tico e Donizete Amorim e o atacante Da Silva.

O Cruzeiro venceu a Libertadores de 1997 em 13 de agosto daquele ano e o Museu da Pelada lembrou com a data com essa crônica (https://www.museudapelada.com/resenha/um-canhoto-decidindo-de-direita).

 Confira o vídeo da festa!

UMA TARDE EM SESSENTA E POUCOS

por Ricardo Dias

Tenho um grande amigo, o Celso. Celso é faixa preta de caratê (mas diz que é branca, pois está com o joelho bichado, o que o faz um carateca inútil. Eu não gostaria de experimentar) e ex lateral direito do glorioso Pinheiros Futebol Clube, time de futebol amador do Rio. Mas antes de falar de futebol TENHO que contar uma história de caratê dele:

Sensei, o mestre japonês de 88 anos, um dos pais do esporte no Brasil, fez um retiro de fim de semana para caratecas graduados sobre defesa pessoal. Dois dias de muito treino e estudo. Tudo gente cascuda, o seminário rendeu. Último dia, Sensei reúne todos e pergunta:

– Dez homens querem te bater. O que você faz?

Resposta oral, cada um com sua solução. Sensei ouve todos; ao terminar, balança a cabeça e diz:

– Todos burros! Perdi meu tempo, ninguém aprendeu nada!

Ficam todos surpresos e desconcertados. Ele completa:

– Se dez homens querem te bater, VOCÊ CORRE!


Então, feita a pausa, o avô de Celso morava em Santos. Ele e seus irmãos foram passar férias e, fominhas de futebol, foram direto para a Vila Belmiro (um adendo: anos antes, em 62, meus pais estavam em Santos, justamente visitando a Vila Belmiro, quando dei o primeiro sinal de vida, minha mãe não sabia que estava grávida. Deve ter sido um chute, eu queria me juntar aos meus iguais em categoria). Outro adendo: foram levados pela mãe, dona Irene; uma mãe futebolística, também levou os meninos (dois deles, um estava ocupado) ao Maracanã para assistir ao gol 1000 do Pelé!

Chegaram, fizeram amizade com o porteiro, já graduado nessas visitas, e entraram, conheceram os jogadores, já fim de treino, pegaram autógrafos… Mas Pelé já tinha saído. Voltaram à portaria, e o funcionário disse que Pelé sairia pelo portão X ou Y, sei lá. Parece que a malandragem era dizer o portão errado para o rei poder sair em paz, mas como eles não conheciam nada, acabaram errando o caminho a acertando o portão: uma Mercedes azul com placa final 1000 (ou 0010, as memórias divergem) com alguém dentro, podia ser o chofer. O mais jovem chegou mais perto e gritou:

– PELÉ!!!!!


O cara da Mercedes podia simplesmente ir embora. Estava longe, nem tinham certeza se era ele. Mas ficou, desceu do carro e era o próprio, o rei em pessoa! Vinda não se sabe de onde, uma multidão se formou em volta de sua majestade, que atendeu a todos, totalmente consciente de quem era. Autógrafos, conversas rápidas, os meninos no céu. 

Indo embora, passaram pela portaria novamente, para se despedirem do simpático funcionário. Ele perguntou se estavam satisfeitos, disseram que sim, e muito, mas lamentavam não ter conseguido falar com Edu, que estava machucado. Edu era a nova sensação do Santos, o novo rei. O porteiro pediu um tempo, foi lá dentro, e voltou com um pedaço de papel.

– Toma, é o endereço dele. Vão lá que ele está esperando vocês.

Eles se entreolharam, não acreditando, mas foram, era ali perto, poucas quadras. 

Sobem no elevador (era um tempo sem porteiros), tocam a campainha, aparentemente Edu abre a porta.


– Edu!

Eu disse “aparentemente”. Era Gaspar, irmão gêmeo de Edu, que riu e abriu a porta para os meninos. No sofá, com uma bolsa de gelo, Jonas Eduardo Americo, um dos maiores jogadores da história, sorria para eles.

– E aí, pegaram o autógrafo do Pelé?

– Pegamos!

– Então pra que é que vocês querem o meu?????

E a história acaba aqui, com um sorriso congelado no tempo, como uma foto em preto e branco. Um tempo em que três meninos cariocas – um tricolor, um rubro-negro e um alvinegro – podiam reverenciar ídolos de outros clubes, e eram tratados como o que de fato eram, a verdadeira razão de ser do jogo. Um tempo longínquo, onde reis se comportavam como reis e faziam a alegria de seus súditos.

BANDIDOS COM CAMISA

por Idel Halfen

Quando algum jogo apresenta uma baixa presença de público as discussões sobre as causas giram em torno do preço dos ingressos, do calendário, do horário, da crise econômica, do mau momento do time, da concorrência de outras atividades, da transmissão pela TV, etc. Todas essas razões, sem dúvida, contribuem para o afastamento do público.

De forma proposital não adicionei a violência à relação de causas citadas, e não o fiz por entender ser essa uma variável que envolve muito mais do que ajustes mercadológicos, econômicos ou técnicos. Envolve uma forte política voltada à educação, elaboração de leis severas e um poder judiciário competente que puna com o máximo de rigor àqueles que covardemente se utilizam da violência para depredar patrimônios e saquear ambulantes que tentam subsistir vendendo produtos para os que ali estão para se divertir.

Os incidentes ocorridos no jogo final da Copa Sul-Americana de 2017 deixaram evidente o processo de degradação da sociedade e as índoles perversas dos marginais.

Isso mesmo, não passam de marginais, e para esses nem vou entrar no mérito de explicar que suas ações afastam público, patrocinadores e interesse da mídia. Idiotas que são não iriam entender, mas para os leitores vale desenvolver o assunto dentro dessas três linhas de receitas citadas acima.


Em relação à não ida ao estádio, a explicação é óbvia: ninguém quer estar numa zona de risco, porém há algo ainda pior, que é o fato de que ao se afastar as famílias se afasta as crianças, o que inibe a renovação da torcida e de fãs da modalidade.

Sobre patrocínio, a história nos mostra algumas situações de empresas que preferiram ficar fora do futebol após verem suas marcas serem expostas não apenas nos editorias esportivos, mas também nas páginas policiais com elementos sendo presos ou brigando de forma covarde. É importante lembrar que a decisão de um patrocínio, por mais evidências de retorno que possam existir, é discutida e questionada frequentemente pelos demais membros do board de uma corporação, sendo que qualquer incidente negativo fortalece a ala que é contra a iniciativa.

Quanto às receitas advindas da mídia é importante entender que essas se formam através do que as emissoras arrecadam com as vendas dos patrocínios das transmissões aos anunciantes, os quais, além de audiência querem ver suas marcas associadas a algo bom. 

Pode até ser que a audiência não sofra muito impacto em um primeiro momento, ainda que a concorrência com outras formas de entretenimento esteja crescendo, porém, com o processo de formação de novos torcedores sendo prejudicado, conforme escrito anteriormente, é de se esperar que no futuro a queda na audiência ocorra. Além disso, a possibilidade de despertar o interesse e transmitir os jogos para o mercado externo, o que aumentaria a audiência, também se torna improvável.


Tal quadro pode levar naturalmente a um menor interesse dos anunciantes por esse tipo de entretenimento, o que afetaria sobremaneira os clubes de futebol.

Diante dessas reflexões, creio que o título do artigo se enquadre perfeitamente aos marginais que causam o mal ao esporte.

Wagner

o mergulhador

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo: Daniel Planel

 

Considerado um dos maiores goleiros do Botafogo, com mais de 400 jogos pelo clube, Wagner se surpreendeu com uma linda foto tirada há 20 anos pelo parceiro Marcos Tristão e bateu um papo bacana com a equipe do Museu da Pelada no restaurante que administra no Mercado de São Pedro, em Niterói.

Após 15 anos de carreira, o arqueiro se dedica hoje ao Bar do Wagner, um estabelecimento que oferece uma grande variedade de frutos do mar e faz sucesso no “mercado de peixe”. 


(Foto: Marcos Tristão)

Engana-se, no entanto, quem pensa que a nova profissão de Wagner é algo inusitado em sua vida. Ainda nos tempos em que salvava a meta alvinegra, o goleiro se encantou pelo mergulho aquático e chegou a iniciar um curso.

– Fui fazer um passeio, vi todo mundo mergulhando e quis entrar nessa. O curso era longe e noturno. Infelizmente, acabei não terminando, mas ficou uma pontinha de saudade.

Foi nessa época que, junto com o jornalista Mauro Leão, Marcos Tristão foi fazer uma matéria com o goleiro e teve a brilhante ideia de registrá-lo mergulhando com a camisa do Botafogo. Além de destacar o novo hobby, era uma forma de exaltar a paixão do camisa 1 pelo Botafogo!

– Botafogo até debaixo d’água! – confirmou Wagner, com o presente em mãos.

Vale lembrar que o arqueiro foi peça fundamental na conquista do Campeonato Brasileiro de 1995 pelo Botafogo e, não por acaso, foi premiado com a Bola de Prata naquele ano. Mas na infância em Nova Iguaçu, sonhava em ser artilheiro e, devido ao péssimo desempenho, não tinha muitas oportunidades entre os garotos:

– Fui incentivado pelo meu pai, que também era goleiro e, quando decidi ir para o gol, não saí mais.

Naquele timaço do Botafogo campeão nacional, dividia as atenções com Wilson Gottardo, Sérgio Manoel, Gonçalves e os artilheiros Donizete e Túlio Maravilha. Ao citar esse último personagem e ser questionado sobre o rumo que o futebol brasileiro está trilhando, o goleiro foi taxativo:

– O futebol está muito burocrático. Não pode falar mais nada e tem que ficar igual um robô dentro de campo. Na minha época tinha Túlio, Romário, Renato Gáucho e Edmundo, que eram grandes craques e que sabiam trazer o público para o estádio. Isso faz falta! – lamentou.

A resenha se tornava cada vez melhor até que precisou ser interrompida. O motivo era a chegada de uma moqueca de peixe muito bem servida, que não demorou a ser devorada pela equipe do Museu!

 

César Martins

a césar o que é de césar

entrevista e texto: Wesley Machado | foto e vídeo: Jocelino Rocha/ Agência Check

No interior do estado do Rio de Janeiro, praia de Atafona, São João da Barra, mora um grande personagem do futebol, com muita história para contar. Trata-se de César Martins de Oliveira, 62 anos, um privilegiado, cheio de títulos, gols e marcas de dar inveja a qualquer mero mortal.

César foi artilheiro do Brasileiro de 79 pelo América, autor do gol do título da Taça de Portugal de 80, conquistada pelo Benfica e autor do gol do título da Libertadores de 83, conquistada pelo Grêmio.

Natural de São João da Barra, César começou a jogar futebol em um time amador da cidade, o Sanjoanense. Foi para o juvenil do Americano de Campos, onde chegou à equipe principal que se sagrou eneacampeã citadina no ano de 1975. Mas profissionalizou-se mesmo foi no ano seguinte, no América, do Rio de Janeiro.

Depois do Grêmio, César jogou ainda no Paysandu-PA, São Bento de Sorocaba-SP e Pelotas-RS. No Pelotas, ingressou na carreira de treinador, mas não deu prosseguimento como técnico.

César é casado com Sônia Regina da Silva, filha do ex-jogador Bituca, que jogou com Domingos da Guia no Bangu e no Vasco. Tem quatro filhos e cinco netos.

A seguir, é o entrevistado quem nos revela os detalhes de sua vida.


Profecia da mãe

“Minha mãe, que vai fazer 21 anos de falecida, falou que eu ia ser diferente.” (Ele se emociona)

Raízes

“Eu às vezes me pego pensando. Eu queria ter sido campeão na minha cidade. Eu não tenho um título sanjoanense. Grandes merda”. (Ele ri)

Americano e Goytacaz

“Mataram o Americano. O Americano tem o quê? Goytacaz a mesma coisa. Era mil vezes melhor você ter o Campeonato Campista do que entrar para o Estadual.”

Futebol hoje

“Na administração tem de fazer as coisas com transparência. Dirigente de futebol é igual a político. O interesse deles não é ver o clube ganhando títulos, é negócio, virou empresa. É como se fosse um supermercado, você compra e vende um jogador como um saco de batatas, às vezes compra caro, estraga, não dá certo.”

Desilusão

“Futebol é muito ingrato, é um meio podre. São as circunstâncias da vida. Você almeja ser reconhecido, mas é muita gente. Quando a gente está no auge, sendo usado, a gente serve. Depois esquecem.”


Seleção

Eu tinha esperança de ser um dos centroavantes convocados para a Copa de 82. Até porque o presidente da CBF era o Giulite Coutinho, que havia sido presidente do América. Mas o Telê chamou só o Serginho Chulapa e o Roberto Dinamite para a minha posição. Eu também estava jogando fora, em Portugal, e na época isto era um fator agravante, ao contrário do que acontece atualmente.

Libertadores

“A Libertadores é o campeonato mais difícil de se ganhar no planeta, não tem igual. Champions League e UEFA Cup são mais fáceis. Libertadores você vai jogar na altitude, sem ter controle antidoping, é muito difícil”.

1983

“Eu estava machucado. O Espinosa falou que ia me colocar desde o início, que queria o time completo. Eu disse que não tinha condições. Nos reunimos, eu, o Espinosa e o Caio, que me substituiu e acabou fazendo o primeiro gol. Eu falei para o Caio: ‘Você vai jogar e não vai nem precisar eu entrar’. O Espinosa falou: ‘Mas eu preciso de você, César. Você vai prender dois zagueiros’. Eu falei para o Caio: ‘Você é rápido, vai dar uma canseira nos caras’. Aí eu acabei entrando e aconteceu o que todo mundo sabe.”

Renato Gaúcho


“Eu fiz uma promessa para Nossa Senhora da Penha para o Grêmio ganhar a Libertadores de 2017 para o Renato. Depois falei com o Renato que ele tinha de vir pagar a promessa em São João da Barra. Ele falou: ‘Minha agenda tá muito cheia. Não dá para a santa vir aqui não?’ (Rs)

O Renato é uma pessoa do Espírito Santo. Nunca vai faltar nada para o Renato. Ajudei muito o Renato quando ele foi para o Rio jogar no Flamengo. Ele era um garotão, não sabia andar no Rio. Quando foi para a Itália dividiu os bens todinhos com os nove irmãos. Ele me chamou em Bento Gonçalves (RS) e eu que preenchi todos os cheques para ele assinar.”

América

“Quando cheguei no América em 76, ainda estava a base do time que havia sido campeão da Taça Guanabara de 74. O time era: País, Orlando Lelé, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo Hoffmann, Bráulio e Gílson Nunes; Reinaldo, César e Aílton.”

Portugal

“Eu tinha sido artilheiro do Nacional de 79 pelo America e o Flamengo queria me contratar. O Flamengo estava vendendo o Cláudio Adão para o Benfica. Mas o Cláudio Adão não tinha ido bem naquele ano no Flamengo. O Benfica, vendo que o Flamengo me queria, foi lá e me contratou, foi uma aposta. Os sócios do Benfica estavam querendo a cabeça do presidente do clube porque o Benfica tinha perdido o Campeonato Nacional para o Sporting. Só restava a Taça de Portugal para salvar o ano. A final foi entre Benfica e Porto. E eu marquei o gol do título. Ganhei até um troféu pelo feito. Aí no ano seguinte ganhamos tudo, fomos campeões nacionais, da Taça de Portugal novamente e da Taça das Taças.”