Wright
O HOMEM DO APITO
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel
Quando surgiu a oportunidade de entrevistar o árbitro José Roberto Wright, a equipe do Museu da Pelada não pensou duas vezes. Era a nossa chance de esclarecer todas as polêmicas que volta e meia são lembradas nas resenhas, mesmo tendo se passado quase 40 anos.
Por outro lado, não podemos esquecer que Wright foi considerado o melhor árbitro do mundo e da Copa do Mundo de 1990 pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol, além de ter apitado finais da Copa Libertadores e do Campeonato Brasileiro.
(Foto: Daniel Planel)
– Não me considero polêmico porque essas confusões só aconteceram duas vezes. Acho que acertei 99,99% das vezes! – calculou, sem ironia.
As polêmicas em questão foram as expulsões no jogo Flamengo x Atlético-MG, pela Libertadores de 81, e um pênalti não marcado em Cláudio Adão, no duelo entre Fluminense x Bangu em 1985. É claro que a equipe do Museu quis saber detalhes das partidas e Wright não fugiu das perguntas:
– Eles (atleticanos) não queriam jogar futebol. Queriam se vingar da derrota que sofreram para o Flamengo no ano anterior pelo Campeonato Brasileiro e não sou vaca de presépio para fazer o que o jogador quer. Sempre me impus!
Segundo ele, o duelo começou quente e para manter o controle da partida avisou que o primeiro que desse um pontapé seria expulso. Reinaldo tentou a sorte ao pegar Zico por trás e foi para o chuveiro mais cedo, dando início a uma série de expulsões que dariam a vitória ao Flamengo por W.O..
– Éder me deu um tranco, Chicão era maneiro, mas falou bobagem, Palhinha também falou besteira, o goleiro João Leite ficou fazendo cera… Nunca perderia minha autoridade por causa de jogador de futebol!
Passados 36 anos da polêmica, a rapaziada não perdoa: “É o maior ídolo do Flamengo”, “Merece uma estátua na Gávea”, “Foi o melhor em campo” e por aí vai. Mas o que muitos não sabem é que o coração de Wright é tricolor.
Por coincidência ou não, ele favoreceu o Fluminense na final do Carioca de 1985, quando deixou de marcar um pênalti claro de Vica em Cláudio Adão, no último minuto da partida. Naquela altura o Bangu perdia por 2 a 1 e o empate dava o título para o alvirrubro. Apesar de reconhecer a penalidade, Wright jura que já havia encerrado o jogo.
– Nunca recuei, nem botei o galho dentro e é por isso que eu consegui essa projeção.
Apesar de toda convicção e coragem, o árbitro revelou que nunca apitou uma pelada:
– Eu não sou tão louco, né? Aí eu arrumaria inimizade com os amigos e seria expulso de campo! – brincou.
Hoje em dia, Wright trabalha na CBF dando palestras e, nas horas vagas, quando não está curtindo sua casa em Búzios, se diverte com uma máquina de cortar vidros para produzir copos e presentear os amigos.
Obs: Em respeito aos torcedores do Clube Atlético Mineiro, que completa 110 anos amanhã, a resenha com o árbitro foi antecipada para hoje!
O PATROCÍNIO MASTER
por Idel Halfen
Quando se fala sobre as receitas dos clubes de futebol, as relativas ao patrocinador máster são habitualmente as mais lembradas, fato que pode ser explicado em função da maior exposição, a qual propicia uma suposta maior tangibilidade a essa propriedade. No entanto, vale esclarecer que no Brasil o montante desses recursos tem pouca significância quando comparado com o obtido através da comercialização dos direitos de transmissão ou mesmo com as folhas salariais. Já em outros países, essa fonte costuma muitas vezes ser a mais importante.
Além da diferença entre a participação das receitas de patrocínio sobre o total do faturamento recorrente, é também possível perceber outras particularidades nesse tipo de relação, algumas dessas influenciadas pelos órgãos de regulamentação locais.
Entre as distinções mais percebidas estão: a concentração de ramos de atividades, a concentração de patrocinadores e as suas respectivas nacionalidades.
Serviu como base para a análise aqui relatada, uma amostra constituída pelos campeonatos nacionais de nove países: Brasil, EUA (MLS), México, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, França e Portugal na última temporada – 2017 para os campeonatos que se iniciam e terminam no mesmo ano e 2017–18 para os que têm a competição iniciando no meio do ano.
Na Inglaterra, na Alemanha e na França encontramos um patrocinador para cada time. Essa situação quase se repetiu na MLS, não fosse o Bank of Montreal ter patrocinado o Toronto FC e o Montreal Impact, e na Itália em função da Roma estar sem patrocínio máster.
Na contra mão dessa pulverização vimos o Brasil com o maior índice de concentração, visto que um mesmo banco patrocinou 70% das equipes.
Quando voltamos nossa análise para os ramos de atividades dos patrocinadores, constatamos que o setor financeiro é o mais presente, estando em 23% das equipes que compuseram a amostra. No Brasil esse percentual atingiu 85%, valendo salientar que nenhuma equipe francesa ou italiana possui empresa desse segmento como patrocinadora. Outra concentração digna de destaque se dá na Premier League, pois nove das vinte equipes envergam como máster algum site de apostas.
No que tange à nacionalidade das patrocinadoras, vemos que o Brasil é o único país em que 100% delas têm sua matriz localizada na própria nação. O país que mais se aproxima desse índice é o México com 86,7% e o mais distante é a Inglaterra com 35%, o que se explica pelo fato de os sites de apostas geralmente se localizarem em paraísos fiscais.
Excetuando a Caixa, presente apenas no Brasil, a empresa que mais aparece como patrocinadora máster é a companhia aérea Emirates que está no Real Madrid, Paris St. Germain, Milan, Arsenal, Benfica e Hamburgo.
Focando especificamente o Brasil, nos deparamos com um cenário completamente diferente do que se vê nas principais ligas do mundo, tanto pelos pontos observados acima como também por não ter entre as marcas patrocinadoras nenhuma empresa dos ramos de aviação, telecomunicações ou montadora de automóveis, setores que movimentam elevadas cifras.
As causas para essa situação estão provavelmente ligadas à baixa maturidade da indústria esportiva nacional, o que abrange tanto o lado dos clubes e confederações como o dos potencias patrocinadores
Não podemos ainda deixar de considerar como influenciadores desse panorama a conjuntura econômica e os aspectos ligados à educação da população.
COPA DO MUNDO DA MÚSICA
por Mateus Ribeiro
A Copa do Mundo está chegando, e já estamos todos no clima. Seja trocando figurinhas do álbum, seja fazendo simulações com a tabela, todo mundo já está se imaginando na Rússia.
Como sou ser humano, amo futebol (principalmente a Copa do Mundo), decidi que entraria no clima do Mundial, mas de maneira diferente: resolvi que era a hora de listar atletas que disputaram o maior campeonato de futebol do planeta, e que se aventuraram no mundo da música.
Nessa pequena lista, você encontrará de tudo: desde campeões geniais até jogadores não tão talentosos, seja cantando samba ou judiando de uma bateria. Sem mais conversa, vamos ao que interessa!
Alexi Lalas, o zagueiro rockeiro
É muito provável que você se lembre de Alexi Lalas, um dos maiores fenômenos da inesquecível Copa de 1994. Em razão de sua cabeleira e sua barba um tanto quanto chamativas, Lalas foi um dos jogadores mais falados durante o Mundial. Se fosse nos dias atuais, certamente viraria um meme.
Lalas não era apenas jogador de futebol. Desde sua adolescência, fazia parte de uma banda chamada Gypsies. Porém, seu “sucesso” veio com a carreira solo, com o zagueiro/guitarrista chegando a lançar dois discos enquanto jogador: “Far From Close”, em 1996, e “Ginger”, em 1998. Lalas ainda está na ativa, passeando por várias vertentes do rock and roll. Seu último disco, lançado em 2016, chama se “Shots”, e conta com a ótima “Big Break”, que pode ser conferida no vídeo.
Sócrates, um fã de sertanejo:
Que Sócrates é um dos maiores e mais emblemáticos jogadores da história do futebol brasileiro, todos nós estamos cansados de saber. O que muita gente talvez não saiba é que o saudoso Doutor tem um disco de música sertaneja lançado.
Dois anos antes de disputar sua primeira Copa do Mundo, Sócrates gravou um disco de música sertaneja, intitulado “Casa de Caboclo”. O craque do Corinthians e da Seleção Brasileira gravou músicas como “Cabocla Tereza”, “Luar do Sertão” e Couro de Boi”. Para quem gosta de uma boa moda de viola, vale a pena ouvir este grande achado.
Júnior Capacete, um craque do samba:
Um dos principais jogadores da história do Flamengo, Júnior, carinhosamente (ou não) chamado de Capacete, esbanjou talento e longevidade pelos gramados do Brasil e do planeta.
No ano de 1983, Júnior gravou um LP, com destaque para a música “Povo Feliz” (também conhecida como ‘Voa, Canarinho, Voa), tema da Seleção na triste Copa de 1982. Seu LP é algo difícil de se encontrar, mas enquanto não encontro, você pode ficar com essa regravação de 2014 para a citada música.
Petr Cech:
Em 2006, Petr Cech pintava como um dos melhores goleiros do mundo. A seleção da República Tcheca, que disputava seu primeiro Mundial, despertava curiosidade, e alguns até imaginavam que Nedved e sua turma poderiam fazer uma boa campanha. Isso não aconteceu, e o sonho acabou na primeira fase.
Essa foi a única participação de Cech em um Mundial. Sua carreira foi um sucesso, com títulos nacionais e continentais pelo Chelsea. Hoje, já em final de carreira, alterna bons e maus momentos no rival Arsenal.
Pelo menos depois que aposentar, o goleirão já sabe o que fazer: aulas de bateria, uma vez que seu kit sofre um pouco na mão do grandalhão. Mas imagina só se ele tivesse com as baquetas o mesmo talento que tem com as luvas? Desfrute de bons momentos em seu canal no Youtube:
Miguel Herrera cantando Ska:
Miguel Herrera foi um lateral da Seleção Mexicana, e como a grande maioria dos seus companheiros de selecionado, nunca chamou muito a atenção pelo talento. Talvez você se recorde de seus espetáculos na Copa 2014, quando como treinador, proporcionou algumas cenas bonitas como essa:
Pois bem, mas se você acha que esse comportamento, e o fato de ter sido demitido do cargo de técnico da Seleção Mexicana por ter descido o braço em um jornalista foram suas maiores bizarrices, está redondamente enganado.
Em 2002, quando treinava o Atlante, o treinador gravou uma canção do ritmo SKA para ajudar a promover e divulgar o bom momento do clube. Clique no link abaixo, e assista essa preciosidade do mundo alternativo.
Ümit Davala, o rapper Turco:
Davala foi um dos pilares da Seleção Turca na inesquecível campanha na Copa de 2002. Chamou a atenção pelo seu futebol e seu penteado de gosto duvidoso.
Se você achou o penteado dele um tanto quanto alternativo, é porque não ouviu disco de Rap cantado em turco pelo ex jogador. Lançado no ano de 2004 , o disco chamado de “UD 2004” é um tesouro para quem gosta de curiosidades e excentricidades.
Ryan Babel, boleiro e rapper nas horas vagas:
O atacante holandês está bem longe de ser um craque. Mesmo assim, conseguiu participar de poucos minutos entre os Mundiais de 2006 e 2010. Sua carreira em Mundiais não passa disso.
Talvez sua carreira como rapper seja mais interessante. Com o nome artístico de Rio, Babel tem participações em músicas de outros rappers. Mas seu melhor momento mesmo fica para a música gravada ao lado do compatriota Royston Drenthe (que chegou a jogar no Real Madrid). Vale a pena ouvir:
Raí, o homem que estava nos sonhos de Paula Toller:
Achou que apenas Sócrates representaria a família Vieira de Oliveira? Achou errado, amante da música e do futebol.
No ano de 1993, antes de disputar sua primeira (e única) Copa, um dos principais jogadores da história do São Paulo participou do clipe da música “Eu tive um sonho”, da banda Kid Abelha. Raí faz um papel de Príncipe Enantado no clipe. Relembre esse grande crossover abaixo:
Tomas Brolin, dos gramados para as pistas de dança:
No ano de 1999, as boybands estavam em alta. Nomes como BakstreetBoys, Five e N´Sync estavam no auge, e rodavam o mundo, fazendo shows para multidões.
O fenômeno rodou o planeta, e a Suécia não poderia ficar de fora. Um dos principais nomes da Seleção Sueca na Copa de 1994, Tomas Brolin fez parte do grupo Friends In Need, que executava um eurodance de gosto um tanto quanto duvidoso. O clip é tão inusitado quanto a música. A desenvoltura de Brolin como integrante de banda de adolescente mostra que escolher o futebol foi a melhor das opções.
Pelé, um pouco além do ABC:
A lista tinha que terminar com o Rei. Pelé gravou uma música para promover os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
A canção, intitulada “Esperança”, é mais empolgante do que o jingle que dizia que “…toda criança tem que ler e escrever”. Porém, podemos dizer que como cantor, o rei continua sendo o maior jogador de futebol de todos os tempos.
E você, consegue se lembrar de algum outro craque (ou pereba) que participou de uma Copa do Mundo e foi fazer sucesso nos estúdios e palcos mundo afora? Caso se lembre, mande aí nos comentários!
Até a próxima!
Lenny
A EXPLOSÃO
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel
Uma arrancada fulminante, deixando três marcadores para trás, seguida de uma finalização no ângulo, em pleno Mineirão, apresentavam um jovem talento de Xerém aos brasileiros. Aos 18 anos, Lenny despontava como uma das maiores promessas do futebol nacional e a expectativa era inevitável.
Ninguém poderia imaginar, no entanto, que o atacante que vestiu as camisas de Fluminense, Palmeiras, Figueirense e outros clubes de menor porte penduraria as chuteiras pouco mais de uma década depois daquele golaço, aos 29 anos.
– Não acho que o futebol seja ingrato. Devo tudo a ele! (…) É claro que eu almejava muito mais, mas as lesões me atrapalharam muito! – admite o agora ex-jogador.
Embora tenha se aposentado do futebol profissional, Lenny está sempre batendo suas bolinhas por aí e não perde uma pelada de Carlinhos Cortazio, na Barra da Tijuca. O desempenho muito acima dos outros peladeiros e o físico em dia fazem com que os amigos insistam em seu retorno ao mundo da bola.
– Eu tenho uma academia e cheguei a fazer uns trabalhos específicos. Estou apto para jogar e conheço umas pessoas ligadas ao futebol que já me sugeriram. – revelou.
Enquanto não decide o seu futuro no campo, segue sua vida como empresário, administrando seus negócios sem deixar a paixão pela bola de lado.
TITE, RINUS MICHELS E LUAN
por Claudio Lovato
A se confirmar a informação de que Tite não levará Luan para a Copa da Rússia sob o argumento de que o jogador do Grêmio não tem posição definida em campo, e que por isso seria difícil encaixá-lo no time, estaremos diante de um descalabro.
Fico imaginando – vício de ficcionista, me perdoe – um papo entre o Tite e o Rinus Michels, com o brasileiro tentando explicar ao técnico da grande Holanda de 1974 (cuja morte está completando 13 anos neste mês de março) o porquê de não levar Luan para a Copa de 2018:
– Rinus, não dá para saber onde ele joga! Ele joga pelo meio? Pela esquerda? Pela direita? É armador? É atacante? Pô, não dá!
– Mas isso não é bom, Tite? Isso não dificulta a marcação para o adversário? Os caras não ficam desesperados procurando por ele em campo e quando se dão conta ele está colocando um companheiro em condições de finalizar? Foi o que eu ouvi.
– É, pode ser, mas isso pode confundir os companheiros também!
– Bom, e me perdoe pelo que vou dizer agora, mas aí é que entra a mão do treinador. Eu tive sob meu comando uns caras que também não guardavam posição e, olhe, acho que dá para dizer que provocamos algumas dores de cabeça em nossos oponentes.
– Mas temos que encaixar as peças direitinho, Rinus! Organização é tudo! Você sabe disso!
– Eu sei. Organizei o time de pelada mais bacana de todos os tempos.
– Então?!
– Mas não seja tão certinho, amigo!
– Cada jogador tem que saber onde jogar e cumprir à risca o combinado. Senão, a engrenagem não funciona. Até o Neymar sabe que tem que ficar no quadrado dele!
– Engrenagem. Por isso é que eu ficava contrariado, para não dizer outra coisa, quando nos chamavam de Laranja Mecânica”.
– O coletivo acima do individual, Rinus!
– Você está dizendo isso para mim?
– Me desculpe, não quero parecer presunçoso.
– Tite, me diz uma coisa, com sinceridade e humildade: você ainda não conseguiu entender o futebol do garoto, é ou não é?
– Claro que entendi! Só não vejo como colocar ele no time!
– Não, amigo, então você não entendeu.
– A ideia de time! A inexorabilidade da supremacia do conceito de coletividade!
– O que faz o todo é a soma das partes. E quanto melhores as partes que você tiver em mãos, melhor. Organize-as e depois dê o máximo de liberdade para que rendam tudo o que podem.
– O futebol de hoje não permite essas coisas, Rinus! Por favor!
– Pelo contrário! O futebol de hoje exige exatamente isso, talvez como nunca antes! Disciplina tática com liberdade para os jogadores! Ocupação de todo o campo, troca de posição, posse de bola, e então passe, passe e passe. Pelo que sei, esse rapaz do Grêmio se dá muito bem num esquema assim.
– É assim que já jogamos na Seleção!
– Mas pode ficar muito melhor. Pode ficar mais complicado para o adversário!
– Não sei se é necessário.
– Você é quem decide. Mas se eu posso pedir alguma coisa, é isto: considere levar o garoto pelo menos entre os 23.
– OK, vou considerar, Rinus.
– Sucesso para o Brasil lá na Rússia. Você tem ótimos jogadores. Mas talvez precise de alguém para bagunçar o coreto de vez em quando.
– Vou pensar, Rinus, vou pensar…
– Boa sorte. Abraço.
– Outro. Ah, sim, antes que eu me esqueça: o que o Cruyff acha disso?
– Melhor eu nem lhe dizer, Tite.