Macula
MACULA, O VENCEDOR
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Planel
Quem vê a trajetória de Macula no futebol nem imagina como tudo começou por acaso. Antes de se tornar aquele jogador essencial que “corria para todo mundo” em todos os times por onde passou, gastou boa parte da sua infância no Bangu como gandula e lavando os carrões dos jogadores em troca de um dinheirinho.
Quis o destino que, como em uma história de filme, o menino fosse chamado para realizar testes no alvirrubro. Agarrou a oportunidade com unhas e dentes e construiu uma linda trajetória no clube.
– Hoje sou o Macula graças ao Bangu. Fui muito feliz por lá e ainda tive o privilégio de jogar com jogadores que me davam os trocados enquanto eu lavava os carros deles, como Claudio Adão e Arthurzinho, já em fim de carreira.
Na época, o futebol carioca era bastante nivelado e a diferença entre os times considerados grandes e pequenos não era tão assombrosa. Além disso, o Bangu tinha como presidente ninguém menos que Castor de Andrade, um dos mais famosos e poderosos bicheiros do Brasil.
Durante o papo, Macula não escondeu sua admiração pelo chefão e lembrou o dia-a-dia no clube.
– Ele era uma pessoa fantástica! A gente recebia o bicho na sexta-feira em dinheiro. Ele fazia questão de contratar os melhores, elevando o Bangu como time grande. Acho que personagens como ele fazem muita falta no futebol.
Ao ser perguntado sobre o jogo mais importante da sua vida, Macula nem precisou pensar. De bate-pronta elegeu Bangu x Flamengo, em 9 de março de 1988, quando marcou o seu primeiro gol no Maracanã, uma verdadeira pintura. Vale destacar que a zaga do Flamengo era formada por Edinho e Leandro, já em final de carreira, o que valoriza ainda mais a obra-prima.
O Flamengo, aliás, costumava sofrer com Macula nos jogos contra o Bangu. O meia sempre marcava seus golzinhos e complicava a vida dos rubro-negros. Até que alguns dias antes de mais uma partida contra o time da Gávea, Macula recebeu a notícia de que o rival estaria interessado na sua contratação.
– Me disseram que o Romário tinha dado o aval e tudo. Entrei em campo relaxado, não joguei nada, perdemos por 3 a 0 e não teve contratação nenhuma. Era uma pegadinha do malandro, eles me sacanearam!
O talento, no entanto, foi reconhecido por outros gigantes do futebol brasileiro e Macula vestiu as camisas de Fluminense, Vasco e Juventude, antes de ter uma passagem pela Suíça. Quando estava de férias no Brasil, recebeu uma ligação do seu empresário avisando que o Palmeiras seria o próximo destino.
– Fiquei assustado na hora! Era o Palmeiras da Parmalat, formado por Gil Baiano, Antônio Carlos, Kléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Zinho, Mazinho e Rincón; Edmundo e Evair na frente. Não dava para ver nem a cor da bola! Jogar por lá e ser campeão foi uma coisa de outro mundo.
Além do título paulista de 1994, marcou um gol importante na Libertadores daquele ano, contra o Vélez Sarsfield e não demorou a cair nas graças da torcida alviverde. Mesmo diante de tantos craques, seu invejável condicionamento físico se destacava entre os demais, tornando-o um jogador incansável no meio.
O DESPACHO
por Sergio Pugliese
Outro dia estava no Aeroporto de Congonhas quando o sistema de som informou sobre o atraso do voo para o Rio. Que novidade!!! Sentei-me e relaxei. Num intervalo da leitura do jornal, olhei para frente e ele, vascaíno ilustre, estava ali, sentadinho, tranquilão, como se fosse um ser humano comum. Pensei em não importuná-lo, mas a tietice falou mais alto. Há tempos sonhava entrevistá-lo, ouvir suas histórias sobre as peladas na Praia do Leme, nos times dos artistas e da Portela. A ideia seria apenas apresentar-me e, humildemente, agendar uma futura resenha.
– Oi, Paulinho, tudo bem? Escrevo uma coluna sobre pelada, no Globo, e adoraria marcar um papo…
– Sente-se! – sugeriu.
Nem precisava pedir. Minhas pernas tremiam tanto que sentar-me seria a melhor alternativa para não pagar o mico de desabar. Sou muito fã de Paulinho da Viola e desde garoto ouço suas canções anestesiantes.
– Temos tempo de sobra – brincou.
E emendou causos atrás de causos. Lembrou-se de fotos com Natal, da Portela, assistindo jogos da escola de samba, escalou times de artistas, com ele, Miéle, Francisco Cuoco, Tony Ramos, Jair Rodrigues e Dary Reis, levantou-se, narrou alguns lances e matou uma bola imaginária no peito para ilustrar melhor uma das tantas memórias. Eu continuava assistindo, babando com a performance de meu ídolo. Seguimos na fila e eu só ouvindo até que entramos no avião, nos separamos e na saída fiquei sem graça de abordá-lo novamente. Não marcamos nada, mas reservei a melhor história daquele fim de tarde para essa época de Carnaval quando ele assume o posto de Rei.
Foi na Praia do Leme. A rapaziada chegou seca para jogar, mas no centro do campo havia uma tigela de barro cheia de oferendas. Foguete foi o primeiro a chegar, viu o “trabalho” e preferiu não mexer. Vai que…
Mas quando Renatinho chegou, Foguete, assim como quem não quer nada, passou a missão ao amigo.
– Renatinho, enquanto vou armando as redes, tira aquela macumbinha dali.
– Vamos inverter, Foguete, não sou muito chegado nessas paradinhas.
– Desse tamanho, com medo?
– Tá vindo o Almeida, ele tira – esquivou-se, Renatinho.
– Almeida, por favor, tira aquela tigela do campo enquanto dou um mergulho e o Foguete coloca as redes.
O grandalhão Almeida não disse que sim, nem que não. Esticou o pescoço, aproximou-se, benzeu-se mas sentiu arrepios que o fizeram desistir. Quando olhou para trás viu Barcelos, policial destemido.
– Fala, Barcelos! Vou dar uma calibrada nas bolas, enquanto isso dá uma geral no campo e tira aquele despacho dali.
Barcelos coçou o queixo, largou a mochila no chão e encarou a tigela como se fosse interrogá-la. Deu meia-volta e desculpou-se.
– Almeida, se não tivesse farofa eu tirava. Dizem que farofa é trabalho radical.
A esperança seria Santana, ateu de carteirinha, mas que surpreendeu a todos com uma resposta inusitada.
– Não meto a mão nisso. Sou ateu, mas não sou louco.
Resumo. Ninguém tirou e a bola rolou com a oferenda no meio do campo. Os jogadores pulavam por cima da macumba e três bolas foram dadas como perdidas porque encostaram na tigela.
– Deixa para o santo – recomendava Vevé.
O racha estava tenso e alguns jogadores garantiram ter visto vultos. Mas no intervalo, a salvação! Baiano surgiu do nada! Mistério! Perna de pau famoso, só era escalado nas emergências, mas foi recebido com festa por uma razão óbvia: baiano não tem medo de macumba. O cara até topou ajudar, mas exigiu uma vaga. A solução seria um time jogar com 12. Feito! Rodeado pela galera, Baiano ajoelhou-se, murmurou “mamãeburuquêdosinhôqueárainhadomarsalveoxalá”, benzeu-se, pegou o alguidar e o entregou ao mar. Ovacionado!!! Em campo, acertou um chute sobrenatural no ângulo, o da vitória. Até os adversários fizeram o sinal da cruz e, após a partida, nunca mais foi visto.
Texto publicado originalmente em 28 de fevereiro de 2015 na coluna “A Pelada Como Ela É”, do Jornal O Globo.
PELADA QUENTE
por Ricardo Dias
Jogando, sou uma mistura de Messi, Garrincha e Ronaldo Fenômeno: como Messi, uso mal a perna direita; como Garrincha, uso mal a esquerda; como o Fenômeno, não sei cabecear. Mas sou grande, impressiono, nem que seja pelo deslocamento de ar ou pelas leis da gravitação universal.
Desde uma certa idade curto uma pelada. Circunstâncias fora de meu controle me afastaram dos campos (ou ruas, ou becos, ou onde se estivesse chutando uma bola) por muitos anos, até que, já com uns 40 e algo, voltei a pisar um gramado. Artificial, mas era verde, pelo menos. Um bando de velhos como eu, não seria um problema. Mas, preocupantemente, havia uns garotos, também. Deixa as crianças, vamos jogar.
A primeira bola! O coração batendo mais forte – pela emoção e pela corridinha – e veio ela em minha direção, linda, rolando. Pensei: Vou dominá-la, tocar levemente com o lado externo do pé e lançar para aquele careca que está… Quando olhei para baixo de novo, cadê a bola? Minha estreia nos campos (vide coluna anterior aqui no Museu) se repetia na velhice: um infeliz de um moleque veio voando e, no meio de meu raciocínio elaborado, já estava do outro lado do campo. Não gostei. Na bola seguinte, a mesma coisa, e ele ainda se deu ao luxo de fazer um rodopio à minha volta. Parecia até desenho animado.
Avisei a um cidadão que estava do meu lado, com toda a serenidade:
– Vou dar um pau nesse moleque!
– Dá mesmo!
Com essa aprovação, já fiquei mais leve. Se ele tivesse me driblado, me feito de bobo na bola, o diabo, eu respeitaria. Mas ele só tinha um mérito: pulmão. Então, merecia. Avisei da vez seguinte, em que lhe tomei a bola:
– Respeito, moleque!
Ele fez cara de deboche. Mas a próxima foi muito saborosa: veio quente na minha direção e deixou a bola escapar um pouco. Tomou um lençol. E ME deu um cacete!!!!!!! A canela da gente, quando a gente envelhece, dói mais. Doeu muito. Mas minha sede de vingança foi atiçada. Capengando, o que me fazia um alvo mais fácil, continuei jogando. Ele veio de novo, sem nenhuma cautela, a pureza dos inocentes. Abri a perna, oferecendo o drible humilhante, e o bobinho caiu na conversa. A bola até foi mal tocada, bateu no meu pé esquerdo, mas minha perna direita bateu na cintura dele. Voou moleque abusado para todo lado. Claro, pedi mil desculpas, ajudei a levantar, atribuí à minha falta de jeito. Mas ele sabia que mereceu. Ele e o pai dele, o cara que disse “dá mesmo!”…
Mais jovem, futebol de salão com juiz. Chamado “time contra”. Um cara não gostava de mim, assuntos relativos ao sexo oposto. Me batia o tempo todo. Eu apanhando calado, tinha uma certa culpa no cartório, me sentia devedor. Determinada hora, me deu uma rasteira, bem dada, o juiz não viu. Ao se abaixar para fingir que me ajudava a levantar, pisou beliscando a minha coxa. Uma dor horrorosa, e sem pensar arriei o calção dele que, desequilibrado pelo susto, caiu com o pinto ao vento. Me agarrei com um cara do meu time, dizendo “Me larga! Me larga!”, mas quem estava segurando era eu, estava morrendo de medo, o bandido era bem mais forte. Saí vivo graças ao pessoal do outro time que segurou o sujeito por tempo suficiente para eu me mandar, já que fui injustamente expulso.
Mas o momento de glória foi numa pelada em terra batida. O Bagre, um colega de rua (também chamado Ricardo; éramos três homônimos, o Tricolor – eu, o Bagre e o Bailarino), arranjou uma pelada de time contra. “Time contra”, já que eu usei essa expressão três vezes, era quando a gente jogava contra um time mais ou menos organizado, não era cata cata ou par ou ímpar na hora do jogo. Ele arregimentou um time na rua e fomos todos na kombi do Eduardo da vidraçaria, que por algum motivo que me escapa resolveu ir junto. Talvez tenhamos mentido sobre haver mulheres, é uma possibilidade. E fomos, para uma cidade bem próxima do Rio.
Ao chegar nos deparamos com uma praça e um enorme espaço vazio irregular, cor de areia. Era uma visão inóspita, um sol de rachar, nem uma sombrinha. De colorido apenas uma carrocinha de picolé – que, descobri depois, não tinha nenhum para vender, não sei o que o cara vendia e achei mais seguro não perguntar. Um ambiente bucólico, tipo cidade do interior, com um detalhe mais pitoresco ainda: um padre assistia ao embate. Ele se vestia de azul claro, nunca tinha visto uma batina assim, de vez em quando chegava alguém e pedia a benção. E começa a partida. Bola com Ricardo Dias, que domina e faz um passe para Caolha. Caolha mata no peito, e rola para Zé Paulista, que devolve para Ricardo Dias que, com sua enorme e proverbial categoria, faz o gol. 1 x 0 com meio minuto de jogo. Fizemos uns 3 ou 4 gols em sequência, éramos ruins mas eles eram piores. E em vista da impossibilidade de inverter o placar, eles, de jogar mal, passaram a jogar mau, com perdão do jogo de palavras.
Baixaram o cacete, e o clima foi ficando pesado. Éramos seis mais o Eduardo, que não jogava e continuava procurando as mulheres, e eles eram uns 15, e iam crescendo de tamanho: os garotos foram dando lugar a uns galalaus enormes, que não pareciam interessados em jogar… Pensei, com minha também proverbial sabedoria: Vamos apanhar que nem uns miseráveis, aqui.
Pedi um tempo para beber uma água, concederam, chamei o Eduardo e avisei: se prepara que a gente vai sair correndo, esse jogo não vai acabar! Ele ficou pálido, mas disfarçou bem, foi para a kombi assoviando com a mão no bolso. Voltei e fui avisando um a um minhas intenções: a kombi estava perto de nossa defesa, em dado momento que fôssemos bater um tiro de meta nós correríamos para dentro. Todos concordaram, menos um que não entendeu bem – aparentemente ele tinha consumido o que o sorveteiro estava vendendo. Mas foi feito. A um sinal meu, fingi que estávamos combinando uma tática, e nos agrupamos. O dito padre estava do lado, me senti mais seguro, até que ele rugiu:
– Eles vão fugir!!!!!!!!
E o Neymar pensa que apanha muito…
TORCER SEM DISTORCER
por Idel Halfen
A frase que dá título ao artigo pode até parecer utópica para os que adicionam ao ato de torcer uma componente perigosíssima: a paixão, a qual é capaz de contaminar julgamentos e interpretações sobre fatos relacionados aos alvos de suas predileções. E pouca diferença irá fazer se o autor do julgamento tem conhecimento suficiente para opinar a respeito, até porque não se trata de uma opinião isenta e sim da defesa de sua convicção, instituição ou partido.
No futebol, um técnico passará a ser burro no momento em que a escalação e/ou substituição que ele fizer não coincidir com a do sujeito “inteligente” que não conhece os bastidores e jamais teve experiência na profissão, mas se porta como tal.
Esse tipo de prepotência não fica restrito aos aspectos ligados ao desempenho esportivo, afinal, segundo dizem, todo brasileiro é um técnico. Aliás, a coisa evoluiu de tal forma que agora todo brasileiro é também gestor, independentemente do que tenha estudado ou até que nem tenha estudado.
O que antes parecia limitado ao futebol parece ter extrapolado para diversos segmentos, inclusive para a política em todas as suas manifestações.
Decisões judiciais passaram a ser contestadas por qualquer um, pouco importando se os “contestadores” têm ciência sobre os códigos penais, dos autos dos processos, ou se nem sabem o que isso significa. Se a decisão coincide com o que “torce”, o juiz é honesto, caso contrário, trata-se de um venal.
Não se descarta a possibilidade de a falta de honestidade se fazer presente em julgamentos, assim como não podem ser desprezados os graus de isenção de um juiz ou mesmo sua capacidade. Porém, apelar para esses como instrumento de argumentação não me parece razoável.
Outro argumento bastante evocado é o do uso “bom senso”. Para quem o usa, seria interessante perguntar se eles já viram alguém admitir que não tem “bom senso”, ou se consideram o “bom senso” um monopólio deles ou dos que pensam iguais a eles.
Nesse contexto, é bastante provável encontrar pessoas que defendam agressões verbais a um ministro do Supremo Tribunal Federal quando esse está em seu momento de lazer, mas que condene uma senadora que insufle a população contra a decisão de um juiz, ou vice-versa.
Isso sem falar no caso de um senador que ao se ver contrariado incita a população para ações de violência, mas se sente ultrajado quando a violência é contra ele.
Para que não pairem dúvidas, acho todos os fatos condenáveis. Os que aceitam esse tipo de postura apelam para o discurso da democracia como justificativa, o que não faz o menor sentido, pois democracia não dá o direito a ofender e perturbar a ordem de quem quer que seja.
Parecem esquecer que a busca pela justiça feita com as próprias mãos e/ou pelo próprio arbítrio abre um precedente perigosíssimo, além do que, vale lembrar que os corruptos agora julgados e condenados tiveram esse mesmo raciocínio ao quererem arbitrar suas remunerações tendo as propinas como complemento de seus salários.
NEGUEBA
por Zé Roberto Padilha
Difícil mesmo foi para Evaristo Macedo jogar no Barcelona e no Real Madrid. Do Rio de Janeiro para a Espanha, era preciso se exibir por lá em amistosos, convencer os diretores dos mais ricos clubes de futebol do mundo de que o jogador que estava embarcando da Gávea não era uma promessa, mas uma realidade. Foi demorado, dezenas de reuniões e contatos foram feitas, propostas e contrapropostas eram acompanhadas pelos jornais, mas Evaristo chegou lá, venceu e se tornou uma lenda no futebol espanhol.
Fácil foi para Vinícius Júnior ser vendido para lá. Com tanta carência de novos craques, mal esperaram sua maturidade. Fizeram um vídeo bonito cheio de boas jogadas, postaram no Whatsapp para chegar mais rápido por causa da janela europeia e alcançaram um valor indecente pelo o que apresentou em campo até agora. Como uma manga bonita que desponta na árvore de uma Copinha, é cobiçada em um mundial Sub-17 em que poucos são testemunhas, tratam longo de embrulhá-la num jornal a forçar seu desabrochar. E quando realizam as primeiras jogadas, valendo três pontos e se posta à mesa, o sabor passa longe daquela cobiçada fruta colhida no pé e degustada no tempo certo de maturação.
Com 17 anos, pela primeira vez em sua história, um Vasco x Flamengo apostou nos pés de seus dois meninos, o outro foi o Paulinho, a responsabilidade de decidirem o primeiro clássico do futebol carioca. Imaturos, afoitos diante dos goleiros, sem a confiança em si mesmo, dos companheiros e da torcida, poderiam até serem coadjuvantes em meio às estrelas dos seus times. Jamais a atração principal. E o 0 x 0, em uma tarde nublada, foi a justa nota final de quem não se preparou o suficiente para se impor e decidir o clássico.
17 anos. Como Vinícius Junior, Negueba, um bom jogador, surgiu assim. E Berico, desapareceu assim. Fio Maravilha, pelo menos, virou hino, mas nenhum deles foi trabalhado, treinado e cultuado para se perpetuar um Zico. Arthur Antunes Coimbra chegou à Gávea aos 16 anos, estreou aos 19, se firmou no time titular aos 22 e foi convocado para a seleção brasileira, pela primeira vez, aos 23. E atingiu seu auge aos 28, quando levou o Flamengo a ser campeão mundial de clubes, em Tóquio. Aos 29 anos, então, alcançou a plena sabedoria ao fazer parte da lendária seleção de 82, comandada por Telê Santana. Tudo ao seu tempo e a espera do seu melhor momento.
Nossas divisões de base, no entanto, continuam com sua mangueiras frutíferas pelos terrenos de suas diversidades, a produzir a mais saborosa das nossas matérias primas. O problema é que os empresários, ávidos por dinheiro e apaixonados pelo Poker, vivem a blefar com novas cartas, craques e mangas. E quanto a você, pagaria para ver as jogadas que este menino colocará no feltro do Maracanã e do Santiago Bernabéu? Ou ele vai acabar jogando no Sport e depois será dispensado pelo Coritiba?