Ancheta
XERIFão apaixonado
texto e entrevista: Freddy Paz | vídeo: Alex Racor | edição: Daniel Planel
Um ídolo como Ancheta merecia uma entrevista de alto nível com um lugar à altura da admiração que temos pelo xerife. Por isso, marcamos a resenha na Arena do Grêmio.
Nossa ideia, primeiramente, era gravar os depoimentos dele embaixo das traves, ou o mais próximo dela, pois ali na pequena área ele sempre se sentiu em casa. Não conseguimos acesso ao campo, pois estava passando por alguns reparos, mas subimos para o anel superior buscando um plano que mostrasse a grandeza do estádio.
Por ser um homem muito humilde e carismático, o papo com Ancheta foi super descontraído. Ficamos ali por quase três horas e falamos do inicio da sua carreira no Uruguai, os títulos no Nacional, a Copa de 70, a sua paixão pelo Grêmio, o Gauchão de 77 e a rivalidade com o zagueiro Figueroa, do Internacional. Um momento mais do que especial, que ficará marcado para sempre na nossa memória.
Festa do Neném
FESTA DO NENÉM
texto: André Mendonça | fotos, vídeo e edição: Daniel Perpetuo
Maior artilheiro da seleção brasileira de futebol de areia com 336 gols, o craque Neném completou 45 anos nesta semana e reuniu os os amigos em uma linda festa na orla do Leme! Com direito a chopp, samba e pelada, a resenha rolou solta, do jeito que a gente mais gosta!
Com uma estrutura invejável, o evento contou com a presença de craques como Romário, Jairzinho, Júnior, Djalminha e Cláudio Adão, e nem a insistente chuva que caía no Rio de Janeiro afastou os convidados e os curiosos que se aglomeravam a medida que as feras iam chegando.
– É um prazer estar na festa do Neném, pode chover canivete que eu estarei aqui! – garantiu Magal, ídolo do Beach Soccer.
Se a presença dos amigos, mesmo com a chuva, não fosse o bastante, os discursos deles demonstravam como o aniversariante é querido.
– O melhor jogador da praia de todos os tempos. Tenho muita dificuldade para falar de você, mas desejo muito sucesso na sua vida – parabenizou o Furacão da Copa.
– É sempre prazer estar com ele e com essa rapaziada. Reunir a galera, tomar um chopp, fazer uma resenha, acho que isso é o melhor da vida! – ressaltou Roger Flores.
Com a bola rolando, a galera teve a oportunidade de rever lindas tabelas e uma dupla de ataque dos sonhos: Romário e Neném. Municiados por Júnior e Djalminha, os artilheiros marcaram quatro dos cinco gols e ajudaram a equipe amarela a arrancar um empate no último lance da partida.
Ao ser perguntado se Neném era o Romário do futebol de areia, o Baixinho não titubeou:
– Com certeza! Maior artilheiro da seleção brasileira de beach soccer! Queria agradecer o convite e dizer que é um prazer estar participando desse evento com ele.
Após o apito final, os craques se surpreenderam com Jairzinho soltando a voz no palco, com o sucesso “Jair da Bola”, e curtiram a festa até altas horas!
MÁRIO SÉRGIO
por Rubens Lemos
Sua perna-esquerda transformava a mentira em uma delícia. Um espetáculo de classe em campo. Mário Sérgio Pontes de Paiva enganava seus perseguidores com o olhar cínico do seus toques. Fingia mandar a bola para um lado e a lançava para o outro, numa perfeição ilusionista. O Vesgo, seu apelido inspirado pela petulância refinada, jamais foi a uma Copa do Mundo.
Em meio a devaneios frequentes sobre injustiçados de nosso tempo, eu e um amigo praticávamos saudosismo vendo um jogo antigo do Internacional de Porto Alegre e lamentávamos a birra de Telê Santana com Mário Sérgio. Ele acabara, na tela da TV, de driblar dois zagueiros num jogo de corpo, parar, esperar o goleiro cair e empurrar a bola para as redes num peteleco, biquinho de chuteira. Cracaço.
E Mário Sérgio ficou sem Copa. Estava jogando o fino em 1982, titularíssimo do time e, de repente, foi escanteado como os laterais que fintava, trocado pelo decadente Dirceuzinho, operário, corredor e sem charme, de ridículos 45 minutos deslocado de ponta-direita na estreia brasileira contra a União Soviética.
A seleção brasileira de 1982 tinha defeitos, meninos quarentões. É que ninguém gosta de lembrar, numa reverência boba ao mestre Telê Santana, senhor da ofensividade e da teimosia.
Telê Santana mostrou ao mundo um futebol maravilhoso, mas errou e era humano. Mário Sérgio ficou em casa e Dirceu viajou. Mário Sérgio, o Vesgo, está entre os 100 maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, dos 30 maiores que assisti, não me resta a dúvida.
Era um rebelde, um presunçoso. Tão habilidoso que mexia em vespeiros. Certa vez, num treino do Fluminense, desafiou o gênio Didi, técnico da famosa Máquina Tricolor. O time chutava com bolas e gigantes de fortalecimento muscular, utilizadas habitualmente nos anos 1970. Mário Sérgio, depois de fazer 10 embaixadinhas sem qualquer problema, mandou um bico em direção ao maduro e espigado Míster Futebol, maior meia-armador do da história futebolística.
Didi conversava com auxiliares e foi alertado pelo grito do seu ponta-esquerda: “Segura essa que eu quero ver, seu Didi!”. O verdadeiro balão de couro, enorme e disforme, subiu e, antes de chegar ao peito do chefe, ele esticou a ponta do sapato, fez um movimento de adestrador. O balão foi amaciado e desceu obediente. “Você ainda tem muito o que aprender barbudo!”, respondeu Didi sob aplausos gerais.
A provocação não tirou Mário Sérgio da escalação titular, formada no meio-campo por Zé Mário, Rivelino e Paulo Cézar Caju e no ataque por ele fechando o trio com Gil na ponta-direita e Manfrini bem improvisado na ponta-direita.
Bicampeão pelo Fluminense, Mário Sérgio seguiu para o Botafogo onde jogou com Marinho Chagas formando uma ala respeitável pela esquerda. Tanto jogavam quanto aprontavam, a ponto de o time ser chamado de Camburão Futebol Clube. Mário Sérgio usava um revólver calibre 38 na cintura, em suas folgas.
De ponta-esquerda legítimo, daqueles de ir à linha de fundo, desmoralizar o lateral-direito e cruzar direto na cabeça do centroavante, atingiu a plenitude como quarto-homem de meio-campo, reencontrando Marinho Chagas no São Paulo em 1981, quando foi convocado pela primeira vez, aos 31 anos.
Estreou contra os búlgaros, deu um show de bola em Porto Alegre, entrosado com Cerezo, Sócrates e Zico e ainda enfiando passes para dois gols, o do jovem lateral-direito também iniciante, Leandro, do Flamengo, e de Roberto Dinamite, que voltava ao escrete após dois anos de ausência.
Convocado sempre na prorrogação, na marca do prazo final, para as Copas de 1974 e 1978, o esforçado e combativo Dirceuzinho, falecido em acidente de carro em 1995, agia como bom assessor de imprensa de si mesmo. Dirceuzinho nunca foi mal jogador, claro, mas havia outros bem melhores.
Mandava recortes de jornais espanhóis e italianos sobre suas atuações às redações e para a Comissão Técnica da seleção, cortejava jornalistas e enviava cartões natalinos aos treinadores. Assim foi convocado em 1982 e só não disputou, quase ex-jogador, a Copa de 1986 no México por conta de uma distensão muscular.
Arredio, barbudo e indiferente, Mário Sérgio jamais faria papel igual. Certa vez, no Inter(RS), baixou as calças e mostrou a bunda ao sisudo técnico Ênio Andrade, que lhe dera uma instrução considerada incorreta. Com Telê Santana, começou a morrer em Natal.
No amistoso contra a Alemanha Oriental, (3×1 para o Brasil) o técnico reclamou publicamente que o Vesgo havia abusado do individualismo. Já estava pensando em Dirceu, mais obediente e menos problemático. E Mário Sérgio respondeu cofiando bigode aos microfones e lentes: “É assim que jogo desde quando comecei e só fui convocado porque jogo assim”.
Mineiro, do tipo que lambe a vingança para comê-la em prato gelado, Telê Santana esperou outra Alemanha, a Ocidental, no Maracanã, para substituí-lo no intervalo e lhe dar adeus. Éder assumiu a posição com Dirceu chamado entre os 22.
Mário Sérgio não ligou. Seguiu jogando e um ano depois conseguia o que a seleção perdera: o título mundial, armando o Grêmio para as arrancadas e os gols de Renato Gaúcho. Levantou de euforia o público japonês ao aplicar dribles de calcanhar nos alemães do Hamburgo. Cansou de enfiar canetas nos grandalhões sem molejo.
Ainda seria convocado para a seleção brasileira por Evaristo de Macedo em 1985 para uma série de amistosos fracassados antes das Eliminatórias. Evaristo caiu e Mário Sérgio foi cortado, de novo, por Telê Santana ao reassumir.
Mário Sérgio terminou barrado da Copa de 1982. Dirceuzinho foi. Indesculpável. Mário Sérgio ludibriava com estilo e efeito na batida de bola, era um jogador que valia o preço de camarote no estádio. Vesgo de olhar de lince. Uma ginga do destino fintando a fatalidade mudaria o rumo do avião da Chapecoense que caiu em 2016 e matou Mário Sérgio, sua virtude, demasiada visão.
MARINHO CHAGAS, MENINO GRANDE
por Rubens Lemos
Marinho nasceu para o futebol quando cheguei ao berçário, em 1970. Formou, com o Rei provincial Alberi, o duo de extraclasses cintilantes no ABC a quebrar um jejum de três anos para iniciar a jornada do inesquecível tetracampeonato. O ABC de Marinho com Caiçara de técnico: Erivan; Preta, Edson Capitão, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia; Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Era o time de 1970, o time da redenção.
Marinho, o meteoro radioso, iluminou a Frasqueira (torcida do ABC) com seu jogo liberto e ofensivo, moderno e revolucionário em tempos de chumbo. Marinho nasceu para ser cometa da bola e no ano seguinte, no Náutico, tornou-se o melhor de sua posição para sempre em Pernambuco.
Nascia a nova e definitiva versão de Nilton Santos, o lateral jogando para o ataque, subvertendo as ordens táticas, reescrevendo a história no campo, que transformou em floresta para as suas elegantes passadas de gazela.
Do Náutico ao Botafogo em 1972. Primeiro ano, primeira Bola de Prata da Revista Placar, menino de sorriso remanescente das peladas de terra batida, ao lado de craques consagrados como Figueroa, Piazza, Ademir da Guia, Paulo Cézar Caju e Alberi, o seu igual em grandeza e exclusividade dos vesperais potiguares.
Marinho foi para a Copa do Mundo em 1974 e brilhou tal holandês de carrossel vestindo a camisa da retrancada e fracassada seleção do quarto lugar na Alemanha. O mundo o considerou o melhor, em sua posição. Júnior, do Flamengo, declarou e declara que gostava de imitá-lo.
O esporte em Natal é dividido em antes e depois de Marinho. Sempre afirmei com ele vivo, confirmo agora e não discuto mais. Do Botafogo, a estrela loira do ex-Maracanã, a “bruxa” alegre, tornou-se obsessão do cartola tricolor Francisco Horta, da famosa Máquina do Fluminense que deu ao alvinegro três craques de seleção só para ficar com Marinho: Rodrigues Neto, Gil e Paulo Cézar Caju.
Quando Pelé seguiu para o Cosmos de Nova Iorque, para ensinar futebol a ianque apaixonado por basquete e beisebol, 150 entre 100 boleiros sonhavam vestir a camisa branca do clube mais rico do planeta. Depois de Pelé, por lá desfilaram Cruyff, Beckenbauer, Chinaglia e Marinho.
Entre 1981 e 1982, Marinho conquistou sua terceira Bola de Prata e o Campeonato Paulista pelo São Paulo de Oscar, Dario Pereyra, Everton, Renato, Mário Sérgio, Serginho e Zé Sergio.
Já estava na fase do prazer. Suas incursões pelo meio-campo rendiam passes precisos, arrancadas em direção ao gol e patadas que sacudiam o Morumbi inteiro. A biografia de Marinho é universal. Ele, adorado pelo mundo afora.
Nos últimos dias de vida, em julho de 2014, estava mais criança e feliz, pelas proximidades da Copa do Mundo em sua terra. Se dizia embaixador de uma função que não lhe rendia um mísero centavo.
Marinho participava de eventos bem menos condizentes com sua história. Lançava camisas, frequentava troca de figurinhas onde era o centro das discussões e apresentava uma lucidez luminosa.
O destino, meia-armador malandro, levou Marinho para João Pessoa. Cercado de carinho paraibano, teve uma crise, sangrou e morreu. Seu organismo de touro já não resistia.
Marinho faz parte de um escrete incompatível com caixões. Marinho é desse time. Não quis vê-lo morto. Ele está vivo em fotos, gols memoriais e no sorriso triste e maroto de quando nos víamos.
Marinho Chagas, anarquista das nuvens é embalado por Clara Nunes e Paulo Gracindo em Brasileiro, Profissão, Esperança, espetáculo baseado em crônicas de Antônio Maria e canções compostas com Dolores Duran Marinho, brasileiro, profissão e esperança (perdida). “Dorme, Menino Grande”, é o poema de Antônio Maria ao descanso e paz de Marinho Chagas. É epitáfio no seu túmulo, chão do esquecimento. Marinho Chagas, 66 anos faria neste 8 de fevereiro. Para mim, ele sempre será festa.
A PRIORIDADE
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
No aeroporto, na fila para embarcar, a jovem avisa que passageiros com cartões Gold, Diamante, Star e outros vitaminados têm prioridade. Em seguida, as poltronas traseiras, depois as dianteiras.
De cara, parece organizado mas quando você entra no avião o corredor está sempre congestionado porque quem já acomodou-se ao fundo volta no contra fluxo para ir ao banheiro ou pedir uma água para a aeromoça ou pegar um livro esquecido no compartimento dianteiro, afinal sua poltrona estar marcada no início da aeronave não significa que a sua bagagem também estará.
Nem sempre há vagas. Do avião para o Metrô. O trem estaciona na estação e quando as portas abrem-se é um salve-se quem puder. Sobra cotovelo e falta educação. Do lado de dentro, uma jovem sentada em um assento destinado aos idosos nem se importa com uma senhora, em pé, com um bebê no colo.
Eu reclamo e digo que a prioridade é da senhorinha. Mas ela age como os jogadores de futebol: coloca os fones no ouvido e liga o dane-se. Paro na Igreja do Rosário. Preciso rezar, entender esse mundo tão estranho.
Na saída, sou abordado pelo coroinha, que pede uma selfie: “Meu pai te ama!”. Volta correndo para missa e só reforça a minha tese de que o mundo anda muito estranho!
Em casa, à noite, ligo a tevê e vejo um jogador do Vasco, rosto feliz, dizendo que a desclassificação da Taça Guanabara não foi ruim porque o foco, a prioridade, olha ela aí de novo, é a pré-Libertadores.
Isso é sério?
Na minha época eu queria ganhar tudo, até amistoso contra time de farmacêuticos. E o torcedor, como fica, não é mais prioridade???
Campeonato Carioca virou laboratório?
É sério que seremos obrigados a continuar vendo esse festival de horrores?
É sério que ninguém vai tomar uma atitude para o esvaziamento dos estádios?
É sério que o Flamengo contratou Ceifador e Júlio César e tirou a chance de garotos?
Sinceramente, apostaria mais na garotada. A diretoria do Flamengo precisa entender que no futebol nem sempre a prioridade é dos mais velhos. Mais ainda, precisa entender que o slogan certo não é “craque se faz em casa”, mas “craque se mantém em casa”.
E para finalizar o meu querido Botafogo também priorizou a Copa do Brasil ao Estadual…….. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!