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DEZ CURIOSIDADES SOBRE A COPA DA RÚSSIA

Por Mateus Ribeiro

Dez curiosidades que farão você ter muito assunto para o debate na mesa dos bares antes, durante e depois da Copa do Mundo!

1. A Seleção de Marrocos acabou com a “Maldição de 1998”.


Em 1998, a Seleção Brasileira enfrentou Escócia, Marrocos e Noruega na fase de grupos da Copa. De lá até 2014, nenhuma dessas seleções conseguiu participar de um Mundial. Os marroquinos quebraram essa tradição, e chegam no Mundial cotados para conquistar o 32º lugar (ou a última colocação).

2. A Seleção do Peru dá sorte aos adversários.


Enfrentar a Seleção Peruana costuma ser um bom sinal. Nas quatro Copas em que participou, a seleção campeã enfrentou o Peru. Em 1930 e em 1982, o Peru estava no grupo das campeãs (Uruguai e Itália, respectivamente). Em 1970, enfrentou o Brasil nas quartas de final. Em 1978, Peru e Argentina se enfrentaram na segunda fase, e protagonizaram aquela partida “polêmica”, que terminou com o resultado “suspeito” de 6 a 0 para a Argentina. E esse ano, qual será a Seleção felizarda que encontrará o Peru no meio do caminho?

3. A Seleção Inglesa dá muita sorte para o Brasil. Muita mesmo.


A Seleção Brasileira possui cinco títulos mundiais, e é a maior campeã. Dessas cinco conquistas, em quatro nosso querido Brasa enfrentou os súditos da Rainha: em 1958 e 1970 na primeira fase. Já nas Copas de 1962 e de 2002, os encontros foram válidos pelas quartas de final. Me arrisco a dizer que só não enfrentamos a Inglaterra em 1994 porque os Ingleses não se classificaram para o Mundial.

4. ACREDITE SE QUISER: VAI TER ARGENTINA E NIGÉRIA DE NOVO!


Repetindo um confronto que já aconteceu em 1994, 2002, 2010 e 2014, os nigerianos tentam vencer a Argentina pela primeira vez. O confronto já virou praticamente uma verdade absoluta na historia dos Mundiais.

5. É uma Seleção estreante em Copas? Vai pro grupo da Argentina.


Em 1994, Nigéria e Grécia estreavam em Mundiais. Caíram no grupo da Argentina.

Já em 1998, Croácia, Japão e Jamaica eram debutantes em Copas. Adivinhe: sim, as TRÊS seleções tiveram o prazer de perder para nossos vizinhos.

Oito anos depois, na Alemanha, foi a vez da Costa do Marfim.

No Brasil, em 2014, a Bósnia ocupou a vaga de “estreante que cai no grupo da Argentina”.

Este ano, na estreia da Seleção Islandesa em Copas, você ganha uma camisa do Messi se adivinhar em qual grupo eles caíram.

6. A Alemanha eliminou os três adversários do seu grupo em Copas seguidas.


México, oitavas de final, 1998.

Coréia do Sul, semifinal, 2002.

Suécia, oitavas de final, 2006.

7. Tim Cahill pode igualar marca de Pelé.


O australiano Tim Cahill poderá ser o quarto jogador da história a marcar gols em quatro Copas do Mundo.

Apenas os alemães Uwe Seeler e Miroslav Klose, além de um tal de Pelé conseguiram atingir tal marca.

O experiente jogador, que ajudou a Austrália a ir para a Copa, tem tudo para atingir essa marca histórica.

8. A Rússia pode atingir uma marca! Negativa.


Caso aconteça o que todos imaginam, os Russos serão eliminados na primeira fase. Apesar do grupo fraco, todos sabem que a Seleção Russa é uma draga das mais horripilantes.

Se a previsão se concretizar, a Rússia será a segunda dona da casa a ser eliminada na fase de grupos (a primeira a conseguir a duvidosa honra foi a África do Sul, em 2010). Pra piorar, a Rússia manterá a escrita de nunca ter passado da primeira fase.

Pelo menos ninguém vai usar a expressão “voltaram mais cedo pra casa”.

9. A Bélgica é a Grande Família da Copa!


A Bélgica poderá atingir uma marca histórica no Mundial: Os famosos Eden Hazard e Romelu Lukaku possuem dois irmãos menos famosos, Thorgan Hazard e Jordan Lukaku, que eventualmente são convocados.

Talvez seja a primeira vez na historia do futebol que uma equipe vá para um Mundial com duas duplas de irmãos.

Será que as brigas familiares vão atrapalhar os planos da querida ÓTIMA GERAÇÃO BELGA?

10. É BOM A ALEMANHA ABRIR O OLHO!!!


Nas últimas duas Copas, as Seleções campeãs na edição interior rodaram na primeira fase.

A Itália, campeã em 2006, saiu de forma melancólica na primeira fase em 2010 (e em 2014 também).

Já a Espanha, que venceu a Copa em 2010, foi eliminada na primeira fase em 2014, com direito a uma chinelada da Holanda.

É bom a Alemanha ficar esperta.

ZÉ SÉRGIO E A REDENÇÃO QUE VESTE A 11 EM 1981…

por Marcelo Mendez


E como Luciano havia sugerido, agora, a Rua Tanger era um time só.

Nós da “Tanger de Baixo”, nos juntamos com eles, da Tanger de Cima, e nosso time ficou muito foda de bom.

Atrás, depois do nosso goleiro Denis, vinha a linha dos “Ão”; Jadão e Tocão na zaga. Na frente deles, tinha o Sandrão, volante, e o meia que era o Pedrinho. Depois, como ponta de lança, vinha eu e os dois da frente eram Carlão e Luciano.

Pedrinho era fã do Ailton Lira e embora tivesse muita classe, se fazia necessário dar uns berros nele vez por outra. Era um jogador que se recusava a jogar feio. Na frente, o Luciano gostava de jogar dos lados, abrindo espaço e dando passes, enquanto o Carlão era um taque de guerra.

Jogador alto, forte, sabia jogar e era sem miséria:

– Ó é o seguinte; como vai ser esse jogo? Na bola ou no pau? Aqui tem pros dois!

E com esse aviso do Carlão, fomos até o campinho da Cidade dos Meninos para o embate contra a Rua Camerum.

Foi o primeiro, de muitos jogos da “Tanger Unificada”…

Projeto Tocão, parte 2

O time da Rua Camerum era o que a gente mais gostava de ganhar.

Tinha lá uns moleques metidos, os pais pagavam os clubes do centro da cidade pra eles nadarem em piscinas aquecidas, eles tinham tênis all color novos pra jogar na rua, enquanto a gente, com nossos pobres kichutes remendados de esparadrapo, fazia o que podia.

Mas era um bom time. Todavia a gente num tava muito preocupado com isso e, então, Luciano falou antes do jogo:

– Mas então, vai ser vira 4, acaba 8. Hoje tem jogo do Brasil contra a Alemanha e a gente vai querer ver!

Os caras toparam e então ele virou pra mim e falou:

– Marcelo, vamos ganhar logo desses caras, temos que ir ver o jogo e convencer o Tocão de levar a gente lá!

– Ué; Mas por que?

– Porque a mãe dele faz um lanche mó bom, porque tem refrigerante de litro e a TV é a cores e funciona. Eu num quero ir em casa ficar virando antena, então vamo lá!

– Vamo…

O Baile de bola

O jogo foi uma festa.

Placar final 8×2 pra gente e quase saímos no tapa por causa desses “2”.

– Va tomar no cu, Tocão! Como pode tomar dois gols de um time de merda desses?

– Va se fuder, Marcelo, ganhamo de lavada!

– Ma num pode! A gente num pode tomar dois gols desse time zuado. Aqui é Tanger, caraio!

Nesse momento, Luciano encostou no bate boca e mandou:

– Marcelo, num briga com o Tocão…

– Que é? Ce é pai dele?

– Não. Mas eu quero ver o jogo na casa dele e se você estragar, vamo deixar você la no bar do Gêra, pra ver em preto e branco, espetando Bombril na antena….

Todos rimos. Acordo firmado e então fomos para casa do Tocão. Naquele 10 de janeiro de 1981, nos juntamos de novo pra torcer pra Seleção e dessa vez ia ser dura a coisa…

Jadão, o Alemão


No caminho falávamos do jogo:

– Do jeito que tá esse time era melhor nem jogar contra os alemães. Vai ser um baile.

– Para de falar merda, Jadão. Quantas vezes ce viu a Alemanha, jogar?

– Eu vi contra o Uruguai e eles são campeões da Europa. E a gente ganhou o que, Luciano?

– Fala baixo! Meu pai tá dormindo pra trabalhar à noite!

Prometemos ao Tocão que sim, não acordaríamos o Renato. Prometemos o mesmo pra Dirce, sua mãe, e ela não só liberou a sala pra gente ver o jogo, como fez um monte de lanche pra gente comer, como havia previsto o Luciano.

Do jogo, claro que seria duro. O time alemão era bom, veio com a base campeã em 1980, tinha craques, como Fischer, Klaus Allofs, Felix Magath, Rummenigge, tinha Breitner e um goleiro insuportável de nome Schumacher e a gente, bom a gente…

– Então vão ganhar dos caras com Edevelado Cavalo na lateral direita, Chulapa na frente mais umas rezas né? Porque vai ser um desespero…

– CALA A BOCA, JADÃO! – pedimos em uníssono. Mas num adiantou…

Em uma jogada de fundo de campo, a Alemanha fez 1×0 gol de Klaus Aloffs. Jadão tava certo, mas só no primeiro tempo. No segundo, viria o cara que fez valer toda aquela tarde.

Zé Sérgio, o redentor


Numa arrancada da ponta para o meio, Zé Sergio sofreu uma falta.

Ponta rápido, ambidestro, decisivo, Zé Sergio era uma flecha. E naquele dia, deu todos os dribles do mundo no lateral alemão. Na cobrança de falta, Júnior bateu e fez. O jogo tava empatado:

– Tá vendo? Esse time é isso tudo, não!”– falou Denis. E ele tava certo.

Numa jogada do Edevaldo Cavalo, Toninho Cerezo virou o jogo. E num outro contra ataque, Zé Sergio, Sócrates e Serginho botaram os alemães na roda pra fazer o 3×1.

Inacreditável!

Mas faltava o gran finale…

Em uma arrancada sensacional, Zé Sérgio driblou todo meio campo alemão, a zaga, o goleiro e todo o império prussiano!

Que golaço!

Era um 4×1 clássico e a gente gritando, comemorando, obviamente, acordamos o Renato:


– Quanto tá o jogo?

Com medo da cara de bravo dele, respondemos baixinho:

– Tá 4×1, Seu Renato!

– Aeeeeeeeeeeeee!!!

E nessa hora, ele se juntou nos “olés” que a gente gritava pra TV. Fez festa e a gente junto. Era a primeira vitória de peso da seleção que começava se preparar para 1982.

O caminho estava bonito…

CENAS DE UM APAGÃO

por Zé Roberto Padilha


A caixinha de surpresas do futebol também possui um relógio. Uma caixa de luz comandada não pelos homens da Light, mas pela energia dos Deuses do Futebol. Tão intensa, potencializadas em decisões, jogando pelo empate, então, cega seus comandantes pela emoção a ponto de, ao final do seu trabalho acadêmico de tantas linhas, e de tantas rodadas, não evitar que um pico de luz desapareça com páginas de conquistas. E de viradas. Bastava ter apertado a tecla salvar toda a campanha e jogar para o ataque. Mas o receio da derrota e um cochilo da zaga, sobrecarregada, assistiu vir por terra a bela trajetória do time da virada.

Apenas quem perdeu um texto após horas de digitações, na solidão de suas salas, inconformados diante dos seus computadores, ou no cantinho dos seus vestiários, pode avaliar a noite que passou Zé Ricardo. Por que entrei com quatro laterais, utilizei quatro zagueiros e não ousei um pouco mais? Por que convidei o Botafogo, mesmo jogando mal, a ocupar nosso terreno? E o Paulinho? Ah! se tivesse o Paulinho seria diferente, prenderia um pouco mais a bola lá na frente….E as horas vão passando. Os títulos também. Vice, de novo. E cadê o sono que não vem chegando?


Muitas vezes, os Euricos Mirandas que jamais deram um só peteleco na bola, em meio ao apagão de uma derrota, convocam às pressas outro eletricista. E trocam o treinador. A torcida, em meio à escuridão da perda de um título, mal enxerga um palmo à frente para defender seu comandante. Quando a luz se acende, já caiu o Paulo César Carpegiani. E o interino vai permanecer enquanto houver um novo rastilho de luz. Esquecem todos os nossos cartolas que a caixinha de surpresas não vem com manual de instruções. Só quem perdeu, ao apagar das luzes, o brilho do seu trabalho, após tantas páginas treinadas, pode saber o que é jogar com o coração na ponta das chuteiras e ver tudo se perder aos 48 minutos do segundo tempo.

Portanto, Zé Ricardo, não se desespere. O destino, e não a força das águas, o imprevisível, e não os moinhos de ventos, o imponderável, e não um palito de fósforo, serão sempre as baterias que acenderão ou apagarão a paixão do nosso futebol. Além disto, para provocar o brilho no olhar do meu filho botafoguense, o Guilherme, que ontem reluziu por toda a noite, só mesmo a energia de uma caixinha de surpresas será capaz de gerar.


Ela, e não o árbitro de linha e o de vídeo, a comunicação eletrônica, instantânea, e o Padrão FIFA de tornar comuns às suas normas, serão capazes de entender. Pelo bem de todos nós, que amamos, e não entendemos, e somos surpreendidos a cada semana, por um novo facho de luz jogados sobre esta magia chamada futebol. Que os deuses a tenham para que o mundo não seja tão previsível dentro e fora das quatro linhas.

FUTEBOL É POESIA

por Ricardo Dias


(Foto: Custodio Coimbra)

Meu avô treinou no São Cristóvão; meu pai, no Bonsucesso; eu, no Fluminense. Como não tenho filhos, essa falta de intimidade com a bola termina em mim. Nenhum de nós servia para a coisa.

Meu avô, apesar de minúsculo, lutou boxe (imagino que peso pum-de- pulga), e foi bem sucedido. Meu pai, vôlei, e também muito bem sucedido (a não ser que contemos o jogo Mackenzie X Flamengo; ele, contundido, foi escalado para ser juiz – estamos falando da década de 50. Com o senso de justiça e destemor que lhe são peculiares, roubou o Flamengo o quanto pôde, tendo que sair fugido do ginásio. Já a salvo, tomando um caldo de cana no Engenho de Dentro, teve que novamente fugir da torcida adversária, cujo bonde passou na frente da pastelaria onde estava meu imprevidente ancestral).

Já eu… Tentei o judô, meio a contragosto. Adorei as primeiras aulas. Na turma da minha idade, eu era o maior, ganhava de todo mundo sem sequer me mexer, coisa que aliás não sabia fazer muito bem. Aí me colocaram com os de meu tamanho, e passei a apanhar regularmente. O judô perdeu todo o seu charme.

Tentei o vôlei, como meu pai, mas um saque dado para trás, desaparecendo com a bola, abreviou minha carreira. No basquete, Clube Municipal, onde amigos jogavam, fui tentar a sorte. Primeira bola, já saindo, corri e devolvi-a para a quadra de costas, única jogada possível. Seguiu o jogo, bola de novo comigo, marcado por um monstro gigantesco, passei a bola de costas. soa o apito de Jorjão, o técnico: PRIIIIII!

– Fora. Globetróti não é pra branquelo!


Só sobrou o futebol. Já contei das minhas desventuras por aqui, então não vou me repetir. Mas o fato é que esse jogo me pegou de um jeito que jamais pude imaginar. Descobri naquele jogo uma poesia, uma dança, uma beleza da qual nunca suspeitei. Ainda mais que comecei a acompanhar futebol justamente com a Máquina Tricolor, de 1975. E olhando o futebol de hoje, fora no gol, por conta da preparação mais apurada que temos, acho que nenhum jogador no futebol brasileiro atual teria vaga naquele time. Talvez no banco, um ou outro. Aliás, nem no Flu nem no Inter daquele ano, ou no Cruzeiro, ou… Acho que se eu fosse criança hoje ia insistir no vôlei.

Assistir a um jogo no Brasil é uma prova de amor ao esporte acima de tudo. Não há prazer envolvido, há suspiros e ranger de dentes. E não é saudosismo! É apenas ver as coisas como são.

Assistir a um jogo do Barcelona ou do PSG é mais ou menos o que a gente via toda semana aqui. E não é exagero, esses caras iam ter que suar e muito para ganhar de um bom time daquela época. O Bayern, campeão da Europa, tomou um passeio no Maracanã. Nossos times excursionavam por lá e iam enfiando goleadas. Todos nos temiam.


O que mudou? Eu pergunto e eu respondo: tudo. Não temos mais campos de peladas, não dá para jogar na rua, não há mais terrenos baldios, e sobram técnicos de escolinhas que precisam de resultados. Quando vêem um talento, vira volante. Caneludo vira atacante. Se corre muito, lateral. E quando se destaca um pouquinho, enchem de mimos.

É só isso? Não. Temos dirigentes ladrões, nossos grandes times viraram pequenos, estão tentando nos espanholizar da pior forma, deixando apenas dois ou três times grandes, a imprensa ajuda isso…

Amigos, aqui é o lugar para reagir. Museu não é só velharia, é resistência! Vamos correr atrás, vamos encher o saco das estações de TV para que os jogos ocorram em horários civilizados, para que todos os times tenham espaço igual, para que cada clube brigue com a CBF e as federações.

Vamos… Ok, desculpem, minha função aqui é falar bobagem. Mas futebol é tão bonito… Então ao menos termino como craque, com um poema de João Cabral de Melo Neto:

Bola de futebol… é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho,
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher) usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mãos.

 

 

Magrão

MAGRÃO ABSOLUTO

texto e entrevista: Evandro Sousa | fotos: Adriana Soares | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

Há uma década fechando o gol do Sport Club Recife, Magrão completa hoje 600 jogos com a camisa rubro-negra, contra o Santos, na Ilha do Retiro, às 18h30. Maior ídolo em atividade do clube pernambucano, o goleirão de 39 anos bateu um papo divertidíssimo com a equipe do Museu da Pelada! No caminho até a casa do jogador, quase chegando ao destino, na Praia do Recife, obra do acaso, o rádio abre espaço para Alceu Valença arrepiar em “Madeira Que Cupim Não Rói”, frevo do lendário Capiba, torcedor do Santa Cruz. A divertida analogia entre o camisa 1 e a canção foi imediata. Magrão é exatamente isso!!!

Mas antes de tornar-se ídolo no Sport, o paulista Magrão percorreu um loooongo caminho, recheado de incertezas. Iniciou a carreira no Nacional-SP, em 1997, e acumulou passagens por Portuguesa-SP, Botafogo-SP, Rio Branco-SP, Ceará e Fortaleza. O desembarque em Recife só ocorreu em 2005, quando foi contratado pelo Sport para a disputa da Série B. Após um início complicado, de forte concorrência, Magrão se firmou como titular um ano depois, em 2006, e até hoje permanece intocável. Embora tenha levado o milésimo gol de Romário em 2007, emplacou seis títulos estaduais na equipe pernambucana, uma Copa do Brasil e uma Copa do Nordeste. Além disso, foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Pernambucano em 2007, 2008, 2009, 2010, 2012 e 2014. Madeira de lei!!!!  

Durante o papo, Magrão reconheceu que a vida de goleiro não é fácil e nos contou um pouco sobre o perfil destes atletas que escolheram levar boladas, conviver com a eterna sombra do frango e ser os guardiões, ou os guarda-redes, como dizem nossos compatriotas portugueses, daquele espação de aproximadamente 17 m².

– Todo goleiro começa na linha, geralmente quer ser centroavante, depois vai recuando, recuando, e aí descobre que pode ser goleiro. Assim, todo goleiro bom foi um jogador de linha ruim – resumiu.

Na infância, quando não largava as peladas próximas à sua casa, Magrão tinha como referência o goleiro Ronaldo, ex Corinthians, atualmente comentarista esportivo na tevê. As defesas espalhafatosas que o camisa 1 fazia em bolas simples chamaram a atenção daquele garoto que ia com o pai assistir aos treinos e jogos do São Paulo e do Corinthians. À medida que foi crescendo e amadurecendo começou observar Taffarel. O comportamento e a forma fria e concentrada do ex-goleiro da seleção, sem chamar muita atenção, talvez tivessem mais a ver com Magrão.

– O goleiro não precisa ser pavão, basta fazer o que tem que ser feito, com simplicidade – aconselha.

Segundo ele, a dedicação tem quer ser uma das características principais de um goleiro, pois o nível de exigência é cada vez maior. Treinos exaustivos e concentração redobrada, afinal uma falha ou um frango põe tudo a perder.

– O goleiro preguiçoso fica pelo caminho, não vinga! – dispara.

Apesar de fazerem parte de uma equipe, os goleiros vivem quase 80% do tempo entre eles. Geralmente, cada clube conta com quatro e os treinos, viagens e concentrações acabam gerando um relacionamento de amizade e cooperação. Apesar de competirem pelo mesmo espaço, eles quase sempre são solidários uns com os outros, embora haja exceções.

– O espaço é só para um, logo quem entra não quer largar o osso. Em meio a essa competitividade, às vezes surge ciúme, inveja, que faz parte da natureza humana.

Magrão também comentou sobre a pressão sofrida pelos goleiros, segundo ele a posição mais difícil de jogar, pois a falha costuma ser fatal.

– A pressão tem que fazer parte da vida de um goleiro, pois todos podem falhar menos nós! Quando o time não vence e a equipe está sofrendo muitos gols, às vezes a gente nem dorme.

Mas o bom desempenho dos goleiros brasileiros tem chamado a atenção dos europeus e, consequentemente, deixado uma lacuna nessa posição, no futebol nacional. No passado, no entanto, Taffarel, Júlio César, Dida, Rogério Ceni e Ronaldo foram alguns dos muitos goleiros que foram titulares e se firmaram ainda jovens em seus clubes.

Em meio às dificuldades de estrutura do futebol brasileiro, Magrão acredita que o treinador hoje precisa ser cada vez mais capacitado, não conhecer apenas a parte técnica, mas dominar a tática e outras áreas. Ou seja, um líder que trabalha com uma equipe multidisciplinar. Segundo o goleiro, esse tem sido o motivo de os clubes buscarem, cada vez mais, treinadores estrangeiros.

–  É hora de o futebol brasileiro se abrir para novas escolas, começando pela base!

Perto dos 600 jogos com a camisa do Sport, Magrão não esconde o segredo para o sucesso. De acordo com ele, a família tem sido a base desta carreira vitoriosa. Durante a final da Copa do Nordeste, contra o Ceará, o goleiro passava por um dos momentos mais complicados de sua vida, mas fechou o gol e foi um dos heróis da conquista do título regional. Enquanto disputava a decisão, Mary, sua mulher, passava por uma cirurgia delicada devido a um processo de câncer de mama. Por conta disso, revelou que pensou em desistir da final para acompanhá-la, mas foi demovido pela própria: “Faça sua parte em campo que eu seguro aqui!”.

Pai de três filhos, Gaby, Lucas e Rafael, este goleiro do sub-15 do São Paulo, o camisa 1 do Sport já se prepara para passar o bastão. Uma nova geração já está no forno.

Vida de goleiro não é fácil, mas uma escolha de risco. Dizem que goleiro é doido, com um parafuso a menos, que onde pisa não nasce grama, enfim, a palavra superação tem que fazer parte da história de um bom camisa 1, e Magrão é um excelente exemplo disso. O tempo passa, faça chuva, faça sol e o goleiro do Sport continua firme, resistindo ao tempo, maduro, respeitado pela torcida do Leão e pelos adversários. Enquanto houver disposição, Magrão seguirá em frente, intacto, como uma madeira que cupim não rói.