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SEM TESÃO, COMO COMANDAR UMA NAÇÃO?

por Zé Roberto Padilha


Ter a honra de dirigir o Flamengo é o sonho maior de muitos treinadores. Poucos cargos no futebol oferecem, além da enorme visibilidade, tanta gente reunida a torcer pela sua vitória. No entanto, o presidente do clube, Bandeira de Mello, acaba de declarar, em O Globo, que o seu preferido, Cuca, ainda não decidiu se aceita o convite ou vai ser comentarista na Copa do Mundo. Quando um comandante se mostra indeciso entre a coragem para assumir aquele caldeirão ou comodamente pegar um microfone e julgar o trabalho dos outros, é porque sua cuca perdeu o tesão de dar continuidade à sua profissão. E sem tesão, não há solução.

O cargo de comentarista esportivo tem sido ocupado, honradamente, por ex-atletas e árbitros de futebol. Ao lado de jornalistas formados e capacitados, estão contribuindo para explicar, com a simplicidade do Júnior e o bom humor do Denílson, em meio a idolatria que cultivaram, os segredos vividos dentro de campo. Mas o fazem após seu jogo de despedida. Logo após Muricy Ramalho anunciar a sua aposentadoria do apito.


Se o Flamengo insistir com esta cuca indecisa, vai ter no Campeonato Brasileiro um treinador meia bomba. Com seu olhar desconfiado, copinhos posicionados a dividir seu misticismo no burródromo, vai se apresentar ao Ninho de Urubu “de camisinha”. E dirigir seu time não com a faca entre os dentes, mas mascando um chiclete sem tirar o papel celofane. Não é a toa que todos amam por lá papai Joel. Sem deixar seus cabelos embranquecidos, além do brilho no olhar confiante, misto de deboche, atrevimento e confiança, traçou há anos em sua prancheta a fórmula do amor eterno à sua profissão. E a carrega em seus braços em qualquer direção. Menos da Rússia.

Ao não saber se vai para sua lua de mel em Cancun ou Raposo, vestir Armani ou Casa José Silva, tomar um vinho chileno ou licor de catuaba, viver grandes emoções ou apenas comentá-las, Cuca já se aposentou da profissão. Apenas não sabe.

FORÇA, MENDONÇA

Conheci Mendonça no Bar da Eva, no Grajaú, quando eu levava craques para reverem os jogos mais marcantes de suas vidas. Foram dois anos de pura felicidade! Bebi muitas geladas com Válber, Donizete Pantera, Búfalo Gil e, claro, Mendonça, que vinha de Bangu. Fechei o bar com alguns deles, sempre ouvindo glórias e derrotas. Rondinelli chorou, Assis chorou, Amarildo chorou. Os clientes choravam. O Afonsinho sentava em todas as mesas, o Adílio sorteou sua camisa, Francisco Horta cantou uma marcha tricolor e Eurico Miranda puxou o Casaca. Mendonça esteve lá várias vezes e em todas lamentou o fato de não ter sido campeão pelo Botafogo, time do coração. Nesse momento, eu pedia mais um chope, desviava o assunto e colocava na tevê o vídeo com seus dribles e golaços. Ele viajava e agradecia. No drible “Baila Comigo”, que descadeirou Júnior Capacete, levou uma bronca da mulher, rubro-negra, quando chegou em casa: “precisava daquilo tudo?”. Foram chopes e mais chopes! Na correria do dia a dia perdemos o contato até ser avisado por Adílio que ele precisava de ajuda, estava sendo vencido pelo álcool. O craque rubro-negro conseguiu a internação na Clínica Jorge Jaber e fomos visitá-los juntos. O álcool é devastador. Ficou três meses e recebeu alta com a condição de voltar quinzenalmente. Nunca mais apareceu. Mas na segunda passada o reencontrei na pelada do Carlinhos Cortázio, na Barra da Tijuca. Ficou meio sem graça quando me viu. Olhei para a mesa tentando flagrar algum copo de cerveja. Não tinha. Me aproximei e nos abraçamos. Sua aparência estava saudável e a memória boa. “Estou limpo!”, garantiu. Mas senti um cheirinho de álcool, típico de quando transpiramos na pelada após um dia de bebedeira. “Mesmo?”, perguntei. “A batalha é dura!”, disse. Não quis interpretar a resposta como um sim ou não, e pedi para que relembrasse pela milésima vez o seu “Baila Comigo”. 

A GOMALINA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Dá para medir bem a qualidade do Carioca quando os dois favoritos jogando pelo empate conseguem perder para os azarões Botafogo e Vasco. O Carpegiani, por quem tenho muito carinho, derrapou feio ao escalar Aarão e Jonas no meio e Everton, o melhor do time, na lateral. O Botafogo entrou com um time bem armado e Luiz Fernando, o homem do gol, pode vir a ser um bom jogador. Fez um gol que causou um estrago tremendo no milionário time do Mengão, que ao invés de demitir apenas Rodrigo Caetano, o gerente de futebol que vem contratando errado há anos, mandou junto o técnico e o Jayme, sempre o Jayme!

O Flamengo gastou milhões para trazer um goleiro com fama de pegador de pênaltis, um centroavante com fama de batedor de pênaltis, e um meio-campo que não se despenteia nunca e só bate faltas e escanteios. Pelo menos, a gomalina é boa, Kkkkkk!!!! É muito pouco e a torcida não atura. Que a administração continue saneando as dívidas do clube, mas contratar errado é uma aula de jogar dinheiro fora.

No Vasco, o Zé Ricardo mesmo precisando da vitória entrou com um time defensivo. Paulinho entrou e resolveu. Ou seja, quem é bom de bola tem que sair jogando.


Sobre a decisão não arrisco palpite porque esse título pode iludir muita gente. O Brasileiro vem aí e os clubes cariocas com esses elencos vão penar. Ainda mais se os torcedores continuarem longe dos estádios. Essa é a resposta deles por anos de descaso, times de quinta categoria, ingressos caros e regulamentos esdrúxulos. Se o produto for bom, a casa enche.

Dirigentes, esqueçam, o torcedor está ligado, cansou de maquiagem e pirataria. Os tempos mudaram e o produto pode até vir com tatuagem, brinco e brilhantina, mas que traga junto o futebol. 

César Sampaio

O FIM DO JEJUM

texto e entrevista: Marcelo Mendez | fotos e vídeo: Marcelo Ferreira | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

Andar pelas ruas da Pompéia, pelas alamedas de Perdizes, tem para mim aquele gosto de cafézinho na sala de casa.

Moro longe dali, em Santo André, no ABC Paulista. Mas o que me aproxima daquele lugar é o Palmeiras.

Com o estádio ali do lado, aquela parte da cidade é verde. E em uma dessas partes está o nosso entrevistado.

Volante da seleção na Copa de 98, César Sampaio é o convidado da vez no Museu da Pelada. O ex-jogador relembrou sua trajetória e ainda fez questão de vestir a camisa verde do Museu!

 

 

O VERDADEIRO CAMPEÃO AINDA NÃO NASCEU

por Iran Damasceno


Em tempos de transformações sociais, devemos entender que o ato de pensar sobre o bem comum deveria ser uma tarefa coletiva de gestação, onde cada um e cada segmento teriam que fazer a sua parte, porém e infelizmente não temos esta veia coletiva de construção, principalmente quanto ao que podemos, ainda, considerar “tabu”. O futebol é um segmento que sofre com a falta de profissionalismo e comprometimento, pois ele é bastante parecido com a política. Me refiro à administração dos clubes brasileiros e, especificamente falando, ao grande Flamengo.

Temos visto a Europa avançar vertiginosamente nos campos da tecnologia, o que pra nós não é novidade e estamos em níveis de comparação dentro do futebol, entretanto o que joga tudo isso por terra é a falta de profissionalismo e capacidade administrativa, passando pela gestão de pessoas, de nós brasileiros. Explicando: Como funciona um organograma funcional num clube de futebol? Ele apenas identifica as funções? Até onde vai a liberdade de atuação dos seus dirigentes, quanto à manutenção de uma comissão técnica, por exemplo?

Estamos pegando como exemplo a demissão do Carpegiani, acompanhada das saídas de Mozer, Jayme, Rodrigo Caetano e cia. Onde o Flamengo está se especializando em gafes e derrocadas administrativas na gestão do Bandeira de Melo, que em princípio estaria “sanando as dívidas” do clube, valendo ressaltar que na gestão Dilma, aliada ao Congresso Nacional, preparando-se para a “Copa da corrupção”, abonaram aos clubes de futebol, perante as suas dividas, assim e amparados a parcerias invisíveis (?), quase nenhum de nós, simples mortais, sabemos como e de que forma ele conseguiu esta “mágica”.


Vale lembrar que o Flamengo vive de tradições, o que é salutar e meritório, mas, atentemos ao fato de o clube ser sempre submisso (?) a sua torcida quanto as ações administrativas, ao ponto de colocar no comando do seu futebol, um torcedor. Está errado? Para muitos sim, pois um clube de massa que quer atingir patamares superiores reais, pois “vive” de um título mundial de 1981, deveria pensar em gestão profissional e, finalmente, aprender a usar em seu favor, algo que NUNCA soube: Comunicação e Marketing.  É isso mesmo, o Flamengo sofre com a arcaica maneira de se comunicar com seu torcedor, assim, achando que deve “dar satisfação” sobre tudo que faz, aceita imposições e se ressente sempre que perde um jogo e é recebido nos aeroportos da vida com gritos, agressões e quebradeiras dos ônibus.

Está na hora disso acabar, pois um clube que quer e precisa se modernizar, não pode ser refém da sua própria inconsistência administrativa e, principalmente, submissão.


Nos parece, aos mais atentos, se tratar de uma simbiose aceita e consciente para que todos fiquem “felizes” e possam bradar que o Maracanã é a nossa casa, quando na verdade é preciso se pensar bem mais a frente e com uma visão, realmente, profissional.

Agora, vem a pergunta: Como romper este cordão umbilical, de um parto que já deveria ter sido feito?