SEM ALMA
por Eduardo Lamas
Um time sem alma merece um estádio sem vida, em silêncio. A arena Maracanã é a cara do atual Flamengo: minúsculos, caricaturas estilizadas do que um dia foram.
O cabelo sem um fio fora do lugar aos 48 do segundo tempo mostra bem o que Diego fez em campo. E dos não formados no clube, o que mais entendia o que é vestir a camisa do Flamengo quis ir embora, mesmo sendo titular absoluto, ganhando bem, em dia, e com ótimas condições materiais de trabalho. Alguém perguntou ao Everton por quê? Dificilmente ele seria sincero agora. Talvez um dia ele diga.
Pior é ver que alguns daqueles que conhecem o Flamengo desde garotinhos parecem contagiados pelo estilo blasé adotado na gestão que só dá bandeira e cheirinhos: realmente é um time de perfumaria. É só ouvir as declarações de Juan.
Paquetá andou se achando Deus da bola no Carioquinha, que era para o milionário time ganhar com os pés nas costas. Porém pegou pela frente equipes bem modestas, mas com alma, sangue nos olhos e respeitando suas camisas, Fluminense e Botafogo.
O meu receio é que, nesta Era do Cinismo e dos Extremistas, quem venha ache que pra ter um time com alma seja preciso destruir o que de fato foi bem feito nesta gestão.
Flamengo, o teu futuro é duvidoso, eu vejo grana, eu vejo dor.
CADÊ O LUXA?
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
Tem um tema que me persegue nas ruas: se todo treinador deveria ter sido jogador. Acho fundamental, sim! Claro que eles devem se preparar, se atualizar, porque nunca é demais estudar, observar, ler, enfim, aprender. Isso é obrigação de todos, inclusive dos jogadores.
Agora, os professores de educação física, que nunca pegaram em uma bola, vai ser difícil aprenderem de um dia para o outro a fazer três embaixadinhas. Com o futebol de hoje poderiam contratar o Usain Bolt!!! Por sinal, ele assinou com o Dortmund, da Alemanha, mas como jogador, Kkkkkk!!! Sinal dos tempos!
Fico me perguntando por onde anda o Vanderlei Luxemburgo. Pelo que sei, conquistou cinco Brasileiros, oito Paulistas e uma penca de outros títulos. Será que ele desaprendeu ou é o futebol que anda muito estranho? Cadê o Luxa, Jayme, Gaúcho, Jair Pereira, Joel Santana? Ah, estão ultrapassados, não se prepararam para esse novo momento…mas qual é esse novo momento que eu não consigo enxergar???
Luxemburgo, Evaristo e Falcão ficaram pouquíssimo tempo na seleção, foram usados e descartados. Ah, mas não são gestores de pessoas, como pede o cenário atual….me engana que eu gosto!!!
A imprensa transforma muitos em personagens caricatos. Talvez o terno do Tite seja de uma grife melhor do que o usado pelo Luxa, talvez hoje seja necessário um gumex na cabeleira, falar em tom professoral, ter curso de Psicologia, RH, Administração, Fonoaudiologia, Cinema para ficar fazendo caras e bocas à beira do campo, Moda, boas maneiras, isso para os professores.
Os jogadores hoje investem em maquiagem, tatuagem, dancinha e artes marciais. E o futebol? Ah, esquece, alguém se importa com futebol?
Puruca
LATERAL DOS BONS TEMPOS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel
Embora nem sempre seja proposital, o clima descontraído se tornou uma marca das nossas resenhas, mas quando o entrevistado entra na pilha da irreverência não há quem segure. Lateral em uma época de ouro do futebol brasileiro, Paulo César Puruca encarnou um personagem e nos divertiu em um papo no Bar Kilocal, na Tijuca.
Nascido e criado em Quintino-RJ, Puruca passou boa parte da infância jogando peladas de rua ao lado do craque Eduzinho Coimbra, seu grande amigo. O que muitos não sabem é que foi Puruca quem incentivou o maior artilheiro da história do América-RJ a não desistir após ser reprovado – sabe-se lá o motivo – na primeira peneira que fez para um clube.
– Não sei o que aconteceu, mas reprovaram o Edu. O cara devia ter algum problema, né? – brincou.
Andrada, Puruca, Alcir, Moisés, Miguel e Eberval.Jorginho Carvoeiro, Buglê, Silva, Tostão e Ademir.
Os primeiros passos de Puruca no profissional foram dados no América-RJ em 1963, ao lado do craque e amigo de infância, e de outras feras como o xerifão Alex, Jeremias e Canhoteiro. Naquela época, havia uma pluralidade de pontas que infernizavam a vida dos laterais, mas Puruca nunca foi de dar mole na hora do combate.
Anos depois da estreia no profissional, já com uma carreira consolidada e vestindo a camisa do Vasco da Gama, Puruca estava em campo no clássico contra o Fluminense que ficou marcado pelo elástico de Rivellino em Alcir, em 1975, mas nada pôde fazer por estar longe da jogada.
– As pessoas me perguntam porque eu não fiz nada naquele lance. (…) Esse gol aparece constantemente na televisão e eu sempre apareço lá no fundo. Por isso, trouxe meus dois advogados para cobrar meus direitos de imagem! – disparou para a nossa gargalhada.
Os “advogados” em questão Paulo Cesar de Menezes, conhecido como Leão por ser um zagueiro estilo Odvan, Ricarte José de Oliveira Neto, um goleador nas peladas. Grandes amigos do jogador, os dois entraram na onda da brincadeira e se prontificaram a defender a causa:
– Ele está se sentindo moralmente prejudicado e nós estamos buscando perspectivas de ajuizar uma ação de reparação de danos morais, tendo em vista que a imagem dele está sendo prejudicada. – disparou Leão.
– Eu estava nesse jogo de telespectador . A procedência é difícil, mas no Direito tudo acontece! – completou Rica.
Brincadeiras à parte, Puruca construiu uma bela carreira nos gramados e, como recordação, guarda retratos dos times formados. Depois do início arrasador no América, se transferiu para o Botafogo onde teve a oportunidade de atuar ao lado de Nei Conceição, Carlos Roberto, Jairzinho, Roberto Miranda, PC Caju e muitas outras feras.
No Vasco, também fez parte de um timaço e foi companheiro de Andrada, Joel, Silva Batuta, Roberto Dinamite e Tostão, seu companheiro de quarto. Sobre esse último, Puruca não esconde sua admiração:
– Eu nunca vi um jogador que não corria, não chutava forte e não sabia cabecear bem… Ele não tinha nenhum dos recursos fundamentais para um jogador, a não ser a habilidade. Mas jogava demais!
Encerrou a carreira no Grêmio em 1977, com chave de ouro: campeão estadual. Pendurou as chuteiras naquele mesmo ano para entrar na Receita Federal após ser aprovado em um concurso. Sobre isso, aliás, fez questão de deixar uma lição para os mais jovens.
– Gostaria dizer para os jogadores que estão começando que é fundamental pensar no que vão fazer depois da vida profissional. Jogador não sabe fazer nada. Se, infelizmente, ele se lesionar, ele perde para um vendedor de livro.
Valeu, Puruca!
FALCÃO X MOCOCA
por Serginho 5Bocas
Pode até soar estranho ouvir hoje tal comparação, muito jovens e torcedores com menos de 30 anos não devem nem saber do que eu estou falando, mas este era o “lead”, esta era a capa dos jornais e das revistas esportivas na semana do jogo de ida em São Paulo, partida decisiva de uma das semifinais do Brasileirão de 1979.
Quem mais ajudou a criar este factoide foi o mestre Telê, por sua incrível capacidade fazer jogadores medianos, evoluírem absurdamente na parte técnica sob o seu comando e chegarem até mesmo à seleção. Foi o que ele fez com Mococa, um meio de campo daquele Palmeiras de 1979.
O Inter era um time excepcional, em suas fileiras jogavam Mauro Galvão, Batista, Falcão, Jair, Mario Sergio e Valdomiro, o Palmeiras não era tão estelar, mas também tinha gente boa, do nível de Gilmar, Polozzi, Beto Fuscão, Pedrinho, Jorge Mendonça, Pires, Jorginho, Baroninho e é claro, Mococa.
Porém o banco das duas equipes eram verdadeiras poltronas, de um lado Ênio Andrade, que viria a ser tricampeão brasileiro (Inter, Grêmio e Coritiba) e do outro Telê Santana, que já era campeão e se tornaria bicampeão (Atlético-MG e São Paulo), dois monstros em armar equipes.
Eram extremos em estilos, Ênio armava equipes com muita marcação e pegada, já Telê gostava de toque de bola, posse e fundamentos, um ótimo cardápio. Quem venceria?
O Palmeiras de Telê era a sensação do campeonato naquele momento, pois acabara de eliminar o Flamengo de Zico em pleno Maracanã, com sonoros 4×1. Já o Inter de Ênio Andrade era um time imbatível, reunia craques e a força da marcação dos gaúchos. Além de tudo, vinha invicto, uma pedreira.
Falcão era um extra classe, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, já tinha vencido dois brasileiros e recebidos uma bola de ouro como melhor jogador da eleição realizada pela conceituada revista Placar. A segunda bola de ouro de sua carreira viria naquele ano, apesar de ter sido ignorado por Claudio Coutinho na convocação para a Copa de 1978.
Mococa era um jogador desconhecido, mas que nas mãos de Telê vinha gastando a bola, um motorzinho do time alviverde, que já sonhava em vencer o Brasileiro pela terceira vez.
Naquela noite, o Palmeiras foi melhor em campo, atacou muito, e até abriu o marcador, mas o Inter não se entregava e empatou numa falha de Gilmar que Jair não perdoou. Jorge Mendonça fez um golaço e colocou o Palmeiras na frente novamente, porém durou pouco. Falcão empatou de cabeça e fez o gol da virada numa jogada de muita raça e de categoria que só os gênios sabem fazer: encarando sem titubear a sola de Mococa, ele chutou com muita rapidez, evitando a chuteira de Mococa, e bateu com extrema precisão, para dar números finais à batalha épica. Depois foi só empatar no Sul (com gol de Mococa) e partir para a final contra o Vasco, vencendo as duas partidas contra o time da cruz de malta.
Mococa
Falcão continuou sua carreira de glórias, venceu aquele Brasileiro de forma invicta, liderando o time que nunca perdeu, ganhou a bola de ouro do campeonato e depois disso foi para a Roma da Itália, se tornando o “VIII Rei de Roma”. Fez uma Copa espetacular em 1982, entrando para história do futebol mundial.
Mococa, que tinha este apelido em razão da cidade em que nascera em São Paulo, fez um baita Campeonato Brasileiro naquele ano, sendo até cogitado para a seleção brasileira, depois teve uma curta e boa passagem pelo Santos e ainda teve umas três temporadas em alto nível no Bangu de Castor de Andrade, e daí para frente sumiu.
Hoje a comparação entre os dois jogadores pode parecer um exagero, mas naqueles idos, pelo menos em 1979, era mais do que realista.
O futebol nos ensina o tempo todo e fica aí mais uma máxima que temos que considerar: um craque deve ser medido pelo conjunto de sua obra, pelo seu legado e não por uma fase, por um ano bom.
Mococa pelo menos pode se orgulhar de que em 1979 teve seus dias de Falcão, e que convenhamos não é pouca coisa.
MARKETING – DA IDEIA AO PRODUTO
por Idel Halfen
Do surgimento de uma ideia ao lançamento de um produto existe um árduo e complexo caminho a ser percorrido, desse percurso fazem parte: a conceituação, os estudos de viabilidade econômica, as análises de mercado e a verificação dos aspectos legais, isso sem falar nas particularidades relacionadas às áreas de produção, logística, financeira, comercialização e marketing.
Para ilustrar o que se pretende abordar nesse artigo recorreremos ao case relativo ao lançamento dos uniformes elaborados pela Umbro para os times brasileiros por ela supridos. A citada coleção tem o nome de “Projeto Nations” e utiliza como inspiração alguns dos países que participarão da Copa do Mundo de 2018.
Antes de prosseguirmos é preciso ressaltar que a escolha do tema que servirá como inspiração para os uniformes dos clubes não é uma tarefa simples quando feita de maneira criteriosa, isso porque ela costuma se basear em algum fato marcante da história dessas instituições, o que por si só já confere uma maior complexidade, tamanho o cardápio de opções. Além disso, há a preocupação em se diferenciar dos modelos mais recentes e de coincidências de gosto duvidoso.
Nesse ponto é preciso reconhecer que a iniciativa da Umbro se mostrou bastante criativa, ainda que no passado alguns clubes brasileiros já tenham “tentado” ter seu terceiro uniforme com motivos que remetessem à própria seleção brasileira.
Outra estratégia que vem sendo adotada com boa frequência no mercado também se fez presente na campanha. Refiro-me aqui ao storytelling, narração de uma história para se fortalecer o conceito e o posicionamento dos produtos. Vide http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2015/10/o-storytelling-chegou-ao-esporte.html
Por se tratar de uma questão de ordem subjetiva, não será feito aqui nenhum juízo de valor sobre os “elos” que serviram como enredos para a narrativa da associação entre os clubes e os respectivos países cujos símbolos e cores adornam os uniformes.
Ainda como parte do processo de análise de viabilidade do projeto há uma questão que é de fundamental importância: as expectativas de vendas. Nesse quesito torna-se importante considerar que em ano de Copa do Mundo a camisa da seleção brasileira passa a ser mais desejada, aliado a isso é preciso reconhecer que o nível de renda atual não permite uma grande elasticidade de demanda por parte expressiva da população. Dessa forma é possível supor que algum – ou alguns – dos três uniformes anuais rotineiramente lançados pelos clubes seja preterido em favor da camisa da seleção. Entre os fatores que deverão pesar nessa escolha estão: o momento do time, o período do lançamento e até mesmo o aspecto estético.
Por último, vale discutir um tópico que talvez seja o mais sensível nesse caso: o eventual entrevero judicial que pode surgir com as marcas de material esportivo que são as fornecedoras das seleções “homenageadas” na campanha da Umbro, afinal de contas, é bem plausível que as camisas oficiais desses países sejam de alguma forma impactadas com a coleção. Problema que pode inclusive respingar nos clubes, visto que esses auferirão royalties com as vendas desses produtos.
A conclusão principal que se deve tirar dessas reflexões é que no âmbito do marketing qualquer ideia inovadora precisa ser muito bem trabalhada até que se transforme em um case de sucesso.