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VERSÁTIL RAMÓN TOCAVA TROMBONE E FAZIA GOLS

por André Felipe de Lima


Nesta segunda-feira, 12, é aniversário do centroavante Ramón, que brilhou no Santa Cruz e no Vasco ao longo da década de 1970. Um ídolo de duas grandes torcidas que merecerá, sempre, o nosso aplauso!

Foi ele, embora notório centroavante, o meu “ponta-esquerda” titular no time de botão, disputando ferrenhamente a posição com Zé Sérgio. O bom e velho Ramon, que nos tempos de meninice, bem curtidas na Usina do Trapiche, em Sirinhaém, na Zona da Mata, a cerca de 60 quilômetros de Recife, (vejam só!) tocava pistão e trombone na bandinha local. Mas foi com a bola de futebol que ele melhor “tocou”. Fez futebol por música… e, claro, gols. Foram cerca de 150 pelo Santa Cruz. Marca que o deixa entre os maiores goleadores da história do clube, junto com o célebre e mítico Tará (dos anos de 1930 e 40) e o Luciano “Coalhada” Veloso, que também brilhou no Corinthians na década de 1970.


Mas Ramon, por pouco, deixaria de ingressar na carreira de jogador de futebol. Amaro Evilásio, pai dele, um farmacêutico e ex-presidente da Câmara dos Vereadores de Sirinhaém – e que também apitava algumas “peladas” de vez em quando -, não o queria como jogador. Para o “velho”, o rapaz tinha de permanecer estudando na Usina e mantendo o emprego de ajudante de torneiro mecânico. Para Amaro, o garoto era melhor tocando na bandinha durante procissões da igreja ou em bailinhos que rolando uma bola na terra batida do campo da cidade. Foi, contudo, Dario, que jogou pelo América de Recife e Sport, que convenceu o pai casca-grossa de que Ramon era bom de bola e que tinha espaço garantido no Santinha. Bastaria subir num ônibus para Recife baixar no Arruda. O pai (graças a Deus…) topou.

Pelo Vasco, Ramon, que foi o primeiro jogador de clube pernambucano a ser artilheiro do Campeonato Brasileiro (marcou 21 gols em 1973), foi campeão carioca (1977) e goleador, junto com Roberto Dinamite e o “cobra” Paulinho, que não tinha muita pinta de jogador, mas fazia gol pra burro.


(Foto: Adriana Soares)

Naquele longínquo fim da década de 1970, nos cartõezinhos da coleção “FutebolCards” tinha entre os vascaínos o do Ramon. Lá, ele comentara que seu sonho seria um dia ver seu filho formado. E aí, o garoto se formou, Ramon?

Como faz falta um centroavante como Ramon hoje em dia… foi ele um ‘cabra’ marcado para fazer gols!

ALGUNS VÍDEOS SOBRE O GOLEADOR RAMÓN

 

 

LENDAS DE UM VESTIÁRIO

por Zé Roberto Padilha


Delei foi um daqueles raros gênios a habitar nosso meio de campo que não precisava correr com a bola. Tinha como marca registrada uma cavadinha que a levava com precisão, como naquela configuração gráfica do Messenger, dos seus pés até o espaço em que o Aldo de um lado, e o Branco do outro, ocupariam nas costas dos laterais para colocar a bola à feição das cabeçadas do Washington. E do Assis. Mas após o tricampeonato de 1985, dizem pelos vestiários, que ficam impregnados de histórias e estórias, nosso craque deu uma relaxada. E a noite, implacável, superou o treinamento do dia e aí as pernas não aguentavam mais enviar precisos Messenger para ninguém.

E o supervisor do Fluminense, Roberto Alvarenga, sempre muito correto e profissional, passou a cobrar dele uma dedicação maior. Primeiro com o atleta, depois com o grupo e mais tarde junto à imprensa. E Delei acabou barrado e saiu do time contrariado. E prometeu vingança. Passou a se cuidar e ele, hoje, Deputado Federal, quando aliava condição física ao seu natural talento, não tinha para nenhum Leomir, Renê, ou quem mais rondasse aquela faixa intermediária de campo disputando uma vaga. Em duas semanas, recuperou a camisa 5 e, contra o Botafogo, foi o melhor em campo. Antes, armara na concentração uma pegadinha, tudo combinado com seus colegas de trabalho..


Após a partida, atrasou um pouco seu banho e circulou de toalha pelo vestiário, com seu Motoradio em punho, a amealhar afagos e elogios em meio a festa pela vitória. De soslaio, mantinha o Roberto sob controle, e calculando seu inevitável assédio se posicionou no centro do vestiário. E quando o Roberto lhe alcançou e lhe abraçou, soltou um grito: “Socorro! Me acudam, fui esfaqueado!”. E simulou um gesto a tentar retirar um suposto punhal encravado às suas costas. E se jogou ao chão. Os jogadores, já sabendo da trama, correram a ajudá-lo com toalhas e até o massagista foi em sua direção com sua maleta de primeiros socorros.

Diz a lenda, implacável grudada aos azulejos, sem direito à defesa dos que precocemente nos deixaram cheios de saudades, estejam no céu ou em seu gabinete em Brasília, que Roberto Alvarenga deixou o Maracanã todo sem graça. E nunca mais se meteu com “esta raça” que um dia fiz parte. Que tanta vezes levantava um brinde à mais, chegava em casa um pouco mais tarde, e ao treino da manhã também, como a prever, ao estender seus momentos de glória, a quantidade de dias que passariam esquecidos. A tal facada, do ostracismo, da falta de reconhecimento dos clubes e dos torcedores quando paramos de jogar, esta vai continuar doendo pro resto da vida.
 

OS MOSQUETEIROS DA FÚRIA

por Serginho 5Bocas


Houve um tempo, por volta dos séculos XV e XVI em que os espanhóis eram os donos do mundo, dividindo a supremacia com os portugueses, na época das grandes navegações, da expansão marítima que iniciou o período conhecido como Revolução Comercial, Cristovão Colombo foi um dos maiores ícones desta fase de glórias.

Alguns séculos se passaram e a geopolítica mundial sofreu algumas reviravoltas, Inglaterra e depois os Estados Unidos, substituíram os portugueses e os espanhóis no cenário econômico mundial, mas em um setor especifico da atividade humana, os espanhóis voltaram a dominar, pelo menos por um curto período de tempo, no futebol.

Hoje não vou falar de um, mas de dois craques da seleção da Espanha (um jogou e o outro ainda joga) e de uma escola criada para tornar perene o bom trato a dona bola, sai a “fúria” e entra em seu lugar “La roja”, ou seja, sai a raça e a vontade e entra o toque, a técnica e a posse de bola.

A Espanha se notabilizou no futebol mundial, durante muitos anos, pelo “quase”, ou como gostamos de sacanear os torcedores adversários, com a famosa frase jocosa: “Nadou, nadou e morreu na praia”, e como morria.


Só que de depois de muitos anos de “quase”, uma nova geração de jogadores mudou esta imagem ruim. Xavi e Iniesta foram os pilares desta mudança, muito bem acompanhados pelos ótimos coadjuvantes: Fabregas, Casillas, Xabi Alonso, Puyol, Busquets, Torres e Piquet.

Xavi é mais técnico e era o motor da engrenagem, era nele que a bola era gasta, que fazia a roda girar, provavelmente é o jogador que mais deu toques na bola em uma partida em todos os tempos, e como o cara gosta de carimbá-la. A bola procura Xavi e ele agradece, sempre econômico e inteligente, se movimenta o tempo todo para estar disponível e manipulá-la. Reza a lenda que Xavi ficava meses sem errar um passe. Exageros à parte, tinha esta grande virtude como sua marca neste jogo.


Iniesta era e ainda é o mais habilidoso, sabe driblar, fintar e cruzar, não como jogavam os espanhóis que conhecíamos, mas com velocidade de raciocínio e excelente colocação. Faz poucos gols para um meia que mais se parece com um atacante, mas faz os gols quando o time mais precisa, é aquele tipo de jogador que procura jogo, não se esconde quando o tempo esquenta. A final da Copa do Mundo de 2010 provou a teoria. Quando o jogo contra a Holanda parecia que ia para a prorrogação, ele apareceu e bateu com força e categoria a bola do jogo, não foi obra do acaso, foi fruto de quem sabe e não tem medo de errar.

A Espanha implantou uma forma de jogar que já conhecíamos, mas que por muito tempo e até bem poucos anos, raramente se copiava, pois não é fácil imitar o que eles melhoraram. Jogam o tempo todo marcando forte, pressionando o erro do adversário até recuperarem a bola, e quando tem a bola em sua posse, gostam de ficar com ela. Podem perder partidas mas não admitem perder a posse da bola. Começou com Luis Aragonés e se perpetuou com Vicente del Bosque.


Para esta engrenagem funcionar desta forma “azeitada”, era necessário uma geração especial e ela veio. Começando com uma safra que foi campeã mundial sub-20 e alguns anos depois, sendo abastecida com a chegada de outros talentos, esta turma ganhou na elite mundial duas Eurocopas e uma Copa do Mundo.

Parece que esse balé já teve seus dias contados, pois pelo visto não está havendo a renovação de talentos para que ocorra a manutenção da escola de jogo. Como torcedor torço para essa história ter tido um fim, mas o perigo é se essa mentalidade já estiver disseminada em todas as categorias. Ai vamos ter que melhorar muito o que estamos jogando pra ganhar dos caras.

A bola esteve com a Espanha, sob a batuta de Xavi e Iniesta, e olha que os caras nem tinham um centroavante matador. Ai se tivessem….não sei aonde poderiam ter chagado

Josimar

O LATERAL DOS GOLAÇOS

texto e entrevista: Claudio Lovato | fotos e vídeo: Edu Andrade | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

À noite. Antes de dormir. Lembra e agradece – a Deus, à vida. Por ter estado lá. Por ter feito aquilo. Por aquilo ter acontecido com ele. Copa do México, 1986. Brasil contra Irlanda do Norte. Um petardo lá de fora da área, lado direito do campo. Pat Jennings encoberto. E o lateral-direito do Brasil correndo de braços abertos em direção à torcida, em irrefreável alegria, como se não acreditasse no que acabara de fazer, mas entendendo de uma forma muito intuitiva que depois daquilo sua vida jamais voltaria a ser a mesma. E no jogo seguinte, contra a Polônia, outro golaço, o nosso lateral invadindo a área a dribles e mandando um chute cruzado, no alto, e lá se foi o goleiro Mlynarczyk, outro gol de ousadia, técnica e habilidade, outro gol de quem não tem medo de ser feliz, outro gol de Josimar.


(Foto: Reprodução)

– Penso naqueles gols todos os dias, quando me deito, antes de dormir! – diz Josimar Higino Pereira em entrevista ao Museu da Pelada, em Brasília, onde passa a maior parte do tempo.

Ele e a esposa, Sandra, têm casa em Aracaju e São Luís, mas o Distrito Federal há seis meses virou o QG da família, em razão, em grande parte, da atuação de sua empresa de marketing esportivo.

Josimar está em paz, está feliz. É grato, acima de tudo. O bom humor e o sorriso aberto não deixam dúvida sobre isso, o mesmo sorriso do menino nascido em 19 de setembro de 1961, em Pilares, no Rio de Janeiro, criado na Cidade de Deus, e que, em 1982, subindo da base do Botafogo, deixou a meia-direita, a camisa 8, para virar lateral e assumir a camisa 2, a que era de Perivaldo, porque o técnico Jorge Vieira e o Botafogo precisavam que assim fosse.

E assim foi. E foi tão bem e jogou tanta bola que, em 1986, às vésperas do início da Copa, com o corte de Leandro e com a lesão do reserva, Édson, Telê chamou Josimar e lhe entregou a camisa 13. A Copa não veio, mas o Brasil ganhou definitivamente um presente chamado Josimar.


(Foto: Reprodução)

– Nós, os mais novos, tínhamos que correr por eles! – diz Josimar, referindo-se a Falcão, Sócrates, Zico e aos outros veteranos o time.

– Mas eu queria mais é correr, era uma honra estar ali, ao lado daquelas feras! – ele relembra, com os olhos meio molhados ao tentar explicar o que significou para ele ter jogado com aqueles gênios dos quais era fã de carteirinha.

E então chegou 1989, o ano que Josimar e todos os botafoguenses não cansam de celebrar no lugar mais nobre da memória e do coração: o ano do Campeonato Carioca, depois de 21 anos de fila.

– Nós nos reuníamos lá em casa, fazíamos churrasco e conversávamos sobre os jogos, sobre como o outro preferia receber a bola…


Josimar e o cinegrafista Edu Andrade

A casa de Josimar virou uma extensão do vestiário, com as presenças infalíveis e sempre bem-vindas do técnico Valdir Espinosa e do presidente Emil Pinheiro. E aquele abençoado 1989 também foi o ano da conquista da Copa América, com Josimar lá na lateral, com a sua ousadia, sua habilidade, sua alegria; Josimar sendo feliz e fazendo gente feliz.

– É assim que tem que ser. A gente só é feliz de verdade quando faz os outros felizes também! – ele diz. “

Falou e disse, Josimar.

E ele falou e disse muito, muito mais, na entrevista que você confere aqui no Museu da Pelada.

 

Pelada dos Anões

PELADA DOS ANÕES

entrevista: Sergio Pugliese | vídeo: Guillermo Planel | fotos: Levy Ribeiro | edição de vídeo: Daniel Planel

Estima-se no Brasil que, entre os 210 milhões de habitantes, existem 20 mil pessoas com nanismo que precisam se virar nos 30 para superar as adversidades do dia a dia. As dificuldades chamaram a atenção da jornalista Sofia Perpétua e ela decidiu acompanhar os passos do fotojornalista Levy Ribeiro.


Ao tomar conhecimento do projeto que ainda será lançado, a equipe do Museu imediatamente entrou em contato com Guido Ferreira, responsável pelo Projeto Facão, que logo armou uma pelada com os craques do BRASA, a Seleção Brasileira de Futebol de Anões. Liderados pelo MC Pitanga, os anões toparam um desafio no Caldeirão do Albertão e deram trabalho contra uma garotada talentosa e bem treinada.

– Através do futebol a gente consegue unir povos e deixar o preconceito de lado. É um motivo de orgulho para mim receber essa rapaziada aqui. Eles são craques de bola! – elogiou o professor Guido.

A falta de suplentes, no entanto, prejudicou a seleção brasileira, que cansou no segundo tempo e não teve forças para buscar uma reação. Mas enquanto havia fôlego, Pitanga, Cézinha, Lekinho, Vinícius, Bruno Camacho, o xerifão Oromar e o goleirão Walter deram um verdadeiro show de bola, com belas trocas de passes, dribles desconcertantes e lindos gols. Em um deles, inclusive, o artilheiro Lekinho fez o que nem Pelé conseguiu: um golaço do meio-campo, registrado pelas lentes de Guillermo Planel.

– Fui pego de surpresa, quando eu vi já estava lá dentro! – lamentou o goleiro Gabriel.


Enquanto a pelada rolava, o fotógrafo Levy Ribeiro se desdobrava para fazer belos registros da partida, mas não escondia a dificuldade:

– Tem muito tempo que eu não faço futebol. Eu costumo dizer que quem faz futebol bem, consegue fazer qualquer coisa!

Ao fim da pelada, o craque MC Pitanga deu uma de repórter por um dia e fez questão de apresentar um por um para as câmeras. Vale ressaltar que mesmo diante de tantas dificuldades, todos exercem uma atividade e driblam o preconceito com a mesma facilidade que passam pelos adversário dentro de campo.

A brincadeira no Caldeirão do Albertão serviu como preparação para a Copa América dos anões, que será realizada em outubro deste ano, na Argentina. Como ainda não estão com nenhum tipo de patrocínio, os craques contam com o apoio dos torcedores para arrecadar a quantia necessária e cobrir os gastos. Enquanto isso, seguem se preparando para a competição.


Os interessados em apoiar o projeto e investir no esporte brasileiro podem entrar em contato com José Carlos Rosário, fundador e presidente do BRASA.

– Agradecemos a todos os que puderem ajudar a difundir esse projeto que já é realidade!

CONTATO:
José Carlos S. Rosário
(21) 98364-3680 (WhatApp)
futeboldeanoes@gmail.com
https://www.facebook.com/futeboldeanoesbrasil/