TITE, RINUS MICHELS E LUAN
por Claudio Lovato
A se confirmar a informação de que Tite não levará Luan para a Copa da Rússia sob o argumento de que o jogador do Grêmio não tem posição definida em campo, e que por isso seria difícil encaixá-lo no time, estaremos diante de um descalabro.
Fico imaginando – vício de ficcionista, me perdoe – um papo entre o Tite e o Rinus Michels, com o brasileiro tentando explicar ao técnico da grande Holanda de 1974 (cuja morte está completando 13 anos neste mês de março) o porquê de não levar Luan para a Copa de 2018:
– Rinus, não dá para saber onde ele joga! Ele joga pelo meio? Pela esquerda? Pela direita? É armador? É atacante? Pô, não dá!
– Mas isso não é bom, Tite? Isso não dificulta a marcação para o adversário? Os caras não ficam desesperados procurando por ele em campo e quando se dão conta ele está colocando um companheiro em condições de finalizar? Foi o que eu ouvi.
– É, pode ser, mas isso pode confundir os companheiros também!
– Bom, e me perdoe pelo que vou dizer agora, mas aí é que entra a mão do treinador. Eu tive sob meu comando uns caras que também não guardavam posição e, olhe, acho que dá para dizer que provocamos algumas dores de cabeça em nossos oponentes.
– Mas temos que encaixar as peças direitinho, Rinus! Organização é tudo! Você sabe disso!
– Eu sei. Organizei o time de pelada mais bacana de todos os tempos.
– Então?!
– Mas não seja tão certinho, amigo!
– Cada jogador tem que saber onde jogar e cumprir à risca o combinado. Senão, a engrenagem não funciona. Até o Neymar sabe que tem que ficar no quadrado dele!
– Engrenagem. Por isso é que eu ficava contrariado, para não dizer outra coisa, quando nos chamavam de Laranja Mecânica”.
– O coletivo acima do individual, Rinus!
– Você está dizendo isso para mim?
– Me desculpe, não quero parecer presunçoso.
– Tite, me diz uma coisa, com sinceridade e humildade: você ainda não conseguiu entender o futebol do garoto, é ou não é?
– Claro que entendi! Só não vejo como colocar ele no time!
– Não, amigo, então você não entendeu.
– A ideia de time! A inexorabilidade da supremacia do conceito de coletividade!
– O que faz o todo é a soma das partes. E quanto melhores as partes que você tiver em mãos, melhor. Organize-as e depois dê o máximo de liberdade para que rendam tudo o que podem.
– O futebol de hoje não permite essas coisas, Rinus! Por favor!
– Pelo contrário! O futebol de hoje exige exatamente isso, talvez como nunca antes! Disciplina tática com liberdade para os jogadores! Ocupação de todo o campo, troca de posição, posse de bola, e então passe, passe e passe. Pelo que sei, esse rapaz do Grêmio se dá muito bem num esquema assim.
– É assim que já jogamos na Seleção!
– Mas pode ficar muito melhor. Pode ficar mais complicado para o adversário!
– Não sei se é necessário.
– Você é quem decide. Mas se eu posso pedir alguma coisa, é isto: considere levar o garoto pelo menos entre os 23.
– OK, vou considerar, Rinus.
– Sucesso para o Brasil lá na Rússia. Você tem ótimos jogadores. Mas talvez precise de alguém para bagunçar o coreto de vez em quando.
– Vou pensar, Rinus, vou pensar…
– Boa sorte. Abraço.
– Outro. Ah, sim, antes que eu me esqueça: o que o Cruyff acha disso?
– Melhor eu nem lhe dizer, Tite.
UM PRÓLOGO PARA OS VERSOS DE SANGUE; 1982 EM MIM…
por Marcelo Mendez
O mundo mudava a partir do começo dos anos 80.
Tinha uma tal abertura política que meu pai gostou muito, teve as grandes greves do ABC, teve meu Pai engajado nisso tudo, começaram a chegar uns filmes e uns discos no Brasil que minhas primas gostavam, na escola comecei a sacar as coisas e o futebol passava a fazer parte da minha vida de vez.
Em 1980, aos 10 anos de idade, chego para jogar no mirim do Esporte Clube Nacional do Parque Novo Oratório, quando conheci meus primeiros amigos. Aprendi que quando se junta onze caras em campo com a mesma camisa, não tem diferença nenhuma, rola uma amizade, um grupo, uma irmandade.
Além disso, também descobri que o futebol é duro, afinal sou palmeirense…
Em 1980 isso não era muito fácil, nem muito prazeroso, mas outra hora falamos disso.
O que está em questão é a Copa do Mundo, ou o período que marca a preparação para ela.
Diferente de 1978, agora eu já podia acompanhar todo processo, ver como era a expectativa de quem curtia essa coisa toda e o principal, assistir de perto a formação do time que jogaria a próxima Copa, em 1982…
Seriam os quatro anos mais intensos da minha vida. Da minha imberbe, vida. Em se tratando de futebol, claro que pensei várias vezes que viveria muito mais do que vivi naqueles anos.
Todavia, as coisas de 1982 ainda ressonam fortemente em mim. Sempre ressonarão…
SKANK QUE SE CUIDE
por Sergio Pugliese
O que falar sobre Henrique Joriam (o de calça jeans na foto)? Ex-comissário de bordo, ele é inquieto, adrenalina pura!!! Passou a vida pelos ares, conheceu o mundo todo, poliglota, fotógrafo, bom centroavante, sócio do Brothers Hostel, albergue-bar bacana de Botafogo, escritor, guia turístico, empresário e agora vocalista da banda Farani, composta por ele, Mario Vitor e Philipe Joriam. O trabalho do grupo é bem legal e se levarem a sério podem fazer frente a bandas consagradas. Nos enviaram a letra de Pelada Terça-Feira, e como hoje é aniversário do Henrique, resolvemos dividir com vocês!
PELADA TERÇA-FEIRA
Henrique Joriam, Yuri Nasser e Philipe Joriam
Redonda no peito, no pé a chuteira.
Pelada sagrada na terça-feira.
Na beira do mar, no sol de rachar.
Onde rolar ela está satisfeita.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
Da linha de fundo
Para o zagueiro.
Cobrou lateral.
Até o artilheiro.
Carrinho na bola.
Ele entrou de sola.
Empurra pra lá e pra cá.
“Qual é!”, de cá e de lá.
3 passos para traz.
Por cobertura chutouuuuuuuu…………
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
Quadra de grama, asfalto ou poeira.
Seja o que for, tô de bobeira.
Par ou ímpar, campo ou bola?
É dez ou dois, tem time de fora.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
Do tiro de meta.
Pra cabeçada.
Matada no peito.
O drible da vaca.
Passe de letra.
Pro ala direita.
Respeito com o adversário.
Não existe peladeiro otário.
Dado um toque pro lado
De bate pronto chutouuuuuuu (gol…gol…gol…gol…)………..
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
E o jogo, acabou
LENDAS ETERNAS
por Walter Duarte
Sempre tive grande admiração e curiosidade pela imagem, principalmente das fotos jornalísticas, em especial as revistas e cadernos de esporte. Ao saber da “passagem” do grande fotógrafo Raimundo Valentim, lembrei-me da infância, lá pela segunda metade dos anos 70, onde juntava os trocados para comprar os principais jornais da época e ver as fotos dos jogos.
Confesso que anos depois, na adolescência, é que comecei a me interessar pela a leitura ou a “substância” da crônica do jogo, porém a Imagem do lance capital, a emoção da jogada e a vibração do gol congelados no tempo é o que me encanta.
Não era comum para mim frequentar o Maracanã, palco dos principais jogos, devido a dificuldades e distância da nossa terra. Cabia, então, pedir insistentemente ao meu pai, Sr. Walter, para ser levado aos estádios em Campos e ver de perto os jogos ou, caso contrário, aguardar o “VIDEO-TAPE” e as resenhas da noite na TVE ou TUPY.
A oportunidades de assistir aos grandes craques representava um sonho para todos nós, pois aqueles caras eram mais do que “atletas da bola”, eram heróis ou entidades no meu mundo idealizado. Naquela época, o Jornal do Brasil, o Globo e o Jornal dos Sports eram muito concorridos nas bancas e eu não perdia tempo nas segundas-feiras de ir cedo assegurar quase que a “tapas” meu exemplar, principalmente quando meu time ganhava. Costumava também recortar as fotos e colar na parede do quarto, e fixar meu olhar infaltil no “acervo” e imaginar um dia jogar como eles, motivo de muitas broncas da minha mãe Dona Marlene que me cobrava os estudos e sinalizava as dificuldades da vida.
Não tenho conhecimento da matéria jornalística no sentido profissional, pois não sou do “ramo”, mas imagino o quanto de inspiração e técnicas devem ser adotadas para dar emoção e realismo àqueles instantes. Algo de muita inspiração e “feeling” devem existir para o resultado do trabalho, transcendendo as regras elaboradas no ofício dos fotógrafos ou cinegrafistas.
Sempre me instigou a situação real de não podermos reproduzir novamente o fato histórico na sua plenitude, servindo então a imagem fixa, ou não, o papel importante do testemunho daquilo que não voltará mais a acontecer, pelo menos na sua forma original. Um remake de um filme jamais terá a mesma atmosfera inicial, mesmo mantendo o elenco anterior.
O gol ou a jogada decisiva será o momento único fixado no tempo, sendo “tempo passado” um segundo depois, restando a imagem gravada a matéria que nos vai fazer saudosos na alegria da vitória ou na tristeza da derrota. Independente do vídeo, gostaria de ter todos esses lances marcantes em quadros com molduras de grande arte, no meu “Museu imaginário”.
Flashs recorrentes estão em minha memória tais como o elástico do Riva no saudoso Alcir, o golaço do Dinamite em 76 com aquele lençol no Osmar, aquela falta magistral do Zico contra o Santa Cruz em 87, o gol do Maurício do Botafogo no título de 89 que acabou com a angústia da fila, aquele chute improvável do Nelinho que traiu o Zoff em 78, o quase gol do Pelé no cabeceio defendido pelo Banks da Inglaterra em 70, o olhar desesperado dos marcadores do Garrincha na iminência do “baile”, o “drible de corpo” do PC e tantos outros lances fantásticos dos nossos craques.
Tudo isso faz parte do inconsciente coletivo dos amantes do futebol e não nos cansa recordar. Independente de todos recursos computacionais e de multimídia da atualidade, o meu museu teria todos instantâneos em preto e branco e entraria todo dia no túnel do tempo daquelas emoções. Viva assim a arte do futebol, viva a arte dos nossos magos da imagem. Viva a memória daqueles que deixaram um legado de poesia nas lentes eternas do esporte chamado futebol.
Valdiram
A VOLTA POR CIMA
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Perpétuo
Por mais que um jornalista exerça as tarefas da forma mais correta possível, sempre vai ter aquele para julgá-lo como “urubu”, que vai atrás da notícia, seja ela boa ou ruim, para estampá-la nas capas dos jornais ou tablets. O jovem Rafael Oliveira, do Jornal Extra, conseguiu provar o contrário após comover os leitores com o fato de que o atacante Valdiram, artilheiro da Copa do Brasil de 2006, estava morando nas ruas de Bonsucesso.
A notícia rapidamente tomou conta das resenhas, sobretudo nas peladas, e em poucos dias o jogador foi internado na Clínica de Reabilitação Jorge Jaber, em Vargem Grande, graças ao flamenguista Júnior Tomé e Iara Machado, assistente social do Vasco. Vale lembrar que o craque Mendonça também fez sua recuperação por lá.
Três semanas após a internação, Rafael reencontrou Valdiram em uma nova realidade e relembrou o dia que entrevistou o goleador.
– Estava carregando um papelão embaixo do braço. (…) Quando eu falei que era da imprensa ele resmungou, mas ele conversou numa boa e o resto todo mundo viu na notícia. – lembrou o jornalista.
Com piscina, academia, alimentação balanceada e um acompanhamento de 24 horas por dia na clínica, o jogador fez questão de agradecer Rafael por ter lhe dado visibilidade:
– Ele veio conduzido por Deus. Eu estava sentado na praça, alcoolizado, bebendo e encontrei meu amado irmão Rafael. Eu pedia a Deus toda noite para que enviasse uma pessoa para me tirar das ruas.
Para quem não lembra, Valdiram chegou ao Vasco em 2006 após se destacar no Esportivo-RS e foi tão bem que ganhou uma música personalizada da torcida cruzmaltina: “Aham, aham, hã! matador é o Valdiram”. Com uma pedalada que causava pesadelo nos marcadores e muita agilidade, o atacante foi peça fundamental da equipe na campanha do vice da Copa do Brasil de 2006. Foi dele, inclusive, o gol decisivo no Maracanã contra o Fluminense na semifinal do torneio.
– Esse gol eu não esqueço nunca! Fechei os olhos, bati forte e saí para o abraço! No momento difícil que eu passei nas ruas eu só conseguia me lembrar desse gol! – revelou.
Os atos de indisciplina, no entanto, sempre acompanharam sua carreira e foram decisivos na rescisão do contrato no ano seguinte.
Uma década depois, aos 35 anos, o goleador colhe os frutos dos exageros, mas se mostra focado e confiante na recuperação para realizar o sonho de voltar a jogar profissionalmente. De acordo com ele, a estrutura da clínica é similar a de clubes de grande porte do Brasil.
– Tenho feito trabalho físico, resistência, musculação e piscina. Não tenho do que reclamar aqui. (…) Creio que ainda consigo jogar por mais um ou dois anos.
Endossando as palavras de Valdiram, Eduardo Prosdocimi, preparador físico da clínica, revelou a sua expectativa:
– Ele está se empenhando da melhor forma e eu tenho certeza que muito em breve ele estará dando alegria para a gente para ele mesmo!
Nada disso seria possível se o jornalista Rafael Oliveira não desse o furo de reportagem que jamais esquecerá!