Escolha uma Página

O MENINO CHICHÃO SE TRANSFORMOU NO CAPITÃO AMÉRICA

por Marcos Vinicius Cabral

O sol ia nascendo e trazendo um presságio de coisas boas para aquele sábado, 14 de julho de 2012.

Enquanto o céu estava azul com nuvens parecidas com algodão doce, a todo instante meu pensamento ia longe, mas especificamente no Botafogo e Flamengo, que decidiram o Brasileiro de 1992.

O vento, uma leve brisa que nos beijava o rosto, direcionava nossos olhares para lugares distintos: ele (meu pai) para o trânsito à sua frente e eu para os mergulhos ensaiados das gaivotas à procura do peixe fresquinho.

Nosso silêncio era, por ora, quebrado como um cristal se espatifando no chão quando sons vinham da mala do nosso carro, desordenando os quadros que ali estavam arrumados.


– Vai devagar que eles não podem quebrar! – dizia eu para meu pai, preocupado com cada lombada irregular do asfalto por onde o carro passava.

Se a preocupação era grande em chegar com os quadros intactos, o que dizer da alegria quando recebi o convite do maestro Júnior para desenhá-los, no fim de 2011, após fazer muitas caricaturas em época natalina para o recordista de partidas oficiais do Flamengo?

Afinal de contas, estávamos indo eu e Babylon (apelido carinhoso que dei ao meu pai há alguns anos) ao Cheirinho de Gol – clube tradicional situado no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro – entregar algumas caricaturas e também participar das comemorações das duas décadas da conquista do Pentacampeonato Brasileiro do Flamengo.

Chegamos um pouco antes das 9h, conforme recomendação do eterno camisa 5 rubro-negro.

Nas dependências do clube, havia um jogo em que Dodô – conhecido como artilheiro dos gols bonitos, nas passagens por Botafogo, Fluminense e Vasco – mantinha a forma, já que defendia o Al Ain Football Club, nos Emirados Árabes.

Enquanto assistíamos o jogo, aos poucos foram chegando um a um os campeões.

A pedido do maestro Júnior, fui buscar os quadros na mala do carro para entregá-los.


Gottardo

Daquele (improvável) Flamengo que sagraria-se campeão, fiz as caricaturas de Gilmar, Júnior Baiano, Wilson Gottardo, Gaúcho, Zinho e lógico, de um maestro, que sob sua regência soube tão bem tirar belas notas musicais de uma orquestra desafinada.

E fiz a do Carlinhos Violino, que conduziu serenamente o Flamengo rumo ao título, com sua voz macia e jeito sempre peculiar.

Mas em virtude de ter que sair um pouco mais cedo junto com meu pai, não pude entregar a todos suas caricaturas.

Entreguei ao Gilmar, maestro Júnior e ao Zinho.

Entretanto, fui avisado que os demais receberiam seus quadros.

Porém, o único que não recebeu – segundo o  maestro Júnior – foi o Carlinhos Violino.

Portanto, hoje, 23 de maio de 2018, um dos maiores zagueiros do futebol brasileiro faz aniversário: Wilson Gottardo!

Nascido em Santa Bárbara d’Oeste, interior de São Paulo, o menino Wilson Roberto Gottardo era um apaixonado por esportes em geral.

Era praticante de algumas modalidades esportivas e, certa vez, numa corrida com mais de 50 garotos mais velhos que ele, ganhou a medalha de prata.

— Foi a primeira e única  medalha que seu Euclides viu eu ganhar na vida, pois um ano depois, veio a falecer — conta emocionado ao Museu da Pelada ao lembrar do pai.

Se aos 13 anos perdera seu maior incentivador, viveu praticamente uma vida toda sem sua figura paterna.

Mesmo com as inexplicações da vida, foi viver e seria uma bobagem se entregar, apesar do duro golpe.

Não baixou a guarda e viu todo o desdobramento de Dona Thereza para criá-lo junto aos outros cinco irmãos.

Se tornou exímio jogador de futsal, sendo inclusive campeão intercolegial,  onde desenvolveu habilidades para jogar nas laterais direita e esquerda, além de fazer bem o papel de volante.

Já no vôlei, beneficiado pela velocidade adquirida do atletismo e da boa estatura, sempre era escolhido nas quadras mal acimentadas da cidade.

No basquete, treinado por Álvaro Alves Corrêa – que viria a ser o prefeito da cidade anos mais tarde – sagrou-se campeão em um torneio intermunicipal. 

Mas o futebol talvez corresse nas veias daquele garoto e fosse uma paixão desde muito cedo, quando com uma bola mas mãos – ou nos pés, melhor dizendo – caminhava quilômetros para jogar contra times de outras ruas e de outros bairros.


Naqueles longínquos anos 70, o contato com o futebol era possível apenas no cinema – onde ia às vezes assistir filmes do Canal 100 -, no rádio, através das narrações esportivas nos grandes clássicos e raramente na TV, que havia se tornado à cores.

Em 1978, aos 15 anos de idade, Chichão – apelido carinhoso como era chamado – jogou seu primeiro campeonato amador da cidade de Santa Bárbara d’Oeste e viveu a partir dali, algo intenso com o futebol.

Por ser uma cidade do interior de São Paulo, seria evidente que sendo destaque naquele campeonato os convites de equipes surgiriam naturalmente.

E foi o que aconteceu.

Indo para o Colégio Estadual Emílio Roni, onde cursava o 2°grau, um encontro selaria seu destino.

— Você vai jogar aqui no União —, disse seu Legório, roupeiro do União Agrícola Barbarense Futebol Clube.

Fez alguns treinos e por sua versatilidade de ter jogado em todas as posições no setor defensivo, passou sem grandes dificuldades.

Com foco e uma obstinação incomuns, transferiu às aulas do turno diurno para o noturno para poder treinar com os profissionais.

Já no grupo principal de jogadores do União Barbarense, clube que revelou Brandão e Eusébio (que jogaram com o Rei Pelé), Osvaldo (Campeão Mundial pelo Grêmio em 1983), Oscar (autor do gol de honra nos 7 a 1 para a Alemanha no Mineirão, na Copa de 2014), Diego Tardelli e do falecido Mazolinha (famoso por ter cruzado a bola para o gol de Maurício, na final do Campeonato Carioca de 1989), o menino Chichão se tornaria, em definitivo, Wilson Gottardo.

Aos 19 anos de idade, chegou ao Guarani Futebol Clube e fez parte da lendária equipe que contava com Waldir Perez, Jorge Mendonça, Neto, Edmar e Careca.


Depois disso, jogou no Náutico antes de chegar ao Rio de Janeiro para vestir a camisa 3 do Glorioso.

– A segurança daquela defesa, foi um dos pilares daquela conquista. Mesmo a equipe tendo sido excelente naquele ano, o meu entrosamento com Gottardo foi muito importante! – conta Mauro Galvão, que foi seu companheiro de zaga no título carioca de forma invicta em 1989.

No ano seguinte, repetiu o feito e sagrou-se bicampeão carioca, para delírio dos alvinegros.

Já em 1991, trocou o Glorioso pelo Flamengo e, pela terceira vez consecutiva, levantou a taça de Campeão Carioca.

E foi em 1992, que o destino se incumbiu de colocar o Botafogo em seu caminho, só que desta vez era seu adversário na final do Campeonato Brasileiro.

O título expressivo com a camisa rubro-negra traria uma expressão que o acompanharia a partir dali em sua vitoriosa carreira: xerife!


– Quando a gente concentrava para alguma partida importante do Flamengo, ele não falava muito e era comum vê-lo com a barba crescida. Certa vez, curioso, perguntei o porque daquilo e ele me disse que era zagueiro e se estivesse bonitinho e bem barbeado o atacante não o respeitaria (risos)! – conta Gilmar Rinaldi, de 59 anos, ex-goleiro do Flamengo.

Já o ex-zagueiro Júnior Baiano, emenda:

– No começo da minha carreira tive o privilégio de aprender muito jogando ao seu lado.

A vida seguiu e em 1993, deixou o Brasil e foi para a Europa, onde atuou no Marítimo, de Portugal.

Voltou um ano depois para o Botafogo, onde seria capitão da equipe comandada por Paulo Autuori.

Os títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa dos Campeões Mundiais, em 1995, respectivamente por Botafogo e São Paulo, ratificariam sua liderança assim como a predestinação por grandes conquistas.

Até uma breve passagem pelo Fluminense – no qual não conquistou título algum – seria irrelevante para o que o futuro lhe reservaria.


E foi em 1997, na equipe do Cruzeiro que o título da Libertadores coroaria 19 anos de uma vitoriosa carreira.

– Eu pedi sua contratação. Nos treinos, quando ele chegou, facilitou muito o meu trabalho, porque ele sabia os conceitos que a gente queria implantar e com sua liderança natural conquistou o grupo, contribuindo para o crescimento da equipe e alcançando assim o objetivo que era, depois de 21 anos, o título da Libertadores! – diz o ex-técnico cruzeirense e atual Diretor-Executivo do Fluminense, Paulo Autuori, de 61 anos.

Se o Náutico seria um trampolim para brilhar com a camisa do Botafogo no fim dos anos 80, o arquirrival Sport seria seu último clube antes de passar a estrela de xerife para outros zagueiros, em 1999.


– Eu realizei um sonho de garoto em ser jogador de futebol. Jogar em bons estádios, em grandes clubes, viajar e chegar à Seleção Brasileira, foi ter ido muito além do que poderia imaginar. Mas me considero um vencedor por ter superado muitas adversidades. Acho que valeu a pena. – diz o aniversariante do dia.

Portanto, se o campo era o velho oeste, na área ele era o xerife.

Hoje, 23 de maio, o “xerifão” completa 55 anos e o Museu da Pelada pôde contar um pouco da trajetória profissional de um grande zagueiro do futebol brasileiro.

MÉXICO 1986, DERROTA NOS PÊNALTIS E VITÓRIA DO TÉDIO

por Marcelo Mendez

The Police, Queen, Michael Jackson, Império Dos Sentidos, Perdidos Na Noite, Lula, O Último Tango Em Paris, Rio-Centro, Blitz, Aiatolá Komheini, Bo Dereck, Programa Do Bolinha, B’ 52, Chacrinha, Cores Cítricas, Gel, Tênis All Star…

A charrete sem condutor que o Raul Seixas cantou como sendo os anos 80 seguia firme. Em 1986, algumas outras coisas me geravam interesse além do futebol.

Rock And Roll, Literatura, Cinema, a chegada dos 16 anos na minha vida, os primeiros beijos, primeiras paixões, as coisas todas de se ter essa idade num Brasil pouco receptivo às novas experiências. Tudo isso colaborava muito para as revoltas que se queria sentir.

Um ano antes havia tido ume eleição indireta. Nela, um Presidente eleito via congresso nacional foi impossibilitado de assumir por conta de uma doença que lhe levou à morte. Nos tornamos o Brasil do Vice e tudo estava uma bagunça.

No futebol não era diferente.

Após a ressaca da perda de 1982, os principais jogadores foram para Europa e pior, para jogar na Itália. Por aqui, só ficaram times sucateados, um campeonato nacional que era uma zona, todos os clubes quebrados e, no meio disso, uma seleção por jogar.

E jogou, ou, pelo menos tentou… 

Um cabaré mambembe chamado CBF

O futebol no Brasil em 1986 era uma zona!


A CBF com Nabi Abi Chedid, completamente sem rumo, sem eira, nem beira, chegou até a Copa do México e por lá, graças a um resquício de uma ótima geração, até que foi bem na primeira fase: três jogos, três vitórias em cima de Espanha, Irlanda e Argélia. Primeiro lugar assegurado, veio as oitavas de final e o confronto com a Polônia.

Tarde quente em Guadalajara, boas lembranças. Josimar, o lateral direito que não conhecíamos e que Telê inventou, já tinha feito um golaço contra a Irlanda, repetiu a dose em um gol inexplicável contra os Polacos e com o 4×0 final, passamos de fase.

Nas quartas de final, veio o adversário que todos nós esperávamos em 1982, mas que infelizmente não enfrentamos.

A França de Platini seria nosso adversário.

Não tem festa, carnaval, nem lágrima

Eu queria sofrer, mas não sofria.

Pensei que ia chorar, mas ao contrário, vi aquela derrota nos pênaltis, após 1×1 no placar em tempo normal, como se fosse um nórdico.


Aos 16 anos em 1986, a única coisa que ainda me mantinha ligado à seleção do teimoso Telê Santana era Zico, que as turras, lutava contra seu joelho machucado. O 10 ficava no banco, jogava o tempo que podia e num desses tempos, bateu um pênalti pra um tal Joel Bats defender.

A Seleção de Careca, Muller, Junior numa meiuca, Sócrates na outra, amassou a França, mas a bola não entrou. Pela primeira vez eu vi uma decisão por pênaltis vitimar um time que torcia. No final do jogo que havia começado meio-dia, só silêncio. Mas não era novidade…

Essa parte da coisa, eu já sabia.

E caminhando da casa da minha Tia até a minha casa, pensei que eu já estava merecendo saber da outra parte…

OS BONS MORREM JOVENS

por Marcos Vinicius Cabral

Considerada uma das mais produtivas e conceituadas bandas do cenário nacional dos anos 80 a Legião Urbana não gostava de palcos.

Era raro ver Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá em programas de TV, cantando seus sucessos.

Mas naquele 10 de maio de 1994, o Programa Livre recebeu o trio brasiliense – embora Renato Russo seja da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro – para divulgação do novo disco O Descobrimento do Brasil.

“Na verdade essa música foi feita para todas as pessoas que vão embora cedo demais e nós vamos nesse momento dar um toque especial, pois a gente acha – que não é porque a pessoa morreu que acabou, né? – o Ayrton Senna, um cara super legal e todas as coisas da vida… e essa se chama Love In The Afternoon e é do novo disco”, disse o poeta da Geração Coca-Cola.

E por acreditar nos versos da bela canção que vamos relembrar um dos mais talentosos jogadores que o Brasil produziu no começo dos anos 90, que por ironia do destino não teve tempo de se consagrar como um grande craque no futebol nacional e mundial.

Porém, não deixou de aprontar algumas travessuras enquanto esteve por aqui neste plano terrestre.


Irreverência e molecagem eram as marcas registradas daquele corpo franzino em que a camisa sobrava para fora do short, de pernas finas sobressalentes e bigodinho ralo.

Seu nome?

Dener Augusto de Souza.

Nascido em 2 de abril de 1971, em São Paulo e criado no bairro Vila Ede, Zona Norte da capital paulista, Dener por pouco não abandonou o futebol para ajudar a mãe com as despesas de casa.

Com a infância interrompida pela perda precoce do chefe da família, não teve a figura paterna desde os seus 8 anos de idade.

Tal ausência era substituída pela bola quando jogava futebol de salão na Vila Mariana, pelo Colégio Bilac, onde sagrou-se campeão em torneios Intercolegiais, como a Copa Dan’up – Jovem Pan.

Havia nos pés daquele menino negro, desengonçado e magrelo uma paixão infinita pela bola.


Com 17 anos, após uma passagem frustante de dois meses pelo clube de coração, o São Paulo, voltou a treinar nas categorias de base da Portuguesa de Desportos e foi rapidamente promovido pelo treinador José Wilson à equipe profissional.

De 1988 a 1991, treinou entre os profissionais e jogou pelos juniores do clube do Canindé, onde sagrou-se campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1991. 

E com justiça, terminou sendo eleito o melhor jogador do campeonato.

O título fez dele uma estrela do time comandado por Écio Pasca, já que era um meia-atacante habilidoso, dono de arrancadas rápidas e objetivas que dava gosto de se ver.

Enquanto a Portuguesa comemorava seu primeiro título, o Reizinho do Canindé despertava o interesse de outros gigantes do futebol brasileiro pelo futebol agudo e irresistível.

“O Dener era são-paulino de infância, mas estava entusiasmado com a possibilidade de defender o Corinthians. Ele dizia que não via hora de entrar no Parque São Jorge com o ‘Passário Branco’. Era assim que ele chamava o carro dele”, contou a viúva do craque, Luciana, mãe de dois filhos de Dener.

Com apenas 20 anos o jogador teve sua primeira chance com a camisa da Seleção Brasileira e estreou contra a Argentina em Buenos Aires. 


Jogou poucos minutos, é verdade, mas iniciou a jogada que culminou no terceiro gol brasileiro.
  
Em 1993, acabou sendo emprestado para o Grêmio e fez a exigente torcida gaúcha se apaixonar por ele, por seus dribles e pelo título conquistado. 

No fim do empréstimo, o jogador retornou à Portuguesa para disputar o Campeonato Brasileiro mas foi no Campeonato Paulista que marcaria um dos gols mais bonitos de sua curta carreira.

“Na hora em que ele chega no último adversário, eu vejo que ele faz a falta no Silva, ali na meia-lua da área. Eu trago o apito na boca, mas falo: “É um pecado parar esse lance, se ele faz um gol maravilhoso desse, ninguém vai lembrar da falta. Se eu marcar e ele fizer, todo mundo vai reclamar de tantos lances, tantas faltas que os juízes erram…” Então falei: que se dane o Santos, que se dane o Silva, eles vão me perdoar, porque quero que fique perpetuado esse lance. Deixei passar e foi um gol que entrou para a história”, disse à época o ex-árbitro Oscar Roberto de Godói, na vitória da Portuguesa por 4 a 2 sobre o Santos.

Com uma joia rara mais preciosa que ouro de ofir nas mãos, os cartolas da Lusa criaram obstáculos para negociá-lo em definitivo e mesmo cobiçado por grandes equipes paulistas, sua negociação foi vetada de imediato.

Coisas que a estupidez humana produz nos cartolas em nome da rivalidade.

Então, não restou solução se não fosse emprestá-lo novamente.

Foi aí que o mais famoso e abusado camisa 10 do Canindé trocou a cruz da Lusa pela Cruz de Malta e chegou à Cidade Maravilhosa, em 1994.


Logo em um amistoso contra o deus argentino Maradona, no seu retorno aos gramados na Argentina, pelo Newell´s Old Boys, Dener acabou aprontando uma das suas ao passar por cinco jogadores só parando nas mãos do goleiro Norberto Scoponi.
   
Na sequência, Don Diego olhou surpreso aquilo e após o jogo foi cumprimentá-lo.

Pelo time de São Januário, Dener não fez muitas partidas, mas mesmo assim entrou na galeria dos grandes jogadores da história do Gigante da Colina, quando seu carro, o Mitsubshi Eclipse, placa DNR-0010 – São Paulo, chocou-se com uma árvore na Lagoa Rodrigo de Freitas, bairro da Zona Sul do Rio, no dia 19 de abril de 1994 por volta das 5h45 da madrugada.

“Ficamos felizes pelo título, mas a morte do Dener foi algo trágico. Ele era um excelente jogador. Ele era considerado problemático, mas nunca tive qualquer tipo de dor de cabeça com ele”, conta o técnico Jair Pereira, o último comandante de Dener ao Museu da Pelada.

O Vasco conquistou o título e dedicou em memória de seu camisa 10.

Portanto, mês passado completou 24 anos de sua morte.

E nessa manha, ouvi “É tão estranho, os bons morrem jovens, assim parecer ser quando me lembro de você que acabou indo embora cedo demais”… na voz potente de Renato Russo, e indubitavelmente, foi  uma maneira de lembrar daquele que foi sem sombra de dúvidas, o maior driblador que o futebol brasileiro já teve.

MÚSICA E FUTEBOL

por Mateus Ribeiro


Um dia desses, estava conversando com meu parceiro Sergio Pugliese sobre duas das melhores coisas da vida: futebol e música. Só faltou um copo de cerveja para completar a trinca das três maiores invenções do homem (ou dos deuses, vai saber).

No meio da conversa, o grande Sergio enviou uma foto fantástica, onde estavam duas lendas, uma do mundo da bola e outra do universo da música: Paulo César Caju e Peter Frampton, lado a lado. Demorei um tempo para me recuperar, depois de sofrer um choque ao ver um registro desse encontro gigantesco.

Logo após me recuperar, comecei a refletir sobre a forte ligação que o futebol sempre teve com a música. Dessa forma, nasceu a ideia de fazer uma lista de artistas (e bandas) que escreveram músicas sobre o nosso amado esporte bretão. Tem desde MPB até Heavy metal, passando por vários outros estilos. Divirta se!

1 – “Fio Maravilha” (ou “Filho Maravilha”) – Jorge Ben Jor: Gravada em 1972 pelo grande Jorge Ben Jor, em homenagem ao atacante folclórico do Flamengo, muito querido pela torcida.

O jogador ganhou a música de maneira inusitada. Conhecido por não ser exatamente um primor de técnica, era xodó da torcida do Flamengo. Em um amistoso contra o Benfica, no Maracanã, os torcedores começaram a pedir pela entrada de Fio. Zagallo, então treinador do Flamengo, colocou o centroavante, que fez um golaço aos 33 minutos do segundo tempo.

Ganhou a música em sua homenagem, mas tempos depois entrou em uma batalha judicial contra Jorge Ben Jor, pedindo direitos autorais. Perdeu a ação, se arrependeu e pediu desculpas pelo mal entendido.

Apesar de todo esse imbróglio, sorte a nossa desse gol ter sido a origem dessa grande música.

2 – “Forza SGE” – Tankard: O grupo alemão de Thrash Metal Tankard é apaixonado por cerveja e pelo Eintracht Frankfurt, tradicional clube alemão, que já chegou a ser vice campeão da atual Liga dos Campeões da Europa em 1960, e tem uma Copa da Uefa em seu currículo.

A música é uma declaração de amor ao time, e o clipe mostra bem isso, de forma desconstraída e apaixonada. Se você não conhece o trabalho da banda, essa é uma boa oportunidade!

3 – “O Futebol” – Chico Buarque: Uma música que, dentre outras coisas, narra uma jogada imaginária entre Pelé, Pagão, Didi e Garrincha não poderia ser menos que genial. Chico Buarque, apaixonado pelo futebol, não decepcionou, e gravou uma obra, tão bela quanto essa jogada entre esses quatro monstros.

4 – “É Uma Partida de Futebol” – Skank: Se você tem mais de vinte anos, e não passou os últimos anos do Século Passado na Lua, já ouviu essa música.

O clip da música traz cenas de um Cruzeiro x Atlético Mineiro, um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Já a letra fala sobre toda a emoção que uma partida de futebol proporciona. Destaque para o trecho “…que emocionante é uma partida de futebol…”. Bom, tá certo que naqueles dias, o futebol era muito mais interessante, né? Mas vale ouvir a música como forma de relembrar aqueles dias melhores.

5 – “The Beautiful Game” – New Model Army:  Em 2014, a banda Inglesa gravou uma música em parceria com a ONG Spirit Of Football, que visa aproximar as pessoas através do esporte mais popular do mundo.

Uma grande música, e um vídeo muito bacana, ambos com belas mensagens!

6 – “BiCampeão Mundial” – Tião Carreiro e Pardinho: A maior dupla de violeiros do Brasil não poderia ficar de fora.

A música, como o título diz, fala sobre a campanha do Brasil na Copa de 1962, quando a Canarinho conquistou pela segunda vez o título Mundial. É dar o play e viajar no tempo.

7 – “Vexamão” – Elis Regina & Pelé: A música não fala exatamente sobre futebol. Mas um encontro entre uma das maiores vozes femininas do nosso Brasil e o Rei do Futebol não poderia passar em branco.

Vale lembrar que a inesquecível Elis Regina ainda gravou “Aqui é o país do futebol”, no disco Transversal do Tempo (1978). A música, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, fala muito bem sobre a relação que o torcedor tem com o futebol, e como o futebol afeta (ou afetava) a vida do brasileiro. Vale ouvir ambas!

8 – “Ponta de Lança Africano” (Umbabarauma) – Soulfly: Max Cavalera é um grande fã de futebol, e invariavelmente é visto com camisas de algum clube. Uma das provas de seu amor pelo futebol é a regravação da música “Ponta de Lança Africano”, composta por Jorge Ben Jor (olha ele aí de novo).

A canção, que faz parte do disco de estreia do Soulfly, mistura a música pesada com muitas influências variadas, características sempre presentes no trabalho de Max.

9 – “Camisa Dez” – Luiz Américo: Escrita tempos depois do tri mundial, questionava quem seria o substituto de Pelé como o camisa dez da Seleção.

Mal sabia o sambista que décadas depois, a camisa dez estaria quase morta e enterrada…

10 – “Replay” – Grupo Esperança: A última da lista é especial demais, e me faz lembrar quem me inspirou a escrever o texto.

Ouvir futebol no rádio é uma das coisas mais emocionantes na vida de um ser humano. E quem nunca chorou ao ouvir o gol de seu time com o maravilhoso refrão “é gol, que felicidade…” ao fundo?

Agradeço ao Trio Esperança, formado pelos irmãos Mário, Regina e Evinha, que gravou essa maravilha. A música narra um gol fictício de PC Caju, o monstro que além de ter inspirado esse texto, é uma das pessoas que eu mais admiro na arte de escrever sobre futebol.

Muita coisa boa ficou de fora, mas por questão de espaço, resolvi listar só dez. E você, quais músicas sobre futebol te despertam mais emoções?

Até a próxima, pessoal. Um abraço!

 

 

 

 

Geovani

O PEQUENO PRÍNCIPE

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Rodrigo Quintanilha | fotos e vídeo: Daniel Perpetuo

É sempre um prazer participar dos eventos da PetroVasco no Clube dos Empregados da Petrobras, liderado por Sérgio Pereira. Dessa vez, no entanto, decidimos levar também o vascaíno Rodrigo Quintanilha, um colaborador do Museu que sempre participa com comentários pertinentes e tirou onda na resenha com um dos seus maiores ídolos.

por Rodrigo Quintanilha


Estava indo para mais um plantão, quando reparei que havia uma mensagem no celular. Era um convite do Museu da Pelada para me juntar a eles na cobertura do aniversário da PetroVasco. “- Inclusive Geovani!”. O convite já era bom demais, mas essa última frase já seria suficiente!

Desde que me lembro, sou Vasco! Meu pai não me criou, tive pouco contato com ele antes de falecer. Não sei qual era o time dele e, sinceramente, nunca me importou! Mas ele tinha muitos irmãos e em uma família dividida entre vascaínos e flamenguistas. Sendo assim, meus tios disputaram minha preferência clubística!

Alguns pequenos detalhes me fizeram ter mais interesse pelo Vasco! Um deles era o “R” de replay a cada gol na TV. Não sei por que mas associava aquela inicial a Roberto Dinamite. Então não importava quais times estavam jogando, quando aquele R aparecia na Tv, na minha cabeça infantil significava que Roberto acabava de marcar mais um gol!

Outro pequeno detalhe era o Pequeno Príncipe. Já tinha muita admiração por ele no fim dos 80, mas foi no início dos anos 90, quando minha família mudou para o Espírito Santo, que a idolatria aumentou.


O Vasco foi bicampeão estadual com ele e, apesar da rivalidade, os torcedores dos outros clubes tinham muito orgulho do sucesso da carreira do conterrâneo. Um sentimento similar ao que aconteceria com Sávio poucos anos depois.

Lembro ainda de uma última passagem dele pelo Vasco em 95, quando chegou para compor o elenco, já que o Vasco tinha acabado de contratar Juninho. Geovani já não era mais o dono da camisa 8, costumava entrar no segundo tempo e distribuir alguns lampejos de sua antiga categoria.

Geovani seguiu sua carreira após o Vasco. Voltou ao Espírito Santos e conseguiu ser tricampeão estadual por três clubes diferentes. Entre 98 e 2000, enquanto o Vasco ganhava Carioca, Libertadores, Torneio Rio-São Paulo, Brasileiro e Mercosul, Geovani levantou a Taça do Capixaba por Linhares, Serra e Desportiva. A única coisa que é o lamento foi o fato dele nunca ter jogado pelo clube de minha cidade. O Estrela do Norte, de Cachoeiro de Itapemirim.

Voltando a festa, foram muitos encontros interessantes com heróis de diversas conquistas. Sorato, Leandro Ávila um dos pilares do primeiro tricampeonato do clube: Mauro Galvão e Odvan.


Outro momento nostálgico foi encontrar o goleiro Acácio! Quantas crianças brincando no gol não gritavam “Acácio!!” a cada defesa realizada?

Passadas algumas horas do começo da festa começa a pelada e o timaço está em campo! Algumas constatações: Gaúcho joga com muita categoria e a cabeça sempre erguida, Sorato mantém uma boa movimentação. Mauro Galvão manteve a promessa é virou atacante. Não me lembro de ver ele proteger a própria meta em nenhum momento. Mas o que mais chamou atenção foi ver Acácio desafiando os atacantes a chutar no gol. Ali ele abriu um leque de lindas defesas. Não sei se ele fazia assim quando profissional, mas pareceu um efeito muito intimidador.

Parecia que ele não viria. Na verdade nós já estávamos de saída quando o Pequeno Príncipe foi avistado. Quanta atenção disputada! Todos querem um momento com ele. Correria de nossa parte também para remontar a aparelhagem que já estava guardada. No fim valeu muito a pena. Uma boa conversa com ele e um momento eternizado para mim. É uma pena que não haja muito material sobre Geovani na Internet, mas seu futebol está pra sempre guardado nos corações e mentes daqueles que o viram jogar. Podem ter certeza que 90% dos vídeos em que Romário aparece, com a camisa do Vasco, cara a cara com um goleiro ou disparando para receber um lançamento foi assistência de Geovani Silva, o Pequeno Príncipe.