A GOMALINA
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Dá para medir bem a qualidade do Carioca quando os dois favoritos jogando pelo empate conseguem perder para os azarões Botafogo e Vasco. O Carpegiani, por quem tenho muito carinho, derrapou feio ao escalar Aarão e Jonas no meio e Everton, o melhor do time, na lateral. O Botafogo entrou com um time bem armado e Luiz Fernando, o homem do gol, pode vir a ser um bom jogador. Fez um gol que causou um estrago tremendo no milionário time do Mengão, que ao invés de demitir apenas Rodrigo Caetano, o gerente de futebol que vem contratando errado há anos, mandou junto o técnico e o Jayme, sempre o Jayme!
O Flamengo gastou milhões para trazer um goleiro com fama de pegador de pênaltis, um centroavante com fama de batedor de pênaltis, e um meio-campo que não se despenteia nunca e só bate faltas e escanteios. Pelo menos, a gomalina é boa, Kkkkkk!!!! É muito pouco e a torcida não atura. Que a administração continue saneando as dívidas do clube, mas contratar errado é uma aula de jogar dinheiro fora.
No Vasco, o Zé Ricardo mesmo precisando da vitória entrou com um time defensivo. Paulinho entrou e resolveu. Ou seja, quem é bom de bola tem que sair jogando.
Sobre a decisão não arrisco palpite porque esse título pode iludir muita gente. O Brasileiro vem aí e os clubes cariocas com esses elencos vão penar. Ainda mais se os torcedores continuarem longe dos estádios. Essa é a resposta deles por anos de descaso, times de quinta categoria, ingressos caros e regulamentos esdrúxulos. Se o produto for bom, a casa enche.
Dirigentes, esqueçam, o torcedor está ligado, cansou de maquiagem e pirataria. Os tempos mudaram e o produto pode até vir com tatuagem, brinco e brilhantina, mas que traga junto o futebol.
César Sampaio
O FIM DO JEJUM
texto e entrevista: Marcelo Mendez | fotos e vídeo: Marcelo Ferreira | edição de vídeo: Daniel Planel
Andar pelas ruas da Pompéia, pelas alamedas de Perdizes, tem para mim aquele gosto de cafézinho na sala de casa.
Moro longe dali, em Santo André, no ABC Paulista. Mas o que me aproxima daquele lugar é o Palmeiras.
Com o estádio ali do lado, aquela parte da cidade é verde. E em uma dessas partes está o nosso entrevistado.
Volante da seleção na Copa de 98, César Sampaio é o convidado da vez no Museu da Pelada. O ex-jogador relembrou sua trajetória e ainda fez questão de vestir a camisa verde do Museu!
O VERDADEIRO CAMPEÃO AINDA NÃO NASCEU
por Iran Damasceno
Em tempos de transformações sociais, devemos entender que o ato de pensar sobre o bem comum deveria ser uma tarefa coletiva de gestação, onde cada um e cada segmento teriam que fazer a sua parte, porém e infelizmente não temos esta veia coletiva de construção, principalmente quanto ao que podemos, ainda, considerar “tabu”. O futebol é um segmento que sofre com a falta de profissionalismo e comprometimento, pois ele é bastante parecido com a política. Me refiro à administração dos clubes brasileiros e, especificamente falando, ao grande Flamengo.
Temos visto a Europa avançar vertiginosamente nos campos da tecnologia, o que pra nós não é novidade e estamos em níveis de comparação dentro do futebol, entretanto o que joga tudo isso por terra é a falta de profissionalismo e capacidade administrativa, passando pela gestão de pessoas, de nós brasileiros. Explicando: Como funciona um organograma funcional num clube de futebol? Ele apenas identifica as funções? Até onde vai a liberdade de atuação dos seus dirigentes, quanto à manutenção de uma comissão técnica, por exemplo?
Estamos pegando como exemplo a demissão do Carpegiani, acompanhada das saídas de Mozer, Jayme, Rodrigo Caetano e cia. Onde o Flamengo está se especializando em gafes e derrocadas administrativas na gestão do Bandeira de Melo, que em princípio estaria “sanando as dívidas” do clube, valendo ressaltar que na gestão Dilma, aliada ao Congresso Nacional, preparando-se para a “Copa da corrupção”, abonaram aos clubes de futebol, perante as suas dividas, assim e amparados a parcerias invisíveis (?), quase nenhum de nós, simples mortais, sabemos como e de que forma ele conseguiu esta “mágica”.
Vale lembrar que o Flamengo vive de tradições, o que é salutar e meritório, mas, atentemos ao fato de o clube ser sempre submisso (?) a sua torcida quanto as ações administrativas, ao ponto de colocar no comando do seu futebol, um torcedor. Está errado? Para muitos sim, pois um clube de massa que quer atingir patamares superiores reais, pois “vive” de um título mundial de 1981, deveria pensar em gestão profissional e, finalmente, aprender a usar em seu favor, algo que NUNCA soube: Comunicação e Marketing. É isso mesmo, o Flamengo sofre com a arcaica maneira de se comunicar com seu torcedor, assim, achando que deve “dar satisfação” sobre tudo que faz, aceita imposições e se ressente sempre que perde um jogo e é recebido nos aeroportos da vida com gritos, agressões e quebradeiras dos ônibus.
Está na hora disso acabar, pois um clube que quer e precisa se modernizar, não pode ser refém da sua própria inconsistência administrativa e, principalmente, submissão.
Nos parece, aos mais atentos, se tratar de uma simbiose aceita e consciente para que todos fiquem “felizes” e possam bradar que o Maracanã é a nossa casa, quando na verdade é preciso se pensar bem mais a frente e com uma visão, realmente, profissional.
Agora, vem a pergunta: Como romper este cordão umbilical, de um parto que já deveria ter sido feito?
COM SELEÇÃO NÃO SE BRINCA
por Rubens Lemos
Eram três amistosos logo após o Campeonato Brasileiro conquistado pelo Fluminense em 1984, campeão em 1×0 e 0x0 contra o Vasco na decisão.
O Flu pragmático e obstinado, venceu o primeiro jogo, gol de Romerito e o segundo foi um bombardeio dos doIs lados, com o goleiro vascaíno Roberto Costa obtendo a segunda bola de ouro da Revista Placar de melhor jogador do campeonato.
O campeonato de 1984 foi ótimo e sobraram poucos dos astros da sinfônica de 1982: Leandro, Oscar e Júnior. Sócrates havia sido vendido para a Fiorentina. Júnior iria logo depois, ao Torino.
Depois da derrota para a Itália, buscava-se a reconciliação com o toque de bola perdido na primeira e desastrosa passagem de Carlos Alberto Parreira pela CBF em 1983 quando ganhamos na moedinha o direito de decidir e perder para o Uruguai.
Leandro (fora da foto); Roberto Costa, Pires, Mozer, Ricardo Gomes e Júnior; Renato Gaúcho, Zenon, Roberto Dinamite, Assis e Tato.
O futebol vistoso do Vasco, de toques reluzentes e meio-campo habilidoso, deu vez a Edu Antunes de Coimbra, o irmão de Zico, que deslumbrava o país no balé cruzmaltino.
A bola é peça irônica e – apesar de golear – Edu não definia um time titular e sobravam craques. Aos 20 anos, o maior armador brasileiro estava no Vasco – Geovani Silva – que começou entrosado com Pires e Arthurzinho enfiando goleadas de 9×0, 6×0 e 5×1 e ganhando todos os grandes.
Edu insistia num revezamento inútil entre o titularíssimo ponta Mauricinho e o seu limitado reserva Jussiê. Geovani e Mário. Acácio e Roberto Costa brigavam. O time não tinha tranquilidade enquanto Parreira definiu seus onze e com eles rumou até o título: Paulo Victor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.
Para os três jogos – contra Inglaterra (0x2), Argentina (0x0) e Uruguai (1×0), Edu contrariou vaidades. No Vasco, o lateral Edevaldo, os meias Geovani e Mário e Mauricinho foram descartados. Os que ele considerava melhores, levou, assim como no Fluminense, no Grêmio, no Flamengo e do Corinthians.
Genial jogador, Edu não usou sua técnica para dominar a seleção.
Marcante, a despedida do magnífico Roberto Dinamite da amarelinha aos 30 anos e a certeza de que o ambiente no Vasco naufragou.
O MUNDIALITO DE 1981 E O NARIZ QUEBRADO QUE UNE A NAÇÃO
por Marcelo Mendez
O ano de 1980 acabava.
Não dá para dizer que as coisas iam totalmente bem no Brasil da época.
Ainda vivíamos sob a égide de uma ditadura militar, que mesmo de ressaca, ainda incomodava um bocado. Já não havia mais o AI-5, que meu pai sempre me contou que era algo muito ruim, mas ainda havia censura, repressão e com a chegada da nova década, veio também a recessão e uma caça às bruxas que fez do meu Pai, uma de suas vitimas.
Com o indefectível tempero das perseguições ocasionadas pela participação latente do velho nas grandes greves do ABC Paulista, meu Pai foi demitido da multinacional que ele trabalhava. Então, aos 10 anos de idade, comecei a entender de coisas do Brasil que decerto eu não queria entender naquele momento…
Talvez por isso, o futebol tenha tomado conta de mim com tanta força.
Eu já jogava no E.C Nacional do Parque Novo Oratório, já acompanhava o futebol via rádio e TV, quando tinha, lia a Gazeta Esportiva e a parte de esportes do Jornal da Tarde e tudo isso ficou ainda melhor quando descobri que janeiro de 1981 já começaria com um tal Mundialito no Uruguai:
– É uma espécie de mini Copa do Mundo, filho. O Uruguai vai comemorar os 50 anos da sua primeira conquista e então, vai ter esse torneio! – Me explicou meu Tio Zezinho.
O Contra que nos uniu!
Era um janeiro quente!
Todos os sóis do mundo tomaram conta do Parque Novo Oratório naquele 1981. A novidade da minha vida era que eu tinha diminuído consideravelmente minhas idas até a casa dos tios e agora, tinha minha vida na casa nova na ladeira da Rua Tanger, pra valer.
No novo endereço, os novos amigos: Pedrinho, Néinha, Rogério, Serginho… E além do Nacional, os novos parceiros da rua me chamaram para formar o nosso time da “Tanger de baixo”, afinal éramos nós que jogávamos na parte da ladeira da rua, em detrimento da “Tanger de Cima” que jogava na parte em que a rua ficava plana. E no “contra” com eles o pau comia!
Em um desses, um clássico “Vira cinco, acaba dez, gol grande, com goleiro”, vencíamos por 8×4 e eu tinha feito um punhado de gols.
Numa bola dividida, com raiva do vareio que tava levando, Tocão o zagueiro da “Tanger de Cima” me deu uma cotovelada no nariz e o sangue desceu. Na hora o pau comeu, a treta começou e então, 10 moleques começaram a trocar sopapos no meio da rua, lindamente. A coisa só acabou quando o Peu, tio do Denis, nosso goleiro, apartou a coisa:
– Marcelo, limpa o nariz, aperta a mão do Tocão e voltem a ser amigos. O que se faz no campo, fica no campo! – me recomendou o Peu. Eu aceitei.
Tocão apertou minha mão, me pediu desculpas e ali senti que ganhei um amigo, desses que o futebol é capaz de nos dar.
– Marcelo, eu não queria te machucar. Mas num queria ficar tomando caneta, chapéuzinho, um monte de gol…
– Tá bom, Tocão. Mas num precisava quebrar meu nariz, né?
– Mas acho que num quebrou, não.
– Será?
– Deixa eu ver…
E depois do diagnóstico de Tocão, apalpando minhas fuças, ficou constatado que eu num tinha nada. Depois do jogo, o acordo com minha mãe era eu ir na venda do seu Mário comprar um quilo de lingüiça caseira pra nossa janta, na “caderneta de pagar depois”. O Tocão foi comigo e no caminho, falamos de futebol:
– Amanhã tem jogo do Brasil na tv, contra a Argentina, sabia?
– Claro que sim, o Mundialito. Cê vai ver na onde, Marcelo?
– Ah, em casa!
– Sua TV é em cores?
– Não, preta e branca…
– Então pede pro seu pai deixar você ver lá em casa. Da minha casa é colorida!
– Posso ir mesmo?
– Pode!
– Ah… mas só se eu puder ir com os caras do meu time!
…
Tocão pensou por alguns minutos e, então, compreendendo o espírito de corpo da situação, liberou a sala pra geral:
– Tá bom, Marcelo. Vou falar pra minha mãe, que vocês vão ver o jogo lá em casa.
Dá para dizer, portanto, que a Copa do Mundo de 1982, começou antes, a partir de um nariz quebrado e de uma porradaria generalizada. Foi depois daquele “contra” de rua x rua, que começou a torcida para aquela que viria a ser a maior seleção da minha geração. E não apenas isso.
Por conta da seleção de 1982, uma turma de moleques de uma rua da periferia de Santo André, no ABC Paulista, decidiu se juntar, se conhecer e se entender. Nascia ali a torcida para a seleção de 1982 e nascia também, as mais belas amizades que se pode ter.
E a partir dali, parou de ter “Tanger de Baixo” contra “Tanger de Cima”
A Rua Tanger passou a ser uma só…