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FEELINGS

por Zé Roberto Padilha


Ao contrário dos meus netos e da maioria reunida, no sábado, em torno da telinha, torcia pelo Liverpool. Por mais que tenha constantemente aberto suas avenidas para saudar seus campeões de volta trazendo mais uma “orelhuda”, a cidade de Madrid não foi ainda capaz de revelar quatro craques, como Liverpool, que nos proporcionaram as mais belas jogadas sonoras de toda a nossa vida.

Pouco adiantou Benzemá se antecipar no primeiro gol, e mostrar ao Eduardo, que quer ser centroavante, como um matador deve ficar à espreita da presa. Ou Gareth Bale realizar a bicicleta dos sonhos do Felipe, 8 anos, o aniversariante da tarde. Para nós, beatlemaníacos, o que importa mesmo é que Let It Be vai tocar sempre após cada show do intervalo. E que Yesterday, Love Was Such An Easy Game to Play.

Mas não tem jeito, para quem jogou bola, as imagens da dor estampada no rosto do goleiro inglês foram mais marcantes na decisão da Champions League do que a alegria do Cristiano Ronaldo e do Marcelo.

Pergunte ao Júnior, por exemplo, se o lance de sua carreira capaz de despertá-lo certas madrugadas, suando frio, não é um passo á frente que poderia ter dado, e deixado Paolo Rossi impedido, quando deveria ser acordado em júbilo pela entrada em diagonal que realizou marcando um gol histórico contra a Argentina? A geração de Telê deu um show de bola, mas Paolo Rossi é um fantasma que lhes assombra os passos da glória todos os dias.


Uma pena que com tantas músicas, Lennon e Mc Cartney não compuseram Feelings. Pois sentimentos foi o que faltou aos jogadores do Liverpool. No lugar do Help que deveriam prestar ao seu goleiro, ir até ele abraçá-lo, confortá-lo, o deixaram chorando sozinho como se fosse o único culpado pela derrota. Apenas um jogador, e do Real Madrid, foi até lá lhe dar uma força. Do campo ao vestiário, coitado, atravessou uma The Long and Winning Road. E o treinador? Sacudiu os ombros, como a dizer, Let it be, Let it be, and when the broken hearted people, living in the world agree, there will be an answer…

Fellings, nothing more than feelings, mais do que futebol, foi a harmonia que faltou aos onze jogadores que vestiram a camisa do Liverpool para merecer ganhar o título. Incapazes que foram, em um esporte coletivo, de entoar, para seu goleiro, herói de tantos jogos e que os ajudou a chegar tão longe, um With a Litlle help from my friends.

Vendaval Azulino

VENDAVAL AZULINO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Uma das equipes mais populares do Norte brasileiro, o Remo carrega uma multidão por onde passa. Não por acaso foi recordista de público entre todas as séries do Campeonato Brasileiro de 2005, quando estava na terceira divisão.


Por isso, não pensamos duas vezes antes de aceitar o convite para um encontro de remistas no Rio de Janeiro, na Praia do Pepê. Com faixas e bandeiras, dezenas de torcedores viajaram para homenagear três jogadores que fizeram história no clube: Robinho, Luciano Vianna e Paulo Verdan.

– Hoje eu sou muito grato por vocês virem até o Rio para essa homenagem. Poucos jogadores têm o privilégio de curtir o que eu estou curtindo hoje – disse o “Robgol”.

Em seguida, um torcedor deu aquela moral para o artilheiro:

– O Robinho fazia gol de tudo que é jeito!

Outro homenageado, Luciano Vianna também destacou o carinho da torcida e lembrou o dia em que conquistou o acesso para a Série A.

– Eu não esqueço nunca mais a festa do Remo no aeroporto.


O curioso é que o craque é chamado de Risadinha e o motivo é óbvio:

– Eu só sabia jogar rindo, até porque eu amo futebol e fazia com prazer. Isso incomodava os adversários, principalmente os zagueiros do Paysandu! – provocou.

A rivalidade com o Paysandu, aliás, é uma das maiores do Brasil e por isso os torcedores sempre fazem questão de lembrar a sequência de 33 jogos sem saber o que é derrota no clássico.

No fim da resenha, os remistas soltaram a voz para cantar o hino do clube e nem o vendaval que atingiu o Rio de Janeiro foi capaz de atrapalhar a festa!

 

MILHÕES DE CORAÇÕES BATERAM NO PEITO DE UM SÓ HOMEM: PASSARELLA

por André Felipe de Lima


A tarde daquele frio de 25 de junho de 1978 foi mais que especial para o zagueiro Daniel Passarella. É um dia inesquecível. Exatamente 30 dias após completar 25 anos, o jovem zagueiro, o “El gran capitán” do povo argentino, ganhara um presente sensacional. Levantava, portanto, a tão sonhada Copa do Mundo, e em pleno e lotado Monumental de Nuñez, em Buenos Aires.

Não vamos discutir aqui se aquele Mundial foi ou não arranjado pelos milicos da ditadura local com a suspeitosa turma da Fifa. Isso já está mais do que discorrido e provado. Houve mutreta. Mas não se pode apagar da história a qualidade daquela seleção, especialmente da figura de Daniel Passarela, que sem exagero é considerado um dos melhores zagueiros em todos os tempos e, a meu ver, o mais emblemático da história do futebol da Argentina.

Daniel Alberto Passarella foi exatamente o que achavam dele. Um grande capitão. Um zagueiro espetacular que todos queriam ter em seus times. Sorte do River Plate e do escrete biceleste tê-lo em suas fileiras. Há muitos jogadores relevantes na história do futebol argentino, mas somente ele, o Passarella, guardará algo que nenhum outro jamais igualará: foi o primeiro argentino a tocar uma Copa do Mundo. A beijá-la e a acariciá-la. Foi o primeiro a ver de perto aquele reluzente e cobiçado ouro maciço.


Naquele frio de 25 de junho de 1978, havia alguém para aquecer milhõesde corações que batiam aceleradamente em todo o solo no qual cantou Gardel, em que sorriu enternecida Evita Perón. Um solo onde sempre se luta pela democracia. Um solo do povo daquela grande zagueiro. Naquele dia, milhões queriam ser Passarela. Milhões foram, sim, o Passarella.

TRAGÉDIA DO SARRIÁ

por Eliezer Cunha


Copa do Mundo de 1982. Três derrotas e um único jogo. Brasil x Itália. Estádio Sarriá, Espanha.

Nosso Brasil respirava futebol, a nossa seleção respirava confiança e nosso povo respirava supremacia. Todos os jogos até então foram superados, ganhar era como simplesmente apertar o play. Era assim a seleção de Zico, Éder, Sócrates e Cerezo.

O carnaval futebolístico iniciou-se em junho de 82. Coretos montados e bagaceiras formadas davam conclusão ao óbvio e ao natural: vitória. Brasil acaba de vencer mais um jogo em busca do campeonato mundial de 82. O verdadeiro futebol triunfará finalmente sob o comando de nossos heróis Zico e companhia.

A alegria popular surgia naturalmente através de um conjunto de foliões que formavam o movimento chamado bagaceira. Surgia do nada após cada vitória e trazia em seus movimentos Maria Celeste, linda e perfeita como a magia imposta pelas vitórias da seleção.


A cada jogo uma bagaceira, um flerte e uma nova oportunidade de estar ao lado dela. A cada partida aumenta a intensidade deste encontro e os flertes aumentavam a cada jogo jogado.

Brasil x Itália, partida decisiva para nós. Mas pra que se preocupar com um time que não venceu nenhuma partida neste mundial? O jogo é jogado e o flerte é flertado.

Marcamos eu e Maria Celeste para enfim sacramentarmos a nossa vitoria na bagaceira formada após o confronto Brasil x Itália. Essa era minha esperança e oportunidade celestial de enfim conquistar Maria Celeste a mais cobiçada do bairro. Venceria o Brasil rumo a conquista da Copa de 82 e eu conquistaria a menina de meus sonhos.


Tarde ensolarada, começaria a partida, os bumbos e repiques aguardavam o momento da vitória. O contexto já havia se formado: vitória brasileira, bagaceira e finalmente um romance trabalhado a cada vitória.

Final de tarde … perdemos o jogo … o futebol arte não prevaleceu, a nação se calou e a bagaceira não saiu. Casei-me com Maria Vitória só pra esquecer as derrotas da vida.

A SELEÇÃO PERDEU… ESPAÇO

por Idel Halfen


(Foto: Paulo Araújo)

Se buscarmos na lembrança o comportamento da população em ano de Copa do Mundo, iremos certamente perceber que atualmente a seleção brasileira não tem mais o mesmo espaço nas conversas, na mente e nos veículos de mídia que tinha no passado. Aqui deve ser explicitado que nos referimos ao espaço proporcional, pois pode até ser que o número de páginas dedicadas ao tema num jornal, por exemplo, tenha se mantido, porém, outros assuntos, entre os quais a política e os fatos que dali se derivam, passaram a ter uma participação maior. 

Existem várias teses para se explicar esse fenômeno. Alguns defendem que a mudança na comunicação através da internet, com maiores opções de mídias e conteúdos, propiciou uma acessibilidade e um cardápio maior de opções. 

Outros citam que o fato de a seleção ser formada por muitos jogadores que não atuam no Brasil deixa os torcedores menos identificados e mais distantes da seleção. 


Há ainda os que citam o maior engajamento da população com a política em função dos escândalos da Lava Jato e das transmissões dos julgamentos via TV. Provavelmente muitos dos que estão lendo esse artigo se lembrarão espontaneamente de mais nomes de juízes do STF do que dos jogadores da seleção. 

Quando que isso aconteceria no passado? 

Não creio que seja possível isolar e escolher apenas um desses motivos para explicar o quadro atual, na verdade, penso que a causa seja um mix de todos eles, cuja ponderação variará de acordo com o perfil de cada pessoa. 

Tenho poucas ou nenhuma esperança de que esse cenário se altere radicalmente no futuro, todavia, seria perfeitamente factível se desenvolver um plano de ações para que a seleção passasse a ocupar um espaço maior na mente do povo. 


Estabelecer aqui quais seriam as ações táticas para isso seria irresponsável e prematuro sem a elaboração de um planejamento estratégico, ainda que muitas pessoas e até organizações não se atentem para a importância dessa ferramenta. 

Como a seleção está sendo percebida? Como quer ser? O que precisa fazer para isso? São algumas das perguntas vitais para o planejamento preconizado. 

E quais são seus concorrentes? Não me refiro aqui ao campo exclusivamente esportivo, ainda que outros esportes e até times tomem também espaço na mente, na lembrança, na atenção e, trazendo para aspectos mais tangíveis, nos orçamentos dos patrocinadores e na mídia. Enfim, como a seleção precisa se posicionar para ter, além do destaque que almeja nas competições esportivas, uma posição diferenciada e privilegiada nos variados espaços citados? 


O fato aqui explorado, além de nos chamar a atenção para uma situação que talvez não tenha até então provocado a devida reflexão, nos propicia a oportunidade de aplicar conceitos fundamentais para uma boa gestão de marketing. Ressaltando que, ao contrário do mercado tradicional, onde os concorrentes costumam elaborar estratégias de marketing para sobressaírem no mercado, nessa “competição” poucos, ou nenhum dos ofensores, tem como objetivo tomar espaço da seleção.