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BOLA FORA

por Sergio Pugliese


O consagrado produtor garantiu ao executivo da empresa que a melhor estratégia para divulgar o produto seria uma pelada entre artistas e jogadores profissionais: “Estará na capa de todos os jornais!”. O investimento seria alto, afinal os craques e estrelas da tevê sugeridos pelo especialista viviam o auge da carreira. João Araújo, presidente da Som Livre, revelou o plano de comunicação para a diretoria e juntos calcularam os cachês. Projeto aprovado, todos apostaram num estrondoso retorno de mídia para o lançamento de “A Banda do Zé Pretinho”, 16º disco de Jorge Ben, que marcava sua entrada na Som Livre, em 1978.

– Quando recebi sinal verde corri para comprar as camisas – recordou Miéle, autor da ideia.

Mas comprar as camisas era um pequeno detalhe. Na verdade, a mente diabólica de Miéle estava focada na formação dos times. Em casa, distribuiu os nomes das estrelas sobre a mesa e avaliou um a um. O racha seria no campo do Flamengo e logo após a partida, Jorge Ben se apresentaria no ginásio. Seria a resenha mais divertida do planeta e não convinha sair derrotado, ainda mais sendo o pai da ideia. E sem qualquer culpa, iniciou a solitária divisão, “Marinho Chagas para mim, Merica para eles….Doval para mim, Cafuringa para eles…”. Todos eram craques, ídolos, mas alguns foram abençoados por Deus com o toque mais refinado e bonito por natureza. O guloso Miéle queria todos esses fora de série a seu lado. Com os times fechados, o “cartola” ligou para a rapaziada e comunicou a data e o local da festa. A escalação revelou minutos antes da peleja.

– O Miéle, mui amigo, me escalou de lateral no time adversário e o ponta deles era só o Mário Sérgio – reclamou Armando Pittigliani, o Pitti, produtor cinco estrelas e descobridor, entre tantas feras, de Jorge Ben. 

Ao final da distribuição das camisas, os escretes ficaram assim: o “Banda do Zé Pretinho” com Nielsen, Arnaud Rodrigues, Rondinelli, Miéle e Paulinho da Viola. Marinho Chagas, Carpegiani e Mário Sérgio. Betinho Cantor, Doval e Mário Gomes. E o “Para Alegrar a Festa” com Ubirajara, Francisco Cuoco, Armando Pittigliani, Junior e Edson Celulari. Paulo Cesar Caju, Carbone e Merica. Cafuringa, Márcio Braga e Jorge Ben. O clube estava lotado de sócios, celebridades e convidados. Todos constataram um certo desequilíbrio, mas Miéle preocupou-se quando viu Paulo Cesar Caju conversando reservadamente com Junior. Tentou imaginar qual estratégia o genial PC estaria traçando com o jovem lateral do Flamengo, que acabara de subir do juvenil para o time principal. E preocupou-se ainda mais quando notou seus craques Mário Sérgio e Marinho Chagas na beira do campo deslumbrados com a beleza de Sandra Brea e Maitê Proença.


– Apostei todas as minhas fichas naquela vitória – contou o botafoguense Betinho Cantor, recordista de trilhas em novelas da Globo, e que na época fazia sucesso com Lucia Esparadrapo, em “O Cafona”, e “Se Você Tem Tempo”, na série “O Invencível Linguinha Versus o Titânico Mr. Yes”, estrelado por Chico Anysio e exibido logo após o Jornal Nacional. 

Mas o papo ente PC e Junior surtiu efeito e o improvável aconteceu. Zeeeeebraaaa!!!! PC Caju acabou com o jogo, entortou Deus e o mundo e marcou dois golaços. Os outros três foram do garoto Junior, que conhecia o campo como ninguém. Resultado, 5 x 2. PC valeu-se da forte marcação de Carbone e Merica em Marinho Chagas, Carpegiani e Mário Sérgio para criar livre, leve e solto, e colocar os adversários na roda. Até hoje Betinho Cantor lamenta-se e garante que se jogassem contra eles novamente cem vezes, ganhariam as cem.

– Choro de perdedor – desdenhou PC Caju, crítico ferrenho do excesso de jogadores de contenção e do futebol força, chamado por ele de “invasão gaúcha”. – Mas naquele dia, me beneficiei disso – brincou. 

O lateral Armando Pittigliani gaba-se de ter “parado” Mário Sérgio e não admite quando acusam a arbitragem de ter beneficiado o atacante Jorge Ben, o festejado do dia.

Flamenguista roxo, Jorge Ben, Barauna Homem Gol, não se intimidou e partiu para cima de seu grande ídolo Rondinelli, que naquele ano fez de cabeça, no último minuto, o histórico gol do título do campeonato estadual do Flamengo em cima do Vasco. Jorge Ben arrasou! Sua apresentação foi mágica no campo e no palco! Humilde, Miéle reconheceu a superioridade adversária e cumprimentou um a um. Reuniu o time para a foto antológica e a guarda até hoje, orgulhoso. Virou quadro, claro, e enobrece sua parede! 

– O plano não deu certo, mas joguei num time de sonho! – resumiu.


Mas a derrota não foi sua única dor de cabeça. No dia seguinte, apesar da enxurrada de celebridades, não saiu uma notinha sequer, nada. Nem no noticiário esportivo, nem nas colunas sociais. João Araújo espremeu os jornais e zero de notícias sobre o lançamento do disco. Tanto investimento para nada. Miéle assimilou as queixas, mas esquivou-se da culpa, afinal sua ideia era ótima, apenas mal aproveitada. E além das contas, a peladinha valeu por tudo! Quem pagaria o pato? Sobrou para o gerente de comunicação. Quietinho, ouviu do chefe que os grandes “times” vivem de resultados e assim como os técnicos da vida real foi dispensado. Pegou sua prancheta e partiu.

FECHADO POR MOTIVO DE FUTEBOL

por Claudio Lovato


Em 1995, o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940- 2015) lançou o clássico “Futebol ao sol e à sombra”, um livro cuja presença é essencial na mesa de cabeceira de todos os interessados em compreender a importância do futebol nas sociedades mundo afora. Mas antes e depois dessa obra magistral, Galeano produziu muitos textos sobre futebol, publicados de forma esparsa em outros livros seus, em jornais e revistas. Esses escritos, e mais a íntegra de uma entrevista concedida à revista argentina “El Gráfico”, um prefácio e dois discursos, foram reunidos no livro “Fechado por motivo de futebol” (editora L&PM, 2018, 228 páginas). Fruto de um extraordinário trabalho coordenado pelo editor argentino Carlos E. Díaz, esse resgate de uma parte valiosíssima (inestimável) da literatura de Eduardo Galeano incluiu contribuições de Helena Villagra, companheira de Galeano durante 40 anos, e de Ezequiel Fernández Moores e Daniel Winberg, amigos com quem o escritor compartilhou projetos e a profunda paixão pelo universo da bola. O título do livro refere-se ao fato de que, no começo de cada Copa do Mundo e ao longo do mês inteiro, Galeano pendurava na porta de sua, em Montevidéu, um pequeno cartaz com o aviso “Cerrado por fútbol”. Palavras de Galeano: “Quando retirei [o cartaz], um mês depois, eu já havia jogado 64 jogos, de cerveja na mão, sem me mover da minha poltrona preferida”.

Uma amostra do que se encontra no livro:

Papai vai ao estádio

Em Sevilha, durante um jogo de futebol, Sixto Martínez comenta comigo:

– Aqui existe um torcedor fanático que sempre traz o pai.

– Claro, é natural – digo. – Pai boleiro, filho boleiro.

Sixto tira os óculos, crava o olhar em mim:

– Este de quem estou falando vem com o pai morto.

E deixa as pálpebras caírem:

– Foi seu último desejo.

Domingo após domingo, o filho traz as cinzas do autor de seus dias e as põe sentadas ao seu lado na arquibancada.

O falecido tinha pedido:

– Me leva para ver o Betis da minha alma.

Às vezes o pai ia até o estádio numa garrafa de vidro.

Mas numa tarde os porteiros impediram a entrada da garrafa, proibida graças à violência nos estádios.

E a partir daquela tarde, o pai vai numa garrafa de papelão plastificado.

O FUTEBOL NÃO É O ÓPIO DO POVO

por Mateus Ribeiro


O Brasil passa por um momento difícil. Como sempre passou, é bom lembrar.

Passamos por uma crise econômica e política que está se arrastando por longos anos, e parece não ter fim. A atual paralisação parece ter sido o ápice dessa montanha que passou anos sendo construída, abusando da paciência do povo brasileiro.

Povo brasileiro, aliás, que chegou no seu nível máximo de estresse na última década. Algumas pessoas, um pouco mais exageradas, chegaram a perder amizades antigas por divergências políticas e ideológicas. Outras, um pouco mais sensatas, tentavam manter um debate. E no meio de tudo isso, algo me chamou a atenção: o número de pessoas escolhendo o futebol (mais precisamente a Copa do Mundo) como bode expiatório.

O Facebook se tornou uma Universidade de críticas ao papel do esporte bretão: “O Brasil falindo e a população preocupada com a Copa do Mundo”; “O brasileiro só quer saber de bola e mais nada”, e mais algumas frases prontas foram compartilhadas em grande número.

Depois de ler tanta besteira, em um certo momento, meus olhos não estavam ardendo mais, e resolvi explicar um pouco o óbvio: ao contrário do que muita gente tenta cravar, o futebol não é o ópio do povo. Está bem longe disso, aliás. Apesar de não ser necessário, alguns fatores podem explicar melhor o que quero dizer. Vamos lá!


1- Futebol é lazer: Antes de qualquer coisa, o futebol é uma forma de lazer. Seja acompanhando na sua casa, em uma padaria, um bar, ou entre amigos. Acredite você ou não, ver meu time do coração (ou qualquer outro) representa a mesma coisa que assistir aquele filme que você esperou meses para sair (e passou mais outros bons meses comentando), ou então, ir até o show daquele artista que você tanto gosta. Vale lembrar que o lazer é um direito social, de acordo com a Constituição de 1988.

Imagina só se todo mundo deixasse de assistir futebol, assistir filmes, ver shows, assistir peças de teatro, sair de casa para jantar, como o Brasil seria um lugar melhor pra se viver?

Já pensou como a vida seria se nossos dias fossem resumidos em 90% trabalho e 10% “descanso”?

2- O futebol não atrasa o País: Talvez você fique chocado com essa informação, mas o futebol está longe de atrasar o País, seja social, economicamente, ou em qualquer outra esfera. Não vai ser o fato de uma grande parcela assistir um jogo de futebol que vai fazer uma nação ir direto ao abismo. Não precisa ser muito esperto para saber disso.
Agora, se o camarada “deixa de colocar comida em casa pra ver o time jogar” (o que eu nunca presenciei, em 25 anos de futebol), aí o problema é dele, e não do futebol.

3- Ser fanático por futebol não é “coisa de terceiro mundo”: Mais um fato que vai chocar a parcela anti chuteiras. Antes de tudo, peço que quem está lendo observe as fotos abaixo:

As imagens mostram estádios da Alemanha, Espanha, Holanda, Suíça, Noruega e Dinamarca, respectivamente. Note que todos os estádios estão cheios de torcedores.

O que quero dizer com isso? Países com alto índice de desenvolvimento social e econômico são habitados por pessoas que amam futebol. É SÉRIO! O PRIMEIRO MUNDO TAMBÉM GOSTA DE FUTEBOL. Isso para não falar de Itália, Inglaterra, França, Japão, Suécia, Bélgica e mais uma infinidade de países de primeiro mundo que amam o futebol.

4- O Futebol movimenta a economia: Um clube de futebol não é composto apenas por jogadores e comissão técnica. Profissionais de muitas áreas trabalham ali: auxiliares de cozinha, auxiliares de limpeza, economistas, administradores, o pessoal que cuida da grama,  os roupeiros, e todo tipo de trabalhador está ali para fazer a roda girar.

A partida de futebol também mobiliza muita gente: a galera que fica vendendo espetinho, salgado, e todo tipo de quitute nas proximidades do estádio, com o intuito de fazer uma renda extra. E tem também a turma dos aplicativos de carona, o aumento de pessoas comprando bilhetes para utilizar o transporte público.

E quando é um time grande jogando em cidade pequena então? Um fenômeno que acontece todo ano, principalmente em torneios continentais e nacionais que fazem times dos mais variados níveis se enfrentarem. Jogos de times gigantes em cidades minúsculas não são nenhuma novidade, e fazem com que a cidade fique em evidência. Por consequência, é dinheiro que entra na rede hoteleira, em restaurantes, e tudo o mais.

Bom, acho que falar sobre pessoas que ganham seu sustento com o jornalismo esportivo não é necessário, né? Próximo tópico.

5- “Enquanto você grita gol, te exploram”: Essa afirmação, que é uma das mais sem nexo que já ouvi (e não sei quem criou), visa pegar o futebol como bode expiatório, e símbolo de alienação. Basicamente, consideram o futebol o circo da política do pão e circo.

Sinto informar, tenho uma péssima notícia para você que é mais culto que o fã de futebol, e passa o dia ouvindo Chopin, estudando as obras de Sheakspeare e assistindo cinema cult Russo. O sistema te explora também.

6 – “Futebol é diversão de quem não é tão inteligente”: Acho que não preciso falar sobre o número de pessoas influentes que gostam de futebol, não é mesmo? Seja na política, na música, no cinema, existem MILHÕES de pessoas com muito talento, que são fanáticas por futebol. Muito mais talento, aliás, do que o “talento” que foi necessário na cabeça de quem criou, ou segue a teoria de que futebol é coisa de “gente burra”.

Dito isso, acho que consegui deixar mais claro que o futebol não é uma forma de alienação. Ao menos, não na sua essência. Agora, se as pessoas se deixam alienar, é uma pena. Seja o lazer, seja a religião, seja ideologia, o importante é que usemos essas armas para melhorar nossa vida, e não que sejamos usados.

Espero que tenham entendido o contexto. Agora vou pegar fila para pagar contas, e depois, acompanhar os preparativos para a Copa do Mundo, afinal, ninguém é de ferro, né?

Um abraço, e até a próxima!

MACACO TIÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Olha, posso estar enganado, mas pelas últimas conversas que tenho ouvido não estou mais sozinho nessa história de “não estar nem aí para essa Copa”. Sinto que outros ranzinzas juntaram-se a mim. Não sei se chegaram a usar uma camisa da Suíça, como venho usando, mas juntaram-se.

Usar uma camisa da Suíça é mais ou menos como votar no Macaco Tião, uma forma de protesto. Me perdoem os torcedores fanáticos, mas essa seleção não me representa. A CBF, FIFA, dirigentes, empresários, o técnico, nada me representa.

Qual o sentido de o filho do Neymar descer de helicóptero no campo? Para que essa ostentação desnecessária em um momento como esse?

A seleção virou um produto de marketing exagerado, pernas de pau super valorizados, discursos para boi dormir e blábláblá. O Felipe Luís, em uma coletiva, disse que, hoje, a relação entre torcedores e jogadores é bem mais próxima por conta das redes sociais. Isso só pode ser piada.

Antigamente se eu jogasse mal o torcedor reclamava comigo, direto, olho no olho, na rua, na praia ou no “Noites Cariocas”, evento no Morro da Urca, onde eu sempre marcava presença.

Como eu posso ligar para essa Copa depois de tudo o que fizeram com o Maracanã? E os elefantes brancos que espalharam pelo país? Ficou tudo por isso mesmo!


Qualquer pesquisa aponta o torcedor se afastando dos estádios. É preço, é horário, é violência e é a péssima qualidade do espetáculo. Quem resiste? O que mudou na vida do torcedor após termos vencido a Olimpíada? Ele ficou mais confiante? Zero!!! E se vencermos a Copa? Zero!!!

O que discuto é esse distanciamento, a perda de identidade e como conduziram de forma tão desleixada a maior paixão do brasileiro.

Por isso, reforço, que Macaco Tião é a salvação!!!

O INJUSTIÇADO

texto: Renato Belém Bastos | fotos e vídeo: Daniel Perpetuo

Que vida de goleiro não é nada fácil todo mundo sabe. Por mais que feche o gol durante 89 minutos, uma bobeira no último lance da partida pode jogar tudo por água abaixo. Foi o caso do goleiro Loris Karius, que ajudou o Liverpool a chegar na grande final da Liga dos Campeões, mas falhou feio no momento decisivo.


O caso de Jadir é um pouco diferente. Formado nas categorias de base do Flamengo, o goleiro ficou famoso na Portuguesa da Ilha, quando sua equipe venceu o Rubro-Negro. A fama, no entanto, se deu não só por conta das grandes defesas, mas também devido a um gol olímpico sofrido.

No livro “Zico – 50 Anos de Futebol”, está lá, na página 123, que em 25 de outubro de 1982, o Galinho marcou o primeiro gol olímpico de sua carreira. Embora tenha sido um belo gol, ele mesmo afirma que o vento ajudou, fato que foi confirmado por Jadir. 

O goleiro, aliás, é uma daquelas pessoas que não tem como você não gostar. Um cara amigo, honesto e extremamente emotivo, que teve uma passagem pelo futebol profissional e depois seguiu a sua vida como professor de Educação Física. Ainda hoje bate a sua bola, já sem a flexibilidade de antes, mas com a mesma paixão.