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NILTON SANTOS SABIA DAS COISAS: ‘PÕE O BELLINI, QUE É SÉRIO E SERÁ RESPEITADO POR TODOS’

Bellini sequer imaginaria ser um ídolo do futebol. Era menino, cursava o primário, mas já tinha como fãs especiais os professores. O grande capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1958 faria anos neste dia 7 de junho. A seguir, os primeiros momentos dele no futebol. Boa leitura.

por André Felipe de Lima


Filho de Hermínio Bellini e Carolina Levatti, Hilderaldo Luiz Bellini nasceu em Itapira, interior paulista, no dia 7 de junho de 1930, mas só foi registrado em cartório no dia 21 do mesmo mês. Deveria se chamar Ederaldo, em homenagem ao médico Ederaldo Prado Queiroz Telles, de Mogi-Mirim, onde Maria, irmã mais velha do menino Hilderaldo e também sua madrinha, morava com o marido e a filha Ivone. Durante a cerimônia de batismo, como narra Giselda Bellini, que se tornaria esposa do futuro craque e sua principal biógrafa (Bellini: O primeiro capitão campeão, Ed.Prata, 2015), o padre exigiu um nome de santo católico. Dona Carolina imediatamente sugeriu “Luiz” como o segundo nome. O primeiro seria mesmo Ederaldo. “Seria” é o tempo verbal correto, porque o tabelião escorregou feio no momento de datilografar o registro do garoto. Sabe-se lá por qual motivo ele fez o mais difícil, e escreveu “Hilderaldo”. E assim ficou lavrado.

O pai do menino Bellini, um imigrante italiano tradicionalíssimo, trabalhava como carroceiro para sustentar a numerosa prole composta por 12 filhos, seis deles sequer atingiram a idade de dois anos. A maioria morreu vítima da pneumonia. Hilderaldo, que era o penúltimo da prole, não os conheceu. A vida seguia para o arrojado casal Bellini. Detinham, afinal, um vigor transformador passado aos filhos. O garoto Hilderaldo foi, talvez, o principal herdeiro de Hermínio e Carolina nesse quesito. Acordava às 5h para ajudar o pai. Religiosamente todos os dias.

A seriedade de Bellini, que todos que amam o futebol aprenderíamos admirar, também foi marcante nele desde os primeiros anos. Há duas histórias que provam isso. A primeira, embora não conste da biografia de Bellini escrita por Giselda, foi contada pelo repórter Carlos Maranhão na revista Placar; a segunda foi descrita pela própria Giselda. Bellini, segundo Maranhão, batia de porta em porta para convocar os colegas gazeteiros para irem à escola, onde o pai do ator Tony Ramos, além de ministrar aulas para Bellini, era o camarada mais querido da molecada do colégio porque garantia a autorização para que jogassem bola no único campo de Itapira. Havia, porém, uma condição: que todos não matassem mais aulas. Algo parecido narrou Giselda, porém a boa alma para os meninos foi uma professora do Grupo Escolar Júlio Mesquita, dona Suzana Pereira da Silva, que prometeu ao Bellini e aos coleguinhas dele que daria a todos uma bola de couro, mas sob uma condição: que as gazetas acabassem, e com todos em sala de aula. Dois incorrigíveis gazeteiros não compareceram à aula. Bellini foi ao encalço deles: “Um estava com quase quarenta graus de febre! O outro estava longe, mas Bellini foi atrás e levou os dois para a classe”, escreveu Giselda. Foi a primeira pelada da vida de Bellini com uma bola couro. Até então ele só jogava com bola de meia.


Durante as peladas no campinho municipal surgiu o gosto definitivo pelo futebol. A carreira começou para valer em 1948, no Itapirense. No ano seguinte, foi pescado pelo olheiro Mauro Xavier da Silva para atuar na Sociedade Esportiva Sanjoanense, de São João da Boa Vista, ao lado de ninguém menos que Mauro Ramos de Oliveira. Foi um custo para que Xavier da Silva convencesse o presidente do Sãojoanense, Francisco de Bernardes, de que Bellini estava sendo assediado por outros clubes. Bernardes havia ignorado a indicação de Xavier da Silva, que foi importuná-lo sobre Bellini durante a madrugada.

Mas o inusitado viria a seguir. O futuro capitão de 1958 tinha postura intermitente em relação a testes com bola. Era a condição para tê-lo. Sem testes, ou não haveria novo zagueiro. Tanto o dirigente quanto o olheiro aceitaram a condição do zagueiro. Ao primeiro treino de Bellini, entenderam o porquê da recusa do zagueiro em realizar os testes antes da contratação. Ficou por lá até 1951. Chegou a ser oferecido ao Palmeiras, mas os olheiros do Parque Antarctica o dispensaram.

A redenção veio em 1952, quando os dirigentes do Vasco da Gama, dono do melhor time do Brasil na época, o levaram para São Januário. Mas a diretoria que o contratou deixaria o clube logo em seguida. No lugar dela, assumiu o comando da nau vascaína o gaúcho Cyro Aranha (1901–1985), talvez o cartola mais popular da história do clube. Especulava-se, porém, que Aranha implicara com Bellini pelo simples fato de o rapaz, que dormia na concentração do clube, ter sido contratado pela diretoria anterior. “Quando o senhor resolver escalar este rapaz, por favor me avise para que não vá ao campo” – teria dito Aranha ao então técnico Flávio Costa, que emendou à queima roupa: “Então é melhor o senhor ficar em casa no domingo”.

Flávio Costa e o também treinador Oto Glória deixaram Bellini amadurecer no time de aspirantes até ser aprovado e integrado ao primeiro escalão do “Expresso da Vitória”. “Jogar bem, você não sabe. Trate de despachar a bola e deixe que seus companheiros façam as jogadas”, aconselhou Flávio Costa, que pedia calma ao jovem Bellini, sobretudo quando se deparava com críticas azedas iguais às que ouvia de Cyro Aranha. “Não ligue para as pressões e continue rebatendo, porque o último zagueiro que sabia jogar foi o Domingos da Guia”.


O titular absoluto da posição de Bellini era Haroldo (Rodrigues Magalhães de Castro – 1931–2010), que também havia chegado há pouco tempo no clube. Foi reserva no time campeão estadual de 1952. Mas as coisas iriam melhorar para Bellini com a chegada de Gentil Cardoso ao Vasco da Gama. Foi o treinador o responsável por encontrar a verdadeira posição de Bellini em campo: zagueiro-central e não quarto-zagueiro, onde Haroldo predominava. No entanto, Bellini, como assinalam Aldir Blanc e José Reinaldo Marques (autores de “A Cruz do Bacalhau”, da coleção Camisa 13, Ediouro, 2009), tinha mágoa de Gentil: “Fui campeão em 1952, porque joguei dois jogos. Gentil fez de tudo para o Vasco da Gama me mandar embora. Não sei os motivos”.

Mas a verdade é que com a nova posição em campo, o jovem paulista foi conquistando a confiança de técnicos e dirigentes. Ganhou a braçadeira de capitão e foi decisivo para o Campeonato Estadual de 1956. No ano seguinte, a estreia com a “Amarelinha” no empate de 1 a 1 com o Peru, no dia 13 de abril, em Lima, pelas eliminatórias da Copa da Suécia.


Em 1957, na crônica “O Javali do Vasco”, Nélson Rodrigues resumiu a importância de Bellini para a cruz-de-malta: “…um Vasco da Gama sem Bellini já seria menos Vasco da Gama – seria um Vasco da Gama descaracterizado, um Vasco da Gama mutilado na sua flama e no seu tremendo apetite de vitória”.

Mas 1958 foi o ano especial. O zagueiro conquistou o supersuperCampeonato Estadual. No time do Vasco da Gama, só feras: Miguel, no gol; Paulinho de Almeida, Orlando Peçanha (com quem Bellini formou a melhor dupla de zaga da história vascaína), Coronel, Sabará, Pinga, Roberto Pinto, Vavá, Écio… timaço!

O supersuper poderia ser, no entanto, um campeonato comum. O Vasco da Gama poderia ter conquistado o título a duas rodadas do final do campeonato. Bastaria um empate com o Botafogo ou o Flamengo, também seus adversários nas finais extras. Mas o Vasco da Gama perdeu para os dois rivais e provocou o turno extra, que terminou empatado entre os três e culminou em uma nova rodada. Aí, deu Vasco da Gama campeão.

Mas os cartolas vascaínos e parte da imprensa não entendiam a queda vertiginosa do Vasco da Gama na reta final da competição. Muitos atribuíam o baixo rendimento do time às estrelas que moravam em Copacabana: Almir, Orlando, Écio e, claro, Bellini. Acusavam os craques de se esbaldarem na agitada noite do bairro.

Bellini defendeu o Vasco da Gama em 385 jogos, marcando apenas um gol a favor e quatro contra, sendo expulso quatro vezes. É um dos que mais vestiram o manto da cruz-de-malta. Sobre a fama de capitão que ostentou, ele contava: “Sempre joguei sério, sem brincadeiras, tentando vencer de qualquer maneira. Esse meu jeito de ser fez com que o Flávio Costa me colocasse de ‘capitão’ do Vasco da Gama. Na Seleção, o Feola reuniu os jogadores que eram capitães em seus clubes, ainda na concentração de Poços de Caldas, para definir quem exerceria a função durante o Mundial (de 1958, na Suécia). Nilton Santos tomou a palavra e falou: ‘Põe o Bellini, que gosta disso, é sério e será respeitado por todos’. E todo mundo foi a favor”.


Mas, como escrevíamos anteriormente, o ano de 1958 foi mesmo especialíssimo para Bellini. E de forma incondicional. Inapelável. Vicente Feola o convocou para a Copa do Mundo na Suécia.

O restante da história, bem, pode ser recordada com mais exatidão – e em cores vivas na memória – pelas palavras narradas pelo inesquecível locutor Oduvaldo Cozzi (1915–1978) durante um dos gols de Pelé naquele mundial: “Garrincha passa para Didi. Este lança a Vavá, que passa para Pelé… e é gol, senhores! Gooool do Brasil! Brasil, campeão mundial!”. Impossível esquecer aquela irradiação de Cozzi. Impossível esquecer o grande Bellini erguendo a Jules Rimet.

GIGANTES DA AREIA

por Sergio Pugliese


Edinho revendo sua camisa 9 ao lado de Junior. No fundo, Cocada. 

No dia 10 de outubro de 83, alguns dias antes de enfrentar o argentino Passarella, da Fiorentina, em mais um clássico italiano, o zagueiro brasileiro Edinho, astro da Udinese, enviou um cartão postal para Cocada, camisa 5 do Chelsea. Não o clube inglês, mas o timaço da Constante Ramos, em Copacabana, que dois meses depois disputaria a final do Campeonato Estadual de Futebol de Praia contra o vizinho Valença, do Bairro Peixoto: “Estou aqui para jogar contra esse bundão do Passarella. Fiquei sabendo que vai passar no Brasil. Em dezembro estou aí para aquela partida de futi com a 9”. Edinho mais do que ninguém conhecia a rivalidade monstro entre Fiorentina x Udinese, mas o Chelsea, time de coração onde era o centroavante matador não saía da cabeça. 

– Sou cria da praia e contava os dias para rever minha rapaziada – divertiu-se Edinho, no encontro promovido por Eraldo Xavier, o Cocada, nas areias da Constante Ramos, Posto 4, para os campeões recordarem os melhores momentos do título.

Foram anos dourados e o troféu serviu como cereja no bolo na trajetória dessa grande família! A equipe do A Pelada Como Ela É não ia perder essa e de cara foi brindada com a ilustre presença de Leovegildo Junior, do rival Juventus. Com ele, ouviu o curioso causo narrado pelo goleiro Henrique Lott, hoje tenista de ponta (mostra quem manda, Toninho!). Há alguns meses ele passou por uma situação inusitada: foi reconhecido pelo ladrão que o assaltava. Era um ex-adversário que aproveitou para revelar em tom nostálgico nunca ter visto um time igual ao Chelsea e para não perder a viagem exigiu uma “indenização” por todas as goleadas sofridas. Fugiu com alguns trocados, e, claro, a consciência tranquilíssima. Doce vingança! 

– Parece piada, mas foi real – jurou. 

O Chelsea realmente traumatizou muitos rivais. O técnico Geraldo Mãozinha fazia por onde, era linha dura. Na véspera das decisões fiscalizava as ruas de Copacabana para impedir os jogadores de caírem na tentação. Mas dessa vez Henrique, Cajinho, Hulk, Crioulo, Aldinho, Cocada, Ronaldo, Marco Octávio, Bico, João Mário, Armandão, Babá, Zé Luiz e Coelho estavam decididos a levantar o caneco e chegaram cedo ao campo. Maurício Gentil, Barril e Alemão, suspensos, e Ivan, emburrado, de joelho operado, também marcaram presença, assim como Seu Guedes, dono da Bee, patrocinadora oficial do escrete. Os dois primeiros jogos da decisão foram 0 x 0 e o árbitro Daniel Pomeroy previu uma batalha duríssima. Acertou. As zagas não davam chance e os principais lances morriam no meio campo, mas no fim do primeiro tempo João Mário aproveitou cruzamento de Bico, furou o bloqueio e venceu o goleiro Franklin. 

– Ficar fora desse final foi dureza – lamentou Ivan, que numa das partidas do campeonato ganhou fama por enterrar a súmula para impedir que adversários inconformados com a derrota a rasgassem. De madrugada voltou ao local e a desenterrou, intacta. 

No segundo tempo, o técnico Guimarães, do Valença, trocou Juca por Irimar e ganhou mais velocidade. Paulinho, de cabeça, empatou. Cocada, um dos melhores cobradores de faltas da praia, torcia por uma, mas nada. E quando Pomeroy ameaçava encerrar a peleja e partir para os pênaltis, Cocada, de meia-bicicleta, mandou a bola para a área e João Mário passou para Armando, que rolou para Bico. Gol!!!! Chelsea campeão! O ponto de encontro Dauphine, onde hoje é o Diagonal, na esquina da Barão de Ipanema com Domingos Ferreira, explodiu em felicidade!!!! 

– Inesquecível – resumiu Bico. 

No encontro, Cocada, Cajinho, Henrique, Ivan, Edinho, Junior e Magal deliciavam-se com recortes antigos. Tantas estrelas reunidas merecia uma foto e Reyes de Sá Viana do Castelo, o J.R Duran das peladas, iniciou a convocação: “essa metade em pé e vocês agachados”. Peraí, Reyes, estamos em 2012, dá uma colher de chá para as feras! Nos anos 80 a rapaziada não enfrentava qualquer dificuldade para essa abaixadinha, jogavam horas na areia fofa e queriam mais. Mas, agora, essa manobra exige cuidado. Para incentivá-los e não deixar a peteca cair, um dos figuraças do grupo, o professor de Educação Física Roberto Vallim, o Betinho, entrou em ação cantando Rappa: “Se meus joelhos não doessem mais, diante de um bom motivo que me traga fé…que me traga fé”. E o motivo era nobre: ser eternizado pela digital de Reyes. O “empurrão musical” funcionou! Os craques do Chelsea esqueceram-se das rótulas emperradas e meniscos desgastados, e posaram orgulhosos representando uma lendária geração que fez história e hoje integra a seleta lista dos monstros sagrados do futebol de praia.


Tom (camiseta cinza), Aldo, Ivan, Jr. Cabeça, Henrique, Junior, Parrumpa, Cocada, João Mário e Magal. Agachados: Bico, Ronaldo, Babá, Betinho e Cajinho.

 

 

CULPADO OU INOCENTE?

por Washington Fazolato


A final da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Liverpool, teve dois personagens marcantes: o goleiro dos Reds, Louis Karius, que falhou miseravelmente em dois gols, de Benzema e Bale, e Sergio Ramos, zagueiro do time espanhol, que tirou de campo o atacante egípcio Mohamed Salah.

Até o lance que provocou sua saída, o jogo pendia ligeiramente para o Liverpool. Mas a sua saída, da forma que ocorreu, abateu a equipe inglesa, que ainda teria um desempenho sofrível de seu goleiro.

A dividida que tirou Salah, à primeira vista, parece uma daquelas disputas de bola acirradas, com agarrões mútuos, que resultam em queda. Uma observação mais atenta, no entanto, revela que não. 

Ramos, com seu braço esquerdo, prende o braço direito de Salah, desequilibra-o e o derruba, aplicando a chamada chave de braço. A Associação Europeia de Judô (EJU) publicou uma foto do lance no seu Twitter, criticando a jogada. Segundo a EJU, o Waki-gatame é uma técnica perigosa e, que por isso, não é permitida no judô.


Ironicamente, no texto publicado sobre a imagem se lê: “Técnica de chave de braço proibida no judô, mas no futebol bom o bastante para ganhar a Champions League”.

A turma do judô deve saber o que fala. Mas antes do jogo acabar a discussão sobre o lance já dominava a comunidade boleira.

Li, vi e ouvi muitas abordagens sobre o lance. Nos programas esportivos, as chamadas “mesas-redondas”, o de sempre. Aqueles comentaristas que jamais calçaram uma chuteira afirmavam, do alto de um suposto conhecimento conseguido nas faculdades de jornalismo, tratar-se de uma disputa de bola normal: “Salah teve azar no lance”, “não soube cair”, “nem falta o juiz marcou” e outras baboseiras.

Os ex-jogadores, dividiram-se. Alguns, em nome de uma suposta ética profissional, afirmaram que o zagueiro evidentemente não quis tirar o maior jogador adversário de campo. Outros preferiram a ironia, tergiversando para tampar o sol com a peneira.

Como sempre, a verdade está com os boleiros. Com absolutamente todos que conversei, companheiros de jornadas memoráveis, de disputas sangrentas, zagueiros que atravessavam os famosos “choques de locomotivas”, a turma forjada a fogo, o veredito era unânime: foi claramente maldoso e a intenção era tirar Salah de campo.

Sergio Ramos tem um histórico farto de entradas violentas. Há quem diga, maldosamente, que ele compõe a cota atual de carniceiros do Real Madrid, vaga antes ocupada pelo troglodita Pepe.


Eu, que sempre joguei como zagueiro, confesso que, disputando com atacantes, já usei o recurso de prender o braço do adversário, mas sempre tive o cuidado de soltá-lo antes da queda.

Infelizmente, já presenciei até fratura exposta em lances semelhantes. Como para mim, a sabedoria está com os boleiros, fecho com eles: foi maldade.

A final perdeu muito sem Salah. Se o resultado seria diferente, é outra história

PEDE PARA SAIR, 01!

por Fabio Lacerda


Era questão de tempo depois do primeiro equívoco – a negação para trabalhar no mundo árabe – até pedir o boné na derrota para o Botafogo, em São Januário, pela oitava rodada do Brasileiro. Zé Ricardo, outrora visto como “salvador da pátria”, recolheu seu material da Colina e meteu o pé! 

Independente das relações políticas extra-campo, pois ninguém tira da minha cabeça que essa peculiar ciência tão importante na vida humana, e ao mesmo tempo tão desprezada pelo interesse do cidadão, tenha refletido nas quatro linhas. Alguém conseguiria explicar-me, a escolha do Bruno Silva, não aquele ex-Botafogo, e sim, ex-Ferroviária de Araraquara, como titular em dois jogos cruciais na Libertadores quando o moço estava apenas há 30 dias no clube? 

Zé Ricardo, sujeito pacato à beira do campo, de pouca vibração, de pouco incentivo e modesta demonstração de gana, começou a sua saga de erros técnicos no decisivo jogo do Campeonato Carioca no Maracanã quando o Vasco debruçava-se sobre a vantagem do empate. 


O Vasco jogou por um gol. A escalação deflagrou uma das maiores catástrofes táticas vistas no Maracanã. Escolheu uma equipe com quatro laterais, recuando o Pikachu, jogador este autor de dois gols no primeiro jogo da decisão. E dois zagueiros, nada mais natural numa formação defensiva. Ao término do jogo, Zé Ricardo fechou a partida com dois laterais e quatro zagueiros. Sem falar que deveria ter lançado o Paulo Victor para correr na direção da bola rechaçada da defesa cruz-maltina nos últimos 15 minutos de jogo, quando o Botafogo já adiantava seus zagueiros na intermediária do Vasco em busca do gol que saiu dos pés do zagueiro Joel Carli. E obviamente finalizou a obra escalando muito mal os cobradores de pênaltis. 

Por falar em zagueiros, miolo de zaga, Zé Ricardo também “inovou” nas suas escolhas repetidas em algumas oportunidades: uma dupla de zagueiro canhotos. Eu nunca vi um zagueiro canhoto jogar pelo lado direito do campo! E além disso, o escolhido pelo ex-técnico do Vasco chama-se Erazo, um defensor que nega-se a dar chutão e coloca o sistema defensivo em apuros sempre que escorrega a bola pelo gramado. Quando escuto o Luis Roberto classificar o equatoriano como “El elegante”, eu não sei se rio ou choro! E você, Paulo Cezar Caju, chora ou desespera-se? 

A partir daí, os erros permaneceram nas escalações durante os jogos da Libertadores. É bem verdade que o plantel muito mutilado, com vários atletas contundidos, reduziu as chances de colocar em campo uma equipe mais confiável, ou melhor, contendo os melhores jogadores. Durante a principal competição Interclubes da América, Zé Ricardo recuou, sem mais nem menos, o jogador mais efetivo no ataque. Yago Pikachu já havia sido bagunçado na partida contra o Jorge Wilstermann, na Bolívia, quando o brasileiro Serginho deitou os cabelos sobre o jogador que homenageia um dos Pokemóns. 


Um rodízio para formar a dupla de ataque começou a acontecer. E também no meio-de-campo. Por conseguinte, não foi capaz de definir uma equipe titular. Suas últimas convicções na titularidade do jovem Caio Monteiro é um flagrante do quão perdido esteve no meio de um plantel de nível técnico medíocre. Mas como o futebol é jogado com a cabeça, nem quero referir-me ao intelecto do time. Deixa para lá! 

Chega o Brasileiro, e com ele a Copa do Brasil e a inexplicável vitória sobre a Universidad de Chile pelo placar mínimo que permitiu o Vasco manter-se na América por segurar a corda da Sul-Americana. Até a derrota para o Vitória, em casa, o Vasco deu a falsa impressão que as angústias e agonias na luta pelos salvadores 46 pontos seria motivo de sátira junto aos torcedores rivais. Mas antes de fechar dez rodadas, o Vasco já apresenta um rendimento abaixo de 50%. Creio que as luzes amarelas de São Januário já estão ligadas há 30 rodadas para o final de mais uma edição de Campeonato Brasileiro. As duas derrotas sofridas para o Bahia, pelo mesmo placar, nas duas competições nacionais reforçam meu apontamento para a eliminação do Vasco para o Tricolor da Boa Terra na Copa do Brasil. 

Nada que três vitórias consecutivas não coloquem o Vasco na parte de cima da tabela, mas essa resposta, essa reabilitação, já deveria começar na próxima rodada, no Mineirão, contra o Cruzeiro. Mas é assustadora a média de gols sofridas por jogo do atual Vasco da Gama. É o time mais vazado do futebol brasileiro. E, hoje em dia, não tem um ataque que faça um gol a mais que os sofridos, como acontecia com o time de 1997, que virava todos os jogos em São Januário ao levar gol antes dos de primeiros minutos de jogo.

Por fim, nas ultimas rodadas do Brasileiro preferiu improvisar um zagueiro que não joga desde a Taça Guanabara na lateral-direita a colocar um jogador da posição, mesmo que promovido do sub-20. A passagem de Zé Ricardo pelo Vasco assemelha-se com sua estada no Flamengo! Jogador das categorias de base não tem prioridade. E devemos lembrar que foi a categoria de base sub-20 do Flamengo que o ascendeu ao profissional após a conquista da Copa São Paulo de Juniores. 


Zé Ricardo, quem tem medo de evacuar, não come! Suas equivocadas escalações, com sucessíveis mudanças, sobretudo no meio-de-campo, setor que determina se você vai atacar ou ser atacado no decorrer de uma partida de futebol, e algumas escolhas sem pé nem cabeça, eu posso deduzir que seu trabalho sofreu interferências. Ainda mais no clube que não dá chance à harmonização política e social pelos rincões da sede. A conturbada e nociva política do Vasco promete novas páginas para os próximos meses. É esse cataclismo existente e interminável no clube que forçou o técnico a pedir sua demissão. O comandante das quatro linhas e seu temperamento tibetano não fez o Vasco pulsar. O novo técnico não precisa comportar-se como um Lord. Precisa, ao menos, ter gogó para “cantar” o jogo durante os 90 minutos e mais os tempos de acréscimos. Um técnico sem vibração, que não cerra os pulsos explodindo as veias dos antebraços para pedir garra e hombridade ao time, sempre vai deixar devendo. Então, pega a viola, coloca na sacola e zarpa. Pede para sair, 01!