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NEYMAR E SEU CABELO

por Leandro Ginane


Tenho o costume de perceber nos trejeitos, na feitura da barba e no corte de cabelo das pessoas. Na maioria das vezes, desconfio de que pessoas que possuem manias de ajeitar seus cabelos com frequência, possuem uma barba milimetricamente bem feita e um super cuidado com as madeixas, escondem alguma questão relacionada a auto-estima e ansiedade. Acredito que este é o caso do Neymar nesta Copa do Mundo. 

A segunda mudança consecutiva em seu visual em tão pouco tempo durante a Copa do Mundo da Rússia, me chamou a atenção. Não pelo estilo arrojado do penteado, mas pelo cuidado exagerado com algo tão secundário neste momento. Me parece um comportamento compulsivo e isto pode demonstrar a ansiedade e o medo que ele está sentindo por ter a cobrança de ser o protagonista da seleção canarinho após o terrível 7 a 1. Em uma reportagem na Folha de São Paulo, no dia quinze de Maio, Neymar confessou:  “Ninguém está com mais medo do que eu.”


Diferente de outros craques brasileiros do passado, Neymar chamou a atenção de todos no primeiro jogo da Copa por adotar um penteado que parecia ter saído dos posters dos salões de beleza direto para o campo. A sensação era de que seu cabeleireiro pessoal estava no vestiário. Virou piada. Para o segundo jogo, Neymar já mudou o penteado novamente e deixou o treino sentindo dores.

Com a ascensão precoce que teve, ele mantém um comportamento que o faz parecer ter apenas dezoito anos, quando na verdade faltam apenas quatro para que faça trinta. Quando o vejo assim, me faço algumas perguntas: 


Será que ele esta preparado emocionalmente para ser o destaque da seleção? 

Será que ele entende que futebol é coletivo e que ele é uma peça importante do jogo? 

Torço para que sim, mas enquanto ele mantiver o comportamento quase compulsivo de mudar seu corte de cabelo a cada jogo, estarei desconfiado. 

O cabelo ele consegue controlar, já o resultado no campo, não. Talvez seja isso que tenha que entender para se tornar o craque que todos esperamos e trocar seu cabeleireiro por um psicólogo.

DEIXEM O NEYMAR EM PAZ

por Ricardo Dias


Ando afastado do Museu; muitas coisas acontecendo, nenhum dinheiro entrando, tendo que cuidar do bolso para os políticos não roubarem o pouco que ainda tenho. Mas é Copa, e confesso que ando indignado com nossa burrice.

Temos um dos três melhores do mundo e ele como ele apanha. Contra a Suíça foram 10 faltas, a primeira das quais deveria ter valido um cartão amarelo – e expulsão quando o cretino efetivamente tomou um. 

Nós nos revoltamos contra essa perseguição? Saímos às ruas cantando a Marselhesa querendo o sangue dos adversários ou do juiz? Mandamos tweets raivosos para a Fifa? Não. Fazemos memes sacaneando Neymar. Ele apanha, tendo se recuperado em tempo recorde de uma contusão grave (Petkovic demorou 8 meses em lesão similar), e cai. Qualquer um de nós, tomando tranco semelhante, cai. Mas ele cai 10 vezes, apanha 10 vezes, os suíços revezam para o fraquíssimo árbitro não punir, e sacaneamos ele. 

Ah, mas ele usa um cabelo horroroso, parece que derramou miojo no cocuruto! Well… Ronaldo, para tirar a atenção de sua contusão, foi fantasiado de Cascão para a final de 2002. Nos anos 60/70, Afonsinho, o libertador dos jogadores, foi criticado por usar cabelo comprido. Saldanha reclamou do cabelo do Paulo Cesar, black power, dizendo que a bola ia amortecer ali. Marinho Chagas, Dé, todos foram criticados por usar cabelão. E fica a questão: por que cabelo de jogador deveria ser tema de conversação?


Ah, mas Neymar usou uma mala de 15 mil reais; foi de helicóptero não sei pra onde. Tem iate, olha que absurdo! Há alguns anos Xuxa fez uma festa de 1001 noites para a filha, ainda neném. Foi criticadíssima pela ostentação. Um amigo, que foi à festa, comentou:

– Tem gente que se endivida para fazer uma festa bacana para os filhos e ninguém critica. A Xuxa usou o dinheiro DELA e fez a melhor festa possível, ora!

E é isso. Temos inveja. Os caras ganham fortunas, realmente incompreensíveis, mas é dinheiro privado, não está saindo de nossos bolsos. No Facebook, textões imbecis comparam o salário dele ao de professores, textos falsos dizem que ele teve 200 milhões perdoados pela receita…

Eu me imagino no lugar dele. Que professor tem que ganhar bem, que é uma vergonha a miséria que recebem, sem dúvida. Mas o que diabos o salário dele tem a ver com isso? Não vi nenhum meme comparando o salário dos professores ao do Tarcísio Meira ou do Felipe Massa, por que o Neymar? Só a inveja explica. O cara é de família pobre, não pode ter iate! E namora a Marquezine (que pegou uma sobra da inveja e foi “acusada” de ter peitos caídos!)!


Neymar é o que a gente não conseguiu ser, ele se libertou de nossos políticos, de nossas mazelas, não sofre para pagar boleto, então pau nele! E também não podemos torcer para a seleção. A gloriosa camisa amarela foi demonizada por alguns bobinhos, e não podemos torcer pois o governo nos rouba. O governo (TODO governo, não apenas esse) nos rouba 24 horas por dia, com ou sem Copa, e querem nos roubar uma das nossas poucas possíveis alegrias!

Nelson Rodrigues tinha razão: o brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem!

Vai, Brasil!

ZÓZIMO, ÚNICO DA SELEÇÃO A FALAR INGLÊS EM 58

Um dos maiores ídolos da história do Bangu, Zózimo, irmão do ponta Calazans, faria anos hoje. Foi reserva de Orlando Peçanha na Copa de 58 e titular na de 62. Um craque que jamais levantou taça expressiva pelo Bangu, mas foi bicampeão mundial com a seleção brasileira. Conheça um pouco mais sobre esse grande beque do passado.

por André Felipe de Lima


Se tivesse de escalar a melhor dupla de zaga da história do Bangu, não pestanejaria: Domingos da Guia e Zózimo. O primeiro é, sem dúvida, o melhor zagueiro da história do futebol brasileiro; o segundo foi simplesmente campeão de duas Copas do Mundo com o Brasil, em 1958 e em 1962, sendo titular do escrete desta última, formando a zaga com Mauro Ramos de Oliveira, o capitão. Um detalhe pouco conhecido do Zózimo é que foi ele o único jogador da delegação de 58 a falar inglês, informação confirmada pela Revista do Esporte.

Baiano, do pequeno bairro da Plataforma, Zózimo faria anos hoje. Por pouco deixou de ingressar na lista de convocados de 62. Na Copa anterior, discutira com Vicente Feola, treinador da seleção brasileira. Nunca se soube ao certo o motivo da rusga, mas Zózimo comentava com jornalistas que dificilmente seria novamente chamado para a seleção. Mas Feola saiu e em seu lugar entrou Aymoré Moreira, que inexplicavelmente barrara Bellini e perdera Orlando Peçanha, que seguira para o Boca Juniors. A zaga titular de 58 estava desfeita e a chance de Zózimo ressurgiu, confirmando-se com a convocação de Aymoré.

Deixou o Bangu, que defendeu em quase 500 jogos, em 1964, brigado com a diretoria e a torcida. Jogava pelo clube desde o começo da década de 1950.

Desde que comprara o passe de Zizinho, no começo dos anos de 1950, o Bangu vinha montando grandes times, mas sem conquistar títulos. Em 1963, o alvirrubro liderou todo o campeonato carioca, mas tombou nas rodadas finais. Zózimo, o zagueiro bicampeão mundial, foi um dos mais criticados pelo fracasso do time, porque, de forma inusitada, pegou com as mãos a bola dentro da área durante um jogo decisivo contra o Fluminense. A peleja estava 2 a 1 para os tricolores, mas o juiz Armando Marques não se intimidou e soprou o apito. Pênalti e, em seguida, o terceiro gol tricolor, que enterrou de vez as pretensões do Bangu na competição.


O lance incomum levantou suspeita contra Zózimo, que acreditava ter Armando Marques paralisado o jogo quando tocara com a mão a bola. Cartolas esbravejavam nos jornais e torcedores mais irascíveis faziam ponto na porta da casa de Zózimo para xingá-lo. Punido com o corte de salário, o beque revoltou-se com os dirigentes, começou a faltar aos treinos. Decidiu deixar o Bangu para trás, juntamente com Roberto Pinto, que também era acusado de ter se “vendido” aos tricolores.

Zózimo foi emprestado ao Guaratinguetá, onde permaneceu praticamente um ano em completo ostracismo. Retornaria, porém, ao futebol carioca. O clube que o acolheu em abril de 1965 foi o Flamengo. Era, contudo, o começo do declínio do jogador, que poucas vezes entrou em campo pelo novo time. Do clube da Gávea, partiu para outros times. Perambulou bastante até chegar ao futebol peruano e, por fim, ao salvadorenho e ao hondurenho. Parou de jogar bola em 1969.


O grande beque — e também centromédio — banguense era caladão. Na dele. Parte da imprensa não compreendia o jeito macambúzio do Zózimo, um leitor inveterado, e o definia como mascarado. Injustiça. Zózimo era simples. Queria apenas jogar a bola dele, e com pompa. Foi zagueiro brilhante. “Tenho de plantar a minha árvore”, dizia ele, pensando em amealhar uns caraminguás para não passar dificuldades financeiras no futuro. Mas o futuro lhe foi roubado na Estrada do Mendanha, em Campo Grande, zona oeste do Rio, no dia 21 de setembro de 1977, quando o Fusca que dirigia chocou-se violentamente em um poste. Zózimo chegou a saltar do carro, deu dois passos e caiu sem vida no asfalto molhado. Seu relógio parou na hora exata do acidente: 14h45m. Sob um temporal daqueles, o ídolo rumava para o estádio do Campo Grande, onde garotos do time juvenil o aguardavam para mais um treino e um papo com Zózimo, que sabia tudo de bola e um pouco mais. Estudava Pedagogia na Faculdade de Letras. Além do inglês que esbanjara na Suécia, em 58, falava também francês e espanhol fluentemente. Dizia que se um treinador não soubesse falar tais idiomas estaria frito na carreira e longe de qualquer chance de treinar um time do exterior.

Zózimo era artigo de luxo no futebol. Além de saber muito de futebol, era poliglota, culto e, o mais importante, muito bom caráter. Um gentleman.

A CAMISA DA SUÍÇA

por Zé Roberto Padilha


Paulo César Caju foi mais que um craque. Foi um bailarino que desfilou sua arte carregando uma bola de futebol na ponta dos pés, como um pincel, e em nossos gramados, como em um atelier, expôs uma das belas coleções de jogadas que consagraram o artista brasileiro. Primeiro destro a jogar na ponta esquerda, fazia nos anos 60 o que o Messi anda fazendo com seu pé esquerdo. Jogando invertido, quebrou paradigmas, inovou dribles em diagonal, levou seus marcadores à loucura por subverter conceitos de como marcar um extremo que vem pra cima com o pé trocado. Ontem, em O Globo, em meio ao ufanismo de muitos, celebridades que opinavam sem ter dado um só pontapé na bola, PC declarou que vestiria à tarde uma camisa da Suíça. Afinal, por que um ídolo brasileiro torceria contra seu país?

Após a seleção carioca de Máster enfrentar, em Mariana-MG, a seleção local, nos dirigimos, ao lado de Brito e Marco Antonio, ao salão do hotel, para assistir a primeira partida da seleção brasileira nas eliminatórias de 94, que era contra o Equador. Para surpresa geral, Marco Antonio chegou de verde e amarelo, igual a todo mundo, só que ele torcia, e muito, pelo Equador. Não foram poucos os “marianos” que reprovaram seu gesto. Como ontem, muitos reprovaram a camisa escolhida pelo Caju na estreia da seleção. Na viagem de volta, tratei de sentar ao lado deles para saber o motivo. Já estudava jornalismo.

A personalidade de um artista, como o jogador de futebol, vai se moldando em meio ao tamanho da idolatria lhes concedida. Como tricampeões mundiais, podiam aquilatar sua extensão. Não pediram para ser tão importante na vida das pessoas, mas sofrem em igual proporção quando apenas os jornais amarelados e os álbuns em preto e branco são testemunhas isoladas em meio ao ostracismo em que são jogados. Se bobearem, me confessaram, são impiedosamente pisoteados na subida da rampa do Maracanã em que os pais de muitos, e tios de tantos, lhes cobriram de glórias. E deferências.


(Foto: Marcelo Tabach)

Disseram mais, naquela ocasião: enquanto o Brasil não ganhasse uma outra Copa do Mundo, o feito deles no México não seria esquecido. Bastava começar uma outra edição, e foram cinco, durante vinte anos até o tetra, que eram exaltados, davam entrevistas, recebiam convites para comentaristas. Dito e feito, o tempo, o tal senhor da razão, provou que estavam certos. Ou alguém viu uma entrevista com o Brito no Globo Esporte? E o Marco Antonio, será que foi lembrando por algum comentarista? E Paulo César Caju, que escreve como joga e fala com jogava, foi visto ao lado do Galvão Bueno?

Nossos tricampeões mundiais, orgulho desta nação, não torcem contra o seu país. Apenas torcem por camisas parecidas, vestem outras diferentes com medo de serem definitivamente esquecidos.

MÉXICO VINGADOR

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

O Brasil foi campeão de 70 no México e seus torcedores são grandes admiradores de nosso futebol. Chicharito Hernández & Cia foram nossos vingadores e pareciam comemorar por nós. Pelo menos temos quem nos vingue porque se dependermos de nós mesmos a chance de a vaca ir para o brejo mais uma vez é imensa. Esse empate de 1 x1 contra a fraca Suíça não me surpreendeu em absolutamente nada porque essa seleção nunca me representou, nunca me disse absolutamente nada. Não sabe jogar coletivamente, como Espanha e Croácia, por exemplo. Podem apostar, sobreviverá graças ao talento do genial Phillippe Coutinho, esse, sim, um craque. Neymar volta e meia diz que a seleção não é Neymar e mais 10, mas ele faz com que seja. Atua como os famosos fominhas das peladas. E como reclama!!!! Quero vê-lo jogando contra os vikings da Islândia!!!

Qual foi a estratégia brasileira? Se vocês viram alguma, me contem. Os mexicanos deram gosto de ver, além de jogarem com o coração tinham uma estratégia de contra-ataque muito bem definida.


Portugal também depende de um homem, com a diferença que esse homem é o Cristiano Ronaldo, um definidor espetacular e que preza o jogo coletivo. E o peso para Cristiano Ronaldo é bem menor porque Portugal não é favorita a nada. E até a comparação de Ronaldo com Eusébio não vale tanto porque são épocas muito distantes.

Mas com a Argentina é diferente e a cobrança pesa como uma bigorna. Sua apaixonada torcida exige um desempenho à altura de suas tradições e a comparação entre Messi e Maradona sempre vem à tona. E não deve ser fácil para o ídolo do Barcelona jogar sabendo que o Deus do futebol argentino e seu charutão o acompanham na Tribuna de Honra. A Argentina precisa se renovar para não depender de Messi, como o Brasil depende de Neymar.


O problema é que se a seleção brasileira vai mal o jeito é mexer. Aí você se depara com as soluções: Fernandinho, Firmino e Renato Augusto. Não tenho nada pessoal contra nenhum dos três, mas é dose para leão!!! E o Tite, à beira do campo jogando para a galera, um mestre das câmeras? Um tremendo produto de marketing, que agora tem a companhia do filho para ajudá-lo….poupem-me!!! 

Mas o Tite não está só na sua filosofia. O Didier Deschamps é o Tite francês e pode desperdiçar uma geração talentosa, uma mescla maravilhosa de jogadores africanos. Ganhou por acaso e com o placar apertado porque é adepto do futebol retranqueiro. Outra decepção foi o Uruguai, que precisa urgentemente renovar o elenco. Sinto falta de uma Holanda e até da Itália.  

Mas a Copa do Mundo caminha para transformar-se no maior balcão de negócios do mundo e em pouco tempo serão 100 seleções disputando um campeonato que tem tudo para ficar mais desinteressante a cada edição. É só notarmos no nível apresentado por Arábia, Irã, Marrocos & Cia. Nitidamente vieram apenas fazer figuração. O futebol africano não evoluiu, triste constatação.

Acho maravilhoso a união dos povos, várias culturas misturadas, mas Copa do Mundo é Copa do Mundo e o futebol deve ser de altíssimo nível. Já falei sobre esse tema várias vezes e cansei. Os regulamentos favorecem os mais fracos e, por isso, temos um Panamá ao invés de uma Itália. As grandes escolas não podem ficar de fora. Que monte-se um outro torneio, uma espécie de Copa do Brasil do futebol mundial e que, dessa forma, agradem a todos e façam seus negócios milionários. A Copa do Mundo é para as grandes escolas do futebol.


(Foto:Jason Cairnduff/Reuters)

Agora é esperar por Bélgica e Inglaterra, torcer para uma boa novidade, porque para mim a seleção brasileira continua sendo a do 10×1 (sete da Alemanha e três da Holanda), figurinha repetida. Não suporto mais esse papo de gestor, o futebol precisa de leveza, alegria e menos discurso. E se essa seleção, por acaso ganhar, graças ao Sobrenatural de Almeida, do saudoso Nelson Rodrigues, me perdoem, mas será pior para a Copa e muito pior para o futuro de nosso futebol.