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QUERIA UM MARADONA TORCENDO POR MIM

por Zé Roberto Padilha

Ele me representaria, com toda honra, nesta Copa do Mundo
Poderia ser até de brinquedo, movido a pilhas ou baterias
Porque Messis, em campo, já tive Zico, Gérson e Rivelino
Mas naquelas tribunas, com o amor de verdade ao seu país
Eu queria um Maradona torcendo por mim

Temos o Rei do Futebol, até um Príncipe Ivair
Mas quem alcança as lentes não me representa
Tem sido o Del Nero, Ricardo Teixeira
Uma “havalange “ de cartolas envolvidos a nos desonrar
Por isto que eu gostaria
De um ídolo por ali, de verdade, suado e infiltrado
Um Maradona torcendo por mim

Ontem, Maradona levou ao mundo
E bota gente do mundo de olho em tudo
Toda a paixão latina pela alegria de jogar futebol
Dançou, cochilou, xingou e chorou
Em campo, a energia do comandante se irradiou
E a Argentina se classificou
Por isto eu queria, nem que seja por uma Copa do Mundo
Um Maradona torcendo por mim

Ainda dá tempo, tem muito jogo pela frente
Que algum ídolo nosso, de verdade
Largue os microfones, resista ao Galvão
E suba aquela tribuna elevando uma história da bola
Que ninguém tem por lá mais bonita
Porque na Copa da Rússia, até agora
Eu gostaria mesmo
De ter um Maradona torcendo por mim.

TÚMULO DO GRAMADO DESCONHECIDO

por Rubens Lemos


Alguns fazem teste de DNA para reconhecer paternidades duvidosas.

Outros investigam para reconhecer autores de crimes.

Tem gente grata que reconhece gestos.

Tem gente ingrata que não reconhece quem lhe ajuda.

No futebol, há um clichê prático e abominável.

Time reconhecer gramado.

O gramado é por demais óbvio: é feito de grama.


Bem ou mal pisada.

Boleiro que não reconhece um gramado merece comer capim.

Se o gramado – ele sim – pudesse reconhecer e expulsar cabeças de bagre da pior Copa do Mundo da história, mandaria todos ao pasto da lama e o futebol voltaria a respirar clamando por vida.

O DIA EM QUE O GOL FICOU VAZIO

 por Victor Kingma


Minha paixão pelo futebol começou muito cedo. Como já escrevi em outros textos, quando criança, nas tardes de domingo ou nas noites frias de Mantiqueira, bucólico pedacinho de Minas Gerais, o que eu mais gostava de fazer era acompanhar as transmissões esportivas com os famosos locutores da época, como Waldir Amaral, Jorge Curi ou Fiori Giglioti. Sempre  ouvia os jogos pela frequência da emissora que o nosso velho e chiador rádio Zenith  sintonizasse primeiro. 

Uma das transmissões que mais marcaram a minha infância foi a decisão da Copa do Mundo de 1962, no Chile, entre Brasil e Tchecoslováquia. Naquele dia 17 de junho, eu, meus irmãos e tantos outros amigos, ouvíamos o jogo pelo serviço de alto falante que o mano João tinha instalado na torre da igreja.

O Brasil, que começara perdendo o jogo, tinha virado para 2 a 1. Masopust, o grande craque rival, abriu o placar mas Amarildo, o jovem substituto de Pelé, que havia se contundido na segunda partida da Copa contra os próprios tchecos, e Zito, marcaram os gols brasileiros. A seleção estava a poucos minutos de se tornar novamente campeã do mundo.


O jogo estava quase no fim e a tensão era grande a cada novo ataque da Tchecoslováquia, que buscava o empate a todo custo. A transmissão pela Rádio Globo estava bastante inaudível naquele dia, o que aumentava ainda mais a apreensão de todos. Agonia que só terminava quando Waldir Amaral, aliviado, enchia os pulmões e narrava:

– DEFENDEU GILMAR!!!

E todos vibravam como se o Brasil tivesse feito mais um gol. No final, Vavá, o raçudo centroavante brasileiro, ainda faria mesmo o terceiro gol. O Brasil, vencendo por 3 a 1, se tornaria bicampeão mundial de futebol. A grande atuação do nosso goleiro foi fundamental para a histórica conquista.

Gilmar era daqueles jogadores que no seu clube, primeiro no Corinthians e depois no Santos,  era um bom goleiro que, às vezes, até ficava na reserva. Na seleção, entretanto, era insubstituível. Com a camisa do escrete nacional, virava um paredão, capaz de deixar na reserva lendas do gol, como Castilho. Com grande espírito de liderança tinha moral para dar bronca até em craques consagrados, como Bellini ou Nilton Santos, quando acontecia alguma falha de marcação na defesa.


Jogou 103 partidas pela seleção e participou de três Copas do Mundo: 1958, na Suécia, 1962, no Chile e 1966, na Inglaterra. 

Gilmar dos Santos Neves, para muitos o maior goleiro da seleção brasileira de todos os tempos, exemplo de atleta e um dos mais consagrados jogadores de futebol que o Brasil já teve, faleceu em 25 de agosto de 2013, aos 83 anos. Naquele dia, o futebol perdeu um mito. E o gol ficou vazio.

DESCULPE-NOS COLÔMBIA

por Zé Roberto Padilha


Infelizmente a visão que tenho do mundo foram passadas, e reprisadas, pela telinha que meu pai comprou em 1956. E perduravam até hoje. Era uma inédita televisão Emerson bege, e a Rua Barão de Entre-Rios vinha toda noite assistir aquela novidade com a gente. Se os americanos foram colonizados pelos ingleses, e perderam a oportunidade de nos descobrir, trataram de aperfeiçoar sua tecnologia e cismaram de colonizar a nossa mente. E em cada canto do nosso país, minha geração, dos anos 50, foi dominada pelos seus filmes e a cultura que nos passavam em preto e branco.

Nossos heróis não foram Zumbi, o Rei dos Palmares, muito menos Tiradentes, o primeiro a ir para as ruas protestar contra o aumento dos impostos e os abusos do governo. Eles foram Tarzan, Capitão Marvel, Lassie e Rin-tin-tin. Seus nativos originais, os indígenas americanos, foram exterminados em seu habitat pelos vírus, canhões ingleses, e acabaram expulsos do seu território. Mas a versão produzida pelos estúdios da MGM e Paramount era o contrário: John Wayne, Clint Eastwood e o Trinity eram os mocinhos que defendiam as aldeias atacadas por “sanguinários” peles vermelhas. Pobres bandidos do bem fazendo cara feia no cinema para a gente. Quando entramos na universidade e tivemos acesso aos relatos dos vencidos, era tarde: já tínhamos colecionados todos os discos do Elvis. E meu pai comprado toda a coleção do Franck Sinatra e meus filhos dançaram no colégio a coreografia de Thriller.

Quando John Kennedy morreu choramos mais lá em casa do que por Getúlio Vargas. Quando Jango foi para o Uruguai retirado do seu cargo pela ditadura militar, não era com o futuro da nossa bela primeira dama, a Maria Tereza, que estávamos preocupados: era com a Jacqueline Kennedy que se casava com Onassis. Gatos, então, coitados, esta criatura adorável, trataram de retirar do nosso cotidiano pois nos desenhos animados o Tom não parava de perseguir o Jerry. Era o bandido da história e quando aparecia nos filmes de Hitchcock, pelo regime de cotas, era preto, sinistro, símbolo do azar e de atrair coisa ruim. E todos os brasileiros passaram a ter um cão e desprezar os gatos dentro de suas casas.


E com vocês, povo colombiano, não foi diferente. A versão da telinha produzida por Hollywood não teve exaltação a Simon Bolívar, a Francisco Santander, seus libertadores das garras do domínio espanhol. Seu herói por aqui sempre foi Pablo Escobar. E seus produtos de exportação não passavam de maconha e cocaína. Quantas vezes Arnold Schwarzenegger foi até suas selvas, as vilas imundas dos cenários que produziam, trazer reféns de volta em meio a violência dos seus traficantes? E em nenhum filme foi falado que o maior mercado consumidor de cocaína do mundo era o norte-americano.

E, de repente, em uma quarta-feira entristecida, toda a não ficção exportada por eles é substituída por um gesto que nos deixou tão emocionados quanto envergonhados. Nenhuma nação do mundo seria capaz de produzir ao vivo, não em falsos cenários, um espetáculo tão respeitoso e bonito quando enlutaram seu estádio, e o ocuparam todo à sua volta, para glorificar seus adversários, a Chapecoense.. E ainda conceder-lhes o título que por tanto lutaram.

A partir de hoje, povo colombiano, nós, brasileiros, prometemos não ir mais às locadoras buscar mentiras magistralmente dirigidas contra vocês. Mesmo que tenha a Angelina Jolie no papel principal. Recebam as nossas sinceras desculpas e nem precisamos pensar em vingança: eles mesmos acabam de escalar um “bandido” para dirigir o seu destino.


Obs. Se, ano passado, pedimos desculpas, permita-nos agradecer por ontem, domingo, quando vocês jogaram contra a Polônia como nós, brasileiros, já jogamos um dia. Mina foi Luiz Pereira, Rodriguez atuou como Rivelino, e Quadrado foi Jairzinho. E, nas arquibancadas, estiveram felizes, como felizes fomos um dia. Muito orgulho de vocês, Colombia. Parabéns!

BÉLGICA É A NOVA HOLANDA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Não adianta, cresci vendo futebol bonito, alegre, colorido, coletivo e eficiente. Foi assim com o Botafogo da década de 50 a 70, com a Máquina Tricolor e com a seleção do tri. Fui mal acostumado, né, kkkkkk!!!!!

Na Copa da Rússia, por enquanto, só Bélgica, Espanha, Inglaterra e México me prenderam a atenção. A Bélgica é a nova Holanda, com a vantagem de ter mais jogadores em condições de desequilibrar. É uma bela seleção e o Hazard tem o estilo daqueles nossos meia-esquerdas antigos. Ele até me lembra o jeitão do Zico, nosso querido Galo, que partia para cima sem medo de ser feliz.

A Inglaterra aproveitou a fragilidade panamenha para estrear na Copa. Por falar em Panamá vou reforçar minha opinião sobre essas seleções sem tradição participando da competição. O que elas acrescentaram? Nada!!!!! E ainda tiraram a vaga de grandes escolas, como Itália, Chile e Holanda. As potências Alemanha, Brasil e Argentina ainda não mostraram absolutamente nada. A Alemanha não ganhou. Foi a covardia sueca a maior responsável pela derrota. Sempre deixo claro que não falo sobre vitória ou derrota, mas estilo de jogo.

Sobre o Brasil, pena o Douglas Costa ter se machucado, gosto muito dele e poderia dar um molho, colocar sal nesse time tão sem graça, sem alma e, até agora, sem qualquer esquema. Minha torcida é para que a seleção mais ousada vença essa Copa porque não suporto mais ver o tal futebol de resultado sair como herói.


E sempre que ressurge essa história de futebol arte x futebol de resultado me procuram para falar, e eu repito que a geração de 82/86 não ter vencido uma Copa foi um retrocesso para a nossa escola porque o Parreira ganhou depois graças a talentos individuais e seu trabalho virou um modelo de eficiência. Ah, mas a Itália de 82 era um grande time. Vamos fazer o seguinte, revejam os jogos daquele Mundial e me digam qual futebol encantou o mundo. Eram vários craques em harmonia, assim como em 70. O jogador criativo deve usar sua arte em prol da coletividade.

Acabo de ver o terceiro gol da Colômbia contra a Polônia. O passe do James Rodriguez foi uma obra-prima! A típica jogada que desmonta qualquer retranca e enche os olhos de um cara mal acostumado como eu. E o passe do Quintero para o Falcao Garcia foi primoroso. E o mais bacana será assistir Colômbia x Senegal, que vem fazendo bem a sua parte e têm o único técnico negro da competição. E como Aliou Cissé está elegante!!!!


Nas ruas, me perguntam diariamente  o que achei do choro do Neymar sentado no meio-campo? Impossível não ver. Era para que todos víssemos. Mas, sinceramente, quem tem que achar alguma coisa é o Tite, que gosta de ser visto como gestor de pessoas e de tratar a seleção como uma empresa. Ele, como gestor, já deveria ter dado um jeito no Neymar tanto na parte psicológica quanto na técnica. Segurar a bola é importante, mas no momento certo.

Costumam dizer que o departamento médico de hoje é bem mais eficiente do que o do meu tempo. E, de fato, é. Mas, pelo jeito, a área psicológica não evoluiu. O Phillippe Coutinho continua sendo o grande nome da seleção porque é discreto e eficiente. Alguém me disse que nem assessoria de imprensa tem. Ou seja é o antimarketing. Nem tudo está perdido!

PS: Não aguento mais os comentaristas falando “cara da bola”, “orelha da bola”, “jogador de lado de campo”, “ocupação de espaço”…. Alô, rapaziada, menos! Vestiram a amarelinha quantas vezes?