E O VENTO LEVOU
por Zé Roberto Padilha
E o vento levou…
Era assim que os grandes clássicos do cinema se perpetuaram na história: um grande ator, Clark Gable, e uma grande atriz, Vivian Leigh, tinham seus nomes exibidos logo abaixo do título. E se destacavam nas imponentes fachadas do Cine Roxy, do Odeon e do Condor Largo do Machado. Era barbada, algum tempo depois o apresentador do Oscar anunciar: “And the winner goes to…todos que amavam a sétima arte”. E nem o vento, nem o tempo, levaram estas lembranças de mim.
No futebol não era diferente: clássicos como Santos e Botafogo, nos anos 60, revelavam seus grandes atores na capa do Jornal dos Sports: Mané Garrincha de um lado, Pelé, do outro. E a trilha sonora era do Canal 100: “Que bonito é…..”. Já nos anos 70, o Fla x Flu anunciava para o domingo, na sessão das 16h00, Zico x Roberto Rivelino. E vários deles disputavam o Oscar do Futebol, a Bola de Prata da Revista Placar, que era entrega na TV Record por Ayrton e Lolita Rodrigues. Em 1975, eles anunciavam: “E o vencedor é …Falcão!
Agora, tal categoria, a de melhor jogador, desapareceu do Campeonato Brasileiro. Seus maiores astros, das grandes bilheterias, estão filmando fora do seu país. Temos apenas a disputa pelo melhor jogador coadjuvante. Eles sempre foram importantes, mas não tinham o brilho necessário para atrair multidões ao pisar aquele tapete verde. Podiam até levantar a Copa do Mundo, e posar para a história, como Cafu, em 2002, mas os atores à sua frente tinham o talento de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo. Em 1994, Dunga levantou o troféu, à frente das câmeras. A manter o público encantado nas poltronas, Bebeto e Romário.
Passou tudo isto na cabeça de um cinéfilo apaixonado pelo futebol, como eu, assistindo Yago Pikachu todo jogo dando entrevistas. Sendo considerado há algum tempo, com toda a justiça e carência, o melhor jogador do Vasco. Mas sem ninguém à sua frente, o tempo, impiedoso por lá, levou Ademir, Roberto Dinamite, Bianchini, Romário, Bebeto, Zanata, Geovani e Philippe Coutinho para atuarem apenas em suas lembranças. No Baú do Esporte e no Youtube também.
No último fim de semana, Santos 3 x 0 Vasco, não passou de uma fita daquelas exibida no escurinho das salas da Cinelândia da nossa adolescência. A elas, escondidos dos pais e responsáveis, assistíamos atrizes de segunda tirar a roupa de primeira. Foi a vez de torcedores de primeira retirarem suas bandeiras mais cedo e irem embora pra casa com medo da segunda. E assistir o vento levar, do alto de sua gloriosa colina, o imenso prestígio de um dos mais respeitados clubes do nosso país.
OBRIGADO, CORINTHIANS!
por Marcelo Soares
Escanteio, todos se calam. Não foi a primeira vez que ficamos acuados durante o jogo. Em alguns lances de perigo tememos sofrer o gol. Mas ao chegar no fim da partida, sabendo que ali havia uma oportunidade de virarmos aquela situação a nosso favor, todos se uniram.
Alguns preferem não olhar, outros erguem seus braços em forma de prece. A bola sobe e…
Antes de tudo isso acontecer diante de mais de 40 mil torcedores, quero contar algo pra você.
No ano de 2003, fui ver o time de coração do meu pai. Não entendia muito bem o que acontecia mas sabia que após Liedson balançar a rede quatro vezes e ouvir a explosão da torcida, aquele time se tornaria o meu também.
Há 35 anos, o meu avô levava seus filhos pela primeira vez para ver o seu time do coração, com eles a história foi diferente. O time não venceu e a tristeza tomou conta de parte daquele momento.
Porém por trás de tudo isso se passa uma aventura que você não faz ideia. As dificuldades da época para se conseguir chegar até o estádio eram grandes. Tombos, arranhões, chuva e o cansaço eram na maioria das vezes presença confirmada.
Foram tantas as histórias vividas entre pais e filhos e o que mais encanta é ver que filhos se tornaram pais e pais se tornaram avôs. Dizem que só se aprende a ser filho quando se é pai é só se aprende a ser pai quando se torna avô.
E todos esses aprenderam uns com os outros a ser Corinthians.
Aprenderam a apoiar uns caras completamentes desconhecidos que chegam para defender seu time, passam confiança para eles e dão força total, até mesmo nos momentos de raiva não largam quem está vestindo a camisa do seu time.
Muleta se torna mastro de bandeira, andador vira apoio pra ter força pra empurrar o time e cadeira de rodas um simples assento na arquibancada.
Dentro da Arena Corinthians em Itaquera, tende aparecer muitas pessoas querendo estragar a festa, geralmente estão de verde e branco ou vermelho, branco e preto. A força da torcida faz com que isso se torne praticamente impossível.
Depois de tantos jogos e tantas histórias, viver esse clássico era importantíssimo.
Muitas mudanças acontecem em cada uma das três gerações presentes no estádio porém os percalços até chegar ao jogo naquele dia pareciam muito com os de 35 anos atrás.
Chegar em cima da hora e subir o barranco foram alguns dos problemas.
O mais velho, que já foi o de mais vigor, hoje precisa de ajuda. O mais novo se encanta com a ajuda dos filhos devolvendo o favor que o avô fez inúmeras vezes para eles.
A sensação ao chegar na arquibancada e ver aqueles caras que mal conhecemos mas que nos representam como ninguém é inexplicável.
Como se fosse o Paolo Guerrero no Japão, Romarinho na Argentina ou até mesmo Tupãzinho em 1990, Rodriguinho nesse momento de êxtase aproxima-se desses momentos, proporcionando algo maravilhoso.
Mais de 40 mil pessoas e milhares de histórias ímpares, mas sem dúvida a melhor história a ser relatada foi do encontro entre três gerações unidos por uma só causa.
Escanteio, todos se calam. Alguns preferem não olhar, outros erguem seus braços em força de prece. A bola sobe e…
Muito obrigado, Corinthians!
Joãozinho
O BAILARINO DA TOCA
entrevista: Matheus Rocha e Omar Franco | texto: Matheus Rocha | vídeo: Léo Souza
Em um mundo cada vez mais politicamente correto – para não dizer: “mais chato” – há certas malandragens de anos atrás que ainda seriam válidas. Não digo a malandragem que burla a regra ou que tenta desestabilizar emocionalmente o adversário. Me refiro à malandragem que leva em conta a atenção do adversário. Aquele lateral cobrado para o atacante esquecido pela defesa, aquela cobrança de falta ensaiada cheia de criatividade ou ainda aquela falta batida de forma mais rápida enquanto o adversário discute com outrem do jogo… Sempre alguém se lembra desse tipo de lance. Mas raros são os casos em que este tipo de lance decidiram campeonatos. Digo mais, decidiram campeonatos internacionais.
Nenhum outro exemplo é tão marcante quanto daquela noite de 1976, em Santiago no Chile, onde dois times estrangeiros decidiam a Copa Libertadores daquele ano. Um time argentino e um time brasileiro. Um time brasileiro com atacantes jovens e brilhantes, como Palhinha e Joãozinho contra um time argentino com uma zaga experiente formada por Passarela e Perfumo, este último considerado por muitos cruzeirenses um dos maiores zagueiros que já passaram pela Toca da Raposa (entre os anos de 1971 e 1974).
Mas poucos se lembram dos dois gols marcados por Nelinho e Eduardo, muito menos dos gols sofridos pelo Cruzeiro. O que todos se lembram é daquele gol antológico, irresponsável, que trouxe a única Taça Libertadores durante a década de 70 para o Brasil. Antes disso, somente o Santos, 13 anos antes, havia ganhado o bi campeonato do troféu mais importante das Américas.
Sabe aquele jogador que merece fazer o gol do título? Devemos voltar meses antes para entender. O maior jogo que o Mineirão já viu em toda sua existência desde 1965, ocorreu naquela Libertadores de 1976 em um confronto histórico entre os finalistas do último Campeonato Brasileiro disputado (1975) Cruzeiro e Internacional pela primeira fase (só classificava um time por grupo), no qual o Cruzeiro ganhou por 5 a 4. Nas palavras de meu pai: “Joãozinho destruiu, foi o melhor em campo. Eu vi ele deixando dois no chão com um só drible!”.
Se pudéssemos dizer que havia alguém que merecesse fazer o gol do título, por que não o melhor jogador do melhor jogo daquela Copa Libertadores? Aos 43′ do segundo tempo, enquanto Nelinho se virava para soltar aquela bomba e o juiz saía de próximo a barreira, Joãozinho colocou – como se fosse com a mão – lá no ângulo. Ouvindo a narração original no rádio do saudoso Vilibaldo Alves gritando seu famoso “Adivinhe!”, seguido da evocação sobre a alma de Roberto Batata – companheiro de ataque de Joãozinho, vítima fatal de acidente de carro pouco mais de um mês antes daquele jogo – realmente é uma narração de arrepiar, de fazer os olhos suarem…
Ali o bailarino azul entrou de vez para a história, com a sua malandragem, avaliando a atenção do goleiro reserva Landaburu (assumiu o posto de titular, após o titular Fillol machucar em dividida com Palhinha no primeiro jogo da final). Joãozinho aprendeu aquilo na base da observação, já que o time do River Plate o ensinou ao empatar com um gol minutos antes com uma cobrança de falta rápida de Alonso e chute cruzado de Urquiza. Ele havia ficado incomodado com aquele empate, daquela forma.
O drible, o zagueiro no chão, agilidade nas pernas e a rapidez no raciocínio. A cobrança daquela falta decisiva resume a história e a cultura do futebol brasileiro. Sim, irresponsável! Mas inesquecível! O resto é história…
FELIZ ANIVERSÁRIO, CORINTHIANS
por Mateus Ribeiro
O Corinthians é o maior amor da minha vida, e eu não escondo isso de ninguém.
O alvinegro do Parque São Jorge já me fez chorar, sorrir, xingar.
O Timão é o principal responsável por quase todas as vezes que meu coração ameaçou parar de funcionar. Mesmo assim, o Corinthians continua sendo meu maior, e talvez, único amor.
Eu não consigo expressar através de palavras como o Sport Club Corinthians Paulista é grande na minha vida.
Um dos motivos que virei torcedor do clube foi por ver Tupãzinho, Fabinho e Ronaldo. Esses três foram meus primeiros ídolos. Eu não conhecia nada de futebol, mas gostava daquele visual despojado, gostava daquela combinação de cores. Esses fatores foram mais que suficientes para eu me tornar um adepto do time do povo.
Depois que aprendi a diferenciar um escanteio de um lateral, vieram Marcelinho, Viola, Rincón, Gamarra, Edílson, Luizão, Dida, Sylvinho, Henrique, Célio Silva e tantos outros. Alguns eram craques. Outros, bons jogadores. E tinha a turma que era caneluda, mas que dava o sangue pelo time. Essa última classe é a que mais me identifico até hoje.
Durante muito tempo, sofri muito com a soberania dos rivais paulistas. Após alguns anos, comecei a ficar mal acostumado. Vieram inúmeros títulos estaduais e nacionais.
Faltava a América e o Mundo. Faltava. Em 2012, essas barreiras foram quebradas. E eu ali coloquei na cabça que eu já tinha visto de tudo, e que não conseguiria mais assistir jogos do meu Timão com a mesma emoção. Ledo engano.
Continuo sofrendo, chorando, gritando, respirando e sangrando Corinthians.
E assim quero continuar até o dia da minha morte
O Corinthians é a maior parte de mim. E, no dia do seu aniversário de 108 anos, gostaria de agradecer todos os meus ídolos do passado e do presente.
Gylmar, Cássio, Basílio, Sócrates, Geraldão, Wladimir, Espaaaaaaaaaaaaaaaaaaaalma Ronaldo, Neeeeeto, Marcelinho, Rincón, Vampeta, Ezequiel, Giba, Casagrande, Oswaldo Brandão, Viola, Edílson Capetinha, Chicão, Biro Biro, Rivellino Zé Maria, Danilo, Wilson Mano, Marcelo Djian, Ado, Baltazar, Cláudio, Dinei, Idário, Ruço, Tobias, Zé Elias, Vicente Matheus e tantos ídolos do passado e do presente, meu muito obrigado para todas as pessoas que ajudaram a construir essa historia maravilhosa, repleta de glórias, lutas e vitorias.
Corinthians Grande! Parabéns pelos 108 anos de historia!
NEM SEMPRE COM VELOCIDADE SE CHEGA PRIMEIRO
por Iran Damasceno
Será que já paramos pra pensar que o desenvolvimento estrutural da sociedade, após a “invenção” da roda, não se deu de uma hora pra outra? O que dizer também daquele futebol jogado pelos militares chineses, há 3000 anos a.C., quando se chutavam as cabeças dos inimigos? Pois é, mas aí se trata do primitivismo do que chegaria a ser o esporte mais popular do mundo, que é o futebol.
A essência desse esporte que tanto apaixona ao seu público vem, também, da sua viabilidade porque ele pode ser jogado no quintal da casa, na rua, na escola ou em qualquer espaço onde algumas pessoas possam disputá-lo, assim, diante da sua abrangência cultural e social, ao longo dos séculos, chegamos aqui e podemos observar que hoje em dia é um dos negócios mais rentáveis do planeta, bem como impulsionador de investimentos vários da política, principalmente. Talvez aí possa estar à derrocada, para muitos, desta invenção revolucionária.
Hoje ele é visto e aceito muito mais pelo seu lado comercial, político, administrativo… do que pela sua arte. Sim, aquela que nos encantava quando nos tempos áureos da paixão de um povo pela sua abrangência e romantismo, ao ponto de aqui no Rio de Janeiro, no “extinto” Maracanã, quando nós íamos aos jogos, diante dos saudosos clássicos entre Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, America, Bangu… com mais de cento e cinqüenta mil pessoas e, o que é melhor e fantasticamente falando, vendo em campo jogadores como Zico, Roberto Dinamite, Paulo Cesar Caju, Rivelino, Gerson, Mendonça, Luizinho, Marinho, Arthurzinho…
Era uma festa só. Mas, sem aquele saudosismo peculiar de uma geração que teve, entre erros e acertos, naturalmente, mais acertos do que erros, pelo simples fato de termos construído um romantismo até mesmo nos pés de grandes craques que jogavam um “futebol dos deuses”, comparado pelos “filósofos” da época a um “balé”, devido os malabarismos naturais de pernas e pés habilidosos, que correriam conduzindo uma bola pesada, principalmente quando molhada, em gramados não muito retilíneos e esburacados, entretanto possuíam a habilidade natural das ruas e dos campinhos de várzea, que existiam em abundância, sendo assim, temos muitas certezas com o que vimos e aplaudimos.
Pois é, sem querer desmerecer ao futebol “moderno”, que atingiu o auge da força e da velocidade, não podemos nós, os antigos e testemunhas oculares dos craques de outrora, deixarmos de reparar que toda essa evolução física e tecnológica, passando pela medicina desportiva, pela fisiologia, pela fisioterapia e as demais áreas correspondentes, de lembrarmos que deixaram pela estrada os legados positivos de outras gerações e, indo mais longe ainda, carregaram ou utilizaram o futebol para fins políticos e comerciais, somente, portanto devemos entender, os mais atentos e românticos, que essa velocidade absurda em todos os aspectos citados, talvez tenha nos levado, pelo menos, à reflexão sobre a importância do entendimento de que correr nem sempre nos faz chegar primeiro.
Não sou o Ibrahim Sued, mas deixo o meu “ademã”.