FUTEBOL DE SALA DE AULA
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Muita gente pede que eu escreva sobre estratégias de jogo, esquemas táticos, essas chatices que inundam os programas esportivos. Você liga a tevê para ouvir uma resenha divertida e vê essa garotada que nunca chutou uma bola na vida desenhando e analisando quadros cheios de setas coloridas. Se acham os professores, Kkkk!! Esse é o problema do futebol, ficou acadêmico demais.
Não sei se o Brasil é o país onde mais se assiste futebol, mas, com certeza, é o lugar do planeta onde mais se joga. Por isso, somos o país onde formam-se (hoje, se deformam-se) mais jogadores. E com estilos diferentes porque brotam em todas as regiões: Rivaldo, de Recife, Tostão, de Minas, Sócrates, de São Paulo, Falcão, de Santa Catarina, e Zico, do Rio. Essa mescla sempre foi nosso diferencial. Por isso, reclamo de uma escola com a cultura retranqueira.
O futebol brasileiro sempre foi conhecido por surpreender os adversários com jogadas inusitadas e belíssimas. Me lembro de uma excursão ao México, com escala em Peru e Bogotá. O time do Botafogo havia passado horas e horas no aeroporto, as viagens eram bem mais cansativas. Durante o jogo, exaustos, ficamos tocando a bola, colocando o adversário na roda, sempre liderados pelo Gerson. Era um recurso para descansarmos. Fazíamos isso com extrema facilidade porque o brasileiro cresceu jogando em espaços reduzidos, nas ruas, praia, salão e várzea. Podem acreditar, isso faz uma tremenda diferença.
O improviso sempre foi nosso trunfo. Em 62, podem pesquisar, o Brasil foi campeão do mundo com vários titulares acima dos 30 anos. Era óbvio que os adversários menos técnicos precisavam frear isso de alguma forma e na Copa seguinte a Inglaterra venceu graças ao preparo físico.
Tim, um dos maiores estrategistas que conheci, certa vez mandou Luiz Claudio, do Flamengo, não me deixar jogar. Foi irritante, mas ele conseguiu. Mas o Tim formou um Bangu e um San Lorenzo maravilhosos, inesquecíveis. O problema é que hoje só se investe em marcadores.
Em 70, o nosso preparo físico precisou ser forte por conta da altitude. Em 74, falaram sobre inovação, Carrossel Holandês, com jogadores não tendo posições fixas. Balela! Brasil x Holanda foi um dos jogos mais violentos da história das Copas e essa conversa de não ter posição fixa já fazíamos há tempos.
Em 78, com Claudio Coutinho, os treinamentos começaram a mudar e começou esse papo de apostar corrida. Os velocistas ganharam força. Mas havia uma pequena diferença, Dirceuzinho, Búfalo Gil e Zé Roberto, por exemplo, corriam muito, mas jogavam uma barbaridade. Hoje, só correm.
No Sul, Minelli e Ênio Andrade ganharam títulos e notoriedade investindo no futebol força, com dois cabeças de área. Hoje, alguns times jogam com até quatro. A diferença, mais uma vez, é que a qualidade foi enterrada. Falcão, Carlos Roberto e Pintinho eram cabeças de área. Vejam a diferença! Hoje os técnicos são peças figurativas e as comissões técnicas, enormes, ensinam futebol nas salas de aula.
Tô fora! Adoro Legião Urbana, mas não me convidem para essa festa estranha, com gente esquisita.
ALMA LAVADA
Por Marcelo Mendez
Felizes são os meninos que têm a chance de trocar umas ideias com seus ídolos. Plenos, são afortunados que estabelecem uma proximidade com aqueles que tantas alegrias lhes deram. Assim é minha parada com César Sampaio. Grande César…
Com a camisa 5 do meu Palmeiras, César Sampaio beirou as raias da imortalidade em campo. Enquanto jogou pelo Palmeiras em sua fase áurea nos anos 90, Sampaio jamais olhou para ver a cor da grama. Cabeça erguida, pose imperial de uma realeza que dispensa a frescura das coroas para ser imortal de chuteiras pretas. Era César Sampaio o capitão do time o qual contaremos a história aqui hoje. O chamei para contar comigo e o meu capitão topou a prosa. Para uma noite fria de março, em que eu estava na arquibancada e ele em campo, escorremos aqui, odes e sonhos. Nosso Palestra entraria em campo para um jogo importante da Libertadores da América de 1994.
Aconteceria ali uma das maiores partidas dos 103 anos de história Sociedade Esportiva Palmeiras e, sem saber, César Sampaio me daria uma das maiores alegrias da minha vida…
09 de Março de 1994, Palmeiras x Boca Juniors – a noite de lavar a alma verde…
– Sabíamos bem do Boca, lógico que não como hoje, onde temos milhares de informações e uma equipe só trabalhando para isso. Mas o Palmeiras sabia como o Boca jogava… – César Sampaio, Capitão do Palmeiras em 1994
A coisa na verdade começou algumas horas antes daquela noite mágica de março…
Durante o dia, encontrei tempo de ouvir um programa de esportes no saudoso rádio AM, a Rádio Globo do grande Osmar Santos e um dos comentaristas chamava atenção: “Olha, veja bem; O Boca é um time matreiro e é treinado pelo Menotti. Isso é sempre perigoso” César Luis Menotti… De pivete me lembro daquele homem magro, elegantíssimo, impecavelmente bem vestido à beira dos campos argentinos durante a Copa do Mundo de 1978. Munido de seu cigarro sem filtro, o Flaco comandava suas boas equipes.
Seus times sempre eram leves, sem nada de brucutus, meio campo sempre com jogadores leves, habilidosos e um gosto intrínseco pelo bom futebol. Não sabia muito daquele time do Boca, mas do jogo que eu vi um empate com o Velez Sársfield no mesmo grupo em 1×1 não me seduziu muito.
Vi que tinha lé um ótimo goleiro, Navarro Montoya, um bom jogador de nome Carranza, um outro cheio de perna de nome Mancuso (Esse a gente viria a conhecer bem um ano depois…), um atacante ciscador de nome Martinez, mas nada de mais. Nada que justificasse a marra com que o Boca havia chegado em São Paulo.
Parecia a corte imperial da Rainha Vitoria do século XIX.
Rapaz, mas que frescurada da porra!
Passeando pelo hall do Hotel Transamérica, os jogadores argentinos se achavam uns Mick Jagger’s e olhavam o mundo todo com um nariz empinado a lá Mary Poppins. Muito que a contra gosto, do alto de sua grandeza, Menotti topou dar uma entrevista para TV Bandeirantes e caprichou no portunhol selvagem para dizer que o Boca jogaria pra cima do Palmeiras pra ganhar o jogo e que futebol era muito simples:
– Mi equipo joga assim… Yo Toco e me Voy! – pois é, o famoso toco e vou.
O sujeito veio sei lá de que bimboca da Argentina, enfrentar o campeão Paulista e Brasileiro, como se esse fosse um time de várzea do Desafio ao Galo, era o que eu pensava. Tinha logo que começar o jogo pra gente ganhar deles, pensava eu na arquibancada do velho Palestra. E começou. Naquela noite o Palmeiras veio para campo com desfalques consideráveis. Não jogaria Fred Rincón, machucado.
Não teria Edmundo, envolto em uma de suas suspensões. Sendo assim, o meio-campo seria formado por Amaral, Cesar Sampaio, Mazinho e Zinho. Na frente, Edílson e Evair. Era um timaço. A zaga tinha Sérgio, Cláudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos. Não era possível que esse time fosse ter trabalho pra vencer o Boca. Não teve… O Palmeiras levou 15 minutos para marcar o primeiro gol com Cléber, empurrando para as redes após um bate rebate na área.
A partir daí, o Boca com o seu tal de “Toco e vou” não via a cor da bola. Pouco passava do meio de campo, não criava nada e quando o primeiro tempo terminou em 1×0, poderia até comemorar. Afinal de contas, tinha lá no banco o homi, o tal do Menotti, de certo que criaria uma solução mágica. Tá, criou sim…
A Linha Burra…
– Nosso time era muito leve e muito veloz. Contávamos com ótimos jogadores, todos muito inteligentes e então, quando olhamos para o campo e percebemos que o Boca tentaria subir a marcação, imediatamente já sabíamos o que fazer. Surgiu muito espaço em campo e daí, ficou muito bom para jogarmos! – lembra César Sampaio.
Tinha nos bolsos uns comprimidos de algum barato sintético aí, mas o dia não era para o surto. Não… A hora era pra ficar consciente do que rolava. Fiquei no intervalo a pensar em coisas da vida e no Brasil do Plano Real, a única coisa que eu queria naquela noite era meu time ganhando o jogo. Ia me enveredar por essas elucubrações quando os times voltaram e o jogo recomeçou. Ávido em saber qual a solução mágica do Menotti, fiquei de cara quando vi seu time em campo no segundo tempo.
– Cara… Ele vai fazer linha de impedimento? – puxou conversa comigo um companheiro verde a meu lado na arquibancada. Pois é…
Contra o melhor time do Brasil, Menotti e suas milongas, decidiu que adiantaria sua linha defensiva pra tentar diminuir o campo do Palmeiras. Uma benção para um time que tinha jogadores inteligentíssimos como Zinho, Cesar Sampaio, Evair e ele, o dono da noite:
Mazinho.
– Foi um dos grandes parceiros de meio-campo que tive. Um cara correto, dedicado, altamente técnico, trabalhava bem com as duas pernas, onde caía ele resolvia. Bom passe, inteligente, naquela noite ele deixou de ser coadjuvante. Mazinho protagonizou, brilhou!
César Sampaio tem muita razão.
Os garotos da geração Playstation não fazem ideia do quanto que esse camisa 8 jogou de bola na vida. Mazinho é muito mais do que apenas o pai do Thiago Alcântara do Bayern e do Rafinha do Barça. Antigo lateral-direito, quando veio para o meio-campo, Mazinho passou a ser um dos melhores meias que já passaram pelos campos nossos aqui.
Inteligente, habilidoso, passe preciso, altamente técnico, foi um grande. Na época, estava cotado para ir à Copa que aconteceria meses depois e Parreira, o técnico de então, estudava a possibilidade de sua convocação. No dia do jogo contra o Boca, na ausência de Rincón, Luxemburgo decidiu colocá-lo como meia, um pouco mais à frente.
Seria nosso 10 e então caberia a ele armar o que viria pela frente e assim o fez lindamente…
Posicionando-se um pouco mais atrás, Mazinho observou que o Boca pouco atacava. Dessa forma, começa a encher os laterais Claudio e Roberto Carlos de bola. A todo instante, vindo de trás, os dois estouravam dentro da área do Boca. Foi dessa forma que roubou a bola de Mac Allister para lançar Evair na esquerda. O 9 esperou a passagem de Roberto Carlos e com um toque de calcanhar e de encanto o serviu para um golaço! Era o 2×0.
O Baile de Bola…
– Na verdade, o Boca veio a São Paulo para não perder. O empate jogando aqui para eles estaria ótimo e estavam na deles, fechadinhos e tudo mais. Com a desvantagem, eles desarmaram a marcação do meio-campo (Saiu Da Silva) e colocaram um atacante (Acosta). Aí, como se diz na gíria do futebol, foi um chocolate!
Mal tive tempo de comemorar e Edílson fez o terceiro. Em situação normal, eu estaria radiante mas sei lá, foi estranho. Queria mais…
É tácito em nossa formação de Sudaca os caminhos da paixão inexorável pelo que amamos. No caso, amamos o futebol e naquele 09 de março, como que por uma conjuração cósmica entre time, torcida e universo, ficou decidido que no Parque Antártica o Palmeiras não ia parar de jogar. Não se contentaria apenas com os três pontos, não cessaria um milímetro que fosse na luta pelo encanto. Era dia de lavar a alma, era a noite de passar com um caminhão em cima do Boca Juniors.
No nosso berro incansável, na nossa sede de poesia o Palmeiras seguiu. Mazinho, o craque daquela noite seguiu botando o Boca na roda. Em jogada épica, driblou a zaga toda da linha burra de Menotti e sofreu o pênalti para Evair fazer o quarto. Pouco depois, no rebote de sua tentativa por gol de cobertura em Navarro Montoya, veio o 5×0 e o sexto de Jean Carlo, foi o êxtase. Como o mais belo dos olimpos, nós fizemos de nosso Palestra uma catedral. Era um 6×0, uma seiszada inapelável e implacável em cima da empáfia do Boca e da classe de Flaco Menotti.
Depois disso, quase esqueci do gol de pênalti do Boca, marcado por Martinez, dane-se.
Era 6×1! O placar lavou minha alma bêbada e me redimiu do torto que eu era.
Foi meu nirvana na Pompéia. Não, não vencemos aquela Libertadores. Passamos a primeira fase, ficamos nas oitavas contra o ótimo time do São Paulo e pouco me importa isso. Sou Sudaca, um rapaz latino americano que tem compromisso com a poesia e não com as “vitórias”.
Se bem que naquela noite, no Parque Antártica, venci.
OS DEUSES DO FUTEBOL NÃO DORMEM
por Zé Roberto Padilha
Além de torcer pelo Fluminense, que não tem sido fácil, passei a acompanhar, pelo prazer de assistir futebol, dois times do Brasileirão: Atlético Paranaense e Atlético Mineiro. Do primeiro, quase imbatível em sua Arena, ouso lançar o nome do melhor jogador do campeonato: Pablo. Técnico, escorregadio e goleador, já merecia há tempos um reconhecimento da mídia. E uma oportunidade na seleção. Do Mineiro, aprecio seus contra-ataques. Em torno de um pivô, Ricardo Oliveira, há triangulações pelos lados e penetrações mortais pelo meio. Um bando de baixinhos habilidosos e velozes circulam à sua volta com os laterais chegando. Nada de toques para o lado. A busca do gol incessante do começo ao fim. Um futebol moderno e diferente dos outros..
Daí vendem seu melhor jogador, Roger Guedes, então goleador da competição. E mesmo assim continuavam a nos dar este prazer pelo futebol ofensivo, pouco importando quem ocupava o seu lugar. Não conhecia o técnico, Ricardo Larghi, mesmo ele sendo nosso vizinho aqui de Paraíba do Sul. Mas seu trabalho era admirável e merecia ser considerado o técnico revelação do Campeonato Brasileiro. Daí, vocês sabem, eles estão lá para isso, chega aquele cartola que não conhece nada e põe a culpa no treinador. E o demite na reta final e ainda traz para o seu lugar um treinador que anda a cumprir tabela : Levir Culpi.
Ontem, contra o Fluminense, o repórter de campo perguntou ao Levir se pretendia realizar mudanças durante a partida. Ele, para espanto geral, declarou “por não conhecer as características dos jogadores reservas, se mudasse seria por contusão”. Foi sincero, disse o repórter. Não foi. Foi desleal com seu currículo, injusto com o Atlético Mineiro e com os colegas de profissão. Se não conhece o elenco, fica em casa como Abel Braga, estudando propostas para o ano que vem. Ou estude os jogadores em atividade para não dizer uma abobrinha dessas.
E quando Fábio Santos foi bater o pênalti, os Deuses do Futebol estavam atentos. E fizeram a sua parte. Cobrança desperdiçada e gol do Fluminense no contra-ataque. Bem feito. Mas as loucuras dos nossos cartolas não ficaram por aí. A Chapecoense, penúltima colocada, demitiu o seu treinador e trouxe outro para o seu lugar. Acreditem, do Paraná Clube, que já está rebaixado. Procurava explicações, algo parecido, mas de minha esposa veio a sábia definição: deve ser o mais barato. É, pode ser…..
AUGUSTO, O PRIMEIRO BRASILEIRO QUE DEVERIA ERGUER A JULES RIMET
por André Felipe de Lima
Ele tinha um sonho: ser o pioneiro do gesto que seria imortalizado por Bellini, Mauro Ramos de Oliveira, Carlos Alberto Torres, Dunga e Cafu. Mas tudo não passou de um sonho [ou seria pesadelo?] para Augusto, o “capitão de 50”. O velho Jules Rimet desceu as escadas da tribuna de honra e entregou a taça para outro capitão, o da celeste uruguaia, Obdúlio Varela. “Não chorei, mas tive vontade”, confessou Augusto ao repórter Geneton Moraes Neto. Fim de jogo contra os uruguaios, o zagueiro vascaíno saiu do Maracanã diretamente para sua casa, no bairro da Ilha do Governador. Já era agente da polícia especial. No dia seguinte, ao chegar ao departamento em que trabalhava, no Largo da Carioca, ouviu gozações. Aceitou tudo calado. O glamour dos dias que antecederam a final da Copa acabou. Restou-lhe a frustração que o atormentou até o fim da vida.
O ex-zagueiro, que também atuou como lateral-direito, Augusto da Costa nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 22 de outubro de 1920. Já era soldado da Polícia Especial do Exército quando iniciou a carreira nos juvenis do São Cristóvão, como ponta-esquerda. Em 1936, conquistou o seu primeiro título, ainda como juvenil pelo time da rua Figueira de Melo. No ano seguinte, novamente campeão juvenil, agora como lateral-esquerdo, após recomendação do treinador Palestini. Em 1940 foi campeão de aspirantes e no ano seguinte foi campeão do Torneio Municipal, conquista que os torcedores do São Cristóvão consideram como segundo troféu do campeonato carioca que o clube levantou. Demorou um pouco, mas em 1943, Augusto foi lembrado para compor a seleção carioca que acabou sendo campeã brasileira do mesmo ano.
Foi um jogador vigoroso e líder nato em campo. Em 1945 chegou ao Vasco para tornar-se capitão do time. Fez parte do “Expresso da Vitória” cruzmaltino que despontou no futebol brasileiro por quase dez anos, agregando nomes como o do goleiro Barbosa, Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca, Ademir de Menezes, Ipojucan e Chico. Augusto ficou no Vasco até 1953, quando encerrou a carreira. Foi campeão carioca em 1945, 47, 49, 50 e 52 e campeão invicto do sul-americano de clubes em 1948. Todos os títulos conquistados com a camisa do Vasco. Augusto atuou pela seleção carioca e foi campeão brasileiro interestadual em 1946. Disputou 311 jogos pelo Vasco marcando apenas um gol. Fez dois contra e jamais foi expulso, como apontam os dados levantados pelo pesquisador vascaíno Alexandre Mesquita.
Titular absoluto da seleção brasileira e capitão de 1948 a 1950, Augusto defendeu o escrete nacional em 20 jogos. Fez apenas um gol pela seleção. Estreou em 1947 formando a zaga com Aroldo e Nena da seleção que disputou dois jogos pela Copa Rio Branco. Conquistou a Copa América em 1949 e amargou o vice da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Após a tragédia no jogo em que perdeu o título mundial de 50 para o Uruguai, Augusto deixou o Maracanã indo diretamente para a sua residência na Ilha do Governador. No dia seguinte, trabalhou normalmente em sua repartição da Polícia Especial e teve que aguentar o deboche de colegas de trabalho.
Ao se aposentar dos gramados, em 1953, passou a exercer apenas a função de policial. Foi censor de filmes e de músicas durante o regime de ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1984. Um dos episódios mais comentados sobre a carreira de censor teria envolvido Augusto e o cantor e compositor Chico Buarque durante um show da cantora Maria Bethânia, na casa de espetáculos Canecão. Augusto foi lá especialmente para vetar a letra da música “Tanto mar”, composta por Chico, que, indignado com o censor, supostamente esbravejou: “Porra, Augusto, você perde a Copa e ainda vem me aporrinhar”. Constrangido, Augusto teria deixado a música ser tocada, mas vetado a letra.
O ex-craque vascaíno morou em Poços de Caldas, em Minas Gerais, durante bastante tempo. Casou-se duas vezes e teve dois filhos. Até 1994, mantinha um apartamento no Rio Comprido, bairro da Zona Norte carioca. Morreu aos 83 anos, na madrugada do dia 29 de fevereiro de 2004, ano bissexto, no Rio de Janeiro.
NUNCA GERALDO. JAMAIS CARLOS ALBERTO PINTINHO
por Zé Roberto Padilha
Deslapidar. Mesmo que ela receba, ao ser escrita no computador uma tarja vermelha, colocando em risco sua aceitação pela língua portuguesa, o Aurélio nos autorizou a mantê-la na abertura do texto. Pois quando li que meu time, o Fluminense, vai vender ao futebol inglês “uma das suas maiores jóias de Xerém”, João Pedro, de apenas 17 anos, procurava uma expressão que traduzisse o que irá acontecer com este menino. Se os ingleses inventaram o futebol, fomos nós que lhe demos brilho. Transformamos um jogo duro e previsível em arte. E passamos a dar as cartas pelos gramados do mundo.
Quando enviamos um diamante puro que precisava da ginga do Grupo Revelação, do sol pela manhã de Copacabana, de uma escolha do samba na Estação Primeira de Mangueira, à noite, para sair driblando as desigualdades, postadas em forma de brutamontes postados nas zaga encobertas pelo Fog, treinando quando o frio e a chuva deixarem com bolas alçadas sobre a área, estaremos matando na fonte a esperança de ter um novo Geraldo. E um outro, virtuoso Carlos Alberto Pintinho.
No Fluminense, Pintinho descia do Morro do Borel com uma batida no pandeiro que ficava após os treinos, como branco, apaixonado pelo samba e classe média, tentando alcançar. Ficava após os coletivos inventando dribles que eu tinha vergonha de dar, e nem ousava tentar. E no Flamengo, conheci um ano depois seu melhor amigo, Geraldo, que jogava assoviando Canteiros. E, driblando de cabeça em pé e se divertindo com a bola nos pés, me deu, de presente um LP de um rapaz latino americano. Para ele, de sensibilidade aguçada, Belchior já era moda em 76.
Basta ler Mário Filho, em seu clássico “O Negro no Futebol Brasileiro”: o futebol chegou ao Brasil como um esporte de elite, praticado em seus clubes tradicionais, como o Fluminense. E que um dia aceitou jogar um amistoso contra os operários da fábrica de tecidos, em Bangu. E tomaram um banho de bola. Voltaram para as Laranjeiras pensando: “Seria aquilo futebol?”. Para serem aceitos nos clubes, no seio da sociedade, não bastava mais uma Lei Áurea: teriam que sair driblando os preconceitos, tabelar com a indiferença e entrar com bola e tudo diante de um mundo boquiaberto na Suécia. Depois em Santiago, no México….
Se nosso país saísse a procurar um exemplo de como Neymar não mais existe, o porquê do Brenner vestir, hoje, a camisa do Jairzinho e o manto sagrado do Leandro estar na pele do Pará, basta ir ao aeroporto ver nossa próxima promessa embarcar. Seu pecado? João Pedro teve a ousadia de fazer três gols diante do Cruzeiro pela Copa do Brasil Sub-17. E os cartolas de Xerém, do Ninho do Urubu e até do Morumbi não perdoam. E o enviam para acabar sua formatura com quem nos ensinou as regras, mas que jamais saberão, na prática, como transformar meninos pobres, humildes e iluminados como verdadeiros gênios do futebol..