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OS DEZ CARRASCOS

por Israel Cayo Campos


Eu admito! Sou fã de listas! E quanto mais bizarras, mas me chamam atenção e me divertem! Pensando nisso, resolvi fazer uma nova lista. Dessa vez envolvendo os 10 maiores carrascos do futebol brasileiro.

Mas ao contrário do quadro do Fred do Canal Desimpedidos, prefiro me aprofundar nessa lista com um pouco mais de história naquilo que construo. Evitando somente falar dos jogadores e clubes que surgiram juntamente com as televisões de plasma!

Vejamos a lista, e depois fiquem à vontade para concordar, discordar ou colocarem outros membros no lugar dos citados aqui…

10° Lugar: Ernest Wilimowski – Polônia 5 x 6 Brasil.


Pouca gente lembra, mas na primeira Copa do Mundo em que o Brasil se destacou, no ano de 1938 na França, a Seleção enfrentou em sua estreia a Polônia em Strasbourg.

Apesar da vitória brasileira, essa Copa nos mostrou nosso primeiro carrasco, um polonês de nome bastante complicado, Wilimowski! Nessa partida, o polonês marcou quatro dos cinco gols de sua seleção contra o Brasil! Se não fosse pela atuação de Leônidas da Silva, ele seria a primeira lembrança de um carrasco em Copas do Mundo!

Três tentos foram marcados no tempo normal, todos no segundo tempo! Sendo o gol de empate que levou o jogo para prorrogação (4 a 4), marcado por ele aos 44 minutos da etapa final!

Segundo João Saldanha, a falta de conhecimento da regra contribuiu com os gols de Wilimowski. Domingos da Guia que não sabia bater um tiro de meta chutava a bola de maneira fraca, essa era rapidamente interceptada pelo atacante polonês, que a mandava para as redes brasileiras!

A versão do goleiro brasileiro naquela partida é um pouco contraditória a de Saldanha. Batatais alegou que nesse jogo, que fora o mais disputado daquela Copa e até hoje um dos mais emocionantes da história dos mundiais da FIFA, Domingos da Guia, o “Divino Mestre”, teria entrado em campo com muita febre praticamente obrigado pelo técnico Ademar Pimenta.

Esse problema de saúde teria facilitado a vida do polonês. Batatais ainda afirmara com certa soberba que se Domingos estivesse bem de saúde, Wilimowski não passaria por ele! Mas como o “se” não joga…

Wilimowski é até hoje o único jogador a ter marcado quatro gols na Seleção brasileira em um mesmo jogo! Um feito que só não é mais lembrado do que de fato merece devido ao resultado da partida.

Como saímos vencedores da dura peleja, seguimos para o jogo contra a Tchecoslováquia,e Wilimowski ficou para os brasileiros apenas nos almanaques que contam a história dessa partida!

E só por não ter saído vitorioso, o polonês não ficou em uma posição mais à frente em meu ranking. Pois marcar quatro gols contra uma Seleção Brasileira, seja em qualquer época, com ou sem a febre de Domingos da Guia, não é para qualquer um!

9º lugar: Tore André Flo – Noruega.


Uma das raras seleções que o Brasil nunca conseguiu vencer em seus mais de 100 anos de história é a Noruega. Foram quatro jogos, sendo três em Oslo, capital norueguesa e um pela Copa do Mundo de 1998 na França. Dois empates e duas derrotas canarinhas! Essas duas derrotas se devem basicamente a Tore Flo, atacante alto e desengonçado que causou problemas ao Brasil entre os anos de 1997 e 1998.

Em 1997 um amistoso. O Brasil vinha como franco favorito a Oslo com um time que contava com um quarteto de ataque de respeito: Djalminha, Leonardo, Romário e Ronaldo. Porém, o que se viu foi um passeio norueguês comandado por Flo. O atacante marcou dois e ainda deu o passe de cabeça para o quarto gol norueguês naquela partida! Em um final indigesto, o Brasil perdia por 4 a 2 diante dos escandinavos.

Em 1998 a chance do revide, Copa do Mundo da França, a Noruega caia como último adversário do Brasil no grupo “A” do torneio. A Seleção já estava classificada. Era a hora de enfim o Brasil encerrar esse jejum!

Depois de um primeiro tempo fraco tecnicamente, uma bela jogada de Denilson e gol de cabeça de Bebeto. Até que enfim a “zika” com cheiro de bacalhau iria sair! Mas foi aí que o nosso carrasco número 9 resolveu aparecer!

Com a Noruega precisando vencer para não cair logo na fase de grupos, a única maneira era atacar o Brasil, mesmo que isso lhe custasse uma derrota por maior número de gols! Tore Flo arrancou pela esquerda, deu um corte em Júnior Baiano e empatou o jogo para os noruegueses!

Mas o empate não servia para a Noruega, já que no outro jogo do grupo Marrocos goleava os escoceses. Foi então que novamente Tore André Flo apareceu. Dessa vez sofrendo pênalti de Júnior Baiano, que estava em uma de suas noites mais infelizes como zagueiro. Rekdal bateu, converteu, virou o jogo, manteve o tabu e classificou a Noruega para as oitavas de final! Mas o herói da noite, nosso carrasco, tinha sido Tore André Flo novamente.

Embora tenha sido em um jogo amistoso, e em outro que já não valia nada numa Copa do Mundo. Se hoje a Noruega pode se vangloriar de ser uma das raras seleções que nunca perderam uma partida para pentacampeã do mundo Brasil, devem esse orgulho diretamente aos 3 gols, uma assistência e um pênalti sofrido por Tore André Flo em seus dois únicos jogos contra o “país do futebol”.

8º lugar: Ángel Romano – Uruguai 6 x 0 Brasil.


Antes do fatídico e inesquecível 7 a 1 sofrido pelo Brasil na semifinal da Copa de 2014 em casa diante da Alemanha, a maior goleada que a Seleção verde amarela havia sofrido para outra nação (levando em consideração a diferença de gols!) fora um seis a zero para o Uruguai no Torneio Sul-americano de 1920 disputado no Chile.

Nessa partida disputada na cidade de Viñadel Mar, os brasileiros sofreram dois gols de Ángel Romano, atacante do Nacional de Montevidéu. Que contribuíram para o vexame brasileiro.

Três anos antes, no Sul-americano de 1917 disputado no Uruguai, nova vitória da seleção do Rio da Prata fácil! Um 4 a 0 com direito a mais dois gols de Ángel Romano. 

Em 1921, dessa vez no Sul-americano da Argentina, Romano novamente balançou as redes brasileiras duas vezes. Dessa vez numa vitória apertada por 2 a 1. Contribuindo para mais um fracasso brasileiro no torneio continental dos anos 1920.

Totalizando, o Uruguaio marcou seis gols contra a Seleção brasileira em três jogos, todos eles em campeonatos Sul-americanos. Provavelmente, Romano foi o pesadelo dos jovens torcedores do futebol brasileiro do início do século XX, e até hoje é o segundo jogador que mais balançou as redes de nossa Seleção!

O nosso carrasco de torneios continentais entre seleções. Que protagonizou a maior derrota da história do futebol brasileiro até o ano de 2014, merece estar nessa lista!

7º lugar: Nwankwo Kanu – Nigéria 4 x 3.


Era o único título que o Brasil não tinha! Depois de dois Vice-campeonatos olímpicos nos anos 1980 e uma decepcionante desclassificação no pré-olímpico de 1992, a Seleção brasileira, campeã do mundo em 1994 chegava como grande favorita a então sonhada medalha de ouro olímpica.

Jogadores como Dida, Aldair, Roberto Carlos, Bebeto, Juninho, Rivaldo, Luizão e Ronaldo (todos campeões do mundo!) faziam parte do elenco brasileiro! Nosso grande adversário naquele torneio era a Argentina, que também possuía uma boa geração com Ayala, Chamot, Crespo, Gallardo, Claudio López, Ortega, Simeone, Sensini e Zanetti. Nenhum se tornou campeão do mundo!

Na fase de grupos, após um susto contra o Japão, duas vitórias sendo uma sobre a Nigéria com gol solitário de Ronaldo… Mal imaginávamos que era essa Nigéria que iria acabar nos complicando!

Após uma goleada nas quartas de final sobre Gana, estávamos de novo de frente com a Nigéria. Era o último passo para a final olímpica, e quando Flávio Conceição abriu o placar no primeiro minuto de jogo, parecia que aquele jogo seria um novo passeio contra uma seleção africana!

Mas logo aos 20 minutos, em bela jogada de Babayaro, Roberto Carlos acabou fazendo gol contra! Porém, a tensão logo se desfez quando em duas belas jogadas Bebeto e novamente Flávio Conceição colocaram o Brasil na frente com dois gols de vantagem ainda no primeiro tempo!

Na segunda etapa o Brasil cansava de perder gols! Alguns como em lance de Ronaldo sem o goleiro! Até que o juiz marcava um pênalti para os africanos! Jay-Jay Okocha bateu e Dida começava sua fama de pegador de pênaltis! Tudo conspirava para a classificação brasileira!

Porém, quando faltavam 12 minutos para o fim do jogo, o barraco começou a desabar! Ikpeba aproveitando roubada de bola de Rivaldo descontou para a Nigéria.E já com o tempo regulamentar terminando (faltando 20 segundos), apareceu o nosso carrasco para empatar uma partida que já estava no papo!

O jogo ia para a prorrogação ainda no estilo “Golden Goal”, e a Nigéria veio para cima… Não durou nem quatro minutos e novamente Kanu em bela jogada individual driblou a defesa brasileira e fuzilou o goleiro Dida. A Nigéria seguia para final e o sonho olímpico brasileiro era mais uma vez adiado!

A tão conhecida sorte do técnico Mário Jorge Lobo Zagallo o abandonava curiosamente em um dia 31 de julho. 31 = 13 ao contrário! Essa era a desculpa mais usada pelo Velho Lobo! Mas a verdade é que se não existisse o carrasco Kanu em campo, poderíamos estar hoje comemorando o bicampeonato olímpico!

6° lugar: Eusébio – Portugal 3 x 1 Brasil.


O ano era 1966. O mundial voltava a Europa para ser disputado na casa dos inventores do futebol, os Ingleses! E o Brasil chegava como atual bicampeão do mundo, e favorito a conquista do tricampeonato!

Com uma estreia vitoriosa sobre a Bulgária por dois a zero com dois gols de falta. Um de Pelé e um de Mané (última partida que a maior dupla de todos os tempos realizou junta com a camisa da Seleção) o Brasil começava com o pé direito rumo a mais um título.

No segundo jogo, uma derrota para a Hungria por 3 a 1, outra seleção que até pouco tempo nunca havíamos vencido em nossa história. Agora era obrigação vencer Portugal na terceira rodada. Uma seleção que apesar de ter como base o grande Benfica bicampeão europeu do início dos anos 1960, era estreante em mundiais!

Pelé que não jogara contra os húngaros machucado voltava a equipe. Era tudo ou nada! O Brasil não era eliminado numa fase de grupos de um Mundial desde o primeiro em 1930. Além da reentrada de Pelé, outras oito caras novas! A honra do atual bicampeão do mundo contra um mero estreante estava em jogo!

Logo aos 15 minutos, Eusébio, atacante do Benfica dá um belo drible em Brito, cruza na área e conta com o rebote “mão de alface” do goleiro Manga, que solta a bola na cabeça de Simões! Um a zero Portugal.

Aos 27 minutos, aproveitando bola escorada após falta cobrada por Coluna, Eusébio apareceu de cabeça para ampliar o placar! Para desespero de Vicente Feola, técnico campeão do mundo na Suécia pela Seleção brasileira, antes da primeira meia hora de jogo, o Brasil já perdia por 2 a 0.

Aos 15 da segunda etapa, Rildo marcava para o Brasil pondo fogo no jogo! Mas era só fogo de palha! Faltando cinco minutos para o fim do “match”, aproveitando uma bola escorada por Torres, o nosso carrasco lusitano nascido em Moçambique acertou um petardo sem chances para o goleiro Manga! Eusébio 3, Brasil 1. Estávamos eliminados do mundial da Inglaterra!

É bem verdade que nessa partida Pelé fora caçado em campo! Tomou chutes que o fizeram atuar até o final apenas para fazer número. Entretanto, a noite era de Eusébio, que fez o que quis com o Brasil e garantiu uma humilhante eliminação na fase de grupos. Por acabar com uma seleção que vinha de dois títulos mundiais seguidos, o carrasco Eusébio merece estar com louvor nessa lista!

5° lugar: Emilio Baldonedo – Argentina.


Desse jogador a geração recente sequer tem memória! Me arriscaria dizer que até boa parte da geração anterior a atual sequer sabe de quem escrevo. Mas se o uruguaio Ángel Romano está nessa lista como o segundo jogador a marcar mais gols na Seleção brasileira, o argentino Emilio Baldonedo não pode ser esquecido! Afinal, esse é o Museu da Pelada.

Nascido no dia 23 de junho de 1916, mesmo data a qual nasceu o polonês Wilimowski já citado nessa lista (esse deve ser o dia dos carrascos!), o atacante argentino é até hoje o jogador que mais marcou gols contra a Seleção brasileira! No total, sete tentos!

Se Romano foi nosso carrasco nos primórdios da atual Copa América, Baldonedo foi o nosso destruidor nos torneios conhecidos como “Copa Roca”, atual Superclássico das Américas. Um torneio disputado entre Brasil e Argentina desde a segunda década do século XX, até a década atual (com longos intervalos cronológicos entre um torneio e outro!).

A primeira disputa de Baldonedo contra o Brasil nesse torneio se deu em 1939, quando a Copa Roca foi disputada em terras tupiniquins. Nos dois primeiros jogos em São Januário, Baldonedo não jogou. E mesmo assim os argentinos aplicaram uma goleada por 5 a 1 no primeiro jogo.

Na segunda e decisiva partida, uma vitória brasileira por 3 a 2, com direito a um pênalti pra lá de suspeito marcado pelo juiz brasileiro Carlos de Oliveira Monteiro, vulgo “Carlos Tijolo”. Tal marcação fez com que todo o time argentino se retirasse de campo revoltado. Com a vida facilitada, Perácio converteu a penalidade com o gol vazio.

Como naquela época não havia saldo de gols, uma nova partida fora marcada dessa vez para o Palestra Itália. O torneio que ainda valia por 1939 já avançava para fevereiro de 1940, e o técnico argentino Guillermo Stabille (artilheiro da primeira Copa do Mundo em 1930), resolve lançar no time o jovem Baldonedo, ainda prestes a completar 24 anos!

Na difícil partida, Leônidas da Silva garantia a vitória na prorrogação para os brasileiros, até que faltando quatro minutos para o final, Baldonedo empatou! Era o primeiro gol dele contra a nossa Seleção. Como não haviam disputa de pênaltis e o jogo novamente terminara empatado, uma nova partida deveria ser realizada.

Sete dias depois no mesmo estádio, as duas Seleções entravam para o quarto embate na disputa pelo título. Dessa vez a Argentina venceu fácil, e Baldonedo novamente marcou, abrindo o placar para os “Hermanos” em um jogo que terminou 3 a 0. A Copa Roca de 1939 ficava com a Argentina e esse era o segundo gol de nosso carrasco! Não perca as contas!

Duas semanas depois uma nova Copa Roca. Dessa vez oficialmente pelo ano de 1940! Agora os jogos seriam realizados na Argentina, e no primeiro disputado no estádio do San Lorenzo uma goleada portenha! Seis a um, com direito ao quinto gol ser marcado por Baldonedo. Na segunda partida os brasileiros reagiram, vitória por 3 a 2. Mas nosso carrasco marcara os dois gols de honra da Argentina, o que novamente forçava a disputa do troféu a um terceiro jogo.

Dessa vez no estádio do Independiente, no dia 17 de março de 1940, outro passeio argentino! 5 a 1 nos brasileiros com direito a mais dois gols de Baldonedo, o primeiro e o quarto gol da seleção albiceleste na partida! Era o bicampeonato da Copa Roca para os argentinos, graças aos sete gols de Baldonedo!

Vale ressaltar que os sete gols que dão a Baldonedo o título de maior artilheiro em partidas contra a Seleção se deu em cinco jogos disputados pelos arquirrivais entre os dias 18 de fevereiro e 17 de março de 1940. Ou seja, em menos de um mês apenas! Um carrasco rápido e letal! Que contribuiu para a retirada de dois títulos na época muito importantes contra os nossos maiores rivais até os dias de hoje!

4° lugar: Alcides Gigghia – Brasil 1 x 2 Uruguai.


Tudo bem, esse só marcou um gol sobre o Brasil em sua brilhante carreira de jogador profissional. Mas fora o gol mais dolorido até hoje sofrido pela Seleção canarinho, que a época jogava de branco!

Era o último jogo do quadrangular final do mundial de 1950. O Brasil só precisava de um empate para o título. E era exatamente o resultado que ocorria na segunda etapa. Gigghia já participara do primeiro gol uruguaio. Recebendo uma bola de Obdúlio Varela, partiu pela ponta direita de ataque, deixou o lateral Bigode no chão, entrou a área e cruzou, Schiaffino como um bom centroavante colocava nas redes brasileiras!

Ainda servia para o Brasil, um 1 a 1 salvador! Redentor! Abençoado pelo Cristo! Até que desgraça nos abateu…

 Aos 38 minutos do segundo tempo, Julio Pérez e Gigghia tabelam novamente na frente de Bigode. Gigghia corre para ponta e os demais atacantes uruguaios vão para área. O uruguaio entra sozinho na grande área brasileira. O goleiro Barbosa antevê o lance que dera o gol de empate uruguaio e dá um passinho para a direita. Ghiggia chuta, a bola passa no pequeno espaço entre o goleiro e a trave! É o gol da virada uruguaia!

Mais de 200 mil pessoas caladas! Mais de 50 milhões de brasileiros (população da época) em profunda desolação! Um jogo que causou várias mortes! Sejam elas por enfartos ou até suicídios de torcedores, é até hoje lembrada pelo público brasileiro como uma tragédia!

Como diria anos depois o “Seu Alcides”, só três homens haviam conseguido calar o Maracanã… O Papa João Paulo II, Frank Sinatra e ele…, Mas com certeza, só ele conseguira tal façanha pelo sentimento de tristeza fúnebre dos presentes!

Mesmo depois de 68 anos e duas cinco Copas do Mundo vencidas, Alcides Gigghia ainda é lembrado como o carrasco imortal daquele dia 16 de julho de 1950 para o povo brasileiro. Por quem vale salientar, Gigghia possuía muito respeito! Se negando a falar sobre aquela final para veículos brasileiros em respeito ao povo de nosso país!

Curiosamente ou não, em um mesmo 16 de julho, só que de 2015, o “Seu Alcides”, (que assim como Jairzinho em 1970, marcou gol em todos os jogos de sua Seleção no mundial de 50!), veio a falecer. Era o último remanescente daquele triste dia na história do futebol brasileiro. Obviamente, um dos mais felizes da história da gloriosa “Celeste Olímpica”. O carrasco de apenas um gol, mas um dos gols mais doloridos da história de um país gigante, que começava a ganhar sua identidade nacional naquele período!

3º lugar: Clube Atlético Boca Juniors – Contra times brasileiros em competições Sul-americanas.


Para quem pensou que só iria falar de carrascos em pessoa física, lembramos de nosso maior carrasco em pessoa jurídica. Poucos times de massa do Brasil não tiveram um momento de pesar contra o gigante clube argentino.

Só na Libertadores da América, os “xeneizes” iniciaram sua tradição em 1977 contra o então atual campeão Cruzeiro. Vencendo nos pênaltis a final por 5 a 4. No ano seguinte, o arquirrival da raposa, o Atlético Mineiro, foi a vítima do Boca nas semifinais do torneio.

Dando um salto para o ano de 1991, ainda na Libertadores, as vítimas foram as duas maiores torcidas do país. Nas oitavas o Corinthians e nas quartas o Flamengo. Ambos eliminados no placar agregado de 4 a 2.

Mas foi nos anos 2000 que a fama de papão contra os brasileiros se alastrou! Na final do torneio daquele mesmo ano uma vitória nos pênaltis sobre o atual campeão Palmeiras. Em 2001 uma eliminação do Vasco nas quartas e novamente do Palmeiras nas semifinais. Em 2003 caíram Paysandu nas oitavas e o Santos na final. E em 2004 o emergente São Caetano também não resistiu ao time azul e amarelo do bairro de La Boca nas quartas de final. Em 2007, o Grêmio de Mano Menezes caiu na final. E em 2008, novamente o Cruzeiro foi a vítima, dessa vez nas oitavas do torneio!

Na segunda década do novo milênio, o Boca já não assustava como anteriormente! Entretanto, ainda conseguiu eliminar o Fluminense nas quartas de final do torneio de 2012, e o Corinthians nas oitavas de final de 2013 (em um jogo bastante suspeito!).

Nos torneios secundários da América do Sul, tais como a Copa Mercosul e a Copa Sul-americana, o Boca eliminou ainda na primeira fase o Corinthians no ano 2000 da Mercosul e o Internacional em 2004 nas semifinais e em 2005 nas quartas da Sul-Americana.

Na Recopa, torneio disputado entre os vencedores dos dois principais torneios da América do Sul, foi a vez do São Paulo perder em 2006 para os argentinos. Fora Supercopas e Copas CONMEBOL que não deu para contabilizar, O Boca é de longe o time que mais eliminou brasileiros nos certames internacionais!

Levando-se em consideração que o Brasil tem 12 grandes clubes (quatro de São Paulo, Quatro do Rio, dois de Minas e dois do Rio Grande do Sul). O Boca só não tem o Botafogo como vítima em torneios oficiais. Muito pelo fato do clube de General Severiano não conseguir enfrentar o Boca nesses torneios! Sendo justo e não ofensivo com os alvinegros, raramente o Botafogo se classifica para os mesmos!

Já os demais clubes, foram ao menos uma vez, ou até mais vezes vítimas do carrasco Boca Juniors.

2° Lugar: Zinedine Zidane – França.   


Em 1998, recém completados 26 anos, Zinedine Zidane era um ilustre desconhecido para o futebol brasileiro! Até então naquela Copa em casa só havia aparecido pelo “coice” dado em um jogador da Arábia Saudita que lhe custou um gancho de dois jogos no mundial. Mas “Zizou” era muito mais que um jogador temperamental. E iria mostrar justamente na final contra a Seleção Brasileira.

Antes daquela final em Paris, o único jogo de Zidane contra o Brasil tinha sido no empate do Torneio da França por 1 a 1 em jogado em Lyon um ano antes. Nesse jogo o filho de argelinos teve uma atuação discreta, mais preocupado com a marcação do forte ataque brasileiro.

No entanto, na final do Mundial de 1998, primeiro uma jogada espetacular que deixou Guivarc’h na cara do gol. Para sorte brasileira o péssimo atacante francês perdeu a chance. Mas logo duas cobranças de escanteios em posições inversas do campo. Duas cabeçadas certeiras do “carequinha”! Dois a zero para a seleção da França.

Nos acréscimos do jogo, Petit selou o primeiro título mundial francês em casa! Mas aquela era a final de Zinedine Zidane. A partir daquele jogo, a sua vida mudou! Ele se tornara uma estrela mundial. Alcançava o status de craque da bola!

No centenário da FIFA no ano de 2004, Zidane voltou a enfrentar o Brasil. Dessa vez não marcou gols, mas novamente presenteou os espectadores do “Stadede France” com lindas jogadas para cima da atual campeã do mundo. Ao final daquele jogo sofrido, o então lateral brasileiro Roberto Carlos afirmara: “O Brasil não perde mais para a França”.

Dois anos depois, no mundial da Alemanha, Zidane em suas últimas apresentações com a camisa dos “Bleus” novamente enfrentava o Brasil. Era o jogo de quartas de final entre uma Seleção que até então tinha chegado lá aos trancos e barrancos, contra a seleção mais estrelada do planeta. Com o quadrado mágico formado por Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo.

O estrelado time do técnico Parreira mal viu a cor da bola naquele primeiro de julho de 2006. Em um lance inicial, Zidane humilhou Zé Roberto, Juninho Pernambucano e Gilberto Silva em uma só jogada. Em seguida, um “balãozinho” para cima de Kaká. E antes que o primeiro tempo encerrasse, dois dribles secos que deixaram no chão o zagueiro Lúcio e o volante Gilberto Silva. Isso sem contar os passes certeiros e objetivos do capitão da Seleção Francesa.

No segundo tempo mais show. Dois chapéus em Gilberto Silva e Ronaldo. E aos 13 do segundo tempo uma bola “açucarada” no pé de Thierry Henry. Era o gol da França que nos eliminava mais uma vez de uma Copa do Mundo. Curioso ou não, a bola foi exatamente na zona do lateral Roberto Carlos, que afirmara que o Brasil não iria mais perder para os franceses!

Antes do fim do jogo. O pobre Gilberto Silva novamente fora humilhado com um drible de giro a lá Zinedine Zidane! O juiz apitou e curiosamente todos os jogadores brasileiros que atuavam no Real Madrid, caso de Ronaldo, Cicinho, Robinho e Roberto Carlos, foram abraçar Zizou como se reconhecessem uma das maiores atuações de um jogador de futebol numa Copa do Mundo.

O famoso narrador Luciano do Valle dizia em seus comentários finais que desde Maradona em 1986, não via uma atuação tão espetacular de um jogador em uma partida de Copa do Mundo! A França seguiu rumo a final contra a Itália e o Brasil novamente ficou pelo caminho.

Zidane fica com a medalha de prata entre os carrascos da história do futebol brasileiro por todos os motivos citados anteriormente. Mas o principal é que conseguir eliminar o Brasil em uma Copa muitos conseguiram, mas eliminar em duas. Sendo o protagonista em ambas as partidas! Só Zinedine Zidane conseguiu!

1° Lugar: Paulo Rossi – Itália 3 x 2 Brasil.


1982. Estádio Sarriá em Barcelona. Futebol Arte. Melhor Seleção brasileira desde a geração tricampeã de 1970… Espetáculos nos primeiros quatro jogos, com direito a um humilhante 3 a 1 sobra a maior rival Argentina. Esse era o Brasil de Telê Santana. Do zagueiro Oscar. Dos laterais Leandro e Júnior. Dos meias Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Dos atacantes Éder e Serginho. O Brasil jogava o melhor futebol e era o favorito ao tetra!

A Itália era o oposto, vinha com um futebol feio. Empatando suas três partidas na fase inicial do torneio e só se classificando no critério gols feitos! Na segunda fase uma vitória a base de muito suor e marcação sobre os mesmos argentinos por 2 a 1. O jogo que valeria vaga nas semifinais daquele torneio memorável ia ser entre brasileiros e italianos. Com o direito do empate para a Seleção canarinho!

Logo começou aquele jogo em 05 de julho e o nosso maior vilão, que havia saído de uma suspensão do futebol apenas um ano antes, entrava em ação. Cinco minutos de jogo, cruzamento de Cabrini e gol de Paulo Rossi sozinho de cabeça.

Não era a primeira vez naquele mundial que o Brasil tinha começado atrás no marcador. Era questão de tempo para haver o empate. Serginho ficou cara a cara com Zoff, mas chutou mascado para fora! Ia fazer falta…, no entanto, aos 12 minutos, o “Galinho” achou Sócrates em lance espetacular e o “Doutor” colocou tudo no seu lugar. Brasil 1 x 1 Itália.

Aos 25 minutos o lance que todo jogador de futebol faz em todas as partidas. Mas todos só lembram de Cerezo fazendo! Ao receber a bola de Leandro, o meia brasileiro passou a pelota cruzada pela área. Paulo Rossi que nada tinha a ver com a desatenção da zaga brasileira roubou a bola e como um foguete avançou até a entrada da área para balançar as redes do goleiro Waldir Peres. Itália 2 a 1. E assim terminava o primeiro tempo para assombro do mundo.

Segundo tempo. Pênaltis para ambos os lados não marcados. E o jogo seguia com pressão brasileira. Aos 23 minutos Júnior achou Falcão, o jogador da Roma fingiu o passe para Cerezo e cortou para o meio da área. Era gol! Era o grito emblemático do “Rei de Roma” tirando uma montanha das costas brasileiras. O Brasil iria as semifinais!

Hoje é fácil dizer: O Telê deveria ter fechado o jogo. Segurado o empate. Mas aquela seleção tinha um DNA ofensivo, e por esse ímpeto pagou caro. Há quase 30 minutos do segundo tempo escanteio para a Itália. Cobrança na área e no bate e rebate Paulo Rossi novamente estava lá para desviar o chute de Tardelli. A Itália mais uma vez passava a frente. Dessa vez de maneira definitiva.

Era o final de uma geração de ouro. Desde 1950 a população brasileira não chorava tanto por uma derrota no futebol. Era mais do que uma derrota. Era a substituição do futebol arte pelo futebol força onde deveria se priorizar a marcação.

Esse estilo de futebol os clubes e seleções que vieram nas gerações posteriores. Antes de pensar em vencer, era necessário não perder!

A Itália prosseguiu no mundial. Rossi fez mais três gols e saiu como o artilheiro do torneio. Foi bola de Ouro daquele ano! Para um jogador de nível mediano, foi um ano de muita sorte! Tanta sorte quanto marcar três gols sobre aquela maravilhosa geração brasileira! 

Dentre os dez selecionados como maiores carrascos da história do futebol brasileiro, tecnicamente Paulo Rossi não é o melhor! Longe disso. Mas com certeza, foi o que causou mais estragos não só ao futebol do nosso país, bem como ao futebol enquanto esporte! Por isso a medalha de ouro entre os maiores carrascos do futebol brasileiro é do “Il Bambino d’Oro” Paulo Rossi.

​​​​​​​EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

por Walter Duarte


Uma data distante: 21/02/1979, uma vaga lembrança, um gol indesejado. Grandes momentos que instintivamente revisitamos em nossas memórias. Nas minhas pesquisas das campanhas do Goytacaz nos campeonatos estaduais lembrei-me de jogo muito marcante contra o Flamengo. 

Foi um jogo de expectativas para mim que evidentemente tinha esperança de uma vitória do Goytacaz, “OSSO DURO DE ROER” em seus domínios, em boa fase naquele ano, tendo vencido inclusive o Vasco de 3×2 em um jogo eletrizante. Apesar da insistência, não fui liberado desta vez pelos meus pais para ir ao jogo com os amigos, na maioria garotos com idade da faixa dos 12 anos, motivo de grande decepção para mim.

Restava então a companhia do velho e bom radinho de pilha e torcer imaginando estar ali, à beira do gramado. Confesso também que a presença de grandes craques na partida como: Zico, Adílio, Cláudio Adão, Carpegiani e cia. era um motivador a mais e uma certeza de muitas emoções e jogo bonito.

O Flamengo defendia uma invencibilidade de 25 jogos e encaminhava uma trajetória vitoriosa de títulos, porém sabia das dificuldades do jogo. Logo cedo, já se percebia grande aglomeração nos bairros centrais da Cidade e nos arredores do estádio Arizão. Uma festa bonita das torcidas se iniciava, com suas bandeiras sendo agitadas, um espetáculo à parte com grande cobertura da imprensa local e da Capital.


Revista Placar (Editora Abril)

Muitos torcedores vinham de cidades vizinhas e até de outros estados para presenciar estes jogos. Podia imaginar toda aquela atmosfera do estádio e o colorido das torcidas. Os times entram em campo aquele barulho ensurdecedor dos fogos e os gritos ensandecidos dos torcedores são fielmente reproduzidos.

Lembro-me de um jogo muito disputado no primeiro tempo com um certo domínio do Flamengo, porém sem encaixar uma jogada efetiva de gol. O Goytacaz defendia-se bem e arriscava-se perigosamente nos contra-ataques e aquela tensão tomava conta de mim esperando o locutor soltar aquele grito de gol.

Na defesa do Goyta jogava um zagueiro chamado Orlando Fumaça que tinha fama de violento, e chegou a ter uma passagem pelo Vasco no início da década de 80. O jogo segue no seu segundo tempo e, logo aos 7 minutos, Zico (sempre ele) faz o gol único da partida. Aguardava confiante uma reação do Goyta, quem sabe com um gol salvador do nosso artilheiro, o saudoso Zé Neto, porém nada mais ocorreu. Querendo absorver o resultado vou para a rua “arrastando” as correntes da frustração e reclamando mais do que um “cachorro atropelado”.


Revista Placar (Editora Abril)

Pois bem, tomado pela curiosidade dos detalhes desta partida surge um fato novo para mim. Este gol do Zico não foi mais um da sua gloriosa carreira. Naquele instante após uma “TRAMA DIABÓLICA” com Claudio Adão e Adílio o Galinho fez seu gol 245 na carreira vencendo a cidadela do goleiro Augusto, suplantando o seu ídolo Dida, tornando-se assim o maior artilheiro da história do Flamengo. Detalhes de uma época de ouro do Campeonato Carioca, e das artimanhas do destino.

Sem saber, estava acompanhando um jogo histórico que teve cobertura diferenciada da mídia, inclusive reportagem especial da Revista Placar. Um jogo que parecia ser mais um nas nossas vidas e que tempos depois se tornou diferente para mim, mesmo sem o desfecho desejado.


Revista Placar (Editora Abril)

Sigo procurando trazer à tona minhas recordações e este saudosismo insistente, exorcizando meus “fantasmas” futebolísticos. Certamente outras lembranças surgirão do nosso alegre futebol e ficarei feliz em contá-las para vocês. Eventos particulares de grandes jogos e personagens que ficaram adormecidos em algum lugar do passado.

Súmula do jogo

Goytacaz 0 x 1 Flamengo

-Local: Estádio Ary de Oliveira e Souza – Campos RJ

Juiz: Moacir Miguel dos Santos (RJ);

Renda: Cr$ 522.620,00;

Público (PAGANTE): 13.066;

– Gol: Zico aos 7 min do segundo tempo;

Cartão Amarelo: Zé Neto e Marquinho (Goyta), e Cláudio Adão (FLA);

– Goytacaz: Augusto, Totonho, Fumaça, Eurico Souza e Serginho. Marquinho, Manuel “Português” e Ronaldo, Piscina, Zé Neto e Zé Roberto.

– Flamengo: Cantarele, Toninho, Rondineli, Manguito e Júnior. PC Carpegiani, Adílio e Zico, Reinaldo, Cláudio Adão e Júlio Cesar “Uri Gueller”.

 

SAUDADES DE UM MATADOR

por Zé Roberto Padilha


Jogava no Santa Cruz FC, em Recife, no final dos anos 70 e, fora cartas, telefones e telegramas, o único meio de me comunicar com a família era no domingo à noite. Durante os gols do Fantástico. Como não fazia gols, tratei de melhorar o pique e me especializei em ser o primeiro a abraçar o Nunes. João Danado, como era conhecido e temido pelas defesas do nordeste, fazia gol de tudo que era jeito. Daí corria para abraçá-lo e dava um adeusinho pro Léo Batista e para os meus: “E aí, dona Janet? Como estão?”. Era através de matadores, como Nunes, Volnei e Luiz Fumanchu, que matávamos as saudades de casa.

Recife era, de fato, antes das mídias sociais, muito longe do Rio de Janeiro. Como longe estão, hoje, nossos centroavantes da nobre função de marcar gols. Depois do Fred, uma sumidade, não teve mais ninguém a exercer com categoria e assiduidade este fundamento principal, sem os quais o futebol não sobreviveria. E a audiência, na ausência da subida da bolinha, acabaria. Que saco: com vocês, as assistências do Fantástico! Que falta anda fazendo o Fred, talvez o último grande artilheiro do nosso país a distrair as tardes da gente sacudindo as redes. E mantendo acesa a paixão pelo futebol.


Vamos analisar a rodada de ontem? O camisa 9 do Palmeiras ainda é pior do que Jesus. Se o que leva o nome do filho de Deus foi crucificado na Copa, este rapaz, magro e esforçado, com seus cabelos pintados de branco, é o próprio pecado escalado em campo. Não há milagres, a não ser contra um Bahia, um Paraná ou a Chapecoense, que o faça balançar as redes quanto mais o Palestra Itália precise para encostar nos líderes. Já o Santos, cansou de testar um nome no comando do seu ataque e acabou fixando seu meia Gabigol mais à frente. Que seria mais um e não menos o 9 em seu ataque. Caso do Internacional, que desistiu do Damião, e fixou o Nico Lopes, do Botafogo, que anda a perder a paciência com o Kieza, Breno, do Flamengo que se arrasta há algum tempo com um gatinho dourado vestindo a camisa que pertencia a um matador. Como o Silva, Claudio Adão, Vinícius Righi, Gaúcho e o próprio Nunes. E nem vou falar do Corinthians, que faz a fiel sofrer com um ataque que se tornou escravo da ausência do Jô.

Restou o Ricardo Oliveira, do Atlético-MG, mas este que anda sofrendo com a tinta do cabelo, que tem corrido por sua testa no exato momento das cabeçadas. E o Pedro. A coisa está tão feia pela grande área, que em menos de seis meses que o Abel lançou este menino, sem sequer ter tido tempo de amadurecer com as competições, já virou atração do brasileiro e convocado para a Seleção.


Em qualquer outra época teria que fazer gols no Fla-Flu, ser consagrado em uma decisão e não ser chamado por fazer apenas 10 míseros gols em duzentas rodadas. Mas diante da seca e da carência da safra, nem o mestre Juca Kfouri questionou o Tite.

Fico, então a pensar nos novos Zé Robertos, que deixaram a família aqui no Rio e foram jogar no Sport. Se não fosse o WhatsApp, o Facebook, estariam no portão de suas casas esperando as cartas. Um telefonema. Porque nem um Nunes eles terão, como eu tive, para correr, abraçar e as saudades da família matar pela telinha.

OS SELECIONADOS E A REALIDADE DO SEU POVO

por Paulo Escobar


Quantas vezes nos dias atuais você já viu seu ídolo ou jogador da seleção nas ruas? Geralmente quando essas coisas acontecem, você não acredita ou então fica sem reação diante do fato. Entendo que isso não seja somente por se tratar do seu ídolo, mas talvez por ser tão raro nos dias de hoje você encontrar um deles nas ruas.

Neste maldito futebol moderno esse encontro já deve ser comemorado. E mais comemorado deve ser se você consegue um contato sem toda a burocracia que cerca essas figuras, que a cada dia que passa parecem ser mais metidos a deuses longe dos mortais.

Você ouve da boca de jogadores de futebol ultimamente aquilo que são assessorados a dizer, não o que eles realmente pensam e, quando aparece algo diferente daquilo que são orientados a falar, se tornam verdadeiros pontos fora da curva. Por isso, digo que sinto saudades do Loco Abreu e de alguns poucos iguais a ele.

Para uma criança pegar um autógrafo de uma dessas entidades distantes da realidade é um desafio. Até chegar na mão que assinará a camiseta ou o item que esse pequeno levar, primeiro terá que passar pela assessoria que fará uma análise prévia. São distantes de tudo aquilo da sociedade que os cerca, a maioria deles não vai te emitir algo que para você seja comum ou que seja parte do seu dia a dia, mas ele terá que ser informado antes pela sua assessoria no que diz respeito à realidade do país, por exemplo.

Não pense que muitos desses que vestem a camisa da CBF se manifestem ou digam algo a respeito das questões que envolvem as pilantragens da entidade que defendem, pois pra eles é indiferente ou não importa e o mais incrível é que justamente eles teriam o poder de talvez abalar a estrutura dessa coisa. Eles defendem os interesses dessa entidade e somente manifestam opiniões daqueles que os assessoram, eles não estão preocupados com você que torce e muito menos com a realidade que você vive.


Esses jogadores da seleção, por exemplo, não defendem um país ou a realidade crua que o povo mais pobre passa, eles não jogam por você, mesmo você os assistindo e torcendo. Os selecionados jogam pelos interesses deles mesmos e da realidade que eles vivem, que não é a sua de torcedor. Diferentemente de Sócrates, por exemplo, eles nem sabem como a realidade política da nação te atinge.

Veja só que de algumas décadas para cá, as eliminações da Seleção Brasileira não são tão doloridas para o povão. Se hoje Ghiggia fizesse o segundo gol do Uruguai no Maracanã nessa Seleção da CBF, ele não veria a mesma tristeza daquela época. O gol de Rossi nessa Seleção não te causaria a mesma dor que causou no povo em 82.

Não é o povo que se afastou da Seleção, é o time da CBF que não é popular e distante do povo e suas realidades. Esse time que defende interesses da entidade, do umbigo de cada um ou então dos seus empresários, não pensa em você torcedor e para eles não importa a realidade que você vive. Eles se separaram de você faz décadas e de 4 em 4 anos pedem para você se lembrar deles, mas infelizmente eles não jogam por você, então será que vale a pena torcer por eles?


Não se envergonhe nas derrotas que eles sofrem, pois neles não doem tanto, já que depois voltam às realidades europeias ou aos cercos e blindagens do dia a dia que os cerca e as realidades deles que não são as suas. Eles não se interessam pelas derrotas diárias do seu povo e com certeza sua indignação não será a deles. Quem sabe um dia o povo volte a ter uma seleção que seja povão mesmo, como já aconteceu no passado.

Me arrisco a dizer que dessa seleção nove de dez jogadores pensam ser Deus, um tem certeza. Eles vivem e respiram outra realidade, não se esqueça que antes de ir para Copa eles se despediram num jogo na Inglaterra e não diante de seu povo no Brasil.

 

O BONDE DE 200 CONTOS

por Israel Cayo Campos


200 contos de réis…Convertendo para valores atuais aproximados teríamos em torno de 200 mil reais. Um salário considerado baixo para contratações de clubes de grande porte atualmente. Mas em 1942 era uma verdadeira fortuna! A maior contratação da América do Sul até aquele ano. Assim chegava na estação do Brás em São Paulo, recepcionado nos ombros por mais de dez mil paulistanos, o maior jogador da história do futebol brasileiro até então. Leônidas da Silva.

Voltando um pouco no tempo, chegamos a um período em que ser jogador de futebol ainda era algo malvisto pela sociedade. Nessa cronologia, um jovem garoto negro, morador do bairro de São Cristóvão, enquanto ajudava seu padrasto nos afazeres de um bar, sonhava em reinar nos gramados do Rio de Janeiro.

Como todo garoto pobre, jogava suas peladas nas já inexistentes praias de uma cidade que se transformou por completo. Com o tempo, o garoto virou funcionário de uma fábrica de vidraças intitulada “Light”. Mas o verdadeiro sonho daquele rapaz de gênio forte estava longe do proletariado fabril. Leônidas logo deixaria o futebol com os companheiros de fábrica para atuar no São Cristóvão em 1929, e logo em seguida defender o Clube Sírio Libanês.

Desse período quase não existem informações da passagem daquele que viria a ser conhecido como “Diamante Negro”, a não ser que após o encerramento das atividades futebolísticas do Sírio, o então técnico do clube Gentil Cardoso foi contratado pelo Bonsucesso Futebol Clube e com ele levou Leônidas para atuar no time da região Leopoldina carioca. O futebol ainda era amador, mas ali, começava a aparecer no cenário mundial a figura de um gênio da bola.


No Bonsucesso, ao lado de seu maior parceiro de ataque, Gradin, Leônidas marcou 55 gols em 51 em jogos. Uma média de gols superior a um por partida! Mas o mesmo talento que tinha para balançar as redes, possuía para arranjar encrencas. Sendo até antes de Heleno de Freitas, considerado um craque problema! Sofrendo com acusações de roubos de joias e até de galinhas, além de suas supostas exigências “artísticas” para entrar em campo.

O ônus valia a pena! E jogando pelo modesto clube ainda em 1932, Leônidas já era convocado para defender a Seleção Brasileira contra a atual campeã do mundo, a seleção uruguaia! Em pleno Estádio Centenário em Montevidéu pela Copa Rio Branco. O resultado seria de pura euforia para os brasileiros! Uma vitória na casa do adversário por 2 a 1. Com os dois tentos brasileiros marcados por Leônidas da Silva, um ao estilo que lhe ficou marcado: De bicicleta!

A atuação brilhante diante da melhor seleção do mundo, associada a problemas financeiros vividos pelo futebol brasileiro decorrentes da grande crise mundial de 1929 e a briga entre cartolas cariocas para profissionalizar ou não o futebol, fizeram com que Leônidas fosse defender o Peñarol de Montevidéu em 1934. Onde teve uma rápida passagem marcada por lesões no joelho, que no mesmo ano o fizeram regressar ao Brasil para defender o Vasco da Gama.

A passagem pelo clube da colina também fora breve, se resumindo apenas a um campeonato carioca conquistado pelo time cruz-maltino novamente com Leônidas como protagonista. Logo ele rescindiu o contrato com o clube para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Itália de 1934.

Tal atitude não poupou sua reputação ao ser chamado de mercenário pelos vascaínos, pois aceitou da extinta CBD um salário bem maior do que recebia no clube para defender a Seleção. Vale salientar que nesse período, a briga entre dirigentes impedia que jogadores profissionais defendessem a Seleção Brasileira.

No mundial, disputado de maneira eliminatória, a Seleção teve sua pior apresentação na história das Copas. Uma derrota por 3 a 1 para os espanhóis do goleiro Zamora, e a eliminação precoce do torneio! Porém para Leônidas não fora tão mal. Marcou o gol de honra brasileiro, criou boas jogadas, e nos demais amistosos feitos pela Seleção Brasileira na Europa para não “perder a viagem”, marcou 13 gols em 11 jogos!

Terminada a participação pelo Brasil, o contrato com a CBD previa que Leônidas deveria se integrar ao Botafogo. Porém, segundo o jornalista Roberto Assaf, a passagem do craque por General Severiano fora bastante conturbada. Mesmo campeão carioca de 1935, a não aceitação de jogadores negros vestindo camisa do clube fez com que ele logo buscasse sair do time da “Estrela Solitária”.


Após ter esperado seis meses para que seu passe se encerrasse com o Botafogo, Leônidas fora defender o Flamengo. Nos dois primeiros anos apesar de muitos gols pelo rubro-negro, duas percas de títulos para o Fluminense. Mas a falta de glórias não parecia atingir Leônidas. Em um concurso promovido por uma empresa de cigarros, Leônidas fora eleito o jogador mais popular do Brasil com o dobro de votos dos dois jogadores que vieram após ele na disputa.

Novamente segundo Assaf, Leônidas ao final dos anos 1930 era um dos três homens mais conhecidos do país, ao lado do cantor Orlando Silva e de Getúlio Vargas! Tal popularidade reverteu-se em torcedores para o time que defendia, o Flamengo, sendo Leônidas o primeiro jogador a contribuir para a formação da maior torcida do Brasil. Se o Clube de Regatas Flamengo se orgulha de ser a maior torcida do país, com toda certeza Leônidas é um dos jogadores que mais contribuiu para isso!

Chegava o ano de 1938, as brigas entre os dirigentes e as diferentes ligas cariocas foram deixadas para trás, e enfim, a Seleção Brasileira poderia disputar uma Copa do Mundo com sua força máxima. Obviamente, Leônidas estava convocado para o mundial da França.

No primeiro jogo contra a Polônia, uma vitória memorável por 6 a 5, com direito a três gols de Leônidas! Um deles, segundo narração própria, com o pé descalço! Escondido (ou disfarçado) pela lama do gramado de Strasbourg. Nas quartas de final, marcou o gol de empate contra a Tchecoslováquia, que obrigou o Brasil a uma nova partida contra a seleção do leste europeu, já que naquela época não havia disputa de pênaltis em jogos eliminatórios.

Dois dias depois, no jogo desempate, marcou mais uma vez na vitória por 2 a 1 sobre os tchecos. O Brasil pela primeira vez em sua história chegava a uma semifinal de Copa do Mundo. Contra a temível atual campeã mundial Itália.

  Para esse jogo uma história até hoje pouco explicada. Leônidas fora sacado da partida contra os italianos. Alguns alegam que o próprio inventou uma contusão para evitar enfrentar o time de Vitório Pozzo, outros dizem que devido aos dois jogos contra a Tchecoslováquia em dois dias ele fora poupado para uma provável final já assoberbada pelo técnico brasileiro Ademar Pimenta. Seja qual foi o caso, Leônidas não jogou e o Brasil perdeu por 2 a 1. Restava a disputa de terceiro lugar contra a Suécia!


 Nesse jogo, Leônidas já “recuperado’ marcava mais dois gols na goleada por 4 a 2 contra os escandinavos. O Brasil chegava a terceira posição do mundial (melhor colocação do Brasil até então) e Leônidas com 7 tentos em quatro jogos se tornava o artilheiro do torneio! Do mundial da França também veio um dos apelidos que o seguiu durante a carreira. Leônidas era o “Homem de Borracha”! Devido a sua elasticidade, velocidade e jogadas plásticas. Dentre elas a Bicicleta!

Leônidas nesse mundial saia com o título de melhor jogador do torneio. Consequentemente melhor jogador do mundo daquele ano se pudéssemos trazer para os prêmios atuais. Sem pessoas como ele a desbravar os continentes, muito provavelmente não existiriam tantos outros brasileiros a conquistarem o mundo nas décadas seguintes!

A partir de tamanha popularidade, o jogador que já era apelidado de Diamante Negro, virou símbolo midiático nacional. Se hoje todos os grandes jogadores do futebol brasileiro usam de seu prestígio no marketing de produtos e em comerciais, devem a abertura dessas portas a Leônidas.

Usando de seu nome ou de seus apelidos, várias marcas de diferentes produtos foram lançadas no mercado. De cigarros a chocolates, ter seu produto associado a figura do artilheiro e craque maior da Copa do Mundo de 1938 era sucesso em vendas garantido. No final dos anos 1930, Leônidas virava o primeiro jogador “popstar” do Brasil!

Devido a sua alta popularidade, a mídia da época voltava-se para noticiar tudo que fosse relacionado a Leônidas. Também se tornara lucrativa a indústria de notícias “pejorativas” sobre o craque. E a cada fracasso do Flamengo, Leônidas era colocado pela mídia como principal responsável pela fase do clube. Tal perseguição só veio a diminuir quando voltando de uma apendicite conseguiu o tão sonhado título carioca pelo time em 1939 (Seu único título importante pelo Flamengo), tirando o clube de um jejum de campeonatos cariocas que vinha desde 1927.


Entretanto, após a tão esperada conquista, o joelho voltou a prejudica-lo, o obrigando a fazer cirurgias que lhe retiraram a forma física ideal, atraindo novamente as “fofocas” da mídia. Curiosamente ou não, uma fraude comprovada sobre seu alistamento militar, o ajudou a sair do foco por algum tempo. Ao falsificar seu certificado de reservista, recebeu uma pena de oito meses de detenção no Batalhão de Infantaria Regimento Sampaio no Rio de Janeiro, podendo assim se recuperar fisicamente para voltar ao futebol.

Após voltar ao clube rubro-negro, a relação com os dirigentes não era mais a mesma. Melancolicamente, Leônidas deixava o Flamengo com destino ao São Paulo Futebol Clube. Mesmo em baixa, foi vendido por uma quantia alta para os padrões da época: 200 Contos de Réis, a maior transação da América do Sul até aquele período! O “Diamante Negro” seguia rumo ao futebol paulista em 1942, aos 29 anos de vida. 

Em São Paulo, o “Homem de Borracha” recuperava seu prestígio já desgastado no Rio de Janeiro. Recebido por mais de dez mil paulistanos em sua chegada a cidade, também quebrou o recorde de público do estádio do Pacaembu até os dias atuais, com mais de setenta mil espectadores na sua estreia contra o Corinthians, em um jogo que terminou empatado em 3 a 3, onde Leônidas teve atuação discreta.

A má atuação de sua estreia atraiu as críticas dessa vez da imprensa paulista. Os sábios jornalistas diziam que o tricolor havia gasto uma fortuna de 200 Contos em um Bonde. Jogador velho na gíria da época. Mas logo os críticos de plantão iriam perceber que o Bonde de 200 Contos valia cada centavo investido.

No mês seguinte a sua estreia, o “Diamante Negro” enfrentou o Palestra Itália. Mesmo com a derrota São Paulina por 2 a 1, Leônidas foi o destaque da partida marcando um gol espetacular de bicicleta. Das cabines de rádio o famoso narrador José Geraldo de Almeida gritava: “O bonde, o bonde de 200 contos fez um gol de bicicleta!!!”. A torcida ia a loucura! Mas era só o começo!

Sobre o lance de bicicleta que o caracterizou em toda sua carreira, com toda humildade o mesmo dizia não ser o inventor. No máximo o popularizador do lance. Se de fato essa jogada também chamada de “Chilena” nos países do cone sul não foi de sua criação, quem o fez com mais capacidade, frequência e beleza plástica foi Leônidas da Silva.

Poderíamos hoje mudar o nome do lance para “Diamante Negro” ou “Leônidas”, ou dar o prêmio “Leônidas da Silva” para o mais belo gol de bicicleta do ano… São apenas conjecturas, mas creio que em um período em que o rádio ainda era o principal veículo de comunicação do planeta, ter a projeção que Leônidas conseguiu não é algo pueril no tempo.

Voltando ao São Paulo, o clube da capital só tinha 13 anos de vida e apenas um título paulista em 1931 (Estou me referindo o São Paulo Futebol Clube, e não aos seus predecessores!). Em comparação a seus rivais mais velhos, clubes fundados ainda nas primeiras décadas do Século XX, como o Corinthians e o Palestra Itália, o tricolor ainda era considerado um time pequeno. Até 1943, O Palestra (atual Palmeiras) já possuía nove títulos estaduais, enquanto o Corinthians já havia conquistado onze canecos! Em uma época em que o Campeonato Paulista era o principal torneio para esses clubes, o São Paulo ainda era um time sem estofo rivalizar com os dois grandes. Era, pois Leônidas da Silva, que já havia erguido o Flamengo, que viera para mudar as estatísticas!

Já com um ano de clube, “a moeda caiu em pé”, para todos que esperavam Palestra ou Corinthians como campeão de 1943, Leônidas garantiu o seu primeiro título paulista com a camisa tricolor. Em 1945 mais um título para o São Paulo com Leônidas marcando 16 gols. Em 1946, o bi invicto, terceiro titulo de Leônidas com a camisa do São Paulo. Em 1948 e 1949 mais um bicampeonato paulista! No total, cinco títulos paulistas em oito anos de clube. Sendo eleito o melhor jogador do campeonato nos cinco campeonatos vitoriosos! No total, foram 140 gols em 212 jogos pelo São Paulo!


Da mesma forma que o Flamengo deve parte de sua popularidade iniciada nos anos 1930 a Leônidas, o São Paulo deve grande parte de sua história ao “Homem de Borracha”. Hoje, duas das três maiores torcidas do país têm algo em comum, foram formadas pela popularidade de um homem que superou o tempo! Nem Pelé no Santos e Garrincha no Botafogo (os dois maiores jogadores de todos os tempos para mim!) conseguiram tal façanha!

Há quem possa alegar que a torcida do Flamengo é fruto da era Zico, e a do São Paulo da era Telê, mas para que essas gerações pudessem surgir, foi necessário que antes viesse Leônidas da Silva.

No caso do São Paulo, uma associação de futebol que sequer chegou ao centenário no dia que escrevo esse texto, a existência de Leônidas foi essencial para que o clube se equiparasse aos mais importantes e antigos do país. Isso sendo possível, graças aos títulos dados por Leônidas ao clube logo nos seus primórdios! O “Bonde de 200 Contos” pagou cada centavo investido e ainda deixou o clube em dívida com o mesmo por toda eternidade!

Em 1950, Leônidas tinha 36 anos. Já não era mais o rápido e elástico atacante que fez sucesso no Rio e em São Paulo, mas ainda era o principal nome do futebol brasileiro no mundo! Infelizmente, desavenças com o temperamental técnico da Seleção Flávio Costa, ainda nos tempos em que o “Diamante Negro” atuava no Rio de Janeiro tiraram suas chances de disputar o Mundial do Brasil. No lugar do Diamante Negro, Flávio Costa preferiu Otávio do Botafogo, e deu no que deu!

No mesmo ano, Leônidas se aposentou dos gramados e a partir daí seguiu para novas profissões. Tentou ser técnico, ator, mas a profissão que de fato ele mais se destacou fora exatamente aquela que antes tanto pegava no seu pé por atitudes fora do campo. A imprensa!

Como comentarista, Leônidas se mostrou um autodidata. Aos poucos foi corrigindo seus próprios erros de língua portuguesa e se adaptando a nova função com uma velocidade assustadora. Virou sucesso nas rádios paulistanas. Ganhou vários prêmios, entre eles sete troféus Roquette Pinto, principal prêmio dado aos profissionais de imprensa do estado de São Paulo.


Seu perfil como comentarista era muito duro e incisivo. Uma de suas maiores polêmicas era a implicância com Pelé, que muitos atribuem a ciúmes desse ter tomado seu trono de maior jogador brasileiro de todos os tempos. Infelizmente, veio a se aposentar em 1974, quando fora diagnosticado com Mal de Alzheimer, doença a qual poucas pessoas conheciam naquele período.

Ao lado da fiel esposa Albertina Pereira dos Santos, que não o abandonou sequer um dia durante os cinquenta anos que estiveram juntos, Leônidas aos poucos ia perdendo sua memória. Definhando numa triste doença ainda sem cura que atinge silenciosamente cerca de 1,2 milhões de idosos atualmente! Em uma das últimas reportagens com ele em vida no Esporte Espetacular da Rede Globo, dona Albertina relata que num raro rompante de recuperação de memória, o craque gritou para ela: “EU SOU LEÔNIDAS DA SILVA”!

A essa senhora que mais parece um anjo, todos os amantes do futebol e principalmente São Paulinos e flamenguistas devem toda gratidão. Pois ela cuidou até o fim de uma das maiores preciosidades que um clube de futebol possui. Maior até que seus títulos! Um ídolo atemporal! A dona Albertina, hoje com 89 anos, dedico essa singela homenagem como forma de agradecimento por tudo que ela fez a história desse país tão sem memória.


Leônidas nos deixou no dia 24 de janeiro de 2004 aos 90 anos devido a complicações decorrentes do Mal de Alzheimer (Após conviver com a doença por cerca de 30 anos!). O agradecimento ao documentário “Leônidas da Silva, o homem que venceu o tempo”, exibido pela TV Cultura em 2004 no programa semanal “Grandes Momentos do Esporte”, de onde vieram a maioria das fontes para a construção desse texto. E deixo um questionamento o qual não sei ou não posso responder… No futebol de hoje, quantos “Contos” valeria o “Bonde Leônidas”?