NÃO ADIANTA PERSEGUIR
por Idel Halfen
Há sete anos escrevi sobre a Red Bull e sua estratégia de posicionamento através do esporte.
Dessa vez, ainda que o “personagem principal” seja uma das equipes de futebol da Red Bull, o artigo abordará alguns temas que podem servir como referência, não necessariamente exemplo, para alguns clubes brasileiros sob a ótica de gestão.
Primeiramente deve ser registrado que a Red Bull é proprietária de cinco equipes de futebol: Red Bull Salzburg na Áustria, New York Red Bulls, Red Bull Ghana, Red Bull Brasil e o RB Leipzig, que será o assunto principal do presente texto, mas antes é importante atentar que essa distribuição nos remete, guardadas as devidas proporções, a uma estrutura corporativa de multinacional.
Um desenho que, quem sabe, possa vir a ser adotado por outros investidores para assim estenderem seus tentáculos em países/cidades que lhes sejam estratégicos. Outro grupo que atua dessa forma é o City Football Group que tem participação total ou parcial nas seguintes equipes: Manchester City, New York City, Melbourne City, Yokohama Marinos, Atletico Torque (Uruguai) e Girona (Espanha).
Voltando ao RB Leipzig, é bom que se diga que a sigla RB nesse caso se refere a RasenBallsport, cuja tradução seria “esporte com bola na grama”.
A não utilização do nome tem uma razão: a proibição por parte da Federação Alemã de Futebol de os clubes usarem o nome do patrocinador como identidade. A legislação local também não permite que uma empresa detenha mais do que 49% das ações de um clube, as exceções ocorrem no caso dos contratos estabelecidos antes de a lei entrar em vigor.
No entanto, mesmo seguindo as determinações legais, as acusações sobre o poderio econômico e as perseguições advindas daí perseguem a trajetória do clube.
Em sua curta existência o RB Leipzig já foi obrigado a alterar seu escudo, pois foi alegado que ele era muito parecido com a logo da Red Bull. Tiveram ainda que trocar parte dos gestores que eram funcionários da marca, além de reformularem o plano de associação.
Os protestos em seus jogos são frequentes e seus torcedores constantemente ameaçados nas partidas que realiza como visitante. A situação chegou a tal ponto que, de forma divertida, a torcida do Hoffenheim, clube com estreita relação com a SAP (empresa de TI) e por isso também perseguido pelos rivais, estendeu faixas com os dizeres: “Queremos nosso trono de volta: o clube mais odiado da Alemanha”. Infelizmente nem todas as manifestações são suportadas pelo humor, o Borussia Dortmund, contrariando uma tradição de expor os escudos dos times em echarpes que são vendidas nos jogos, se recusou a ter o seu junto ao do RB Leipzig nas partidas entre as duas equipes.
Isso sem falar na torcida do Dynamo Dresden que arremessou uma cabeça de touro no campo.
Tamanho ódio não foi suficiente para evitar que em sete anos o time galgasse da 5ª divisão para a disputa da Bundesliga.
Claro que a injeção financeira contribuiu bastante para esse desempenho, porém, dinheiro sem uma boa gestão não surte resultado. O futebol brasileiro nos fornece inúmeros exemplos desse axioma.
O RB Leipzig, por sua vez, tem um planejamento muito bem estabelecido, o qual contempla em sua política de contratação um teto salarial e uma faixa etária limite. Moradia e ensino também são oferecidos aos jovens que integram a equipe.
A referência que podemos tirar do que foi narrado acima é que uma boa gestão é capaz de superar qualquer tipo de perseguição – inclusive as da imprensa –, além disso, o paradigma de que o “ódio dos rivais” é um fator impeditivo para as marcas quererem se associar a um time, não é tão sólido como muitos tentam preconizar.
POR UM TSUNAMI DE IDEIAS
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Quem me conhece sabe que há anos ando desiludido com o futebol e com a política. CBF, FIFA, PSDB, PT, PMDB, enfim, nenhuma dessas siglas me representa. Todos se envolveram em um mar de corrupção e conseguiram afundar o Brasil e o futebol. Estamos mergulhados de cabeça na lama e não me iludo com promessas e discursos.
Mas, confesso, fiquei feliz porque no país todo o resultado das urnas comprovou a sede por mudanças. Não sou Lula ou Bolsonaro e nem sei se os eleitos cumprirão suas promessas, mas essa inquietação contra a mesmice é a que me move. Os grandes partidos perderam espaço e a nossa capacidade por indignação ganhou força. O futebol precisava dessa chacoalhada.
Um tsunami seria necessário para uma renovação nos dirigentes das confederações, federações e clubes, na mentalidade dos “professores”. A escola gaúcha não tem mais o que dizer, parou no tempo. Felipão está prestes a vencer um Brasileirão e sairá como herói. Mano venceu a Copa do Brasil. Zero inovação, a receita de sempre: um monte atrás torcendo por um golzinho salvador. Palmeiras e Flamengo montaram elencos milionários e a partida entre eles foi sofrível. Dinheiro não compra qualidade. Qualidade é nata e está na molecada que vocês estão colocando fora de posição para marcar e dar carrinho.
Felipão colocou um time em campo com quatro cães de guarda: Felipe Melo, Bruno Henrique, Moisés e Tiago Santos. Eu disse quatro!!!!!
E cadê o Lucas Lima? Tá no banco! Não morro de amores por ele, mas sabe jogar bola e não pode ficar na reserva para nenhum desses quatro. Dudu se salva, mas precisa deixar de ser chorão. Joga bola e pronto! Felipe Melo espanou Paquetá o quanto pôde e os comentaristas dizendo que ele jogou muita bola. Em que mundo vocês vivem???
E o Felipão no fim do jogo exaltando o fato positivo de se jogar em um Maracanã lotado…. com 50 mil torcedores. Ô Felipão, 50 mil dava Olaria x Madureira dos bons tempos! O problema é que essa turma se contenta com pouco.
Vem tsunami, varre esses exterminadores do bom futebol para bem longe daqui!!! Querem um exemplo bobo. O centroavante Pablo, do Atlético Paranaense. Quantas vezes vocês já ouviram o nome dele em alguma sondagem dos últimos “professores” da seleção? Nenhuma! Será necessário ele mudar de empresário ou ir para a Europa? Essas convocações são abomináveis, é um toma lá dá cá escandaloso.
Precisamos de novos ventos, de novas ideias. O futebol precisa ser discutido, reavaliado. Na política, não vimos apresentação de propostas entre os presidentes nem entre os candidatos ao governo do Rio. Só acusações, dossiês, fake news. Triste. Mas a verdade é que nosso futebol é fake, nossos dirigentes são fakes. No meio dessa bagunça generalizada, o torcedor clamando por renovação.
Só sei que no dia da eleição, nosso querido Mané Garrincha faria 85 anos. Meu voto vai para ele porque não só no futebol, mas como na política, precisamos de sua criatividade, seu raciocínio rápido, sua sagacidade, mas, acima de tudo, precisamos de sua pureza.
1986 E UM DOMINGO DE GOLEADA AO SOM DE PRINCE E BONNIE TYLER
por Marcelo Mendez
O ano de 1986 começava, movido a All Star vermelho, calça jeans rasgada no joelho, cabelo cumprido e a Cris, a doce Cris na minha vida.
Nosso imberbe namoro de já alguns meses ia bem. As descobertas todas juntos, a companhia, nossas voltas pela cidade de Santo André. No que pese algumas diferenças a gente se dava bem.
– Celo, vamos ao cinema?
– Vamo. Tá passando Daumbailó no Vitrine!
– Nem a pau. Quero ir no Studio Center em Santo André mesmo, te dar uns beijos namorar e ver qualquer coisa. Mas que merda, Marcelo… As coisas num precisam ser um evento intelectual toda hora. Eu quero ficar com meu namorado, o filme que se dane, entendeu?
– Entendi. Tá bom. Mas domingo cê sabe, tem Palmeiras x Corinthians, num rola…
– É, o amor da sua vida é o Palmeiras. Eu sou a amante…
A gente riu, ela me deu um beijo e como sempre naqueles tempos, fui ao Morumbi ver o Derby. Uma alegria vivida naquele intenso 1986…
Outros sons, outras batidas outras pulsações
Contrariando as previsões de minha mãe, o opala vermelho do Tio Bida seguia com ele. Era nosso carro de ir pro jogo.
Depois do almoço, passou em casa, pegou eu e meu Pai e fomos pro Morumbi. Aos 16 anos, eu jaá tava fincado no Rock até a medula. Mas naquele domingo o som do toca fita foi outro:
– Marcelo, se liga nesse som aqui..
Um balanção da hora! Meio funk, meio soul. Gostei.
– Que é isso, Tio?”
– Prince. A música chama Raspberry Beret”
– Irado!
Foi com esse hit na cabeça que vi o Palmeiras dar um baile no Corinthians no primeiro tempo. Acabou 2×0 com caixa pra mais. E teve mais!
No segundo tempo, com um show de Edu, Edmar, Mendonça e Mirandinha, metemos um 5×0 no Corinthians e nem demos bola para o gol de Casagrande. O que valia era os 5, metemos 5 neles!
Na volta pra casa, ainda não tinha dado sequer 20 horas. Dava tempo de ir até a Cris e pedi pra meu tio deixar me deixar la.
Da calçada gritei o nome dela. Ela saiu, me abraçou e me pediu pra ir no baile da primavera no salão paroquial da igreja do bairro.
Bom, eu já tinha furado com o cinema e apesar de ser em 1986, um moleque cabeludo que ouvia Slayer, Kreator e Venom, larguei tudo pra lá. Naquele domingo ouvi Prince. Naquele domingo o Palmeiras havia metido cinco. Naquele dia num quis outra coisa que num fosse ficar com a Cris.
E no baile, de rosto colado com ela aí som de Eclipse of the Heart, a vida pareceu algo bem legal…
LEICESTER CITY, ÉPICO
por Marcelo Soares
Na temporada de 2015/16 do Campeonato Inglês o que parecia impossível se realizou. O time da cidade de Leicester se sagrou campeão da primeira divisão do futebol inglês. Mas essa história começou em 2010 quando o tailandês Vichai Srivaddhanaprabha comprou o time.
Os torcedores mal sabiam que ali começaria uma história épica. Ele ajudou uma cidade com pouco mais de 400 mil habitantes a melhorar os hospitais e com ações de caridade. Também fez os torcedores acreditarem no impossível.
Coincidência ou não, após o enterro do Rei Ricardo III na catedral da cidade, que também teve ajuda do Tailandês, o time decolou.
King, camisa 10 do time, ajudou o Leicester na vitória após o enterro do rei e assim permaneceram na primeira divisão. Na temporada seguinte, no estádio King Power, o time do Leicester deu muitas alegrias aos seus torcedores. Até mesmo quem estava longe do time do coração teve a vida prolongada devido ao sucesso e a felicidade que o time trazia.
Tony Skeffington, em estado terminal, acompanhava de longe, na Austrália, a campanha inacreditável que seu time fazia. Faleceu um pouco antes do time levantar o troféu de campeão da Premier League. Mas viveu muito mais do que os médicos previam vendo as vitórias da sua equipe.
Gary Lineker, ídolo do futebol inglês, confessou que o que mais desejou no futebol foi ver seu time campeão da primeira divisão. Leicester City x Norwich City, 44 do segundo tempo. Um gol, a vitória da equipe e um tremor registrado na cidade após a bola estufar as redes.
Talvez todos esses fatores façam esse título ficar marcado pra sempre no futebol como um dos maiores feitos.
O futebol continua ainda fazendo milagres e sendo um dos motivos de maior felicidade para os apaixonados por ele. Nada disso seria possível para o Leicester sem a presença de Vichai.
No último sábado, 27 de outubro, o tailandês dono o clube foi vítima de um acidente de helicóptero no estacionamento do estádio do clube.
Homenagens não faltaram para o tailandês. Jogadores e toda cidade mostraram um enorme carinho não só pelo profissional, mas também pela pessoa de Vichai.
A cidade de Leicester e o mundo do futebol sempre serão gratos por esse feito que conseguiu por um clube que sempre viveu longe dos holofotes, e por uma temporada teve todos os olhares do mundo voltados para ele.
DOSES E DELÍRIOS DE UM PAI
por Zé Roberto Padilha
Embarcava para o Sul-Americano de Futebol Sub-20, disputado no Paraguai, em 1971, e meu pai, perante sua roda de whisky, copos de gelo e amigos, pediu para trazer de lá uma garrafa de Royal Salute. Uma espécie rara tantos anos acima e bem acima do que pagavam pelo seu irmão menos envelhecido que consumiam, o Royal Label. Mesmo não alcançando o título, voltamos com a vaga garantida para as Olimpíadas de Munich, no ano seguinte, e aquele belo exemplar nas mãos. Era mais que uma garrafa, uma obra de arte esculpida em marrom protegida por uma sacola de veludo da mesma cor. Ficava a imaginar, para quem aprecia o produto, o sabor daquela bebida.
Na chegada, foi uma festa. Empolgado, meu pai fez a promessa que não conseguiria cumprir, por mais que me esforçasse: só abriria a garrafa quando fizesse um gol. Até aí era possível, mas ele queria um que desse um título ao Fluminense. Era mole para o Wilton, Flávio, o Mickey, Samarone e Lula, mas para mim….fazia tão poucos gols, como ponta esquerda, que certa tarde de domingo meu irmão gravava um Fluminense x Corinthians, no Maracanã. Aos 20 minutos, Januário de Oliveira narrou e ele, Mauro, gritou lá do quintal da nossa casa:
– Gol do Robertinho!
Fez-se uma pausa. E um silêncio. Ele insistiu a gritar:
– Foi gol dele, do Robertinho!
No lugar do júbilo, da confraternização, uma dúvida cruel percorreu salas , cozinhas e quartos.’ Minha irmã chegou na janela e gritou:
– Tem certeza?
Minha mãe, ao contrário da mãe do Zico, que vivia a responder “será que este menino não sabe fazer outra coisa?”, duvidou do meu feito. Quando finalmente foram convencidos, e se aproximaram do rádio, Rivelino empatou e o Vaguinho virou o jogo para o Corinthians.
O tempo passou e vinte anos depois, carreira profissional encerrada e defendendo um clube amador da minha cidade, o Esporte Clube Areal, fiz o gol do título contra o Santanense FC, pelo campeonato amador da Liga Desportiva de Três Rios de 1991. Com todo o respeito, um golaço de fora da área. Meu pai, sozinho na sala escutando a Rádio Três Rios, porque todos os seus amigos do malte escocês haviam partido, abriu a garrafa e fez um brinde em homenagem a cada um. Gostaria muito que estivessem ao seu lado, mas o sabor cada vez mais puro e envelhecido daquele genuíno escocês parecia lhe cobrar a ousada profecia. Porque não uma assistência? Um cruzamento da linha de fundo?
Pais são para isso. Ter fé e acreditar nos seus meninos até contra as evidências. Mesmo sendo um meia ponta esquerda armandinho, desde os infantis, um grito de gol lá em casa sendo mais raro que a passagem do cometa Halley, ele confiou em mim. Uma pena ter demorado tanto tempo para lhe conceder esta merecida alegria.