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TUPI, O FANTASMA DO MINEIRÃO

por Victor Kingma


Após a inauguração do Mineirão, em 1965, o futebol de Minas estava no auge. O Cruzeiro, então, tinha montado um dos maiores times da história do futebol brasileiro, rivalizando na época com o famoso Santos, de Pelé, com o qual travava partidas memoráveis.

Eu morava em Juiz de Fora naquela época, cidade onde passei toda a minha juventude. Os torcedores locais, que historicamente sempre foram muito ligados no futebol do Rio de Janeiro, passaram a acompanhar mais os jogos e os noticiários esportivos que vinham de Belo Horizonte. Todos queriam acompanhar as partidas do esquadrão celeste, a nova sensação do futebol brasileiro.

Em 1966, o Tupi, que rivalizava com o Tupinambás e o Sport, os outros grandes clubes locais, tinha renovado boa parte do time, após a conquista do torneio regional do ano anterior, numa decisão contra o Olympic, de Barbacena.

Para apresentar a nova equipe, em 6 de março daquele ano, o Galo Carijó programou um amistoso exatamente contra o imbatível Cruzeiro, o time da moda da época. A cidade parou para ver a partida e nas esquinas e bares  o que mais se comentava era o que o alvinegro local podia fazer para, pelo menos, não fazer feio diante dos cruzeirenses.


Mas, com o Estádio Sales de Oliveira totalmente lotado, o inesperado aconteceu.  O Tupi venceu o timaço de Natal, Piaza, Dirceu Lopes e Tostão por 3 x 2. 

Nos dias seguintes ao jogo, a imprensa mineira não falava em outra coisa a não ser a façanha do time de Juiz de Fora. O Atlético, então, devido à repercussão do feito, o convidou para fazer um amistoso no recém inaugurado estádio, dez dias depois. Certamente passava pela cabeça dos atleticanos uma vitória por goleada e, assim, ainda tirar sarro em cima dos cruzeirenses.

Mas o Tupi aprontou novamente: 2 x 1 contra o Atlético, de Paulo Amaral, em pleno Mineirão, com dois gols do ponta direita João Pires. A vitória contra o Cruzeiro não fora obra do acaso.

Restava então ao América, de Yustrich, vingar os times da capital. O jogo foi marcado e o Galo Juiz-forano não respeitou também o Coelho Mineiro: nova vitória por 2 x 1, em 10 de abril. Novamente o ponteiro João Pires e Vicente fizeram os gols.

Apesar de todos esses feitos, os cruzeirenses argumentavam que a derrota que sofreram foi em Juiz de Fora e que a forte ventania do dia do jogo tinha influenciado no resultado. E a revanche aconteceu um torneio quadrangular em que participaram também o Botafogo e o América Mineiro. Estava na hora de acabar com a brincadeira.

Mas o Tupi venceu de novo: 2 x 1, dessa vez no Mineirão, no dia 17 de abril. A equipe de Dirceu Lopes, Tostão e Cia, comandada pelo técnico Airton Moreira, irmão dos consagrados Zezé e Aimoré Moreira, também não conseguiu fazer mais que um gol na sólida defesa e nem segurar o arisco ataque carijó. O ponteiro João Pires, mais uma vez, e Mauro fizeram os gols.


E devido a esses feitos memoráveis que assombrou o futebol mineiro naquele ano, o Tupi, o Galo Carijó de Juiz de Fora, foi apelidado pela imprensa futebolística na época como o Fantasma do Mineirão.

A histórica equipe era dirigida pelo treinador e grande estrategista Geraldo Magela Tavares e tinha como time base: Waldir, Manoel, Murilo, Dário  e Walter, França e Mauro, João Pires, Toledo, Vicente e Eurico.

A repercussão do feito foi tanta que o Tupi foi convidado para fazer um jogo treino contra a seleção brasileira, que se preparava, em Caxambu, para o mundial da Inglaterra. E nem o escrete nacional que contava com Gerson, Garrincha e Pelé conseguiu vencê-lo. A partida terminou 1 x 1.O ponta João Pires, que infernizou a vida dos laterais Altair e Paulo Henrique, anotou mais uma vez o gol do time de Juiz de Fora. Seu companheiro de ataque, Toledo, teve uma atuação tão destacada que até Pelé fez questão de conhecê-lo no final do jogo.

Victor Kingma – www.historiasdofutebol.com.br

LUISINHO LEMOS, O DOS GOLS ENDIABRADOS DO AMÉRICA

por André Felipe de Lima


De Andrada a Renato, goleiros que se notabilizaram no futebol carioca na primeira metade dos anos de 1970, a opinião era unânime quando perguntavam a todos qual o centroavante mais perigoso do momento: “Luisinho Lemos. Ele é um demônio. Corre, zanza, fustiga, chuta e cabeceia”. Que time não o queria no comando do ataque? O América foi o mais sortudo. Lusinho é, sem dúvida, o melhor centroavante da história do querido Alvirrubro, que voltou à primeira divisão carioca tendo como treinador o próprio ídolo.

Irmão de César “Maluco” Lemos e de Caio Cambalhota, Luisinho foi campeão da Taça Guanabara, em 1974; da Taça Rio, em 1982, e do Torneio Campeão dos Campeões, também em 82, defendendo com extrema devoção e amor as cores do seu querido América. Foi um jogador que não fugia do pau. Se o América tinha alma, ela se chamava Lusinho. Sem ele em campo, os gols escasseavam. Os números não mentem. Foram pouco mais de 300 gols que o consagraram como o maior artilheiro da história do clube da rua Campos Sales, na doce e incomparável Tijuca.


Quem deve ter lamentado muito foi o Fluminense, que o dispensou ainda juvenil. Telê e Pinheiro o treinaram. Luisinho “jogava” como ponta-direita. O “jogava” é entre aspas mesmo. Na verdade, jamais entrou em campo pelo tricolor. Apenas treinava. Foram dois anos (1968 e 69) infrutíferos. Por pouco não deixou para trás a ideia de ser jogador de futebol. Acabara de ingressar do serviço militar. Porém, jogando pelo time do Exército, a sorte parecia acenar para ele. Alguém do Vasco o viu batendo uma bolinha e queria levá-lo para São Januário. Lusinho topou, mas sob uma condição: manter-se amador. Talvez por receio de sofrer a mesma decepção que teve nas Laranjeiras, o jogador atuava apenas pelo time de aspirantes do Vasco, e com ele foi terceiro colocado da categoria em 1970.

Vendo que a situação do irmão não era fácil no Vasco, César o levou para o Palmeiras. No clube paulista, Lusinho tornou-se profissional, mas permanecia sem espaço. Como barrar o irmão, centroavante como ele e ídolo da torcida? Perambulou de forma fugaz pela Ferroviária. Voltou ao Parque Antarctica e, após uma transação com os cartolas palmeirenses, o César ficou com o passe do irmão, emprestando-o, em seguida, ao América.


Enfim, Lusinho teve o futebol reconhecido. Brilhou intensamente. Era tão ídolo quanto Edu, o irmão do Zico. O Flamengo o queria a todo custo, e conseguiu o passe do cabeludo e barbudão goleador. Pagou um cifra milionária. “Era dinheiro pra burro”, reconheceu Luisinho, que chegou à Gávea para formar dupla com o próprio Zico. Deu certo. Marcou 82 gols em 183 jogos. Média excelente. Mas não se sentia à vontade na Gávea. Certa vez, disse o seguinte ao repórter Lédio Carmona: “Os gols no América são muito valorizados. Aqui, nós marcamos um gol e somos considerados heróis. No Flamengo, por exemplo, o artilheiro faz três gols em um jogo e assim mesmo é fuzilado”.

Com a chegada de Cláudio Adão à Gávea, Luisinho foi perdendo espaço. Difícil para ele reconhecer que no Flamengo foi pouco valorizado apesar dos muitos gols que marcara. Afinal, desde garoto torcia pelo rubro-negro. Deu de ombros, superou a desilusão e seguiu seu rumo de volta ao América para levantar mais taças e marcar muito mais gols. Lá o valorizavam. Lá era ídolo incontestável. Lusinho já não era mais torcedor do Flamengo. Batia no peito o coração vermelho… vermelho do seu amado Mecão.

Luís Alberto da Silva Lemos, nasceu no dia 3 de outubro de 1951, em Niterói. Ah, o apelido “Tombo” nasceu como contraponto ao “Cambalhota”, do irmão Caio, e o América assim construiu o seu gigante artilheiro. A inesquecível legenda Luisinho Lemos.

TÉCNICA, SANGUE FRIO E TÍTULOS: A CARREIRA DE DANILO

por Mateus Ribeiro

Danilo é um jogador em extinção. E eu nem falo daquele papo repetitivo do jogador pensativo, do cérebro do time, e todo aquele banquete de argumentos prontos usados para defender jogador em baixa.


De fato, Danilo é diferenciado, e nem de longe representa a correria desenfreada que se tornou o futebol nos últimos anos. Realmente, Danilo é muito técnico, pensativo e muito inteligente. E foi essa inteligência que fez o pacato e ilustre filho de São Gotardo (MG) passar incólume por todas as mudanças que o futebol passou ultimamente.

A carreira de Danilo passou por muitos períodos e por diferentes gerações. Começou no Goiás, no final dos anos 90, e conquistou além de um Campeonato da Série B, quatro estaduais. O clube esmeraldino costumava revelar e preparar jogadores que posteriormente brilhariam em outros centros do futebol. Danilo foi um desses, e seu futebol despertou o interesse do São Paulo, que não pensou muito e levou o meia para o Morumbi.

No São Paulo, foi peça fundamental de um dos períodos mais vencedores da história do clube. Participou de forma ativa do Campeonato Paulista de 2005, e da conquista do Tri da Libertadores e do Mundial pelo Tricolor. Qual torcedor são paulino se esquece dos  gols contra o River Plate na semifinal da Libertadores? Ou de sua mania de sempre aparecer em clássicos, principalmente contra o Corinthians?


Em sua passagem pelo Tricolor Paulista, conquistou um Campeonato Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores e um Mundial. Se terminasse sua carreira no final de 2006, sairia de cena como um dos jogadores mais vencedores de sua geração. Mas ainda faltava muita coisa.

Danilo então foi para o Japão, jogar pelo Kashima Antlers. Ali, foram três títulos do Campeonato Japonês, um da Copa do Imperador, e um da SuperCopa do Japão.  Em todo lugar que passou, Danilo conquistou títulos relevantes, fez gols, e saiu de cabeça erguida.


Já era 2009, e Danilo não era mais um jovem. E de repente, chega a notícia de que ele chegaria para defender meu time do coração. No início, senti que não havia mais muita lenha para ser queimada. Além disso, toda a conversa de Centenário do clube, somada a um grandioso número de contratações contestáveis fazia o cheiro de zica ficar cada vez mais forte. E assim foi em 2010, um ano que não foi exatamente bonito para o Corinthians, tampouco para Danilo.

Porém, de 2011 em diante, as coisas foram bem diferentes. Danilo deixou para trás a desconfiança de muitos torcedores, que torciam o nariz para sua presença ali, muito pela passagem vitoriosa que teve pelo São Paulo.

Aqui, aliás, vale abrir um parênteses e ressaltar que o meia participou grandiosamente do tabu que o Tricolor impôs ao Corinthians, sempre deixando sua marca ou tendo uma participação importante nos clássicos entre os clubes. E isso nunca foi suficiente para eu ter ódio de Danilo. Os motivos? Danilo nunca foi de falar muito, e quando fala, não é pra depreciar rival. Exceto uma foto de quando venceu o Mundial de 2005 (foto em que ele segura uma placa com os dizeres “isso é título de verdade”, claramente zombando com o título conquistado pelo Corinthians em 2000), não se tem notícia de Danilo esculachando qualquer torcedor ou jogador rival. Até mesmo essa foto possivelmente foi tirada em um momento de euforia, e a mensagem passada não é nada de muito ofensivo também. E vamos lá, depois de conquistar um título mundial, acho que fica difícil conter as emoções.


Voltando ao que interessa, Danilo conquistou não só a confiança da torcida, mas três Brasileiros, três paulistas, uma Libertadores, um Mundial e uma Recopa. Sempre com muita frieza, foi fundamental na grande maioria de todos esses títulos.

Não faltaram gols em cima de rivais, belas jogadas, espírito de liderança e dedicação. Danilo se tornou referência e um dos meus principais ídolos pessoais. Seja pelos dribles lentos, porém letais, pelos gols importantes, pela sua calma em momentos decisivos, Danilo conseguiu conquistar um lugar especial no hall dos imortais que passaram pelo Corinthians. E deve constar entre os grandes nomes dos outros três clubes onde passou.

Hoje, com 39 anos, deve estar nos momentos finais de sua carreira, recheada de títulos,  construída em cima de muita competência e frieza.

Danilo é canhoto. Mas sempre foi democrático: faz gol de esquerda, de direita, de cabeça, de perto, de longe. Faz gol em fase de grupos, em fase final, no começo do jogo, em momentos decisivos, em disputa de pênalti. Pouco importa a situação, o importante é aparecer, mas sem fazer a mínima questão de aparecer. Entende?

Danilo quase teve sua carreira abreviada. Danilo não fez drama. Danilo se recuperou, superou todas as adversidades, e mesmo após mais de um ano parado, voltou a jogar como se nada tivesse acontecido, com a mesma tranquilidade de sempre.

Danilo nunca atuou pela Seleção. No final das contas, pouco importa.

Talvez seu estilo não sirva para uma equipe onde a imagem é mais importante do que a bola.


Talvez seu estilo sertanejo do interior não combine com o perfil de rockstar chiliquento que a CBF tanto goste.

Talvez sua aparência simples não se enquadre no cast selecionado a dedo para aparecer em coletivas de imprensa e propagandas de patrocinadores.

Danilo nunca precisou da Seleção. Talvez, a Seleção precisasse de um Danilo. Agora, é tarde.

Mas, para cultuar o grande e silencioso Danilo, sempre é tempo.

Obrigado, Danilo, pela sua contribuição com o futebol, e por fazer tanto pelo meu clube de coração.

GANDHI, A BOLA COMO PRINCÍPIO E A PAZ COMO FIM

por André Felipe de Lima


Gandhi faria anos hoje, dia 2. Nasceu em 1869. Quando nos lembramos de paz seu nome é sempre associado. Foi uma das personagens mais espetaculares da humanidade. Morreu vítima da violência que sempre combateu com amor e concórdia. Suas nobres palavras paralisavam tropas, desmontavam armas, e agindo assim ele conseguiu unir a Índia, tornando-a livre, independente sem que ele e seus seguidores usassem da violência para atingir a meta libertadora.

O grande arauto da paz gostava de futebol, e percebeu no esporte um caminho especial para fortalecer seu propósito. Quando estudara na Inglaterra, no final do século XIX, teve o primeiro contato com uma bola de futebol. Já jogara críquete na Índia. Esporte dos ricos. Isso o incomodava. Mas o futebol era diferente, era tendencialmente mais próximo do povo. Apaixonou-se pelo novo esporte. Esteve na África do Sul e lá ajudou a fundar os Passive Resisters Football Club (Resistentes Passivos Futebol Clube), um grupo de três times que trazia como emblema intocável o Satyagraha (a verdade firme).

Aquela viagem de Durban a Pretoria, nos trilhos do solo sul-africano, inspiraria o jovem advogado Mohandas Gandhi. Era 1893. Viajava em um vagão da primeira classe, mas teve de descer. “Este vagão é exclusivo para brancos”. Gandhi indignara-se com o que acabara de ouvir do guarda. Mas não esboçou reação, prosseguiu a viagem em um comboio de terceira classe, no qual havia hindus, como ele, e negros. Mas o pior estava por vir. Mesmo mostrando-se firme e inabalável, foi jogado para fora do trem. Não esboçara reação alguma. Nem com palavras tampouco violência. A noite lhe reservara ao frio da estação de Pitermaritzburg. Dormira ali, no chão, pensando em tudo que acabara de acontecer, porém com uma chama transformadora latente em sua alma. Começaria a mudar o mundo que o cercava naquele instante. O futebol pode ter sido um passo inicial para isso. Como gostava muito do esporte bretão, pressentia que este poderia ser útil no combate à intolerância e ao racismo que avançavam sobre a África do Sul.


O nome Passive Resisters Football Club brotou da obra de Leon Tolstói, de quem era ardoroso fã e amigo. A correspondência de Gandhi e Tolstói foi intensa e por anos. A grande alma hindu, filho de uma humilde família Vaishya; um advogado; encontrara seu paralelo russo, filho de um nobre rico, que renegara a vida aristocrática herdada para, em troca, dedicar-se à humanidade e ao humanismo.

Imbuído de todo amor e vigor, Gandhi não teve mais dúvidas de que o futebol poderia reverter (ou pelo menos ajudar a mudar) o racismo que impregnara a África do Sul. Durban, Johanesburgo e Pretoria presenciaram as primeiras pelejas do times do Resistentes Passivos. Não há registro se Gandhi entrara em campo em um daqueles jogos. Muito provavelmente sim. Mas demonstrava denodo como gestor do grupo futebolístico. A democracia que envolvia o futebol o seduziu. Brotava ali a semente da frondosa árvore cujas flores e folhas se espalhariam inicialmente pela Índia e depois pelo mundo inteiro. O futebol que Gandhi conheceu e ajudou a implantar na África do Sul tem sua parcela nisso tudo.

A FILA AUMENTA EM 1982

por Marcelo Mendez

Todo mundo parecia muito feliz naquele primeiro semestre de 1982.

O Brasil vivia um clima de abertura com o afrouxamento da ditadura militar, o sol era forte naquele verão, a Blitz estourava nas rádios com o hit “Você Não Soube me Amar”, Chacrinha balançava a sua pança muito contente nas tardes de sábado na televisão e a Seleção Brasileira de Futebol era só espetáculo.

Tudo ia bem pra todo mundo. Menos pra mim…

Se tratando de futebol, algo que era absurdamente importante pra mim naquele ano em que eu completaria meus 12 anos de vida, as coisas iam clamorosamente más.

Meu time de coração, meu Palmeiras, Alviverde que cantava ser imponente, já não me parecia tão imponente assim naquele ano. O time havia feito uma campanha péssima no Campeonato Brasileiro do primeiro semestre e quando fui me queixar a meu Pai e a meu tio João, eméritos Palmeirenses, imediatamente trataram de me consolar:

– Calma, Filho. É que todo mundo só pensa em Copa do Mundo agora. Depois dela, tudo vai melhorar! – diziam-me.

Bom, não sei se eu acreditei totalmente nisso há época, mas decidi esperar.

Todavia em Julho daquele ano, a Itália de Paolo Rossi varreu com nossos sonhos na Espanha. O sonho por lá, acabou. As atenções então se voltaram para os campeonatos regionais. A minha também…

Você não soube me amar…

As coisas iam de mal a pior.


O Campeonato Paulista havia começado e o Palmeiras que estreou empatando com o Marília, conseguiu a proeza de perder em casa para o Taubaté, depois perder para a Inter de Limeira, empatar de 0x0 com o Santo André…

– Ta errado isso aí, Pai!

Era um ritual. Toda a vez que o Palmeiras me aprontava eu ia me queixar com meu Pai, depois pedia liberação para minha mãe para ligar para meu tio. Oras, eles haviam me dito que isso ia mudar, num se diz uma coisa dessas para um menino de 12 anos. Fui lá e cobrei. Talvez por conta disso, eles decidiram então me presentear:

– Vamos no Morumbi, Filho. Eu, você e seu Tio João. E vamos ganhar do Corinthians!

Na hora do anúncio, fiquei tão feliz, que nem me atentei para o que o Pai havia dito; “Ganhar do Corinthians”. Uns dias depois eu lembraria…

Silêncio no opala!

Nas numeradas inferiores do Morumbi, vi de pertinho o time deles.

Tinha Sócrates, craque de bola, Zenon, Casagrande, Biro Biro, Ataliba, Paulinho, Vladimir. O nosso, havia repatriado Luis Pereira, o Grande Luizão. Mas isso não seria suficiente. O Corinthians abriu o placar com Biro-Biro e o Palmeiras empatou com Jorginho. E isso pareceu piorar as coisas.

O time deles, que estava levando o jogo preguiçosamente, pareceu ter acordado na hora de nosso gol de empate. Imediatamente, trataram de virar o jogo com um pênalti idiota cometido pelo volante Rocha. Depois disso, só desastre.


Com o Goleiro Gilmar expulso, o Palmeiras com um jogador a menos; vimos Casagrande deitar e rolar em cima de nossa zaga. O 9 deles marcou o terceiro, o quarto e o quinto gol. Um 5×1 humilhante.

Na numerada onde estávamos, a torcida corintiana do nosso lado, gritava olé, tirava onda e nós, estarrecidos, assistíamos aquela surra de bola. Com meus 12 anos, minha camisa verde número 10, meu cachorro quente atravessado, sentia um misto de tristeza profunda, com raiva. Era um absurdo, o que tinha acontecido.

No carro, enquanto voltávamos, a dupla formada por meu pai e meu Tio João, percebendo que eu não estava muito bem, tentou me consolar novamente:

– Marcelo, calma. O Campeonato ta só começando…

– Escuta aqui, vocês dois; Não me falem mais nada!

Resolutos, não me disseram. O silêncio se fez no carro.