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VITÓRIA TRANQUILA DO PALMEIRAS E O ABSURDO QUE NÃO HOUVE

por Marcelo Mendez

Eis que tivemos mais uma partida de Libertadores da América.


Todavia, de tudo que se esperava dela, pouco aconteceu. Vejamos:

Depois do que rolou na noite anterior na Bombonera, quando o Cruzeiro foi garfado pelo VAR, ao longo do dia o que mais se falou foi a mordaz eminência de um complô sul-americano de todas as outras Nações contra nós, Brasileiros, bronzeados e belos.

Muito se falou.

Que havia um esquema na Conmebol, que a culpa de tudo era do Coronel traíra, que enganou todo mundo na eleição da FIFA, enfim; Que o Palmeiras estava lascado!

Mas não foi o que houve.

O árbitro do jogo teve uma atuação irretocável. Nada daquele velha e bucólica Libertadores, donde havia Ladrões homéricos no apito, figuras rotundas como Ramón Barreto, emérito safado, não… O árbitro foi obviamente correto. 

Também não teve pressão, guerra, nem nada disso, imaginem.

Só faltou vinho e empanadas para receber o Palmeiras em Santiago. Ao pé da Cordilheira, o que mais imperou foi a cordialidade. E sem nada disso para se ocupar, resta, portanto, falar do jogo.

Ufa! O jogo…


O Palmeiras teve um começo dos sonhos. Foi para o ataque, pressionou e conseguiu seu gol antes dos três minutos de jogo. Foi arrebatador, contumaz e tinha tudo para resolver sua classificação nos primeiros 45 minutos. Mas falando em obviedades, o time voltou para o segundo tempo, cumprindo bem essa premissa ululante.

Como manda a regra desse atual futebol, o Palmeiras recuou para ficar acuado, sem muita criatividade, trocando poucos passes, bola batendo e voltando a todo tempo, escolhendo o sufoco, ante à tranqulidade. Mas o adversário não ajudou.

O Colo Colo, lento, envelhecido, vivendo de brilharecos de Valdivia, até tentou criar algo. Mas a sua limitação técnica o condenou e Willian, num contra ataque, arrancou, acertou a trave e no rebote, Dudu empurrou para o fundo das redes.


Foi o 2×0 que definiu a partida. O Palmeiras encaminhou a sua classificação para as semifinais da sonhada Libertadores sem maiores sustos. Aliás, sustos mesmos, só aqueles que o Palmeiras quis tomar, coisa que seria melhor evitar.

A pressão arterial do torcedor Palmeirense agradece.

O VAR ABAIXO DA CINTURA CRUZEIRENSE; GOLPE BAIXO

por Marcelo Mendez


“A história passada está de pernas para cima porque a realidade anda de cabeça para baixo.” – Eduardo Galeano

Foram Grandes os homens que através de suas poesias, de suas fúrias, de seus corações aos pulos, tentaram explicar a América Latina.

Nossa história, do lado de cá do hemisfério, é feita de tantas idiossincrasias quanto pressupõe o verso, ou a blue note de um jazz improvável. A razão balança ao som de sambas, candombes, tangos, cumbias e outros sons, batidas e pulsações.

Temos por aqui nosso jeito de entender tudo isso. Nossa paradoxal aventura de sentir as coisas da vida. Creio que isso tem a ver com nossa insistência com a Copa Libertadores da América. A Copa sul americana de futebol vai para muito além de futebol.

Com o inicio em 1960, a Libertadores viveu seu apogeu no continente justamente no auge das Ditaduras do Continente nos anos 70. O extremo nacionalismo desses regimes totalitários fez da Copa uma espécie de guerra por afirmação, por uma pretensa soberania continental e nela passou a se pressupor que tudo podia.


Podia criar um inferno para os times visitantes, como o Santos fez com o Peñarol em 1962, como o Independiente fez com esse mesmo Santos em 1964, como o Estudiantes fez com o Palmeiras em 1968, como a Conmebol fez com o Colo Colo nas três partidas contra o Independiente, no maior roubo da história da competição.

E todos esses crimes do apito se perpetuaram por décadas até que chegou o advento do jogo ao vivo, televisão mostrando tudo e as coisas mudaram de vez. Todavia, eis que para espanto geral, em pleno 2018, fatos passados da antiga Libertadores voltam a assombrar os times Brasileiros.

Nada explica o que foi feito contra o Cruzeiro ontem na Bombonera.

O lance era claro: Dedé dividiu a bola normalmente com o goleiro Andrada e o choque forte do lance foi algo normal que acontece em um jogo de futebol. Então, munido pela síndrome de pequenos poderes, ou da sanha de justificar o uso do VAR, uma ferramenta cara, o sujeito responsável pelo recurso eletrônico chama árbitro Éber Aquino, o apitador da coisa. Ele consulta então o VAR, olha pra telinha do computador com olhos de rapina, assiste ao lance inúmeras vezes e decide: Dedé, expulso.

O árbitro errou no VAR! Com toda a tecnologia, recursos, sem nenhuma pressão, ele pode olhar o lance e então, errou! A questão que fica é, até quando? Será possível vencer uma Libertadores no campo de jogo, ou viveremos uma espécie de remake, voltando para o ano de sei lá, 1972?

A resposta poderá vir mais a noite, quando o Palmeiras enfrentará o Colo Colo no Chile. Fiquemos atentos, caros. Ou senão, voltem a transmitir os jogos em preto e branco:

Sejam honestos e assumam os seus retrocessos, Cartolas.

FUTEBOL E POLÍTICA NÃO SE MISTURAM?

por Paulo Escobar


Passa ano e sai ano, mas uma coisa repetida e que não muda de jeito nenhum é o papo de muitos programas esportivos ou de jornalistas com o mesmo chavão de sempre que futebol e política não se misturam. O incrível é que a cada dia tentam nos convencer de que uma coisa não tem a ver com a outra e assim continua o circo de malabarismos que tenta nos convencer de algo que é tão concreto.

Partindo da ideia de que política é tudo aquilo que involucra as questões da cidade, os interesses das pessoas que vivem nesta cidade ou sociedade, e tudo aquilo que nos afeta no nosso dia a dia. O poder do Estado sobre nós, os sistemas que nos colocam, os poderes e os interesses que nos atingem no dia a dia e tantas outras questões, e o futebol parte de tudo isso, como ainda insistem em nos convencer que uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Do momento que você liga a televisão para assistir a partida do seu time já é um fato político, as empresas por traz das propagandas, os interesses da emissora que te atinge e tenta te fazer ver de acordo com o que ela deseja, o hino cantado e a entidade que comanda o futebol que entra na sua casa em dias de jogos.

Diante disto podemos pensar:

– Jogadores que apoiaram regimes opressores e que com sua imagem ajudaram na ocultação de injustiças é um fato político.

– Aqueles que resistiram através do futebol praticaram um fato político.


– Maradona ser perseguido no antidoping depois de não ter cumprimentado Havelange na final da Copa de 90 é um fato político.

– Os pobres terem seu acesso a cada dia que passa mais dificultado aos estádios é um fato político.

– Presidentes de clubes se perpetuando no poder e depois ainda aproveitando os votos dos torcedores para concorrer a cargos políticos é o que?

– A voadora de Cantona no nazista que o xingava é fato político

– Tite ter negado da CBF o primeiro convite da entidade manifestando ser contrario a Del Nero e as ações podres da entidade e depois ter aceitado é um fato político.

– A xenofobia e o racismo em muitos estádios pelo mundo é um fato político.


– Quando um torcedor se revolta e a polícia o reprime também é um fato político.

– Quando o futebol feminino é deixado no ostracismo para sempre exaltar mais os jogos do masculino e ainda termos que ouvir esse papo de inclusão como se fosse uma verdade, é um fato político.

– A listra da Adidas que Cruyff tirava da sua camiseta para jogar só com duas listras é um fato político.

– Quando Felipe Melo e outros jogadores declaram seu apoio a candidato que destila ódio contra gays, negros, estrangeiros, índios e tantos outros é um fato político.

– O jogador não poder comemorar seu gol ou o torcedor ter sua alegria castrada nas arquibancadas é um fato político.

– Os times chamados de pequenos sempre terem mais dificuldades que os times ditos grandes é um fato político.


– Barbosa depois da Copa de 50 ter sido culpado pela derrota até sua morte, que pode ter sido mais massacrado pelo fato de ser negro, é um fato político.

– O futebol moderno ser esse antro de chatice e de bons costumes que insistem em te inculcar é um fato político.

E milhões de outros casos que poderia ficar escrevendo milhares de outros exemplos, ou te contar uma infinidade de outras histórias que mostram que tanto a serviço da opressão quanto da resistência o futebol é um ato político também. O fato de muitos meios de comunicação e de muitos jornalistas que trabalham para estes meios quererem te dizer que futebol é uma coisa e política é outra e que as duas não se misturam, é um fato político.

Eu estar escrevendo e você lendo é somente mais um fato político também, acredite você ou não.

DA PELADA NASCEU JOEL CAMARGO, A ‘FERA’ MAIOR DO SALDANHA

por André Felipe de Lima


“Besouro!”. Gritou, durante uma pelada, um amigo para o menino Joel Camargo. “Essa é a sua chance!”, completou. E era mesmo a grande oportunidade do garoto, quando, em 1963, um tal Arnaldo de Oliveira, sócio da Portuguesa Santista, viu-o jogar bola pelo time de peladas “XV de Novembro”, do Marapé, bairro de Santos. A família Camargo morava na rua Antônio Bento de Amorim, no mesmo bairro da pelada que revelou Joel Camargo para o mundo. Quem não gostou muito da ideia foi dona Jordélia, a rigorosa mãe. O rapaz perderia o emprego na Delta Line, onde também trabalhava há anos o pai Antônio Camargo, e deixaria de estudar. Os diretores da Portuguesa cobriram o salário minguado do garoto. O sucesso seria inevitável. Muito bem preparado por Joaquim Feliz, Joel mostrava-se a cada treino um jogador fora da curva. Excepcional. O Santos pintou na jogada em 1964, e o levou para a Vila Belmiro a pedido o técnico Lula.

Da pelada das ruas do Marapé para as gramas dos estádios paulistas, foi mesmo um pulo. Joel passou a ganhar muito mais dinheiro jogando bola pelo Alvinegro praiano que no humilde emprego da Delta Line. A mãe deu a mão à palmatória. A profissão do filho era mesmo a de jogador de futebol. Silvio, o irmão caçula, então com 14 anos, lucrou com o sucesso do mano mais velho. A mamãe, até então “pé firme”, estava mais mansa, deixando-o também jogar bola. Todo mundo dizia que Silvio era melhor que Joel; que ele jogava mais bola e tal. Joel, em várias entrevistas, reconhecia isso, mas com o nariz meio torto. Os outros dois irmãos, o Jarbas e o Gilberto, também jogavam bola como Joel, que no iniciozinho de Santos tinha como principais conselheiros os consagrados Dalmo, Lima e Mauro Ramos de Oliveira. Na posição dele, a quarta zaga, havia dois medalhões: Haroldo e Calvet. Mas Joel também jogava às vezes como médio volante. Foi essa versatilidade que o levou à seleção brasileira num passe de mágica, e logo no primeiro ano de Santos.

Joel era um zagueiro estiloso, mas que não mandava recado aos atacantes. Se tivesse de descer a lenha em quem entrasse na área santista ou da seleção, não pestanejava. Todos esses, digamos, preceitos encantaram João Saldanha, o técnico da seleção brasileira que se preparava para a Copa do Mundo de 1970. João — pessoa maravilhosa, porém notório “pavio curto” — orgulhava-se de suas “feras”. Uma delas, talvez a “fera das feras”, o Joel Camargo, definido pelo João “Sem medo” como o “melhor quarto-zagueiro do mundo”. Com a saída de João da seleção por injustos e covardes motivos políticos, Joel estava com os dias contados na seleção. Por pouco foi sacado da lista do novo treinador Zagallo. Revelaria tempos depois que houve uma pressão enorme sobre os “queridos” do Saldanha. Lídio Toledo, médico da comissão técnica que assumiria o escrete após a saída de Saldanha, intimou-o a operar as amídalas, caso contrário, estaria fora da Copa. Com medo, Joel, que desistira da cirurgia anos antes, no Santos, acatou a ordem do médico e submeteu-se a desnecessária operação. Ficou fraco, comia muito pouco. Joel não tinha o mesmo vigor mostrado por outros jogadores do escrete. Apesar disso, o “melhor quarto-zagueiro do mundo” do Saldanha foi mantido na lista do Zagallo, porém amargaria a reserva na campanha do “Tri”, no México. Zagallo recuara o volante Piazza, que formaria a dupla de zaga com Brito. A imprensa, sobretudo a paulista, chiou. Joel Camargo estava no auge. Era, sem dúvida, o melhor zagueiro do país na ocasião. O “Açucareiro”, como o chamava o comentarista Mario Moraes, porque Joel simplesmente jogava bonito, como se deve jogar futebol. “Açucareiro” pelos braços abertos e a “doçura” pelos passes milimetricamente precisos. Joel tinha pinta de líbero. Sim, de líbero igualzinho ao alemão Beckenbauer, contemporâneo dele. Jogava na zaga, mas transitava pelo meio de campo. Jogava assim no Santos, sob o comando do Lula; chegou a jogar assim com Saldanha, na seleção, mas parou no Zagallo. Ali, o “líbero” Joel encontrou seu fim. Logo ele, o “Senador”, outro apelido alusivo à sua elegância com a bola nos pés.


Após a vitoriosa campanha na Copa do Mundo de 1970, a vida de Joel Camargo virou de pernas para o ar. A morte rondava-o. Não por doença, mas pelas curvas e ruas de Santos. Joel sofreu dois graves acidentes de carro. Um deles, em novembro daquele mesmo ano do Mundial, com o Opala vermelho que o zagueiro comprou com o “bicho” que recebeu pelo “Tri”. Na tragédia, duas mulheres morreram: Olga Queija e Dilma Muniz Cardoso. Joel seguiu desacordado para a Santa Casa de Santos. Durante dias esteve muito mal. Quebrou o nariz (àquela altura, o de menos) e fez cirurgias no joelho, no tornozelo e na clavícula. Por causa do acidente, foi condenado por homicídio culposo, mas cumpriu a pena de um ano e oito meses em liberdade.

Dentro de campo, não era mais o mesmo cracaço. Estava na reserva do Santos, mas ainda mantinha a imagem de jogador brioso. Após a tragédia automobilística, os cartolas do alvinegro decidiram que na Vila Belmiro não dava pé. Não negociaram o passe dele. Naquela circunstância, um jogador ainda jovem como Joel, o passe livre soaria como desprezo. E foi exatamente assim que aconteceu. A diretoria não o queria mais na Vila Belmiro. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o diretor de futebol Katutoshi Ono encabeçou a lista dos insatisfeitos com Joel. Nela constariam até Mauro Ramos de Oliveira (que um dia foi referência para Joel) e Pepe, ídolos do clube: “Saí do clube por causa da minha imagem negativa. Se eu fosse encarado como um bonzinho, não ganharia o passe, porque ninguém libera jogador que está por cima. Acredito que julgaram que eu seria prejudicial se permanecesse lá”.

Ofereceram o passe de Joel Camargo ao futebol francês. Foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro a defender, entre o final de 1971 e fevereiro de 1972, o hoje badalado e milionário Paris Saint Germain, dos arquimilionários Neymar, Cavani e Mbappé. Ficou poucos meses na capital francesa. A família, sobretudo a pequena Simone, com poucos meses, não se adaptava ao clima local. A menina vivia doente. A esposa e Joel tinham extrema dificuldade com o idioma. Joel ouvia em francês as reclamações do técnico. Respondia em sonoro palavreado de baixo calão português. Ele, esposa e filha estavam completamente isolados. Os cartolas franceses aceitaram o pedido do deprimido Joel, que deseja voltar ao Brasil após o término do curto contrato.

O regresso mostrou-se uma lástima para o craque. Nada dava certo. Esperava uma volta triunfal, com clubes disputando a tapa o seu passe e com a torcida entoando seu nome nas arquibancadas. Nada disso aconteceu. Longe disso, perambulava por times pequenos, de norte a sul do país. Em setembro de 1973, o CRB, de Alagoas, dispensou-o porque o jogador “havia viajado para destino ignorado” e “vinha cometendo indisciplinas”. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo alegava que Joel mostrava um lado visceral preocupante. Brigava com companheiros do time, gritando com todos em treinos e jogos, e tentara até agredir José Casado, um cartola do clube.

Joel dizia que, desde que sofrera aqueles dois acidentes de carro, a opinião pública e a imprensa o perseguiam, acusando-o de ter dirigido embriagado. Negava ter bebido naquela noite do acidente e acusava os críticos de racismo. Foi ele um dos primeiros jogadores a tocar no assunto abertamente, e em alto e bom som, no futebol brasileiro. “O preconceito existe, e eu sempre falei disso. Na época do acidente, fui crucificado por causa da minha cor. Eu era o único que falava de preconceito naquela época. Meus colegas de time me chamavam de radical, mascarado, pediam pra eu deixar essas coisas pra lá. Fui dar entrevista uma vez e queriam que eu dissesse que não existia preconceito no Brasil. Porra, eu sou preto! Sei como as coisas funcionam. O pessoal diz que eu sou orgulhoso, mas, hoje em dia, para um crioulo como eu ser proprietário de um apartamento em edifício a uma quadra da praia, entrar no elevador e cruzar com o vizinho, é jogo duro. O preconceito de cor é do c… Não querem saber se eu fui jogador. Até a vizinhança aqui se acostumar comigo foram anos. Só quem é preto sabe. E ainda dizem que o negro é preconceituoso. O Pelé, por exemplo, acha que fez muito na luta contra o racismo. Mas ele não fez porra nenhuma. Sempre olhou o lado dele. Imagina se o Pelé tivesse se casado com uma negra? Seria fantástico.”, recordou Joel Camargo, em 2014, em depoimento ao repórter Breiller Pires, da revista Placar.


Para se ter uma ideia da má vontade com Joel, basta resgatar o título de uma reportagem da Folha de S.Paulo, de 1973: “O mesmo Joel, frio e amargo”. O repórter o definia como um sujeito “introvertido”, mas que dava sempre a impressão de estar “mal-humorado”, “revoltado”. “Um desconfiado”. “E Joel não faz nenhum esforço para parecer diferente”, escreveu o jornalista. A mesma reportagem também cometera o sacrilégio ao afirmar que o futebol de Joel Camargo foi apenas “bom”. “Prepotente”. Essa era a palavra mais comum com a qual boa parte da imprensa injustamente e sem alteridade o definia.

“Eu vou voltar. Eu quero voltar. E sei que vou conseguir. Não penso em provar para este ou aquele que fui injustiçado, esquecido ou magoado ou sei lá o quê. Eu vou voltar por mim”. Joel não voltaria mais. Com as críticas e o desempenho aquém do que sempre foi capaz, Joel dava adeus ao futebol.

Com cerca de 30 anos, e ainda com o vigor ideal para jogar tudo o que sabia, optou por outro caminho: o cais do porto de Santos. Durante 20 anos, foi estivador. Com 55 anos, aposentou-se. Vendeu medalhas e troféus. Tudo, enfim, que conquistara com o futebol. “Entrevistem Pepe, Mengálvio, Coutinho. Procurem o Zito. Eu sou apenas um estivador”.

Lutava contra o alcoolismo e a diabete, que lhe obrigou a amputar um dedo do pé. Em fevereiro de 2009, um baque. Perdera a esposa Arina Werneck Camargo, companheira que muitas vezes puxou a orelha de Joel, pedindo ao marido que parasse de beber por conta da doença. Com a morte de Arina, o quadro depressivo intensificara-se. Simone, a filha única que chegara bem miúda a Paris em 1971, cuidou do pai até o fim, quando Joel decidiu partir para sempre, logo após as revelações que fez ao Breiller Pires e pouco antes de começar mais uma Copa do Mundo na história do futebol brasileiro. A lamentável Copa de 2014, que Joel, o “melhor quarto-zagueiro do mundo” certamente não veria, pois o futebol há tempos o abandonara. Bem antes de sua morte.

O FLAMENGO QUE IRRITA O TORCEDOR

por Vinicius Vieira


Há algum tempo, vemos em campo um Flamengo que domina e tem bastante posse de bola, porém sem poder de fogo e quando isso acontece, nas arquibancadas os torcedores começam a caçar as bruxas, quase sempre de maneira injusta.

Faz tempo que acho que o maior problema do Flamengo não está nas laterais (que não são boas) ou em atuações abaixo do esperado de alguns jogadores. O problema do Flamengo é exclusivamente tático! Não faz o menor sentido jogar com um único e ótimo volante e obrigar dois jogadores como o Diego e Everton Ribeiro a marcarem desesperadamente o tempo todo.

Alguns podem achar “defensivismo”, mas é justamente o inverso. Se ao lado do Cuellar, tivesse alguém para ajudar na função de proteção da zaga, Diego e Everton poderiam jogar um pouco mais adiantados e já pegarem a bola numa faixa de campo onde poderiam ser mais incisivos e terem mais liberdade para arremates ou uma assistência.


Reparem que os laterais do Flamengo, 90% das vezes que recebem bolas no ataque, não têm com quem jogar, o que acaba forçando o erro ou um recuo da jogada (o que irrita). Reparem que sempre que o adversário está com a bola, tanto Everton, quanto Diego ou Paquetá, estão ajudando na cobertura dos laterais. Quando o Flamengo retoma a bola, estão à milhas de distância do campo e ataque, resultado: o adversário se recompõe, se fecha e tudo fica mais difícil (vide o jogo contra o Corinthians pela Copa do Brasil).

Vejam vocês o paradoxo, mais um volante pode tornar o time mais agressivo e ofensivo e não mais defensivo como a maioria acha. O que me impressiona, é que nenhum teste é feito nessa linha, que além de prováveis benefícios ofensivos, também desgastaria menos alguns jogadores.