Leônidas + Gottardo
ZAGA DOS SONHOS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo: Daniel Planel
Falar do futebol do passado sem ao menos citar o Botafogo é missão quase impossível. Não foram poucos os craques que vestiram a camisa alvinegra e recentemente tivemos a honra de reunir, em General Severiano, Sebastião Leônidas e Wilson Gottardo, dois dos maiores zagueiros que atuaram pelo clube!
O primeiro é sempre lembrado quando se discute sobre os maiores defensores do futebol brasileiro e nosso padrinho PC Caju já afirmou diversas vezes que nunca viu ninguém parecido. Gottardo, por sua vez, foi bicampeão carioca e campeão brasileiro pelo clube.
Durante o passeio pela sede de General Severiano, “Seu Léo”, como é conhecido, passou por um painel com fotos de craques que atuaram pela Selefogo e fez uma viagem no tempo.
– Dá muita saudade desse time! – disparou após lembrar histórias de cada uma das feras.
Enquanto Gottardo fazia de tudo para se livrar do trânsito do Rio, Leônidas, sentado na arquibancada com o olhar fixo para o campo, parecia estar se vendo naqueles garotos dos juniores.
– Fizemos muitos jogos aqui em General Severiano e éramos quase imbatíveis! Nosso time era uma covardia!
O encontro finalmente ocorreu e foi celebrado com um longo abraço. Se não bastasse o fato de serem ídolos no clube, a dupla esteve junta na campanha do inesquecível título carioca de 1989. Na ocasião, Leônidas era o auxiliar de Valdir Espinosa e Gottardo lutava como um leão dentro de campo ao lado do parceiro Mauro Galvão para encerrar um jejum que durava 21 anos.
O curioso é que o último torneio havia sido conquistado justamente com a participação de Leônidas, em 1968. A pressão para vencer o Flamengo de Zico era enorme e Gottardo fez questão de lembrar os bastidores daquela decisão.
– A gente estava carregando uma herança pesada de vários elencos e nós éramos era o alvo do momento. Éramos a chacota, tinha musiquinha e tudo. Mas a gente tinha convicção que a taça seria nossa, apesar da qualidade do rival.
Mais de duas décadas antes, atuando por uma verdadeira seleção, Leônidas teve mais facilidade para bater o Vasco e levantar o Carioca de 1968.
– Era um timaço: Cao; Moreira, Zé Carlos, eu e Waltencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Caju. Eu nem avançava para tentar marcar meus golzinhos porque eu ia atrapalhar, né? – brincou.
Ao longo da resenha diversos temas foram abordados e, no final, os craques, abraçados, foram caminhando lentamente pelo gramado em direção ao portão de saída. Naquele momento, a equipe do Museu da Pelada só tentava imaginar como seria essa dupla atuando nos dias atuais!
ZIZINHO OU, COMO MOSTROU JAPIASSU, UM PROFESSOR DE FUTEBOL
por André Felipe de Lima
Fui fã do Moacir Japiassu, da pessoa, do jornalista, do mestre. Lia-o frequentemente nos jornais ou revistas. Aprendi um pouco mais da nossa maltratada língua com ele. Nesta sexta-feira, dia 14, comemoramos o aniversário de outro mestre, mas do futebol. O Mestre Ziza, o Zizinho, o ídolo do Pelé e de muitos meninos e marmanjos que o viram iluminar o futebol. Mas, afinal, o que tem a ver o Japiassu com o Zizinho? Ora, a paixão pelo futebol e o fato de o Japiassu ter escrito sobre ele, em 1965, quando ainda engatinhava na carreira. Zizinho acabara de chegar ao Bangu para assumir o cargo de treinador, e coube ao Japiassu escrever a vida e obra do Ziza para o Jornal do Brasil. “Zizinho foi durante 10 anos o ídolo que a torcida chamava de Mestre e em 1950 obrigou um jornalista inglês a usar, para defini-lo, uma palavra até então reservada aos cientistas: gênio”, escrevera Mestre Japiassu.
O pai do Zizinho tinha um sonho: ver o filho jogador de futebol, mesmo que somente no time que organizava: o Carioca. Zizinho tinha apenas seis anos quando perdera o pai. A infância, acreditem, não foi com muita bola. Para ajudar à mãe viúva, Zizinho teve de trabalhar ainda garoto. Foi ajudante de mecânico e tempos depois funcionário na Lloyd Brasileiro. Difíceis tempos que o ensinaram, moldaram-no, tornando-o um grande ser humano, um amigo, pai, irmão, companheiro que todos queriam um dia ter.
O que aprendera ainda rapaz, tristemente longe do pai, foi essencial para garantir-lhe serenidade após a Copa do Mundo de 1950. A derrota na final para os uruguaios deixou um amargo ensinamento ao Zizinho: o excesso de otimismo é o maior inimigo de um time de futebol. Dali em diante, Tomás Soares da Silva não seria apenas Zizinho. Seria muito mais que apenas um homem e sua alcunha. Seria Mestre Ziza. Inquestionável testemunho autorizado do futebol, com teses essenciais para quem se diz pretensamente jogador de futebol, e mais que isso: arvora-se craque:
“Craque é o jogador que, não importando o seu porte físico, pode com a categoria desequilibrar uma partida, definir um jogo, mudar um resultado. Craque é aquele que sabe limpar uma jogada na defesa, vislumbrar a jogada num relance, criar o espaço — mínimo que seja — entre uma floresta de pernas, na pequena área, e bater na bola com a certeza do gol.”
“A humildade levou o Brasil às Copas de58 e 62. A humildade que aliada à confiança e vontade de vencer nos tornou invencíveis, porque nossa capacidade técnica sempre foi e será indiscutível, inigualável.”
“Desprendimento é não pensar primeiro no dinheiro e depois ganhar a Copa. Coragem é não ter medo de perder o jogo, porque este é sem dúvida um dos maiores inimigos de um time de futebol.”
Ah, Zizinho… que saudade, e parabéns para você, seja lá em que hoste celestial esteja, defendendo-nos, com amor e bons fluídos, do mal futebol que nos aflige.
LEMBRA-SE DO MERICA? POIS É, BATIA UMA BOLINHA RESPONSA
por André Felipe de Lima
Sempre que alguém citava o Merica, comentava-se — antes de mencionar o futebol que ele jogava — a notória “beleza” do volante. Liminha, que o antecedeu na meia cancha do Flamengo e estava prestes a pendurar as chuteiras, chamou Júnior em um canto, e confidenciou: “O Flamengo encontrou finalmente o jogador para me substituir: é esse Merica. E ele apresenta uma grande vantagem em relação a mim: sabe dar passes longos, que nunca foram o meu forte”.
Viu? Merica era bom de bola, sim. Não era um craque. Fama de ídolo? Sucesso entre as torcedoras? Aí é que não rolava mesmo. Mas era xodó da torcida, sim. Quem torcia pelo Flamengo por voltar de 1976 e 77 teve a mesma impressão do Liminha. O tal Merica, aquele baixinho feio pra burro, que jogava no modesto Atlético de Alagoinhas, na Bahia, era mesmo bom volante. Marcava bem, desarmava e saía para o jogo. Estava longe de ser um Carpegiani ou Andrade, que o sucederam por ali, mas dava (e muito!) para o gasto.
Valdemiro Lima da Silva, o intrépido Merica, nasceu no dia 13 de setembro de 1953, em Acupe, cidadezinha pacata do distrito Santo Amaro da Purificação, do interior baiano. Entre 1975 e 1978, foram 175 jogos com camisa do Flamengo, oito gols marcados, 105 vitórias e somente 24 derrotadas. Com Merica em campo, ficava mais difícil para os atacantes adversários chegarem à defesa rubro-negra. Mas o bom baiano baixinho, e para lá de porreta!, era arretado, e ia para o ataque, quase sempre caindo pela lateral direita. Levava porradas à vera, mas não se intimidava.
Uma vez, em um Fla-Flu de 1976, lá pelos 20 minutos do primeiro tempo, Doval, o gringo, teve a bola “roubada” por Merica, que foi, como de costume, pela direita, avançando sem parar. Deixou Paulinho para trás, porém viu pela frente um menino alto e parrudo. Era o zagueiro Carlinhos. Os dois trombaram. Desabaram. Carlinhos ficou mal. Falta de ar. O médico tricolor Durval Valente ficou sem saber o que fazer, porque o craque Doval também se queixava com ele de dores no tornozelo. Meia completamente rasgada. Foi rescaldo da dividida segundos antes com Merica. O médico do Flamengo Célio Cottechia quis entrar em campo para socorrer Merica, que sob o indefectível sotaque do interior baiano, disse: “Tô bem, dotô, num precisa entrá não”.
No banco de reservas, a rapaziada do Flamengo caiu na gargalhada. O técnico Carlos Froner, todo prosa, vira-se para o massagista, e emenda: “Não disse que ele é dos bons? É de jogador assim que eu gosto”. Hoje em dia, jogador assim, como foi Merica, que recolhia a dor, levantava e jogava, é artigo de luxo. Cai-cai não fazia parte do seu estilo. Aquele Fla-Flu em que jogou à beça foi o vigésimo jogo seguido pelo Flamengo. Liminha ficara mesmo no banco, de onde não sairia mais.
Merica era somente um rapaz. Tinha 22 anos. É o caçula de oito irmãos criados na pequena Acupe, uma comunidade de origens indígena e africana muito famosa na Bahia pelo legado cultural deixado por escravos. Não se constituiu em um quilombo, mas em uma terra para onde iam alguns escravos fugitivos das fazendas e mesmo alforriados, que, enfim, gozavam a justa e necessária liberdade. Eram eles homens e mulheres; crianças e velhos. Todos bravos e aguerridos negros na carne e na identidade. Assim eram os ancestrais do grande Merica, que, acreditem, foi um jovem barbeiro em Acupe, quando começou a jogar bola no time de peladas do Ideal (de Santo Amaro) e, levando mais a sério, no Atlético de Alagoinhas.
Merica sabe que aquele Fla-Flu em que arrebentou em campo jamais saiu de sua mente. Foi a primeira vez que ele se viu cercado de microfones. Se Zico era a estrela, Merica era o reluzente cometa naquela tarde de arquibancada magnificamente colorida de vermelho e preto e de branco, grená e verde.
Mas como o jovem Merica, de uma cidadezinha tão enfronhada no miolo baiano, chegou ao Sul Maravilha, e logo à Gávea? Acerto de contas do Céu com o jovem? Pode ser. Pura sorte? Também. Mas Merica tinha muito mais que apenas estrela. Tinha competência. Jamais se soube o que fez o Flamengo fazer uma excursão pelo interior da Bahia. Mas suspeitava-se que o motivo tinha sido “Merica”. A renda não compensaria o esforço, mas diziam que era vontade de mostrar o time ao povo, que tem direito de ficar bem perto dos seus ídolos. Foi num desses rompantes de alteridade da diretoria do Flamengo que Merica cruzou seu destino com as cores preta e vermelha. O caminho estava aberto para o garoto barbeiro brilhar. Mas quem o viu jogar primeiro e o havia indicado ao Vasco e ao próprio Flamengo foi o comentarista Carlos Marcondes, que trabalhava na Rádio Tupi, do Rio. O Vasco ignorou, mas o Flamengo foi lá conferir se o que Marcondes falava era mesmo verdade.
Dos módicos 300 cruzeiros que recebia do Atlético de Alagoinhas passou a receber 5 mil cruzeiros em agosto de 1975, quando chegou ao Rio de Janeiro. Vieram ele e, de contrapeso, o amigo Dendê. Merica deu certo, Dendê apenas curtiu um pouco as belezas do Rio, mesmo assim, entrou em campo 50 vezes pelo Flamengo.
Junior “Capacete”, um dos melhores amigos do Merica na Gávea, lembra que a chegada do baianinho foi cercada de preconceito: “Merica foi alvo de uma campanha nada simpática, parecia mesmo que tinha mesmo o objetivo de ridicularizar o rapaz. Ora porque é feio, ora porque chegou de um time modesto como o Atlético de Alagoinhas. Na verdade, o problema era outro: o Flamengo não estava bem e a diretoria do clube tinha acenado à torcida com contratações. Os nomes de Merica e Dendê, que vieram juntos, não eram bem aqueles que a torcida e os jornalistas queriam ouvir. Só para dar uma ideia disso, basta dizer que houve um momento em que diziam que o Merica, só porque tinha vindo da Bahia, estava fazendo macumba para o Liminha sair do time”.
Rondinelli foi outro craque que deu muita força ao Merica no começo. O baiano encabulado sentia-se solitário no Rio. Só conversava com Dendê. Os jogadores tentavam enturmá-lo, mas o que único que obteve sucesso foi Geraldo, que morreria prematuramente logo após a chegada de Merica. “Só para você ver como era o Geraldo, foi ele o primeiro de nós a ter a sensibilidade para a situação do Merica, a solidão em que vivia. E Geraldo passou a encarnar nele, gozá-lo com brincadeiras. E assim se quebrou aquele gelo. Aí a intimidade foi aumentando, eu e os outros passamos a compreender Merica, um cara apegado demais à família, à sua terra. Hoje ele é um dos caras mais queridos por todos os companheiros”, contou Rondinelli, em 1977, aos repórteres Maurício Azedo e Aristélio Andrade.
Mas tudo aquilo passou. A fase bacana do Merica no gramado superara qualquer dificuldade inicial. Ele voltou à Santo Amaro e casou-se com a namorada Maria Raimunda. Voltou ao Rio e alugou um apartamento em Copacabana. Que fase! Até aquele Fla-Flu fizera 20 jogos pelo Flamengo. Não perdera nenhum. Zico o adorava: “Na cabeça de área é um leão, destruindo com vigor e dando total cobertura aos zagueiros. E não é só isso: é um cara que sabe avançar, ajudar o meio de campo e, se for preciso, fazer lançamentos para os companheiros”.
Merica não fugia do pau. Era valente como seus ancestrais escravos. Não tolerava mimi. E durante outro Fla-Flu, Rivellino deu-lhe um safanão, sem bola, mas quem caiu no chão foi o “Bigode” e não o Merica. Rivellino rolava no gramado, uivando de uma dor inexistente. Puro teatro. Merica, a verdadeira vítima, acabou expulso pelo juiz. Ficou injuriado e partiu para cima do Rivellino, que se esquivou do baixinho. Em Fla-Flu, Merica não dava sopa. Foi expulso algumas vezes.
Era matuto, sem dúvida. Uma vez — contou Júnior — entrou na sauna de camisa, calça comprida e chinelo. Saiu de lá para lá de encharcado de suor. De sacanagem, os companheiros de time, entre eles o próprio Júnior, ficaram do lado de fora esperando a saída do Merica. Dá para imaginar as sonoras gargalhadas dos caras ao se depararem com Merica naquele estado. Mas a emenda saiu pior que o soneto quando Merica, inocentemente, veio com o seguinte: “Puxa, como é que uma sala dessas, danada de quente, não tem ar condicionado?”.
A história de Merica com o Flamengo começou antes da Gávea. Muito antes do carinho e alegria que os companheiros sempre tiveram com ele no clube carioca. Houve outro Flamengo antes, o da rua do Prédio, em Acupe. Foi ali, nas peladas do Mengo de Acupe, que o vermelho e o preto começaram a tomar conta da alma arretada do querido Merica, que recentemente foi homenageado em um torneio intermunicipal de futebol na Bahia. A Taça Valdemiro Lima da Silva. Ficaria mais charmoso e original chamá-la de Taça Merica. Os rubro-negros concordariam, afinal, que se esquece do Merica na Gávea?
PITBULL, POMBOS E ROTWAILLER
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Estou em Florianópolis ainda estarrecido como incêndio no Museu Histórico Nacional. Apenas mais um crime cometido contra o nosso patrimônio. Fiquei arrasado, não surpreso. Nada mais me surpreende nesse país governado por múmias. O Rio está sem comando, caos generalizado, hidrantes sem água e nossa memória no ralo. São crimes atrás de crimes e, como diz a garotada, “segue o baile!”.
Estive no Rio recentemente e nunca vi tantos moradores de rua, abandono completo. O pior é que, agora, as mesmas múmias de sempre saíram de seus sarcófagos com as velhas promessas de sempre. Foram essas múmias que despejaram milhões no Maracanã e o deformaram. O Rio já não é mais cartão postal de nada e torra sua imagem diariamente.
No futebol, despencamos e estamos atrás dos paulistas, gaúchos e mineiros. E já já seremos ultrapassados pelos nordestinos. O Ceará não perdeu para nenhum carioca, por exemplo. São quatro timecos com pouquíssimas diferenças entre um e outro. E no zap, os torcedores, os bobos da corte, debochando uns dos outros. “Vamos morrer abraçados, êêêêêê!!!!” “Você levou quatro e eu três, êêêêêê!!!”.
Os quatro presidentes deveriam sentar-se juntos e pensar em uma medida para reverter essa situação. Imaginam como será o Estadual caso caiam dois times cariocas? Aí, ao invés de tomarem decisões conjuntas, culpam o Estadual. Os culpados são os dirigentes e não o Estadual, uma competição charmosa e de um valor inestimável para o torcedor.
O Francisco Horta tinha uma mentalidade moderna e já teria promovido algum troca-troca para agitar o campeonato! Alguma coisa ele faria, não tenho dúvida!!! Mas o que vemos são os clubes brigando pelo direito de usar o Maracanã, por verbas maiores de tevê e isso e aquilo. Vão afundar todos se não se unirem. Administração moderna é isso! Pagar salários em dia é obrigação! Precisamos de estádios cheios, ingressos baratos, times competitivos. Nem falo de craques porque isso está em extinção. Mas quem está preocupado com craques? O Felipão elogia o Felipe Melo, “seu Pitbull”, suspenso mais uma vez por entrada violenta, e exalta o substituto Thiago Santos, “seu Rotwailler”.
Os cães de guarda viraram ídolos. E craques como o Pedrinho, do Corinthians são vetados para dar lugar aos Ralfs da vida. No Vasco, Wagner de tanto ser barrado, saiu, cansou. Ninguém aguenta olhar para o lado e só ver cabeçudos especializados em fungar no pescoço dos adversários e serem reverenciados pela torcida com latidos.
Hoje o novo torcedor não canta, late, e vibra com a goleada do Brasil…. sobre El Salvador. E o Micale, campeão olímpico de futebol? Foi tentar a sorte no Figueirense. Tem gente que ainda cai nessa. É mais um da escola do professor Tite, que na beira do campo, contra El Salvador, gesticulava teatralmente. No gol, peito estufado, deve ter se orgulhado da fantástica Dança do Pombo. Pombos, Pitbulls e Rotwaillers. Saudade de quando a briga era entre cachorros grandes e não bravos.
ASSAÍ OU AÇAÍ
por Idel Halfen
Assaí ou açaí? Não precisa responder, a pergunta tem como mero intuito chamar a atenção para a rede de varejo que passou a deter desde julho o title sponsor do Campeonato Brasileiro de futebol. Essa cadeia foi fundada em 1974 e está presente em 18 estados, porém, por ter durante muito tempo atuado exclusivamente como um atacadista, grande parte da população não conhece a marca na mesma proporção que distingue o Pão de Açúcar ou o Carrefour, por exemplo.
Diante desse quadro de baixo recall podemos considerar que a iniciativa do patrocínio tem elevado potencial de retorno, desde que, é claro, as expectativas em termos quantitativos não sejam exageradas e que ativações criativas sejam realizadas.
Como o tema “retorno de investimento em patrocínio” costuma ser bastante debatido por aqui, focaremos nesse artigo o conceito da operação do Assaí, visto ter esse passado por mudanças de modelo, as quais nos fornecem ótimos exemplos de como os processos evolutivos de marketing podem contribuir para a estratégia de uma empresa.
Diferente dos tradicionais supermercados e hipermercados frequentados pela população de forma geral, o modelo adotado pelo Assaí é uma adaptação da operação de atacado de forma poder atender qualquer tipo de cliente e não apenas pessoas jurídicas proprietárias de estabelecimentos comerciais. Para isso, a quantidade de unidade mínima de produtos a ser adquirida pelo cliente, que antes chegava a ser uma caixa, passou a ser apenas três unidades, daí o nome “atacarejo” para designar sua atuação.
O preço baixo é o principal atributo de atratividade, o que se consegue através da forte atenção aos custos das mercadorias e instalações, além das soluções de logística e de marketing. Há que se ressalvar que, apesar de o preço ser um fator decisivo, as redes que adotam esse modelo não podem ignorar os aspectos relacionados à localização, ao atendimento e à área de vendas.
No caso do Assaí vale relatar que suas instalações sofreram e continuam a sofrer mudanças, uma dessas aconteceu através da extinção das seções de açougue e de padaria que, apesar de serem atrativas ao cliente pessoa física, aumentavam o custo da operação e faziam com que a loja fosse percebida como uma concorrente dos clientes pessoas jurídicas que eram donos de estabelecimentos desses ramos. Hoje essas áreas servem como espaço para estocagem, o que acaba diminuindo as despesas relativas a armazenamento e logística dos centros de distribuição.
Ainda em termos adaptação de lay out, as novas lojas estão com corredores mais largos para melhorar a circulação das mercadorias e pé direito mais alto para estocá-las em cima das gôndolas. Essa pequena adaptação influencia sobremaneira os custos de logística, visto que os produtos podem ir direto da indústria para as lojas.
Não há dúvida de que o momento econômico que o país vem atravessando contribuiu para o crescimento desse modelo de varejo, o que acaba gerando dúvidas sobre sua longevidade em caso de recuperação da economia, no entanto, se formos buscar paralelos internacionais veremos que a Costco – rede varejista americana cujo posicionamento é fortemente baseado em preço – teve expressiva evolução na crise norte-americana e vem mantendo taxas de crescimento bastante altas mesmo no bom momento pela qual passa o país, o que permite supor que esse tipo de varejo continuará rentável por algum tempo.
Todavia, assim como o atacado entendeu o mercado e incutiu processos advindos do varejo, as redes baseadas nesse novo conceito precisam estar atentas a algumas ameaças que podem atrapalhar o bom rumo de sua operação, entre estas podemos destacar: (i) o crescimento do comércio eletrônico que permite a comparação de preços sem sair de casa, além de ter uma operação mais barata e (ii) a expansão física, visto que o custo dos imóveis com áreas suficientes e localização adequada para o modelo tende a ser mais alto.
Esperar o que vai acontecer ou seguir o mercado talvez não seja a melhor iniciativa, daí a importância de uma área de marketing devidamente capacitada.
O title sponsor é apenas uma amostra do que pode ser feito.