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PARADA MERECIA UM BUSTO EM MOÇA BONITA

por André Felipe de Lima


O grande goleiro Ubirajara Motta, o maior do Bangu em todos os tempos, confessou durante um papo comigo gostar muito do ex-centroavante Antonio Parada Neto, o grande Parada, que partiu ontem. Disse que se tratava do melhor atacante (que também transitava como meia armador e ponta de lança) no futebol carioca entre 1963, quando chegou ao Bangu em abril, e 1966, meses antes do título carioca do Alvirrubro. Cobrava faltas como poucos. Esboçava até mesmo a famosa “folha seca” do mestre Didi. Era um craque na acepção mais rigorosa e inquestionável do termo. Diziam que atuava como Di Stéfano no Real Madrid, correndo o campo todo. Do ataque à defesa e vice-versa.

Estava tecnicamente tão bem que o Botafogo o contratou para ocupar a imagem de ídolo deixada em aberto com a ida de Garrincha para o Corinthians e a aposentadoria do Nilton Santos. Mais além, Parada e o zagueiraço Zózimo eram os nomes mais cotados do Bangu para integrar a lista do treinador Vicente Feola na Copa do Mundo de 1966.


Quando Parada despontou no time de aspirantes do Palmeiras, vindo dos juvenis do Ypiranga, em 56, concluíram que estavam diante de uma mistura de Humberto Tozzi com Mazzola.

O rapaz descendente de imigrantes italianos e funileiro tinha pinta de craque, e realmente era, mas não conseguiu emplacar no Parque Antarctica. Emprestaram o passe dele ao Nacional de São Paulo, em 58.

Voltou ao Verdão, porém. Pintou o interesse de clubes italianos, que estavam levando tudo que era jogador oriundi do Brasil para lá. A diretoria do clube o liberou para testes na Europa, mas Parada não se ambientou. Regressou e teve o passe negociado com a Ferroviária de Araraquara, em 61, que também envolveu na transação com o Palmeiras o jogador Rosã. Foi aí que entrou em sua vida o técnico Tim, ídolo, como jogador,do Fluminense, nos anos de 1930 e 40, e com quem Parada coincidentemente comemorava aniversário. Ambos nasceram em um dia 20 de fevereiro. Tim em 1915 e Parada em 1939, no bairro do Bom Retiro, reduto da colônia italiana na capital paulista.

Tim treinava o Bangu e estava montando um time espetacular com a maioria de jovens feitos na base do clube. O velho estrategista sinalizou a Castor de Andrade que fossem à Araraquara e trouxessem Parada. O rico banqueiro do jogo do Bicho coçou o bolso e dele tirou 10 milhões de cruzeiros para levar o rapaz, mas houve quem torcesse o nariz para a contratação do “italianinho”.


Em poucas semanas no Bangu, Parada, que fizera de Tim seu melhor amigo no Rio, calou a boca dos críticos. Jogou muito. Era o cérebro daquele Bangu, ao lado de Bianchini, como contou Ubirajara, que era o titular do arco daquele time extraordinário. Mas Parada não chegou a jogar muito tempo ao lado de Bianchini, que em 1964 foi para o América do México e depois seguiu para o Botafogo, onde voltaria a estar ao lado do Parada, em 1966.

Parada casou-se com Vilma e teve um casal de filhos. Recebia sempre a visita da irmã Carmela, que vinha de São Paulo para ver os sobrinhos. Considerava Ananias, do Flamengo, seu melhor marcador no Rio. Não bebia, mas fumava uns 10 cigarros diariamente. Católico fervoroso, era devoto de São Judas Tadeu. Gostava muito de pescar nos tempos em que jogava pelo Bangu. Quem o acompanhava nas pescarias era Castor de Andrade, que sempre teve uma relação muito próxima, de amizade, com os jogadores do time. Isso, o próprio Ubirajara reconhece: “Castor me deu um fusca de presente”. Com Parada e todos os outros não era diferente. Mas apenas uma peculiaridade: o “italianinho” era como um filho para Eusébio de Andrade, pai de Castor e presidente do Bangu.

Parada morreu ontem. Merecia um busto em Moça Bonita. Ídolo.

ONDE A REGRA NÃO ERA TÃO CLARA ASSIM

por Zé Roberto Padilha


No começo era, durante o Natal dos César e Coelho, como nas regras oficiais das residências dos meninos brasileiros: ganhavam de presente uma bola, um short, um meião ou uma chuteira. Porém, os pais foram notando que seu menino retornava triste das peladas. Não conseguia driblar, tabelar com os companheiros e, muito menos, fazer um gol. Se os amigos voltavam com as camisas suadas e enlameadas, a do seu filho, que mal lhe passavam a bola, ainda dava para jogar a pelada do dia seguinte. As partidas de futebol, como ele era sempre o ultimo a ser escolhido, já não lhe davam alegrias. Até que um dia durante o par ou impar, no limite dos 22 presentes a serem escolhidos, quando ia ser citado por ultimo e fechar a conta, eis que surge uma Kombi freando ao lado do campo. E quem o escolheria sentenciou ali o seu destino: “Eu quero o…..que está chegando na Kombi!”. Mal sabia se era bom ou ruim de bola. Nas duas hipóteses, certamente deveria seria melhor que o Arnaldinho…

Sendo assim, as regras não ficaram por lá mais tão claras assim. E o menino Arnaldo Cezar Coelho acabou ganhou um apito de presente no natal seguinte. Se não tinha habilidade com a bola nos pés, seu equilíbrio e senso de justiça, revelados desde que nasceu, o credenciaram a ser um juiz. Não precisava mais sujar a roupa na lama, apenas sua genitora, em alguns lances mais polêmicos, sairia de lá enlameada. Antes preterido, passou a ser o primeiro a ser escolhido, cobiçado pelo bairro e pela sua qualidade, convidado a fazer um curso de arbitragem. E seguir uma carreira diferente de todos os seus amigos.


Tão diferente que quando acertam tudo durante os 90 minutos, na difícil interpretação da velocidade cada vez maior dos lances, ninguém vê. Estão lá para isto, sentencia o Galvão. Não há replays que o exaltem nem o árbitro de vídeo a parar o jogo e elevar suas virtudes. Mas quando erram são taxados de sopradores de apito, ladrões pelas arquibancadas, caseiros pelos comentaristas e o eco da Rádio Globo ainda vive a soar por suas cabeças no vozeirão de Mário Vianna. Com dois enes. “Errrrooooouuuuuuu!!!!!!”

Ontem, ficamos sabendo que Arnaldo Cezar Coelho, um desses heróis que se prestaram a mediar nossas fortes emoções, julgados que são com poucas razões, está se despedindo da equipe de comentarista da Rede Globo. Tão bonita foi sua carreira, que não bastou ter apitado a partida mais valiosa do mundo, uma decisão da Copa do Mundo, quis também deixar como legado um novo mercado de trabalho para seus companheiros de profissão. Hoje, comentarista de arbitragem já dá emprego no futebol graças ao seu exemplo e desempenho. Fez como Raul Carlesso, o precursor dos treinadores de goleiros, que antes eram treinados juntos com os que não utilizavam as mãos. Um avanço. Outra inovação.


Enfim, depois de Arnaldo Cézar Coelho, apito com grife da Adidas, da Nike e da Puma, passou a ser, no país do futebol, um novo e cobiçado presente de Natal.

Obs. A primeira parte do texto foi de absoluta ficção, visando apenas exaltar a não ficção que se impôs quando o apito soou e colocou ordem na intenção do autor.

ROBERTO DINAMITE

por Serginho 5Bocas


Roberto Dinamite foi o maior artilheiro do estádio de São Januário, do Vasco, do Campeonato Carioca e do Campeonato Brasileiro em números absolutos de todos os tempos. Um dos maiores “faros” de gol que vi jogar.  Parecia lento, mas tinha força, velocidade e precisão para arrancar de longe e levar até aonde pudesse bater em gol, e batia forte e com direção, como poucos.

 Ele era temido pelos adversários, mas não me lembro de ter raiva dele, só medo. Tinha ótimos fundamentos e muito oportunismo, sabia como poucos onde a bola iria estar e suas cobranças faltas eram um “deus nos acuda”.

 Foi artilheiro do Campeonato Brasileiro duas vezes, do Carioca três entre outras marcas excepcionais.

Na seleção não teve muitas oportunidades, a época era bem servida de bons centroavantes, mas ainda assim, Roberto foi a duas Copas do Mundo (1978 e 1982), em cima da hora nas duas, sempre substituindo alguém por contusão, Nunes e Careca respectivamente foram os centroavantes que deram lugar a ele.

Na primeira ele ficou na reserva de Reinaldo e depois ganhou a vaga na “canetada” do Almirante Heleno Nunes, mas ali mesmo, dentro do campo, ele calou a boca dos críticos que duvidaram dele, marcando gols importantes e ajudando muito o Brasil a chegar em 3° lugar. Faltou pouco para vencer aquela Copa e se consagrar, talvez como artilheiro.

 Não fosse aquele jogo infame e “sem vergonha” em que a Argentina meteu 6×0 no Peru, quem sabe até aonde ele poderia ter chegado.

 Fez o gol salvador da primeira fase contra a Áustria e contra a Argentina, na fase semifinal, se o seu chute a queima roupa não tivesse batido no pé esquerdo de Ubaldo Fillol, numa defesa espetacular, e aquela bola tivesse entrado, vai saber até onde o Dinamite poderia chegar…

Em 1982, ele nem para o banco de reservas foi relacionado, foi um turista privilegiado na Espanha, infelizmente ele fez muita falta.


 Roberto teve uma importância enorme para o Vasco. No time da Colina, na época em que o seu maior rival, o poderoso Flamengo de Zico, vencia tudo e todos, contra o Vasco de Roberto, não era bem assim, sempre era osso duro de roer. Pois apesar do Vasco ter uma equipe considerada inferior no papel, os jogos eram sempre decisivos e duríssimos, raras eram as goleadas.

Tenho uma imensa saudade da briga saudável entre Roberto e Zico pela artilharia do Carioca, era palmo a palmo, e olha que vencer o Galinho em gols naquela época era tarefa para poucos, apesar de Zico não ser centroavante.

A gente escutava os gols de um e queria saber quantos o outro tinha feito na rodada, era outra época, uma época de ouro do futebol carioca, em que Roberto Dinamite era protagonista.

Roberto deixou saudades em quem gosta de bom futebol, ele foi um craque da grande área e acima de todas as torcidas, foi patrimônio do futebol brasileiro pelos seus mais de 700 gols em mais de 1000 jogos.

Pena que os meninos de hoje não saibam muito bem quem foi Bob Dinamite, aquele do oportunismo, do chute violento, da falta bem cobrada e do gol de placa que todos nós gostaríamos de ter feito um dia na vida, aquele em que a gente sonha até mesmo acordado que um dia vai fazer um igual. Sim, o gol de placa.


Matada no peito dentro da grande área, Lençol e chute forte de primeira sem deixar a bola cair no chão, aos 40 e lá vai fumaça do segundo tempo, golaço, aço, aço, aço, contra o Botafogo de Osmar.

Pergunte a um botafoguense daquela época se até hoje não tem pesadelos com Roberto? Como ele judiava dos botafoguenses, até quando jogava mal…

O Jornal dos Sports acertou na mosca quando criou o apelido que notabilizou o garoto Carlos Roberto de Oliveira no futebol.

Ô tempo bão!

NOSSO FUTEBOL DEVE SER SIMPLES

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Tem uma rapaziada que sempre pega no meu pé quando falo sobre a situação de nosso futebol: “Caju, você não acha que sempre bate na mesma tecla?”. Enquanto deixarem dar os meus pitacos continuarei batendo porque não podemos nos deixar levar por essa lavagem cerebral, esse delírio coletivo.

Não consigo acreditar quando rodo com o controle remoto pelos Sportvs, Fox e ESPNs da vida e ouço alguém elogiando a atuação da seleção brasileira contra o Uruguai. Peraí, Kkkkkk!!! Só de ver Renato Augusto, Miranda, Danilo e Walace no grupo já levo na brincadeira. E Neymar na coletiva? Orientado pelos estrategistas de plantão, garantiu que amadureceu, que as últimas Copas perdidas serviram de lição.

Aí começa o jogo e ele segue o fominha de sempre, individualista, personalista, que não leva em consideração o jogo coletivo. Pior, com a arrogância de sempre. Ou não viram a birrinha dele com Cavani?

A seleção continua sem padrão de jogo e venceu por conta de um pênalti maroto. Em um jogo desses, Felipão, quer dizer Dunga, quer dizer Mano, quer dizer Tite, entrar com três cães de guarda soa como ridículo. E sua comemoração no gol? Parecia final de Copa do Mundo! Ele sabe jogar bem com as câmeras.


Outro dia, esteve em uma dessas mesas redondas, em que os jornalistas babam e brilham os olhinhos a cada comentário, e revelou que uma revista especializada publicou o ranking dos técnicos intergalácticos e ele subiu algumas posições, Kkkkkkkkk!!!!! Peraí, qual é o nome da revista, “Me Engana Que eu Gosto”? Sério, o que mudou na seleção e no futebol brasileiro após duas Copas perdidas?

Vejam o cenário: Paquetá, o novo Deus do futebol, foi expulso novamente e segue a passos firmes para atingir o topo dos mais chiliquentos do futebol, Felipão pode ser o campeão com sua tática ultrapassada, a mesma seguida por Odair, do Inter, e Mano, do Cruzeiro, e Gabigol, que não deu certo na Europa, é o artilheiro da competição. Como querem que eu não bata na mesma tecla se nosso futebol não sai do lugar?

O Atlético Paranaense é um time bom de ver jogar, tem o dedo do ex-treinador Fernando Diniz, que pode não ter alcançado os resultados na época, mas traz um frescor necessário ao futebol.

Os times de Roger (por onde ele anda?) também. Passou bem por Grêmio, Palmeiras e Atlético Mineiro. Não falo de resultados, mas na forma de montar os times, você vê uma filosofia diferente de jogo, a busca por algo novo. Mas a falta de tempo e de ousadia levam os dirigentes a investir em técnicos pedreiros, aqueles especializados em muros de contenção, Kkkkk!!!

Não compliquem, nosso futebol dever ser simples, surpreendente, afinado e com a mesma linha de raciocínio da canção imortalizada por João Gilberto: “Eis aqui este sambinha feito numa nota só, outras notas vão entrar, mas a base é uma só…”.

FALTA DE GOL DE FALTA

por Rubens Lemos


Há cinco ou seis anos, estatística deixa para os nerds de resenha eletrônica, a seleção brasileira não faz um gol de falta. É um crime de lesa-futebol tão grave quanto um crioulo do Bronx em Nova York errar lances livres em quadra de basquete. Nada resume com tanta indignidade a falência técnica do nosso escrete.

Detesto o futebol brasileiro de hoje, abomino o estilo pobre, horroroso no domínio de bola, incapaz de um drible e sem charme de uma seleção bem comportada e dependente de um chato multimilionário que passa a mão na virilha aos cinco minutos da pelada de luxo sem o mínimo convincente de malandragem.

Neymar não precisa da profissão e seu desempenho em Copas do Mundo equivale ao do bom Valdo, meia recuado na Copa de 1990 ou ao esforço de Gilberto Silva em 2002, 2006 e 2010. Neymar entra no rol dos comunzinhos de paradas de homem, gladiador eficiente contra Portuguesas Santistas e timecos franceses.


Neymar, o camisa 10, não acerta uma falta, exercício poético de perícia pois é banal. Falta-lhe a folha-seca de Didi, a bossa de Paulo César Caju, a patada de Rivelino, a curva rebelde de Garrincha, o repertório variado e feiticeiro de Zico, a pontaria de Roberto Dinamite, os capítulos e versículos sagrados de Pelé. Todos pistoleiros de entrada de área.

Uma seleção que passa cinco anos sem fazer um gol de falta (cinco ou seis anos, matemáticos do scout irritante?), é a negação da matéria-prima prima peladeira dos gênios de ventre.

Um time treinado por um chanceler de prancheta que, volante à Caçapava, Chicão ou Ruço quando jogava, jamais acertou uma bola no ângulo do goleiro inerte. Tite é uma embalagem. Venceu 13 dos 15 jogos de 2018. Perdeu o que não podia, no chocolate belga da Copa do Mundo. Mais ou menos o cara que posa de pé-de-valsa e termina de cueca na gafieira, desmoralizado pelo otário de paletó xadrez.