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PÁGINA EM BRANCO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Os torcedores, como sabemos, perdem o amigo, mas não a piada. Um grupo assistia ao Flamengo x Vasco em uma mesa ao lado da minha. “A cada passe errado o Roni vai pagar um chope!”, sugeriu Porquinho. Se Roni aceitasse teria que pedir um empréstimo para não ficar com fama de caloteiro.

O vascaíno Porquinho se lembrava dos tempos de Romário, Edmundo, Mauro Galvão e quase chorava. Roni nem citava Zico. Se contentava com Obina e Brocador: “Pelo menos sabiam fazer gol”.

O jogo estava tão ruim, mas tão ruim que volta e meia Porquinho dava uma saída do bar para refrescar a cuca. Em uma das vezes, quando voltou, viu os jogadores empurrando a ambulância e perguntou: “Para aonde estão levando a bola?”. Os amigos morreram de rir, mas a verdade é que a bola tem apanhado demais. E para piorar leio que os clubes estão deixando de investir na base para comprarem “jogadores prontos”.

Lembro de uma propaganda que perguntava ‘‘Tostines é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?”. Peraí, como teremos jogadores prontos sem investir na base? É impossível!!! Basta os estatísticos de plantão contabilizarem o número de passes errados a cada partida. O número de faltas, de chutes longe do gol. Quantos gols de falta foram marcados no Brasileiro? Quantos gols de cabeça? Quantos gols nasceram após uma tabelinha bem construída? Quem é o melhor 10 do campeonato?

Essa tecla já está mais do que batida e fica até chato ficar repetindo, mas essa notícia foi publicada ontem, anteontem, sei lá. O número de faltas deve ter quadruplicado porque hoje cada time quer ter seu Felipe Melo de estimação. Se for falar das reclamações com o árbitro e simulações aí esse número dobra. Está chato, só isso, chato.


Me diga o que podemos esperar de um clássico Palmeiras x Cruzeiro, com Mano de um lado e Felipão do outro? Absolutamente nada. Mas os dois se acham os maiores estrategistas do planeta. Colocam 50 na zaga, um poste na frente e pronto. O time do poste com mais sorte vai ganhar o jogo. E assim caminha o nosso futebol.

Hoje cada time tem pelo menos cinco jogadores chilenos, venezuelanos, equatorianos. O Vasco trouxe um centroavante argentino de quase 40 anos. Quem é o centroavante da base do Vasco? Não saberemos nunca. São emprestados para “pegar experiência” e nunca mais retornam. Se esses sul americanos pelo menos fossem bons de bola, seria maravilhoso, mas, sinceramente, não tem sido o caso. Apoio o intercâmbio.


Só uma boa base nos salvará! Mas não me venham colocar professores de Educação Física para formar essas bases porque o resultado já sabemos: novos robozinhos. A escolinha do Fluminense se chama Guerreirinhos, não é preciso dizer mais nada. Essa filosofia de Hulks, Gladiadores, Ceifadores e He-Mans precisa acabar.

Necessitamos de super-heróis com outra mentalidade, que saibam, pintar, cantar, bailar. Precisamos de campos, não de arenas. O saudoso Armando Nogueira misturava futebol e poesia em suas crônicas. Hoje somos uma página em branco.

Paulo Almeida

capitão do peixe

por Paulo Oliveira

Fominha é o adjetivo que melhor define o meia Paulo Almeida, campeão brasileiro e capitão do Santos, em 2002, que possui carreira meteórica tanto para o estrelato quanto para o declínio. O mais importante para este esportista de Itarantim, cidade do sul-baiano a 631 km de Salvador, cuja economia está fundamentada na agropecuária e na produção de cachaça, é estar em campo.

Para quem não o conhece, chega a ser estranho vê-lo aos 37 anos, na função de técnico e jogador do Água Vermelha, time amador eliminado nos pênaltis pelo rival Bob Kennedy, nas quartas de final da competição municipal deste ano. Ou se esforçando para fazer um milagre: classificar a fraca seleção de Macarani, terra natal da mãe dele, para a fase seguinte do Campeonato Baiano Intermunicipal de Futebol, disputado por seleções de 64 municípios.


O estranhamento tem a ver com a face vitoriosa da trajetória de Paulo no futebol profissional, que o levou à Europa para defender o Benfica com apenas 23 anos.

Sua fome de bola é tanta que quando a carreira entrou em crise aceitou propostas para jogar em mercados desvalorizados do Centro-Oeste e Norte do país e passou a peregrinar pelo União de Rondonópolis, Goianésia, Rio Branco (AC), Itumbiara e Mixto. O que importava era estar em ação, mesmo que contusões atrapalhassem o rendimento.

Para não ficar longe da bola, Paulo aceita inclusive ser ‘cartola’. Hoje é o combativo presidente da Liga Itarantiense de Futebol, com mandato até 2021. Como represália às críticas que fez à política municipal de esporte não obteve verba para inscrever a seleção da cidade no Intermunicipal.

A história de Paulo, recheada de fatos curiosos – deu cartão amarelo a um juiz, dormiu o troféu de campeão Brasileiro, abandonou um grande clube para disputar um campeonato de futebol de salão no interior da Bahia, entrou em choque com poderoso empresário português e os poucos gols (quatro, se tanto) que fez na carreira – você vai conhecer agora através da parceria Meus Sertões/Museu da Pelada. Nosso repórter foi até a antiga Diadema de Pedra, hoje Itarantim, onde conversou por duas horas com um dos expoentes dos “Meninos da Vila”.

ESCOLINHA

Sem sequer sonhar que passaria por 14 times de futebol profissional, Paulo Almeida corria atrás da bola “em tudo quanto era buraco” de Itarantim para desgosto do pai. Matava aula e passava o dia inteiro batendo babas (termo baiano para pelada). Com o passar do tempo, ouvindo os amigos falarem que o filho levava jeito de jogador, seu Everaldo foi deixando de pegar no pé do garoto.

Não se opôs quando o guri passou a frequentar a escolinha de futsal Craques do Futuro, do professor Severo, do professor Sivaldo e de muitos outros que a mantém funcionando até hoje. Aos 14 anos, atuava entre os adultos. Chegou à seleção do município e foi campeão regional na mesma época em que foi levado para fazer um teste no Cruzeiro.

Seu padrinho foi Luciano Matos, dono da empresa que até hoje faz translado de equipes de fora que enfrentam o Bahia e o Vitória, em Salvador. Paulo soube por um amigo que o empresário tinha feito a ponte com o clube mineiro e convenceu os pais dele a autorizar a viagem. A tarefa não foi difícil porque o irmão mais velho, Edson, o Nem Leão, tinha sido atleta do Serrano e do Fluminense de Feira de Santana e a família, que sabia como tudo funcionava, se tranquilizou.

“Só não foi tranquilo para mim, né. Nunca tinha saído de uma cidadezinha deste tamanho para fazer teste em uma cidade grande. Chorei a semana toda. Antes só pensava em fazer parte de um grande clube. Quando eu cheguei lá, vi que não queria ficar” – conta Paulo, que permaneceu sete meses no clube, foi visitar a família no Natal e não retornou.

O jogador revela o motivo pelo qual decidiu ficar em Itarantim:

“Quando cheguei, estava tendo uma competição regional de futsal. Aí fiquei jogando, jogando e não quis voltar”.

SANTOS F.C


A oportunidade de defender o Santos surgiu da mesma forma que o primeiro teste em BH. Foi através de um contato de Luciano Matos. Quando Paulo chegou na Vila, o treinador do juvenil era Coutinho, o mesmo que formou o ataque mais famoso do mundo ao lado de Dorval, Mengálvio, Pelé e Pepe.

O time estava praticamente pronto. Faltava apenas um zagueiro. Mesmo sendo volante, Paulo se apresentou para a função e foi aprovado. Disputava o campeonato juvenil de 1998 quando foi promovido para a categoria junior. Tinha 17 anos e era o mais novo do grupo.

Foi o acaso que o fez voltar à posição original no meio-campo. Um jogador faltou a um jogo e Coutinho o reconduziu ao meio-campo.

Nada mudou até o ano 2000. O ano começou com Carlos Alberto Silva como treinador. Pouco depois, foi substituído por Giba, técnico da base que levou seus pupilos para a equipe principal e foi o responsável pela estreia de Paulo Almeida entre os profissionais. Foram cinco minutos de uma partida contra o Guarani.

No ano seguinte, as coisas não andaram bem para o Peixe. Sem nenhum grande resultado, os jogadores entraram de férias e se reapresentaram em janeiro de 2002. Nove equipes paulistas tinham desistido de participar do campeonato estadual para priorizar o Torneio Rio-São Paulo. Eliminado, os jogadores entraram novamente em férias.

“O clube enfrentava dificuldades financeiras. Os salários estavam atrasados A diretoria achou por bem liberar todo mundo. Como o Brasileirão ia começar em agosto, achávamos que só nos reapresentaríamos em junho. Mas o presidente contratou o professor Émerson Leão e voltamos a treinar no começo de maio” – recorda o meio-campista.

Sem dinheiro para contratações, o jeito foi apostar nos meninos da base. Paulo contou que no início do Brasileirão, o clima era tipo “esses são os jogadores que temos, vamos brigar para não cair”

“Deus abençoou, a gente se uniu e fomos campeões” – resume o volante.


Dito desta forma, parece que foi fácil. Longe disso. O Santos de Fábio Costa, Maurinho, Alex, André Luís e Léo; Paulo Almeida, Renato e Elano; Diego, Robinho e Alberto sofreu para conquistar a oitava e última vaga da fase final do último campeonato que antecedeu o modelo de pontos corridos.

Primeiro, Leão teve que jogar duro para não ser enrolado internamente. O pessoal da base escondia jogadores, um deles Alex (zagueiro que teve passagem pelo Paris Saint Germain, Milan e seleção brasileira), para que este priorizasse o campeonato de juniores em vez do time principal. A primeira medida foi proibir os atletas que estava avaliando de jogar em outra categoria.  Alex estreou contra o Fluminense, no Maracanã, em um jogo que terminou 1 a 1.

Depois, foi preciso um resultado inesperado para o clube terminar a fase inicial em 8º lugar. Nos últimos sete jogos, os santistas acumularam cinco derrotas, um empate e uma vitória. Resultado surpreendente como a goleada do rebaixado Gama sobre o Coritiba por 4×0 ajudou os santistas a se classificar pelo saldo de gols.

O que fez os Meninos da Vila ficarem tão perto da desclassificação?

“Acho que faltou experiência. Tinha muito garoto e sempre tem alguém que quer aparecer demais. Às vezes sobe para a cabeça, desfoca um pouco. A gente pode ter pensado assim: o objetivo de não cair já foi alcançado. Também tinha a pressão da torcida, que não ganhava um título nacional desde 1968 e um campeonato paulista há quase 20 anos (o último tinha sido em 1984)” – avalia Paulo Almeida

Com a classificação, começou um outro campeonato. Era hora de fazer história no mata-mata.

O primeiro adversário foi o São Paulo, time de melhor campanha, o primeirão. Melhor em tudo – mais vitórias, melhor saldo de gols. Rogério Ceni, Kaká, Ricardinho, Luís Fabiano e Reinaldo eram os principais atletas. O tricolor tinha a vantagem de jogar por dois resultados iguais. Na Vila, 3×1 Santos. No jogo de volta, precisando fazer dois a zero para se classificar, o time da capital abriu o placar aos quatro minutos do primeiro tempo. No entanto, levou a virada na segunda etapa.

Paulo Almeida credita boa parte da vitória ao técnico Leão e ao fato dele ter acalmado a equipe no intervalo, lembrando que o Santos ainda estava com vantagem, apesar de o placar ser adverso.

“Com esta visão, ficamos mais calmos e ganhamos” – diz Paulo.

O adversário seguinte, o Grêmio, era outra pedreira. Os gaúchos tinham um dos artilheiros do campeonato, Rodrigo Fabri (19 gols). Também eram fortes na marcação. Porém,nada disso adiantou na Vila Belmiro. Os gaúchos perderam de 3×0, em dia de gala de Robinho. No Sul, o tricolor venceu por 1×0, resultado insuficiente para classificá-lo. O Santos estava na final com o Corinthians.

Paulo Almeida acredita até hoje que o rival ficou com medo de jogar em Santos. Alega que o Timão ficou preocupado diante das derrotas do São Paulo e Grêmio, na Vila, por três gols. Por isso, fez pressão para que os jogos decisivos fossem no Morumbi.

Na primeira partida, vitória santista por 2×0, gols de Alberto e Renato.

CAMPEÃO


Deixamos Paulo Almeida contar com suas próprias palavras como foi a conquista do título mais importante de sua carreira:

“O Diego lesionou logo no começo do jogo. Na realidade, ele já estava lesionado. A gente passou uma semana na concentração e ele ficou tratando a lesão. Não fez nenhum treino.A gente já sabia que ele estava machucado e que talvez não poderíamos contar com ele. Com cinco minutos de jogo, ele sentiu, saiu. Graças a Deus o Robert entrou muito bem.

Saímos na frente 1 a 0. As famosas pedaladas do Robinho.

Tomamos o gol de empate, tomamos a virada. Aí veio aquele momento de discussão, de desespero. Nada dava certo. Passa pela cabeça dos jogadores e dos torcedores.: “Será de novo?”.  Com o Santos era sempre dessa forma. Chegava na final, tava indo, tomava um gol. Vinte anos nessa espera (Nota da redação: os últimos títulos do Santos tinham sido, o Brasileiro de 1968, o paulista de 1984, o Rio-São Paulo de 1997 e a Conmebol de 1998).

Naquela tarde Robinho estava bem demais. Ele fez mais uma grande jogada e o Elano empatou. No final (47’02” do segundo tempo), em outra jogada do Robinho, que passa a bola para o Léo… Essa eu vi bem porque eu estava ao lado do Léo. Era a última jogada. Assim que o Léo faz o gol, o Simon (árbitro) encerrou a partida. Foi o gol da virada.”

Além de contar os detalhes marcantes da partida, Paulo também lembrou de uma atitude importante dos jovens jogadores antes do primeiro jogo contra o São Paulo: o técnico Leão deixou o campo e os jogadores se reuniram para discutir o que estava dando errado nos últimos jogos. A conversa, segundo o capitão do time, deu resultado.

O capitão se recorda do que disse na reunião:

“Nós ali atrás vamos segurar para vocês resolverem o jogo. Vamos dar o sangue”

Depois do título, a equipe voltou para Santos e circulou pela cidade em carro de Bombeiros. A euforia foi tanta que a taças do campeonato e a que foi entregue pelo patrocinador ficaram esquecidos. Paulo relata que pegou o troféu principal e levou para casa:

“Ninguém sabia que ela estava comigo. Ela dormiu do meu lado. O Fábio Costa levou a do patrocinador. Não sei se alguém ficou procurando por elas. Só lembro que no dia da reapresentação, eu o Fábio devolvemos os troféus”

O ANO DO VICE

No ano seguinte, a bola bateu na trave para o Santos em diversas competições. No Brasileirão, o Santos ficou em 2º lugar, após perder os dois importantes jogos para o Cruzeiro no primeiro e no segundo turno. A equipe mineira foi campeã de todas as competições que disputou no ano, conseguindo a “tríplice coroa”. Paulo ficou de fora nos dois confrontos. No primeiro estava suspenso por ter tomado o terceiro amarelo. No segundo, foi barrado por causa de uma lesão na parte posterior da coxa.


Já na final da Libertadores, o algoz foi o Boca Junior, que conquistou três títulos da competição entre 2000 e 2003. Os argentinos tinham um plantel fabuloso: Riquelme, Tevez, Battaglia, Ibarra e Abbondanzieri. Foram duas derrotas (2×0 e 3×1) e um episódio que marcou a carreira de Paulo Almeida.

No segundo jogo, a partida já estava no final. Fábio Costa derrubou um jogador argentino e o árbitro Jorge Larrionda tirou o cartão amarelo do bolso para mostrar ao goleiro. Na versão de Paulo, Fabiano tirou o objeto da mão do juiz e lhe entregou. Por sua vez, o capitão santista mostrou o cartão como se tivesse repreendendo o árbitro.

“Ele podia ter me expulsado, mas levou na esportiva. Deu um tapinha no meu rosto e começou a sorrir. Acho que pensou que não ia fazer diferença me expulsar. O Boca já era campeão mesmo.”

Paulo encerraria o ano com mais um vice-campeonato na coleção: o da Copa Ouro. Realizado pela Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe), a 7ª edição do torneio tinha o Brasil e a Colômbia como convidados.

O volante baiano era o titular da seleção sub-23, formada pelo técnico Ricardo Gomes. Jogava ao lado de Robinho, Diego e Alex, companheiros no Santos. Na decisão o selecionado brasileiro perdeu para o México, no segundo tempo da prorrogação. O centroavante Borgetti marcou o “gol de ouro”, também conhecido como “morte súbita”.

“A partida foi na cidade do México, ao meio-dia. Altitude, calor, tu é (sic) louco de jogar nessas condições!” – comenta.

Além da Copa Ouro, Paulo diz ter jogado amistosos contra equipes paulistas e participado do pré-olímpico no Chile, classificatório para as Olimpíadas na Grécia. No último jogo, bastava o empate, mas o Brasil perdeu para o Paraguai (1×0). A explicação para a eliminação dada pelo meio-campista é que os convocados levaram para o selecionado a rivalidade entre os times em que jogavam.

“Não posso citar o nome desses atletas, alguns ainda estão em atividade” – justifica.

Para o pré-olímpico, Ricardo Gomes contou com nove campeões brasileiros. Quatro jogadores do Cruzeiro (2003) e cinco do Santos (2002).

OS ENCARNADOS

Na Libertadores do ano seguinte, 2004, o Peixe foi eliminado pelo campeão Once Caldas, da Colômbia, nas quartas de final. No Brasileiro, porém, caminhava para mais um título. Após a décima rodada, Paulo Almeida foi negociado com o Benfica.

Com a negociação comprou as duas fazendas que mantém até hoje na região centro-sul da Bahia, uma delas com área para realização de vaquejadas. Aficionado por cavalos de raça, passou a investir também em gado leiteiro e de corte.

Foi difícil conter a euforia dos itarantienses. A carreira de Paulo decolava como a de nenhum outro jogador da cidade. Até então, Zezito Tavares de Souza, o Tarantini, campeão brasileiro pelo Bahia, em 1988, era o atleta de Itarantim que mais se destacava.

Paulo, porém, sempre foi muito querido na cidade. Desde o tempo do Santos, segundo amigos próximos, ele distribuía um caminhão com presentes para as crianças de Itarantim, na época do Natal, e gostava de presentear os parceiros com garrafas de cachaça de excelente qualidade. Tal como Papai Noel, passaria a usar uniforme vermelho.

Torcedores resumem assim, a passagem do volante baiano pela “Catedral”, como também é conhecido o Estádio da Luz, em Lisboa:

“Começou como titular, foi para o banco. Foi para o Benfica B e foi para o banco do Benfica B.”

A equipe lisboeta amargava 10 anos sem título na Primeira Liga quando contratou Paulo Almeida. O técnico era o italiano Giovanni Trapattoni, com passagem vitoriosa pela Juventus, Internazionale (ITA), Bayern de Munique (ALE) e seleção irlandesa. Na versão de Paulo, tudo ia bem até a direção guindar o empresário Antônio José da Silva Veiga, conhecido como José Veiga, ao cargo de diretor-geral de futebol.

Veiga chegou a ter 24 jogadores do elenco encarnado. E, de acordo com Paulo, “se não fosse jogador dele não jogava”:

“Comecei a questionar isso e passei o resto da temporada fora do time. Treinava para não quebrar contrato. O Trapattoni, quando acabou o campeonato pegou o boné e foi embora. Ele falou que ia tirar um tempo de descanso. Não passou um mês, acertou com o Stuttgart, da Alemanha, aí fui entender o porquê das coisas. Ele não conseguia trabalhar, era muita interferência” – conta.

O Benfica foi campeão da temporada 2004-2005 e Veiga ganhou força. Em 2006, no entanto, deixou o clube, acusado de irregularidades financeiras na compra de ações de um banco luxemburguês. Dono de empresas em países africanos e no Brasil (Aspebras), Veiga foi detido em 2016, acusado de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro na venda do Novo Banco de Cabo Verde.

Hoje, Paulo se arrepende de ter rescindido o contrato que tinha, segundo ele, até 200

8. Diz que era novo e queria retornar ao Brasil, mas se fosse hoje, com mais experiência, teria esperado o dirigente sair.

Oficialmente, ele foi relacionado em 27 partidas pelo Benfica. Em onze (13,25%) começou como titular; em quatro (4,8%) estava no banco, mas foi aproveitado; e em 12 (14,46%) ficou no banco. Nesta temporada, o time lusitano fez 83 jogos, segundo o site transfermarket.pt. Ou seja, o brasileiro só ficou disponível em 32,5% dos confrontos.

Paulo também se contundiu em um jogo na Bélgica. Era a primeira vez que entrava em campo com temperatura negativa e não se aqueceu direito. Sentiu uma fisgada e passou um tempo em tratamento. A única alegria que teve foi fazer parte da foto do elenco campeão da temporada 2004/2005, embora não tenha tido participação constante na temporada.

CORINTHIANS


Com o dinheiro obtido na passagem por Portugal, Paulo também adquiriu um apartamento em São Paulo, estado para o qual retornou em 2006, contratado pelo Corinthians. Outra experiência difícil. Primeiro, a relação entre o clube e a MSI (Media Sports Investments), um fundo de investimentos sediado em Londres, começou a ruir.

O empresário iraniano Kia Joorabchian, representante da MSI no Brasil, e o presidente do Corinthians Alberto Dualib foram acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação e formação de quadrilha. O ambiente ficou tumultuado. Em campo, Paulo conta que sofreu uma lesão no ligamento colateral medial, que vai da tíbia ao fêmur.

“Aí as coisas desandaram um pouco” – admite

Em 2007, ao se recusar a ficar no banco, foi afastado pelo técnico Leão. Além disso, a contusão o deixou um bom tempo fora de ação. Foi neste momento que apelou para um artifício usado em momentos críticos: se refugiou em Itarantim.

Ao retornar para o Corinthians, encontrou tudo mudado. Havia um novo técnico, Paulo César Carpegiani, que fizera várias alterações. Resolveu encerrar o contrato com o alvinegro do Parque São Jorge.

PÉRIPLO

A partir daí, passou por um punhado de clubes. Nessa época, circularam histórias de que foi dispensado pelo Coritiba, ABC e Náutico por deficiência técnica, o que nega categoricamente.

“Nunca joguei no Coritiba. Quando estava no Corinthians cheguei a negociar com eles, mas não fui por causa da lesão no joelho. Também nunca joguei no ABC. No Náutico a conversa é outra. Tenho uma ação na Justiça contra o clube há dez anos por falta de pagamento. Esse foi o motivo de minha saída. Entrei na justiça e ganhei em todas instâncias. O único recurso que cabe ao Náutico é me pagar” – conta.

De Pernambuco, Paulo Almeida passou sete meses no Irã, defendendo o Saba Qom Football Club. Ficou impressionado com a beleza do país, com o clima de tranquilidade nas ruas e com o desenvolvimento do futebol. Só estranhou o período do Ramadan, mês em que os muçulmanos jejuam durante o dia e só se alimentam à noite e de madrugada.

Registrou que também atuou pelo Asteras de Trípoli em período inferior a três meses. Reclamou que “o combinado não foi cumprido”.

Da paradisíaca Grécia, seguiu para um périplo por times de menor expressão. Passou pelo União de Rondonópolis (MT), Goianésia (GO), Rio Branco (AC), Itumbiara (GO), Mixto (MT) e Uberlândia (MG). Nesse período, foi campeão pelo União, em 2010, no único título conquistado na história do clube, e pelo Rio Branco (2011).

Perguntado porque optou por centros de menor tradição no futebol e se a escolha teria sido por falta de opção, Paulo pensou um pouco antes de responder:

“Nunca quis voltar para o Santos, já tinha feito história lá. Podia ter ido para algum clube de São Paulo, até mesmo os intermediários como Santo André e São Caetano. Eu acho que a minha escolha pode até ter sido errada, mas foi por causa de meu amor pelo futebol” – diz.

CONQUISTA

Paulo Almeida encerrou a carreira no Esporte Clube Primeiro Passo, nome oficial da agremiação que é mais conhecida pela cidade onde está localizada: Vitória da Conquista, a 180 km de Itarantim.


Quando assinou com o clube, os jornais paulistas publicaram matérias dizendo que o ex-capitão do Santos ia ganhar R$ 15 mil mensais, “salário da molecada” dos grandes times de São Paulo.

Em 2015, o ECPP (Vitória da Conquista)formou um time que mesclava jogadores experientes, como Paulo e o goleiro colombiano Viáfara, com jovens promissores. A fórmula o levou a decidir o campeonato com o Bahia.

No primeiro jogo da decisão, em casa, o alviverde derrotou o adversário por 3×0. No jogo da volta, em Salvador, o Tricolor goleou (6×0) e foi campeão.

Paulo não se abateu. No quarto de cerca de 20 metros quadrados, na casa da mãe, em Itarantim, onde guarda camisas, medalhas, troféus, fotos e pôsteres, ele guardou mais uma peça para a sua coleção: a bola da decisão do Baianão.
 

 

VITÓRIA TRANQUILA DO PALMEIRAS E O ABSURDO QUE NÃO HOUVE

por Marcelo Mendez

Eis que tivemos mais uma partida de Libertadores da América.


Todavia, de tudo que se esperava dela, pouco aconteceu. Vejamos:

Depois do que rolou na noite anterior na Bombonera, quando o Cruzeiro foi garfado pelo VAR, ao longo do dia o que mais se falou foi a mordaz eminência de um complô sul-americano de todas as outras Nações contra nós, Brasileiros, bronzeados e belos.

Muito se falou.

Que havia um esquema na Conmebol, que a culpa de tudo era do Coronel traíra, que enganou todo mundo na eleição da FIFA, enfim; Que o Palmeiras estava lascado!

Mas não foi o que houve.

O árbitro do jogo teve uma atuação irretocável. Nada daquele velha e bucólica Libertadores, donde havia Ladrões homéricos no apito, figuras rotundas como Ramón Barreto, emérito safado, não… O árbitro foi obviamente correto. 

Também não teve pressão, guerra, nem nada disso, imaginem.

Só faltou vinho e empanadas para receber o Palmeiras em Santiago. Ao pé da Cordilheira, o que mais imperou foi a cordialidade. E sem nada disso para se ocupar, resta, portanto, falar do jogo.

Ufa! O jogo…


O Palmeiras teve um começo dos sonhos. Foi para o ataque, pressionou e conseguiu seu gol antes dos três minutos de jogo. Foi arrebatador, contumaz e tinha tudo para resolver sua classificação nos primeiros 45 minutos. Mas falando em obviedades, o time voltou para o segundo tempo, cumprindo bem essa premissa ululante.

Como manda a regra desse atual futebol, o Palmeiras recuou para ficar acuado, sem muita criatividade, trocando poucos passes, bola batendo e voltando a todo tempo, escolhendo o sufoco, ante à tranqulidade. Mas o adversário não ajudou.

O Colo Colo, lento, envelhecido, vivendo de brilharecos de Valdivia, até tentou criar algo. Mas a sua limitação técnica o condenou e Willian, num contra ataque, arrancou, acertou a trave e no rebote, Dudu empurrou para o fundo das redes.


Foi o 2×0 que definiu a partida. O Palmeiras encaminhou a sua classificação para as semifinais da sonhada Libertadores sem maiores sustos. Aliás, sustos mesmos, só aqueles que o Palmeiras quis tomar, coisa que seria melhor evitar.

A pressão arterial do torcedor Palmeirense agradece.

O VAR ABAIXO DA CINTURA CRUZEIRENSE; GOLPE BAIXO

por Marcelo Mendez


“A história passada está de pernas para cima porque a realidade anda de cabeça para baixo.” – Eduardo Galeano

Foram Grandes os homens que através de suas poesias, de suas fúrias, de seus corações aos pulos, tentaram explicar a América Latina.

Nossa história, do lado de cá do hemisfério, é feita de tantas idiossincrasias quanto pressupõe o verso, ou a blue note de um jazz improvável. A razão balança ao som de sambas, candombes, tangos, cumbias e outros sons, batidas e pulsações.

Temos por aqui nosso jeito de entender tudo isso. Nossa paradoxal aventura de sentir as coisas da vida. Creio que isso tem a ver com nossa insistência com a Copa Libertadores da América. A Copa sul americana de futebol vai para muito além de futebol.

Com o inicio em 1960, a Libertadores viveu seu apogeu no continente justamente no auge das Ditaduras do Continente nos anos 70. O extremo nacionalismo desses regimes totalitários fez da Copa uma espécie de guerra por afirmação, por uma pretensa soberania continental e nela passou a se pressupor que tudo podia.


Podia criar um inferno para os times visitantes, como o Santos fez com o Peñarol em 1962, como o Independiente fez com esse mesmo Santos em 1964, como o Estudiantes fez com o Palmeiras em 1968, como a Conmebol fez com o Colo Colo nas três partidas contra o Independiente, no maior roubo da história da competição.

E todos esses crimes do apito se perpetuaram por décadas até que chegou o advento do jogo ao vivo, televisão mostrando tudo e as coisas mudaram de vez. Todavia, eis que para espanto geral, em pleno 2018, fatos passados da antiga Libertadores voltam a assombrar os times Brasileiros.

Nada explica o que foi feito contra o Cruzeiro ontem na Bombonera.

O lance era claro: Dedé dividiu a bola normalmente com o goleiro Andrada e o choque forte do lance foi algo normal que acontece em um jogo de futebol. Então, munido pela síndrome de pequenos poderes, ou da sanha de justificar o uso do VAR, uma ferramenta cara, o sujeito responsável pelo recurso eletrônico chama árbitro Éber Aquino, o apitador da coisa. Ele consulta então o VAR, olha pra telinha do computador com olhos de rapina, assiste ao lance inúmeras vezes e decide: Dedé, expulso.

O árbitro errou no VAR! Com toda a tecnologia, recursos, sem nenhuma pressão, ele pode olhar o lance e então, errou! A questão que fica é, até quando? Será possível vencer uma Libertadores no campo de jogo, ou viveremos uma espécie de remake, voltando para o ano de sei lá, 1972?

A resposta poderá vir mais a noite, quando o Palmeiras enfrentará o Colo Colo no Chile. Fiquemos atentos, caros. Ou senão, voltem a transmitir os jogos em preto e branco:

Sejam honestos e assumam os seus retrocessos, Cartolas.

FUTEBOL E POLÍTICA NÃO SE MISTURAM?

por Paulo Escobar


Passa ano e sai ano, mas uma coisa repetida e que não muda de jeito nenhum é o papo de muitos programas esportivos ou de jornalistas com o mesmo chavão de sempre que futebol e política não se misturam. O incrível é que a cada dia tentam nos convencer de que uma coisa não tem a ver com a outra e assim continua o circo de malabarismos que tenta nos convencer de algo que é tão concreto.

Partindo da ideia de que política é tudo aquilo que involucra as questões da cidade, os interesses das pessoas que vivem nesta cidade ou sociedade, e tudo aquilo que nos afeta no nosso dia a dia. O poder do Estado sobre nós, os sistemas que nos colocam, os poderes e os interesses que nos atingem no dia a dia e tantas outras questões, e o futebol parte de tudo isso, como ainda insistem em nos convencer que uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Do momento que você liga a televisão para assistir a partida do seu time já é um fato político, as empresas por traz das propagandas, os interesses da emissora que te atinge e tenta te fazer ver de acordo com o que ela deseja, o hino cantado e a entidade que comanda o futebol que entra na sua casa em dias de jogos.

Diante disto podemos pensar:

– Jogadores que apoiaram regimes opressores e que com sua imagem ajudaram na ocultação de injustiças é um fato político.

– Aqueles que resistiram através do futebol praticaram um fato político.


– Maradona ser perseguido no antidoping depois de não ter cumprimentado Havelange na final da Copa de 90 é um fato político.

– Os pobres terem seu acesso a cada dia que passa mais dificultado aos estádios é um fato político.

– Presidentes de clubes se perpetuando no poder e depois ainda aproveitando os votos dos torcedores para concorrer a cargos políticos é o que?

– A voadora de Cantona no nazista que o xingava é fato político

– Tite ter negado da CBF o primeiro convite da entidade manifestando ser contrario a Del Nero e as ações podres da entidade e depois ter aceitado é um fato político.

– A xenofobia e o racismo em muitos estádios pelo mundo é um fato político.


– Quando um torcedor se revolta e a polícia o reprime também é um fato político.

– Quando o futebol feminino é deixado no ostracismo para sempre exaltar mais os jogos do masculino e ainda termos que ouvir esse papo de inclusão como se fosse uma verdade, é um fato político.

– A listra da Adidas que Cruyff tirava da sua camiseta para jogar só com duas listras é um fato político.

– Quando Felipe Melo e outros jogadores declaram seu apoio a candidato que destila ódio contra gays, negros, estrangeiros, índios e tantos outros é um fato político.

– O jogador não poder comemorar seu gol ou o torcedor ter sua alegria castrada nas arquibancadas é um fato político.

– Os times chamados de pequenos sempre terem mais dificuldades que os times ditos grandes é um fato político.


– Barbosa depois da Copa de 50 ter sido culpado pela derrota até sua morte, que pode ter sido mais massacrado pelo fato de ser negro, é um fato político.

– O futebol moderno ser esse antro de chatice e de bons costumes que insistem em te inculcar é um fato político.

E milhões de outros casos que poderia ficar escrevendo milhares de outros exemplos, ou te contar uma infinidade de outras histórias que mostram que tanto a serviço da opressão quanto da resistência o futebol é um ato político também. O fato de muitos meios de comunicação e de muitos jornalistas que trabalham para estes meios quererem te dizer que futebol é uma coisa e política é outra e que as duas não se misturam, é um fato político.

Eu estar escrevendo e você lendo é somente mais um fato político também, acredite você ou não.