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LUISINHO LEMOS, O DOS GOLS ENDIABRADOS DO AMÉRICA

por André Felipe de Lima


De Andrada a Renato, goleiros que se notabilizaram no futebol carioca na primeira metade dos anos de 1970, a opinião era unânime quando perguntavam a todos qual o centroavante mais perigoso do momento: “Luisinho Lemos. Ele é um demônio. Corre, zanza, fustiga, chuta e cabeceia”. Que time não o queria no comando do ataque? O América foi o mais sortudo. Lusinho é, sem dúvida, o melhor centroavante da história do querido Alvirrubro, que voltou à primeira divisão carioca tendo como treinador o próprio ídolo.

Irmão de César “Maluco” Lemos e de Caio Cambalhota, Luisinho foi campeão da Taça Guanabara, em 1974; da Taça Rio, em 1982, e do Torneio Campeão dos Campeões, também em 82, defendendo com extrema devoção e amor as cores do seu querido América. Foi um jogador que não fugia do pau. Se o América tinha alma, ela se chamava Lusinho. Sem ele em campo, os gols escasseavam. Os números não mentem. Foram pouco mais de 300 gols que o consagraram como o maior artilheiro da história do clube da rua Campos Sales, na doce e incomparável Tijuca.


Quem deve ter lamentado muito foi o Fluminense, que o dispensou ainda juvenil. Telê e Pinheiro o treinaram. Luisinho “jogava” como ponta-direita. O “jogava” é entre aspas mesmo. Na verdade, jamais entrou em campo pelo tricolor. Apenas treinava. Foram dois anos (1968 e 69) infrutíferos. Por pouco não deixou para trás a ideia de ser jogador de futebol. Acabara de ingressar do serviço militar. Porém, jogando pelo time do Exército, a sorte parecia acenar para ele. Alguém do Vasco o viu batendo uma bolinha e queria levá-lo para São Januário. Lusinho topou, mas sob uma condição: manter-se amador. Talvez por receio de sofrer a mesma decepção que teve nas Laranjeiras, o jogador atuava apenas pelo time de aspirantes do Vasco, e com ele foi terceiro colocado da categoria em 1970.

Vendo que a situação do irmão não era fácil no Vasco, César o levou para o Palmeiras. No clube paulista, Lusinho tornou-se profissional, mas permanecia sem espaço. Como barrar o irmão, centroavante como ele e ídolo da torcida? Perambulou de forma fugaz pela Ferroviária. Voltou ao Parque Antarctica e, após uma transação com os cartolas palmeirenses, o César ficou com o passe do irmão, emprestando-o, em seguida, ao América.


Enfim, Lusinho teve o futebol reconhecido. Brilhou intensamente. Era tão ídolo quanto Edu, o irmão do Zico. O Flamengo o queria a todo custo, e conseguiu o passe do cabeludo e barbudão goleador. Pagou um cifra milionária. “Era dinheiro pra burro”, reconheceu Luisinho, que chegou à Gávea para formar dupla com o próprio Zico. Deu certo. Marcou 82 gols em 183 jogos. Média excelente. Mas não se sentia à vontade na Gávea. Certa vez, disse o seguinte ao repórter Lédio Carmona: “Os gols no América são muito valorizados. Aqui, nós marcamos um gol e somos considerados heróis. No Flamengo, por exemplo, o artilheiro faz três gols em um jogo e assim mesmo é fuzilado”.

Com a chegada de Cláudio Adão à Gávea, Luisinho foi perdendo espaço. Difícil para ele reconhecer que no Flamengo foi pouco valorizado apesar dos muitos gols que marcara. Afinal, desde garoto torcia pelo rubro-negro. Deu de ombros, superou a desilusão e seguiu seu rumo de volta ao América para levantar mais taças e marcar muito mais gols. Lá o valorizavam. Lá era ídolo incontestável. Lusinho já não era mais torcedor do Flamengo. Batia no peito o coração vermelho… vermelho do seu amado Mecão.

Luís Alberto da Silva Lemos, nasceu no dia 3 de outubro de 1951, em Niterói. Ah, o apelido “Tombo” nasceu como contraponto ao “Cambalhota”, do irmão Caio, e o América assim construiu o seu gigante artilheiro. A inesquecível legenda Luisinho Lemos.

TÉCNICA, SANGUE FRIO E TÍTULOS: A CARREIRA DE DANILO

por Mateus Ribeiro

Danilo é um jogador em extinção. E eu nem falo daquele papo repetitivo do jogador pensativo, do cérebro do time, e todo aquele banquete de argumentos prontos usados para defender jogador em baixa.


De fato, Danilo é diferenciado, e nem de longe representa a correria desenfreada que se tornou o futebol nos últimos anos. Realmente, Danilo é muito técnico, pensativo e muito inteligente. E foi essa inteligência que fez o pacato e ilustre filho de São Gotardo (MG) passar incólume por todas as mudanças que o futebol passou ultimamente.

A carreira de Danilo passou por muitos períodos e por diferentes gerações. Começou no Goiás, no final dos anos 90, e conquistou além de um Campeonato da Série B, quatro estaduais. O clube esmeraldino costumava revelar e preparar jogadores que posteriormente brilhariam em outros centros do futebol. Danilo foi um desses, e seu futebol despertou o interesse do São Paulo, que não pensou muito e levou o meia para o Morumbi.

No São Paulo, foi peça fundamental de um dos períodos mais vencedores da história do clube. Participou de forma ativa do Campeonato Paulista de 2005, e da conquista do Tri da Libertadores e do Mundial pelo Tricolor. Qual torcedor são paulino se esquece dos  gols contra o River Plate na semifinal da Libertadores? Ou de sua mania de sempre aparecer em clássicos, principalmente contra o Corinthians?


Em sua passagem pelo Tricolor Paulista, conquistou um Campeonato Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores e um Mundial. Se terminasse sua carreira no final de 2006, sairia de cena como um dos jogadores mais vencedores de sua geração. Mas ainda faltava muita coisa.

Danilo então foi para o Japão, jogar pelo Kashima Antlers. Ali, foram três títulos do Campeonato Japonês, um da Copa do Imperador, e um da SuperCopa do Japão.  Em todo lugar que passou, Danilo conquistou títulos relevantes, fez gols, e saiu de cabeça erguida.


Já era 2009, e Danilo não era mais um jovem. E de repente, chega a notícia de que ele chegaria para defender meu time do coração. No início, senti que não havia mais muita lenha para ser queimada. Além disso, toda a conversa de Centenário do clube, somada a um grandioso número de contratações contestáveis fazia o cheiro de zica ficar cada vez mais forte. E assim foi em 2010, um ano que não foi exatamente bonito para o Corinthians, tampouco para Danilo.

Porém, de 2011 em diante, as coisas foram bem diferentes. Danilo deixou para trás a desconfiança de muitos torcedores, que torciam o nariz para sua presença ali, muito pela passagem vitoriosa que teve pelo São Paulo.

Aqui, aliás, vale abrir um parênteses e ressaltar que o meia participou grandiosamente do tabu que o Tricolor impôs ao Corinthians, sempre deixando sua marca ou tendo uma participação importante nos clássicos entre os clubes. E isso nunca foi suficiente para eu ter ódio de Danilo. Os motivos? Danilo nunca foi de falar muito, e quando fala, não é pra depreciar rival. Exceto uma foto de quando venceu o Mundial de 2005 (foto em que ele segura uma placa com os dizeres “isso é título de verdade”, claramente zombando com o título conquistado pelo Corinthians em 2000), não se tem notícia de Danilo esculachando qualquer torcedor ou jogador rival. Até mesmo essa foto possivelmente foi tirada em um momento de euforia, e a mensagem passada não é nada de muito ofensivo também. E vamos lá, depois de conquistar um título mundial, acho que fica difícil conter as emoções.


Voltando ao que interessa, Danilo conquistou não só a confiança da torcida, mas três Brasileiros, três paulistas, uma Libertadores, um Mundial e uma Recopa. Sempre com muita frieza, foi fundamental na grande maioria de todos esses títulos.

Não faltaram gols em cima de rivais, belas jogadas, espírito de liderança e dedicação. Danilo se tornou referência e um dos meus principais ídolos pessoais. Seja pelos dribles lentos, porém letais, pelos gols importantes, pela sua calma em momentos decisivos, Danilo conseguiu conquistar um lugar especial no hall dos imortais que passaram pelo Corinthians. E deve constar entre os grandes nomes dos outros três clubes onde passou.

Hoje, com 39 anos, deve estar nos momentos finais de sua carreira, recheada de títulos,  construída em cima de muita competência e frieza.

Danilo é canhoto. Mas sempre foi democrático: faz gol de esquerda, de direita, de cabeça, de perto, de longe. Faz gol em fase de grupos, em fase final, no começo do jogo, em momentos decisivos, em disputa de pênalti. Pouco importa a situação, o importante é aparecer, mas sem fazer a mínima questão de aparecer. Entende?

Danilo quase teve sua carreira abreviada. Danilo não fez drama. Danilo se recuperou, superou todas as adversidades, e mesmo após mais de um ano parado, voltou a jogar como se nada tivesse acontecido, com a mesma tranquilidade de sempre.

Danilo nunca atuou pela Seleção. No final das contas, pouco importa.

Talvez seu estilo não sirva para uma equipe onde a imagem é mais importante do que a bola.


Talvez seu estilo sertanejo do interior não combine com o perfil de rockstar chiliquento que a CBF tanto goste.

Talvez sua aparência simples não se enquadre no cast selecionado a dedo para aparecer em coletivas de imprensa e propagandas de patrocinadores.

Danilo nunca precisou da Seleção. Talvez, a Seleção precisasse de um Danilo. Agora, é tarde.

Mas, para cultuar o grande e silencioso Danilo, sempre é tempo.

Obrigado, Danilo, pela sua contribuição com o futebol, e por fazer tanto pelo meu clube de coração.

GANDHI, A BOLA COMO PRINCÍPIO E A PAZ COMO FIM

por André Felipe de Lima


Gandhi faria anos hoje, dia 2. Nasceu em 1869. Quando nos lembramos de paz seu nome é sempre associado. Foi uma das personagens mais espetaculares da humanidade. Morreu vítima da violência que sempre combateu com amor e concórdia. Suas nobres palavras paralisavam tropas, desmontavam armas, e agindo assim ele conseguiu unir a Índia, tornando-a livre, independente sem que ele e seus seguidores usassem da violência para atingir a meta libertadora.

O grande arauto da paz gostava de futebol, e percebeu no esporte um caminho especial para fortalecer seu propósito. Quando estudara na Inglaterra, no final do século XIX, teve o primeiro contato com uma bola de futebol. Já jogara críquete na Índia. Esporte dos ricos. Isso o incomodava. Mas o futebol era diferente, era tendencialmente mais próximo do povo. Apaixonou-se pelo novo esporte. Esteve na África do Sul e lá ajudou a fundar os Passive Resisters Football Club (Resistentes Passivos Futebol Clube), um grupo de três times que trazia como emblema intocável o Satyagraha (a verdade firme).

Aquela viagem de Durban a Pretoria, nos trilhos do solo sul-africano, inspiraria o jovem advogado Mohandas Gandhi. Era 1893. Viajava em um vagão da primeira classe, mas teve de descer. “Este vagão é exclusivo para brancos”. Gandhi indignara-se com o que acabara de ouvir do guarda. Mas não esboçou reação, prosseguiu a viagem em um comboio de terceira classe, no qual havia hindus, como ele, e negros. Mas o pior estava por vir. Mesmo mostrando-se firme e inabalável, foi jogado para fora do trem. Não esboçara reação alguma. Nem com palavras tampouco violência. A noite lhe reservara ao frio da estação de Pitermaritzburg. Dormira ali, no chão, pensando em tudo que acabara de acontecer, porém com uma chama transformadora latente em sua alma. Começaria a mudar o mundo que o cercava naquele instante. O futebol pode ter sido um passo inicial para isso. Como gostava muito do esporte bretão, pressentia que este poderia ser útil no combate à intolerância e ao racismo que avançavam sobre a África do Sul.


O nome Passive Resisters Football Club brotou da obra de Leon Tolstói, de quem era ardoroso fã e amigo. A correspondência de Gandhi e Tolstói foi intensa e por anos. A grande alma hindu, filho de uma humilde família Vaishya; um advogado; encontrara seu paralelo russo, filho de um nobre rico, que renegara a vida aristocrática herdada para, em troca, dedicar-se à humanidade e ao humanismo.

Imbuído de todo amor e vigor, Gandhi não teve mais dúvidas de que o futebol poderia reverter (ou pelo menos ajudar a mudar) o racismo que impregnara a África do Sul. Durban, Johanesburgo e Pretoria presenciaram as primeiras pelejas do times do Resistentes Passivos. Não há registro se Gandhi entrara em campo em um daqueles jogos. Muito provavelmente sim. Mas demonstrava denodo como gestor do grupo futebolístico. A democracia que envolvia o futebol o seduziu. Brotava ali a semente da frondosa árvore cujas flores e folhas se espalhariam inicialmente pela Índia e depois pelo mundo inteiro. O futebol que Gandhi conheceu e ajudou a implantar na África do Sul tem sua parcela nisso tudo.

A FILA AUMENTA EM 1982

por Marcelo Mendez

Todo mundo parecia muito feliz naquele primeiro semestre de 1982.

O Brasil vivia um clima de abertura com o afrouxamento da ditadura militar, o sol era forte naquele verão, a Blitz estourava nas rádios com o hit “Você Não Soube me Amar”, Chacrinha balançava a sua pança muito contente nas tardes de sábado na televisão e a Seleção Brasileira de Futebol era só espetáculo.

Tudo ia bem pra todo mundo. Menos pra mim…

Se tratando de futebol, algo que era absurdamente importante pra mim naquele ano em que eu completaria meus 12 anos de vida, as coisas iam clamorosamente más.

Meu time de coração, meu Palmeiras, Alviverde que cantava ser imponente, já não me parecia tão imponente assim naquele ano. O time havia feito uma campanha péssima no Campeonato Brasileiro do primeiro semestre e quando fui me queixar a meu Pai e a meu tio João, eméritos Palmeirenses, imediatamente trataram de me consolar:

– Calma, Filho. É que todo mundo só pensa em Copa do Mundo agora. Depois dela, tudo vai melhorar! – diziam-me.

Bom, não sei se eu acreditei totalmente nisso há época, mas decidi esperar.

Todavia em Julho daquele ano, a Itália de Paolo Rossi varreu com nossos sonhos na Espanha. O sonho por lá, acabou. As atenções então se voltaram para os campeonatos regionais. A minha também…

Você não soube me amar…

As coisas iam de mal a pior.


O Campeonato Paulista havia começado e o Palmeiras que estreou empatando com o Marília, conseguiu a proeza de perder em casa para o Taubaté, depois perder para a Inter de Limeira, empatar de 0x0 com o Santo André…

– Ta errado isso aí, Pai!

Era um ritual. Toda a vez que o Palmeiras me aprontava eu ia me queixar com meu Pai, depois pedia liberação para minha mãe para ligar para meu tio. Oras, eles haviam me dito que isso ia mudar, num se diz uma coisa dessas para um menino de 12 anos. Fui lá e cobrei. Talvez por conta disso, eles decidiram então me presentear:

– Vamos no Morumbi, Filho. Eu, você e seu Tio João. E vamos ganhar do Corinthians!

Na hora do anúncio, fiquei tão feliz, que nem me atentei para o que o Pai havia dito; “Ganhar do Corinthians”. Uns dias depois eu lembraria…

Silêncio no opala!

Nas numeradas inferiores do Morumbi, vi de pertinho o time deles.

Tinha Sócrates, craque de bola, Zenon, Casagrande, Biro Biro, Ataliba, Paulinho, Vladimir. O nosso, havia repatriado Luis Pereira, o Grande Luizão. Mas isso não seria suficiente. O Corinthians abriu o placar com Biro-Biro e o Palmeiras empatou com Jorginho. E isso pareceu piorar as coisas.

O time deles, que estava levando o jogo preguiçosamente, pareceu ter acordado na hora de nosso gol de empate. Imediatamente, trataram de virar o jogo com um pênalti idiota cometido pelo volante Rocha. Depois disso, só desastre.


Com o Goleiro Gilmar expulso, o Palmeiras com um jogador a menos; vimos Casagrande deitar e rolar em cima de nossa zaga. O 9 deles marcou o terceiro, o quarto e o quinto gol. Um 5×1 humilhante.

Na numerada onde estávamos, a torcida corintiana do nosso lado, gritava olé, tirava onda e nós, estarrecidos, assistíamos aquela surra de bola. Com meus 12 anos, minha camisa verde número 10, meu cachorro quente atravessado, sentia um misto de tristeza profunda, com raiva. Era um absurdo, o que tinha acontecido.

No carro, enquanto voltávamos, a dupla formada por meu pai e meu Tio João, percebendo que eu não estava muito bem, tentou me consolar novamente:

– Marcelo, calma. O Campeonato ta só começando…

– Escuta aqui, vocês dois; Não me falem mais nada!

Resolutos, não me disseram. O silêncio se fez no carro.

RICO NAS FINANÇAS E POBRE NO FUTEBOL E NA ALMA

por Paulo Escobar


Assistindo aos jogos do Flamengo de uns anos pra cá, me pergunto: o que será que Rondinelli pensa quando vê o Flamengo jogar? O que será que Zico diz quando vê esse time? O que será Adriano sente quando olha um jogo do Flamengo? O que será que passa pela cabeça de Adílio quando vê esses atacantes desse time? O será que os ídolos Rubro-Negros sofrem quando olham esse time?

O time de maior torcida do Brasil e do mundo talvez, que em meio aos seus torcedores possui uma imensa maioria de gente pobre e que mora em meio a Favelas e sertões, que acordam cedo e se sacrificam a cada dia para tentar sobreviver, são os que continuam sofrendo com os jogos do time que poderia lhes dar um mínimo de alegria diante dos sofrimentos diários.

Muitos jogadores desse time não têm a dimensão do que é o Flamengo, de quem é sua torcida, o que é vestir a camisa rubro-negra. São atletas temporários que não criaram identificação mínima com o time e com aquilo que o Flamengo representa na vida de milhões de pessoas. São apáticos diante da derrota e possuem justificativa pra todos os fracassos e já deixando preparada a torcida para o fracasso seguinte.

O Flamengo de hoje é um time sem raça e sem alma, reflexo de uma diretoria que está mais preocupada em tornar o rubro-negro num time rico que jogue para as elites. É só olhar a preocupação constante no orçamento e preço dos ingressos, que é um dos muitos sinais de que a diretoria e seu presidente querem um Flamengo “moderno” que seja um time longe daqueles que são o povo que sofre pelo time.


Bandeira de Mello é o papai que mima seus jogadores e que criou um time de meninos mimados, blindados das críticas e distantes da realidade do torcedor rubro-negro. Muitos destes torcedores deixados de fora por essa própria diretoria que tenta mudar a cara de um clube que tem história e uma relação poderosa com as camadas mais pobres deste país.

O Flamengo das finanças é um time que procura saldar as dívidas, mas que possui uma dívida que parece não haver muito interesse em ser saldada, que é no futebol jogado dentro de campo.

Sinceramente muitos desses jogadores não têm noção da camisa que vestem e o que ela significa, eles não têm dimensão do que é sofrer com o Flamengo nas favelas e não sabem o que é o cara se lascar a semana inteira e esperar ter um momento de alegria com a paixão que o move. Talvez o jogador que hoje pareça entender isso, pelo que se vê dentro de campo, é o Cuellar que mesmo vindo da Colômbia parece ter mais noção do que é o Flamengo.

Esses caras não têm o cheirinho da raça do Rondinelli, não possuem o cheiro do artilheiro que foi Gaúcho ou Nunes, não possuem o cheiro do comprometimento do Pet e pior ainda é que não possuem identificação com a história ou cheiro das glórias do Flamengo. Grande parte desses jogadores mesmo pisando no Maracanã não têm noção da dimensão que é um jogo de domingo no Maracanã. Eles não sabem o que é aquele moleque na Rocinha ou no sertão que com sua camisa surrada espera chegar a hora do jogo.


O futebol apresentando pelo Flamengo é uma coisa dura de se ver, não dá gosto é um verdadeiro sacrifício ver a dificuldade que esses caras têm, parecem que jogam com chumbo dentro das chuteiras. É um desânimo terrível, diante da adversidade parecem se entregar e não possuem quase nenhuma reação diante da derrota, é só observar que do jeito que o Flamengo entra, ele sai de campo. É o desânimo já no túnel de entrada.

Às vezes penso que o que esses ídolos que entenderam o que é a camisa rubro-negra devem sentir é vergonha, de ver o que se passa dentro de campo quando o Flamengo joga hoje. Imagina o que o Adriano cercado de flamenguistas na Vila Cruzeiro deve sentir vendo esses atacantes com medo de fazer gols. Imagina os caras de 1992 que viram aquelas pessoas caindo da arquibancada do Maracanã lotado devem pensar, ao verem esse time moderno mais preocupado em ser rico e frequentado por ricos que não entendem a real dimensão do que é ser Flamengo.

O maior roubo que essa diretoria e parte dos jogadores faz é nos tirar o futebol vistoso e bem jogado que vimos o rubro-negro praticar no passado, nos roubar a raça que esse time possuía, querem nos roubar a possibilidade de estar nas arquibancadas e acima de tudo querem nos enfiar goela abaixo que o Flamengo é esse time conformado com os fracassos.


Na semifinal de quarta, ao tomar o segundo gol, fui dormir, pois sabia que esse time sem reação de jogadores sem identificação com o time e sua história nada fariam. E diante de tudo isso vemos que Bandeira de Mello e sua trupe querem transformar o Flamengo num time rico de grana, mas pobre de alma sem nenhuma identificação com a história e com o povo por trás do rubro-negro.