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A Turma do Appel

a turma do appel

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Após muitas tentativas, finalmente conseguimos encontrar o goleiro e parceiro Valdir Appel, que atualmente mora em Brusque-SC. Aproveitamos sua vinda ao Rio de Janeiro, para um encontro anual com Joel Santana, Iata Anderson e outros craques do passado, e relembramos grandes histórias do passado.

– É o sétimo encontro nosso. Esse é em homenagem ao amigo Queiroz, que esteve presente ano passado, mas infelizmente nos deixou – lamentou Iata, lenda da comunicação.


Após uma breve apresentação do jornalista, começamos a resenha com o lendário Valdir Appel. Presidente do Paysandu de Brusque atualmente, o ex-goleiro, de cara, nos presenteou com uma camisa da equipe que comemora seu centenário em dezembro.

– Foi lá que eu iniciei minha história e agora eu tive a honra de me tornar presidente!

É claro que não poderíamos deixar de lembrar sua trajetória defendendo as redes. Mas como nem só de boas defesas se vive um goleiro, tivemos que relembrar um lance que ficou marcado na história.

No dia 16 de março de 1969, no Maracanã, o Vasco enfrentava o Bangu e, no último minuto do primeiro tempo, Appel foi tentar repor uma bola, mas acabou jogando contra o próprio patrimônio após escorregar e se desequilibrar.

– O curioso é que eu fiz uma defesa extraordinária no chute do Dé e o primeiro tempo poderia ter acabado na minha mão! – lembrou.


Com a personalidade de sempre, o goleiro não se abateu e contou com a ajuda de Parreira, na época preparador de goleiros, para dar a volta por cima na segunda etapa.

– Ele me pediu para lavar o rosto e bateu bola comigo o intervalo inteiro para que eu não ficasse pensando no lance. Voltei e fui o melhor em campo!

Como a vida de goleiro é feita de altos e baixos, apenas três partidas depois Appel já estampava as capas dos jornais por ter pego um pênalti de Eduzinho Coimbra, especialista no quesito.

Mudando a página da resenha, levamos uma foto de Joel Santana, zagueiro do Vasco, marcando Pelé. Segundo os vascaínos presentes, a partida terminou 5 a 2 para a equipe carioca com uma atuação impecável do xerifão.

– A gente estava nas últimas posições da tabela e o Santos era o segundo. O Santos tinha um timaço, mas com 20 minutos de jogo já estava 4 a 0 para a gente!


Ainda sobre a partida, Joel lembrou de uma passagem curiosa:

– O Pelé driblava todo mundo e o Alcir fazia carinho nele e reclamava de quem dava porrada. Depois fui entender que ele queria a camisa do Rei!

Por falar em rei, Joel Santana não titubeou ao ser perguntado sobre quem era o Rei do Rio.

– Tenho oito títulos cariocas: três pelo Vasco, dois pelo Flamengo, dois pelo Botafogo e um pelo Fluminense. Romário, Túlio e Renato Gaúcho podem ser príncipes. Eles foram campeões pelos quatro? Então como vão ser Reis? – gabou-se com muito bom humor.

Craques do Olaria da década de 70, Valinhos, Acelino e Mura também marcaram presença e lembraram os bons momentos do futebol carioca, assim como Freddy, ídolo do Columbia, do futebol de praia.

– Nós jogávamos contra a Seleção Brasileira de futebol de praia e era jogo duro. O Zico jogou no segundo time do Columbia. Esfriou areia! – brincou.
 

 

Renato

O MENINO DE OURO DO BUGRE

entrevista e texto: Marcelo Soares | edição de vídeo: Daniel Planel 

Campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani, Renato falou sobre sua trajetória no futebol e histórias curiosas que viveu durante a carreira.

Hoje, passando por outro momento no Guarani, nos conta que ao ver as fotos e conquistas expostas na sala, o que fica de tudo que construiu é uma eterna gratidão e muita felicidade.

Brilhante por onde passou e com um currículo recheado de times campeões como São Paulo, Botafogo, Atlético-MG e Seleção Brasileira, Renato recebeu o Museu da Pelada na sala de troféus do Guarani Futebol Clube. Conversamos sobre sua carreira, o título histórico de campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani, a Copa de 1982 e o momento político que viviam na época, até chegarmos a falar sobre a campanha do Brasil na Copa da Rússia.

Renato faz um contraponto entre futebol e política citando a seleção de 1982.

– Em 82, na época da ditadura militar, a seleção recebia apoio para que fosse bem e o povo acabasse esquecendo os problemas que o Brasil estava passando.

Confira agora no museu da pelada a resenha com um dos maiores jogadores do Guarani e do futebol brasileiro.

 

UM SÁBADO À TARDE EM LARANJEIRAS EM 70 E POUCOS

por Ricardo Dias


– Flavio, quem é o peixe do dr. Silvio?

– Aquele loirinho ali.

– Meu filho, vem cá. Teu nome… Ok. Vai para aquele canto ali bater bola na parede. Quem mais é primeira vez? Você, você, você…

– Eu sou segunda vez, professor.

– É a mesma merda, quem ainda não tá dentro é primeira vez. Tu é muito grande, não quer ser goleiro, não? Ponta direita desse tamanho, tá maluco? Sabe fazer embaixada? Quantas? Tá, vai jogar de 8. Os novos vão tudo pra lá. Vão batendo bola, porra, moleque, de tênis? Vai procurar uma chuteira! Pessoal, olha só: ninguém dá porrada no loirinho, é peixe, não deve jogar porra nenhuma. Se jogar bem pode porrar, de leve, mas eu duvido. Aquela chuteirinha cara não me engana. TODO MUNDO AQUI NO MEIO! Vai ser os antigos contra os novos. Se os novos ganharem tá todo mundo aprovado, se perderem vão embora sem banho. Isso é hora de chegar, Palito? Vem cá, quero te sentir bem pertinho. Fala pra fora, porra. Ah, cacete, bafo de cerveja de novo! Essa merda de botequim que serve bebida pra dimenor! Bota a chuteira e sobe e desce as arquibancadas correndo, até sumir o bafo todo. Antes de começar, gordinho, vem cá. Qual é teu nome? Você vai jogar de 6, tá vendo aquele mulatinho ali, de joelho torto? Quando ele estiver perto de você dá um cacete nele. Se ele passar do teu lado, enfia o pé.

– Pra que isso, Faria?

-Porra, Flavio, tem uns portugueses que vêm ver o Neném, aquele puto só joga quando fica com raiva. Esse gordinho não vai dar nem pra saída. É um dinheirinho que entra pro clube. FALTA NADA, Neném! Levanta e joga, deixa de ser frouxo! Ô retardado, não sabe matar bola, não? Pára tudo, vem cá. Vou bicar a bola pra cima, tem que matar de primeira, senão tá fora. Tá, outra chance. Viu?, se sabe, faz, pombas! Falta! Bate você, Amauri. Putaquepariu, não aprendeu nada ainda? Vem cá, seu bosta! Sabe aquela bola que tua avó tem em cima do dedão do pé? Chama JOANETE! É ali que tem que bater na bola, Flavio, me dá um pedaço de esparadrapo. É aqui, tá vendo, tem que pegar aqui!


– Olha seu Jair ali!

– Seu Jair, por gentileza, pode chegar aqui no campo? O senhor podia demonstrar a esses bostas como se bate na bola? Pra que chuteira, vai descalço mesmo, ô Amauri, olha pra essa porra, ISSO é joanete! Flavio, pega a barreira de lona, se esse homem acerta um dos garotos, mata.

-Ô Faria, eu lá sou de acertar em barreira? É gol ou trave! Deixa os garotos!

-Tá bom (mas cuidado, não vai me acertar o loirinho!). Olha aí, tão vendo? É assim que faz. Ô goleiro, ao menos finge, se mexe, ficar parado não adianta. Já vi que esse treino não vai dar certo hoje. Bota a barreira de lona, Amauri, vai bater falta até não conseguir pisar no chão. Reveza com o Genaro e o Paulão, Paulão, nada de colocar bola, tu só serve pra dar cacete. Não precisa de goleiro, pendura a camisa na trave e tem que acertar nela. Os beques, todo mundo fazendo linha de passe e contando, só acaba quando chegar em 100. Gordinho, mandou bem, mas aprende a fechar as pernas. Loirinho, tem futuro! Comprido, tu parece cego, ah, tá sem óculos… Olha o que me aparece aqui… Galera da primeira vez, vamos fazer o seguinte: reveza, um lança, o outro devolve de primeira para chutar em gol. Até o pé inchar. Goleiro, é pra enfiar a cara na bola, não pode entrar de jeito nenhum. Os outros titulares, aqui do meu lado. Vai todo mundo correr em volta do campo com o Alvaro. Vocês andam muito frouxos, semana que vem tem jogo treino em São Cristóvão. Na hora que defender pro lado do paredão tem que ser sem dar porradão, que se isolar na rua vai ter que pagar. Não adianta correr pra pegar que fica um monte de marmanjo lá pra roubar as bolas. Você também, Neném, deixa de preguiça.

-Faria, olha lá…

-Porra, Palito, tô vendo a garrafa debaixo da camisa, babaca! Vai subir e descer essa porra até fechar o clube, seu merda!

É O PET!

por Serginho 5Bocas


Hoje vou falar do “gringo” mais bom de bola que vi jogar. O cara era marrento demais, mas sua marra sempre foi diretamente proporcional à qualidade de seu futebol, e que futebol.

Cabeça erguida, passe certeiro, chute preciso, gols e inteligência acima da média, faziam parte do extenso repertório desta fera ambidestra. O sérvio mais brasileiro e carioca deste planeta bola globalizado, foi um dos grandes jogadores que vi atuar pelos nossos gramados.

Além de craque com a bola nos pés, o cara era profissional ao extremo, nunca ouvi dizer que chegara atrasado a um treino ou compromisso com o clube, talvez este comportamento “diferente” tenha até atrapalhado sua passagem pelo Brasil, tendo em vista a reconhecida falta de profissionalismo de nove em cada dez “boleiros” brasileiros, mas vamos ao que interessa.

Começou a jogar no Radnickinis com apenas 16 anos, por isso é o mais jovem jogador profissional iugoslavo a atuar em uma partida profissional. Depois foi para o Estrela Vermelha, foi campeão iugoslavo e aí a ponte para o Real Madrid estava consolidada, mas não obteve o sucesso esperado em terras espanholas.


Veio para o Brasil meio por acaso para substituir o baianinho Bebeto que fora para o Botafogo, o Vitória da Bahia, por incrível que pareça foi buscá-lo na Europa, mas a verdade é que ele veio já pensando em retornar ao Velho Continente. Só que fez um grande sucesso na equipe baiana. Lembro que era comum escutar o nome dele aos domingos nos gols do Fantástico, e eu ficava pensando quem é esse cara com nome de gringo? Será mais um daqueles brasileiros que os pais homenageiam craques lá de fora?

Em eleição da Revista Placar para os torcedores ilustres decidirem qual foi o melhor jogador de todos os tempos do Vitória, ele perdeu por pouco para Mario Sergio, o vesgo, mostrando que mesmo jogando tão pouco tempo, ficou no coração da galera baiana.

Tanto fez por aqui que acabou voltando a Europa para atuar no Venezia, mas novamente não foi bem sucedido, e foi ai que surgiu o Flamengo em sua vida pela primeira vez, comprando-o por US$ 7.000.000,00. Depois disso, venceu dois estaduais e uma Copa dos Campeões nesta sua primeira passagem pela Gávea.

No Vasco de 2002 e no Fluminense de 2005 arrebentou novamente, atuou em alguns outros clubes brasileiros sempre deixando ótima impressão por onde passou. Se tivesse ficado no Flamengo desde a sua primeira passagem em 2000, teria um lugar ainda maior na galeria dos heróis rubro-negros. Para mim, foi o melhor camisa “10”, depois do Messias (Zico), com a camisa vermelha e preta, uma fera.

Teve seus pés eternizados na calçada da fama do MARACANÃ, coisa para poucos. Além disso, fez gol em dois Maracanãs, pois na sua terra natal também tem um estádio com esse nome, em homenagem ao nosso ex-maior do mundo.

Sempre vitorioso por onde passou, além dos prêmios coletivos, recebeu três bolas de prata de melhor jogador da posição do Campeonato Brasileiro, em eleições promovidas pela conceituada revista esportiva Placar, sem contar que no ano de 2009, deveria ter levado a bola de ouro pela sua importância e decisiva colaboração no título conquistado pela Flamengo. Foi “garfado” na eleição, mas como perdeu para o Imperador Adriano, está tudo em casa. Para se ter uma ideia do seu alto nível, fez dois gols olímpicos: um contra o Palmeiras e outro contra o Atlético Mineiro, na “casa” dos adversários e em jogos decisivos daquele Brasileirão, é brincadeira?


Pet deve ter feito inimizades na Sérvia, pois só assim dá para entender como o “gringo” não foi convocado para uma Copa do Mundo pelo seu país. Era só olhar o elenco da Sérvia para não entender, que time fraquinho! Os sérvios e a Copa do Mundo é que “pagaram o pato” pelas burrices dos treinadores, vai entender! Em termos de “Olheradas” acho o futebol realmente globalizado, não somos únicos neste quesito, tem burro em tudo que é canto do planeta.

Entre inúmeras premiações vale destacar que Pet fez nove gols olímpicos em sua carreira, possivelmente detém o recorde mundial deste tipo de gol e é também o jogador estrangeiro com mais gols no Campeonato Brasileiro da era dos pontos corridos, não é fraco não, mermão!

Pet teve um jogo de despedida a sua altura no Maracanã, e nele, recebeu uma linda homenagem por parte da “magnética”, a torcida do Flamengo, que só os grandes conseguem receber em vida. Um mosaico com as cores da bandeira Sérvia e seu nome, inesquecível.


Para a torcida rubro-negra, ele entrou para história em dois momentos: um no gol do tri carioca contra o Vasco,aos 43 minutos do segundo tempo na cobrança magistral de uma falta, gol de enciclopédia, e outra, na sua decisiva participação no título brasileiro de 2009, com gols, passes e uma extraordinária liderança técnica, sensacional e inesquecível.

Dejan é o Rambo!

Rambo é o Gringo!

Gringo é o Pet!

Pet é o cara….e ele é nosso!

É o Pet, é o Pet, É o Pet…

Um forte abraço

Serginho5bocas

NÃO SOMOS EUROPA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Imaginem uma Copa do Mundo na Argentina e La Bombonera precisando se adaptar aos padrões FIFA? La Bombonera transformado em uma arena ultra moderna igualzinha a que fizeram com o Maracanã. Imaginem toda essa mística soterrada! Passei o final de semana mergulhado em jogos de futebol. Boca x River foi mágico, não pelo futebol apresentado, mas pela entrega dos torcedores. Um amor que vem das entranhas, que nos contagia e emociona. Isso é o futebol e só isso pode salvar o futebol. Dois técnicos idolatrados, uma torcida extasiada, estádio abarrotado!

Foi um grande jogo? Não importa. Esse clima é o que faz o futebol pulsar. Para a garotada que não conheceu o Maracanã dos bons tempos eu garanto, ele pulsava, nos abraçava e nos embalava ao som de seus cânticos. O Maracanã nos hipnotizava assim como La Bombonera me deixou desconcertado na primeira vez em que pisei lá. E a Conmebol age para transformar a Libertadores em uma Liga dos Campeões. Por favor, não deixem que mais esse crime seja cometido por esses dirigentes hipócritas.


O futebol sul-americano é diferente do europeu e deve ser! Imaginem essa final da Libertadores sendo disputada, por exemplo, na Bolívia ou Equador? Qual o sentido disso? Qual o problema de os estádios serem antigos? Transformá-los em arenas automaticamente afetará o valor do ingresso. O afastamento dos verdadeiros torcedores será inevitável, como aconteceu no Maracanã. As torcidas elitizaram-se e há tempos não são o seu décimo segundo jogador. Não somos Europa, esqueçam! E mesmo na Europa alguns clubes penam para manter suas arenas impecáveis.

Por aqui, meu limitado Botafogo ganhou do ultra dimensionado Flamengo. Como a imprensa exalta esse time? O Tite explicou que precisou convocar Paquetá e Everton, do Grêmio, porque os dois estão jogando muita bola. Se é esse o padrão de qualidade do professor vamos nos afundar mais ainda.

O momento de maior “brilho” de Paquetá foi em uma rasteira no adversário. Em capoeira está aprovadíssimo, Kkkkkkk!!!! O Flu não fez gol no Sport porque seus jogadores sofrem do mesmo problema de 90% dos atacantes brasileiros: deficiência técnica. O Grêmio só venceu o Vasco graças a um frangaço de Martin Silva. Está tudo nivelado por baixo. 

Pode parecer absurdo mas os jogadores brasileiros torcem para não receber a bola porque não têm a menor intimidade com ela. Assistiram Manchester City 3 x 1 Manchester United? Eu, sim! Guardiola continua sendo o maior treinador do futebol mundial. No terceiro gol os jogadores ficaram quase dois minutos tocando a bola, botando o adversário na roda até concluir. Não deixem de ver!!! Isso é treinamento, fundamento! O futebol inglês é o que mais me encanta, Liverpool, Chelsea. Chega de Mourinhos e Felipões! E de Aguirre! Mas quem mandou contratá-lo? Ricardo Rocha, Raí e Lugano, do comando tricolor. Também contrataram Diego Souza e Nenê. Até uma criança do primário sabia que ia dar caca. O ex-jogador tem que ser aproveitado principalmente na base. Ali, talvez não seja a galinha dos ovos de ouro mas é o início da escalada profissional e, por isso, condeno os que usam a influência e o relacionamento para pular etapas.