João Luís e Marco Antônio
LATERAIS DOS BONS TEMPOS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel
Se hoje em dia as laterais são uma das posições mais carentes do futebol brasileiro, houve um tempo em que era possível escolher de olho fechado quem exerceria a função. Marco Antônio e João Luís, por exemplo, deitavam e rolavam pelas beiradas dos campos e, por isso, foram escolhidos para falarem o que mudou de lá para cá no futebol.
Sem o menor pudor, João Luís não esconde sua admiração por Marco Antônio, campeão mundial de 70, mesmo sendo concorrente direto pela posição no Vasco da Gama.
– Eu ficava olhando os treinos dele e dizia que queria ser igual a ele! O Marco representa tudo na minha vida.
– O João é nosso Pelé do Vasco, na posição dele! – retribuiu o craque.
Diferente daquela época, hoje a fonte secou e a situação do time da Colina é outra. Apesar da paixão pelo clube, a dupla reconhece que não sabe quem exerce a função atualmente.
– Estamos sofrendo!
Marco Antônio e João Luís tinham talento que os treinadores se viravam nos 30 para escalar os dois juntos. Geralmente, o primeiro ficava responsável pela parte defensiva, enquanto o segundo partia para cima dos marcadores na ponta esquerda. Durante o papo, no entanto, João Luís revelou que volta e meia o campeão mundial de 70 pedia uma “folga” para subir ao ataque, complicando ainda mais a vida dos adversários.
Ao serem questionados quanto valeriam hoje em dia, em tempos de transações trilhardárias, a dupla foi categórica:
– Eu jogava bola porque eu gostava e nem sabia quanto eu ganhava! Era por prazer e paixão. Era eu e Deus, não sabia nem o que era empresário! Jogar bola é a coisa mais gostosa desse mundo, ainda mais com a camisa de um clube.
Com a humildade de sempre, Marco Antônio disparou:
– Eu não digo nós, eu digo a rapaziada. Gerson, Rivellino, PC Caju não teriam preço hoje!
Nessa hora, chegou Carlinhos Cortazio, o presidente da pelada mais badalada do Rio de Janeiro, e pediu para que João Luís contasse sobre o dia em que enfrentou Maradona.
Vestindo a camisa do Atlético-MG, João estava se desdobrando para marcar o argentino do Boca Juniors, mas deu o troco assim que surgiu uma oportunidade:
– Matei a bola na pequena área e me preparei para dar um bicão. Quando dei aquela olhadinha de migué, vi que ele vinha correndo igual um louco para travar e só rolei por baixo das pernas dele, que gritou “MACAQUITO!” e eu retribuí “MACONHEIRO”! – contou para a gargalhada de todos.
Outro lance abordado na resenha foi o gol de Rondinelli na final do Campeonato Carioca de 1977, após Marco Antônio ceder o escanteio para o Flamengo em uma bola que parecia estar sob controle. Sem papas na língua, o lateral vascaíno deu a sua versão:
– Não tinha para quem dar, eu joguei para fora. Meu time tinha Abel, Orlando, Geraldo e eu, olha a nossa altura! O mais alto do Flamengo era Rondinelli. O resto era tudo baixinho. Mas vocês já viram o Zico bater escanteio alguma vez? – perguntou.
Além da cobrança inusitada do Galinho, o craque prosseguiu:
– Se passasse uma gilete cortava o pé do Abel, que quase não saiu do chão. Até hoje eu sou crucificado por esse lance. Mas uma vez perguntaram ao Nilton Santos o que ele faria naquele lance e ele disse que faria a mesma coisa! Então não tem conversa! – finalizou.
Após relembrarmos os áureos tempos do futebol brasileiro, a resenha girou em torno do que vemos nos dias atuais e a indignação tomou conta:
– Eu não vou mais ao Maracanã! – revelou Marco Antônio!
João Luís, por sua vez, criticou o estilo dos novos “ídolos”:
– Os melhores jogadores do Brasil são os destruidores de jogada, são volantes que dão porrada para caramba. Futebol é construção! Já vi um cara dar um bico para lateral e vibrar! A gente vibrava quando fazia gol! – finalizou.
Como é bom ouvir quem fez parte da história e tem propriedade no assunto!
Paschoal de Gregório
CRAQUE SEM MÁSCARA
entrevista e texto: Fernanda Pizzotti | edição de vídeo: Daniel Planel
Os botafoguenses da antiga com certeza lembram de Paschoal de Gregório. O jogador niteroiense foi destaque no Botafogo entre as décadas de 30 e 40, mas a carreira começou no tradicional Clube Canto do Rio, na cidade sorriso. Paschoal não era um cara de muitas palavras. Fechado, contido, mas muito raçudo e respeitado por todos dentro e fora de campo. Destro, era conhecido como o “Craque sem Máscara” e era notícia, diariamente, nos jornais esportivos da época.
Com apenas 1,64 m, cabeceava como ninguém. Paschoal também tinha múltiplas funções em campo: ponta-direita, meia-direita e centroavante. Pelo alvinegro jogou entre 1937 e 1943. Ao todo, 159 jogos e 105 gols. Não foi pouca coisa, não!
Com tanto gol assim em tão pouco tempo, foi fácil conquistar as artilharias. No Campeonato Carioca de 1940, ele foi o artilheiro ao lado de Carvalho Leite e Patesko, seus fiéis companheiros de ataque, todos com 10 gols. No mesmo ano, Paschoal foi o artilheiro do Botafogo com 22 gols.
Antes de se destacar no alvinegro, o craque deu o pontapé no futebol amador no Flamengo Sport Club e, em seguida, atuou no Byron Football Club, no Barreto, em Niterói. Finalmente, Paschoal se transferiu para o time niteroiense Clube Combinado 5 de Julho. Mas a carreira profissional começou mesmo no Cantusca.
Já contratado pelo Botafogo, Paschoal se destacou no jogo Botafogo 2 x 2 Flamengo, em 04 de outubro de 1937. Quem tem estrela, tem tudo! O artilheiro entrou com o jogo em andamento e entusiasmou a torcida alvinegra pelas jogadas, futebol coletivo e regularidade técnica apresentada durante o tempo em que esteve em campo.
Mesmo com a imprensa carioca o denominando como o “Craque sem Máscara”, pois era avesso ao estrelismo, Paschoal continuou sereno frente ao rebuliço que era feito pelas suas atuações. Esses elogios ao seu futebol, algumas vezes, causavam ciúmes em alguns jogadores do elenco. Mas, sem protestar, soube enfrentar o imbróglio, mantendo-se sempre distante das câmeras dos fotógrafos.
– Uma frase emblemática mostra a humildade dele! Ele dizia que era predestinado e que, por isso, não caía bem nele o cartaz que nos outros era quase uma obrigação! – conta o sobrinho-neto, Roberto Pinto.
Atuações emblemáticas
Em partida realizada em 01 de janeiro de 1939, em General Severiano, mas válida pelo Campeonato Carioca de 1938, o Botafogo venceu o Madureira, que na época era uma equipe competitiva, por 11 a 3, tornando essa uma das maiores goleadas da história do alvinegro.
Essa vitória valeria como uma desforra, já que o Madureira havia vencido a partida do turno, dificultando as pretensões do Glorioso em alcançar o título do Campeonato Carioca. Nessa partida, Paschoal marcou nada menos que 6 gols, comandando o ataque do Botafogo e levando-o as manchetes dos jornais da época como o “scorer” do dia, ou seja, o melhor em campo.
O Botafogo jogou com: Aymoré, Lino e Bibi; Zezé, Martim e Canalli; Alvaro, Carvalho Leite, Paschoal, Perácio e Patesko, enquanto o Madureira atuou com: Alfredo, Norival e Tuíca; Gringo, Paulista e Alcides; Adilton Baleiro, Ozéas, Jair e Anatole.
Paschoal de Gregório 4 x 3 Vasco da Gama
Essa aqui também vale muito a pena ser contada! No dia 21 de julho de 1940, em São Januário, Botafogo e Vasco se enfrentavam por dois campeonatos (Campeonato Carioca e Torneio Rio–São Paulo). O Vasco realizava uma atuação impecável até os 33 minutos do primeiro tempo. Aos 12, o placar já marcava 3 a 0 para o Vasco.
Mas eles não contavam com Paschoal! Aos 34 minutos do primeiro tempo, o Botafogo se lançou à frente comandado pelo “craque sem máscara”, que se recuperava de uma contusão no pulso. Após forte chute de Patesko e rebatida do zagueiro vascaíno Oswaldo, ele emendou com violência para marcar. Ao fim do primeiro tempo, Paschoal de cabeça fez o segundo. Na etapa final, aos 14 minutos, em escanteio cobrado por Tadique, ele chutou de bate-pronto e empatou o jogo. A virada heroica do Botafogo se deu em lançamento de Tadique com Paschoal finalizando de cabeça.
O time do Botafogo jogou com: Aymoré, Grahan Bell e Araraquara; Procópico, Zezé e Canali; Tadique, Carvalho Leite (Zarcy), Paschoal, Cesar e Patesko, enquanto o Vasco da Gama atuou com: Chiquinho (Nascimento), Oswaldo (Jahú) e Florindo; Figliola, Zarzur e Dacunto; Lindo, Alfredo I, Villadoniga, González e Orlando.
Mas além da vitória do Botafogo, iluminada pela estrela de Paschoal, Roberto Pinto relembra uma curiosidade familiar. Segundo ele, membros da família de Paschoal contam que nessa partida um parente distante da família, de origem portuguesa e torcedor vascaíno, foi assistir ao jogo no estádio e deixou São Januário rumo a Niterói assim que o Vasco da Gama marcou o terceiro gol.
– Estava indo para casa contando vitória antes da hora! Ele chegou na vila em Santa Rosa zombando de todos, quando recebeu a notícia de que Paschoal tinha feito quatro gols e virado a partida. O jogo só acaba depois que o juizão apita! – relembra Roberto!
A carreira de Paschoal foi interrompida algumas vezes por conta das lesões sofridas. Dias antes do embarque do Botafogo para a disputa de um torneio no México, em 1941, ele sofreu uma lesão no tornozelo que o impediu de realizar o sonho de atuar no exterior. Mas sua maior frustração, no entanto, foi não ter participado de uma Copa do Mundo. As lesões e a eclosão da Segunda Guerra Mundial o impediram de realizar esse sonho.
– Paschoal tinha 31 anos e era considerado velho para o futebol, diferente dos dias de hoje que a gente vê jogadores com 37 e 38 anos atuando em forma. – conta Roberto.
Após a carreira futebolística, ele passou a atuar no comércio e na Inspetoria de Trânsito de Niterói. Paschoal teve 14 irmãos, casou-se com Abigail Pereira de Gregório, com quem teve uma filha chamada Tereza.
O FUTEBOL AGONIZA, MAS NÃO MORRE
por Marcelo Soares
Meu pai, parceiro de arquibancada, cresceu com o futebol das décadas de 70 e 80. Hoje já não tem mais vontade de ir aos jogos.
Será que naquela época eram muito bons mesmo ou hoje são muito ruins? Acredito que as duas opções estejam certas.
Anteontem, toda essa festa antes da final da Copa do Brasil mostrou como as coisas estão mudando no futebol brasileiro. Após a bola rolar acabou a festa. Cartões para todos os lados e os onze jogadores atrás da linha bola.
Certamente não é essa a mudança que queremos.
VAR… Não me lembro de ouvir do meu pai e do meu avô reclamações sobre arbitragem. Esqueceram o futebol nas décadas passadas e buscam sempre um vilão. Árbitros, jogadores. Talvez o problema não estejam neles. Sabemos que não estão dentro de campo.
Categorias de base em situações precárias, dívidas bilionárias…
Aquele que é considerado o melhor time do país apresenta um futebol fraquíssimo. Vence pois os adversários são piores ainda. O famoso “extracampo” está cada vez mais sendo decisivo.
Apesar de tentarem e muito acabar com ele, o verdadeiro futebol agoniza, mas não morre. Como diria Nelson Sargento.
O que fez e faz meu pai perder a vontade? Times sem padrão de jogo? Escassez de craques? Ingressos caros? Ou toda essa palhaçada que estão fazendo fora de campo?
Anteontem, infelizmente não fomos ao estádio.
Para o Corinthians, nunca foi fácil. Mas está cada vez mais difícil. Difícil comemorar um gol, uma boa partida.
Talvez o mais difícil será convencer a próxima geração a ser meu parceiro de arquibancada.
As próximas gerações podem olhar para o futebol e dizer:
Que jogo mais chato, VAR pra PQP.
CENTENÁRIO DO LEÃO
por Rafael Santana
Fundado em 18 de outubro de 1918, o Fortaleza Esporte Clube comemora hoje seu centenário. Líder da série B, com chances altíssimas de subir, o clima lá no Pici está ótimo, mas agora vamos falar da história gloriosa de um dos maiores times do nordeste brasileiro.
O estado do Ceará inaugurou seu principal estádio, o “Castelão”, em novembro de 1973 com um publico de 70 mil pessoas ou mais, já que até hoje não se sabe quantas pessoas estiveram dentro do Castelão para assistir à partida entre Ceará x Fortaleza, válida pelo Campeonato Brasileiro de 73. Volta e meia os torcedores mais velhos falam desse grande evento, dizem que teve gente pulando muro, outros com ingresso na mão que não conseguiram entrar. Enfim, um mar de gente, além da transmissão nas televisões do Brasil inteiro.
O jogo foi um empate sem gols com destaque para os goleiros. Apesar de Hélio Show e Lulinha terem “estragado” a festa de inauguração com defesas de cinema, o estádio estava finalmente inaugurado e o ano de 1974 reservou surpresas muito agradáveis para o torcedor do Leão.
Naquele mesmo ano, houve uma troca de treinadores e o Fortaleza passou a ser comandado por Moésio Gomes. De família tricolor, o técnico conhecia os bastidores do Fortaleza como ninguém, e, além disso, era o criador de uma escolinha de futebol que revelou inúmeros craques cearenses, como Luciano Oliveira, Pedro Basílio, Facó, Zé Augusto, Mano, Hamilton Rocha, Zé Paulo, Neto, Izoni, Ronner, Cícero, Zé Meu, Wilkinson, Vanor e Louro.
No entanto, o time de 74 teve muitas baixas também. Hamilton Rocha, excelente jogador, deixou a equipe, assim como experiente lateral Bauer e o atacante Marciano, artilheiro do Campeonato Cearense em 73. Muitos dizem que foi uma reformulação necessária para a equipe, já que a chegada do zagueiro carioca Ozires, vindo do River do Piauí, e a consolidação do grande lateral Ronner, oriundo da escolinha de futebol de Moésio, deram um novo gás para o Tricolor.
O novo time fez um Campeonato Brasileiro regular em 1974, terminando em 16° lugar. Mas foi no Campeonato Cearense que o time se imortalizou. Confiante após as vitórias expressiva no nacional, o time formado por Lulinha, Pedro Basilio, Ozires, Ronner, Zé Carlos, Louro, Haroldo, Amilton Melo, Lucinho, Chinesinho e Geraldino Saravá deitou e rolou no Estadual.
Não é por acaso que esse time é considerado um dos melhores da história do Fortaleza. O brilhantismo de Lucinho e Amilton Melo, a habilidade de Haroldo e o faro de gols de Geraldino foram as marcas especiais dessa equipe.
Estudante de futebol como era, Moésio Gomes viu a tremenda qualidade no meio de campo do time e resolveu implantar uma forma de atacar e de se organizar em campo em forma de quadrado! Com Chinesinho, Zé Carlos, o maestro Lucinho e o craque Amilton Melo, foi formado o famoso quadrado de ouro, que deu muito trabalho aos adversários.
O jornalista Tom Barros do Diário do Nordeste exemplificou bem o que era o quadrado de ouro jogando: “Os quatro davam equilíbrio à equipe e assim podiam sacrificar um jogador na frente, deixando dois na parte ofensiva. Os dois da frente eram Haroldo e Geraldino que, abertos nas pontas, afunilavam para receber os lançamentos. Quando não fazia o contra-ataque e vinha tocando a bola, o Fortaleza jogava com seus dois pontas avançando pelo meio e abria o Zé Carlos pela direita e o Lucinho pela esquerda com o Amilton pelo meio na cobertura para reparar qualquer erro, na armação estava o Chinesinho e a sua agilidade. Esta segunda manobra ofensiva, abrindo seus meias para jogarem com os laterais, foi uma criação do então técnico do Fortaleza Moésio Gomes. Esta variação tática fazia o Leão jogar de forma diferente do quadrado mágico do Santa Cruz que também ficou famoso neste tempo.”
Esse time foi campeão cearense de 74 sem dar chance ao Ceará, seu maior rival. Decidido numa melhor de três, o título foi conquistado pelo Leão, que venceu as três partidas (4×0, 1×0 e 3×1) e fez a festa com o primeiro título dentro do Castelão.
Para completar a farra, o lateral Louro foi bola de prata pela Revista Placar, e considerado o melhor lateral direito do Brasil. Seu vigor físico e inteligência em campo são lembrados até os dias de hoje no Fortaleza.
Nesta data tão importante, podemos dizer que o Fortaleza de 74 marcou época no Brasil por um futebol muito bem jogado e por ser a primeira equipe a levantar um titulo no Estádio Governador Plácido Castelo, o Castelão.
À PROCURA DE ERIC
por Paulo Escobar
Em Marselha nasceu aquele que talvez no futebol mundial não aceitou ser domado nem por interesses e nem por treinadores que tentavam a todo custo domesticar Eric. Desde seus primeiros passos no futebol francês teve problemas já no seu primeiro clube, o Auxerre, e para termos uma noção, já em 1991 Cantona pensou em se aposentar após chutar a bola contra o juiz e pegar um gancho de dois meses.
Cansado da França, decide retomar o futebol na Inglaterra e fecha com Leeds Clube pelo qual foi campeão em 1991, e finalmente em 1993 chega ao clube que seria sua casa e onde viria a se tornar uma religião, o Manchester United.
No meio dos diabos vermelhos, Eric foi idolatrado e com gols e belas atuações foi aumentando o amor que a torcida de Manchester tinha por ele. Balançando a rede de formas memoráveis, como na partida contra o Sunderland em 1996, que talvez seja o que traduz o que era Eric: aqueles dribles do meio de campo, uma tabela, e da entrada da área mete uma cobertura maravilhosa. Na comemoração faz aquele olhar típico como quem olha não acreditando e com uma marra abre os braços e da uma volta no mesmo lugar olhando a torcida e companheiros de time.
Cantona nunca teve medo de expor suas posições e dentro de campo foi um demônio das finalizações, teve seu nome cantado e gritado. Na sala de imprensa do Old Trafford tem uma foto que embaixo leva escrito uma fala de Ferguson, que agradece os cinco anos maravilhosos que teve com o francês. Eric era fervoroso dentro de campo e a cada partida das jogadas e atitudes imprevisíveis era uma delícia ver esse cara dentro e fora das quatro linhas.
Era o anti-herói e anti-bom mocismo que o futebol que vivemos hoje da moral e dos bons costumes não suporta, de meião abaixo da canela e gola levantada não pagava simpatia pra ninguém. De entrevistas que com um posicionamento politico e falas que fugiam da mesmice das coletivas de imprensa.
O mesmo Eric já reconheceu que uma das melhores jogadas da sua vida não foi dentro de campo, mas sim ao ser expulso contra o Crystal Palace (1996). Na saída de campo, aquela voadora num nazista que o xingava de maneira xenófoba e preconceituosa. Cantona pega 9 meses de gancho e uma das supostas punições também deve ter sido a não convocação a Copa de 1998, que azar da Copa não ter tido ele lá. Sempre imaginei as falas em meio a esse evento tão dos bons costumes que seria essa Copa com Eric. Seriam momentos de tensão nos organizadores.
Nos dias de hoje, tão cheios de preconceitos, de uma xenofobia, de racismo, de homofobia e de ideias fascistas que vemos aumentando e tomando formas das mais cruéis possíveis, que falta fazem jogadores como ele. Cantona não compactuaria jamais com o que vemos sendo gritado em algumas arquibancadas e com certeza nos dias de hoje estaria em mais voadoras e discussões com o que vemos crescendo.
Eric, o do futebol bem jogado, o definidor nato e bom de cabeça e das ideias foi o mesmo que na crise dos refugiados na Europa abriu as portas da sua casa para recebê-los. Continua sendo o mesmo que recentemente criticou a seleção brasileira pelo amistoso contra Arábia Saudita, país com um regime no qual as pessoas desaparecem por motivos políticos (regime que bate as nossas portas também).
Nós, os órfãos de bons jogadores e que ainda por cima pensem e se posicionem, continuamos a procura de Eric.