VAR TOMAR UMAS PROVIDÊNCIAS, VAI…
por Serginho 5Bocas
Antigamente os árbitros tinham a vida mais suave, não haviam tantas câmeras lhes monitorando, tanto “Big Brother” para caguetar os homens de preto quando faziam das suas, de propósito ou não, e assim a vida dos caras era bem mais tranquila. No máximo, eram arremessadas algumas pilhas de rádio da geral ou ouvia-se na rádio, o trepidante potente a gritar: ERRRRRRROUUUUUU, como diria a plenos pulmões, o saudoso Mario Vianna.
Árbitro já é por essência uma espécie de Robson Cruzoé, um solitário, são diferenciados pela cor preta, são distintos e identificados no meio de 22 jogadores, tem suas mães desrespeitadas constantemente e, como se não bastasse, passaram a ser monitorados por uma infinidade de câmeras dispostas pelos quatro cantos do campo, sem dó nem piedade.
Agora, surgiu o tal do VAR ou árbitro assistente de vídeo, mais uma parafernália que, me parece, veio pra ficar. Uma sala cheia de recursos de TI, com vários árbitros auxiliares, munidos de telas, que monitoram cada centímetro do campo, com câmeras especiais que são capazes de captar e registrar detalhes, que passam despercebidos pela visão humana.
Bom ou ruim, é certo que vem se firmando a passos largos no futebol, já esteve na última Copa do mundo e, agora, vem sendo apresentado aos mais diversos campeonatos de vários países.
Pessoalmente, acho que a ferramenta é boa e ajuda aos juízes de futebol a se protegerem da exposição das inúmeras câmeras que registram os lances das partidas, considerando as limitações humanas que em que nunca seria possível a nossa retina se comparar a uma máquina com inúmeras possibilidades, porém, acho que devem ser efetuados alguns ajustes.
Em primeiro lugar, para dar mais transparência e confiabilidade ao sistema VAR, deveria ser estabelecida a seguinte premissa: as equipes que se sentissem prejudicadas é que deveriam solicitar o recurso, retirando a discricionariedade do árbitro e seus auxiliares. Talvez dois pedidos por tempo de jogo, mas nunca partindo da vontade dos próprios árbitros.
Outra sugestão, seria a colocação de um telão no campo, para que todos os torcedores, possam ver as imagens que permitiram a tomada de decisão do árbitro e da turma de auxiliares do VAR, já que hoje já é assim no vôlei e no tênis, por que não?
Entendo que hoje o que mais incomoda, que é mais dolorido para os torcedores nesta história toda, é que sempre que mais precisamos do VAR, a mesa dos especialistas e o árbitro não pedem o seu apoio, será o Benedito?
Até hoje não me sai da cabeça o pênalti que Gabriel Jesus sofreu do zagueiro Company da Bélgica. O defensor vem na cobertura do colega que acabara de tomar uma caneta e chega atrasado, acertando com a sua chuteira a canela do atacante, pênalti claríssimo mas não foi marcado, o recurso estava disponível, o Brasil perdia o jogo, então por que o árbitro não poderia dar o direito da dúvida para os brasileiros?
Acho que temos muito a aprender e evoluir com a tecnologia, mas, em hipótese alguma, deveríamos abrir mão de toda a sua capacidade. O futebol com certeza após os devidos ajustes, irá agradecer, pode apostar…
Forte abraço
Serginho5Bocas
OBRIGADO, OLDEMÁRIO
por Luiz Augusto Nunes
Oldemário se dizia um operário da notícia. Era muito mais do que isso. Tinha com a informação uma intimidade própria àquela que só os grandes craques têm com a bola. Que começou desde o primeiro dia em que pisou na redação do Jornal do Brasil, ainda na Avenida Rio Branco, e foi se estreitando com o passar dos anos, companheira inseparável durante tantas jornadas e coberturas. Sem formação acadêmica alguma, tinha a noção exata do que chamava “hierarquia das notícias” – ele não errava nunca o que era ou não manchete. Sonho de todo jornalista, Oldemário o realizou várias vezes: parou as máquinas para mudar uma edição. Maior repórter esportivo que conheci, Oldemário tinha autorização dos donos do jornal para tal. Eles confiavam no seu talentoso “operário de notícias”.
Oldemário Touguinhó, que nesta quinta-feira faria 85 anos, tinha quatro grandes amores na vida: a família, a Seleção Brasileira, o Botafogo e o Jornal do Brasil. Nesta ordem.
PERGUNTAR NÃO OFENDE
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Não sou jornalista e nem especialista em estatísticas. Sou apenas um observador do futebol e hoje venho deixar no ar algumas dúvidas e questões.
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Odeio com todas as minhas forças falar sobre arbitragem, mas o que tem acontecido nas competições comandadas por argentinos é para ser discutido seriamente. Os dirigentes estão sempre envolvidos em polêmicas. Teve a Copa de 78, a mão de Deus, em 86, a Conmebol comandando o espetáculo e nada muda. Por que não é realizada uma séria investigação a esse respeito?
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A CBF não gosta do VAR, mas o VAR tem servido para alguma coisa? Outro dia me disseram que na sala do VAR havia 12 pessoas. Tanta interferência pode dar certo?
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Após o jogo contra o Vasco o dirigente do Inter soltou o verbo contra a arbitragem e, agora, contra o Atlético Paranaense, ele falou alguma coisa ou apenas comentou entre os amigos: “Tá vendo como foi bom reclamar?”.
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Qual o orçamento de Boca e River comparado aos de Palmeiras e Flamengo?
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É sério que vou ter que continuar ouvindo os comentaristas tentando nos convencer de que o Vitinho é craque?
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A torcida do Flamengo concorda no valor pago por ele?
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É fake news a entrevista do Maradona, na Fox, em que ele diz que não convocaria mais o Messi porque não dá para acreditar em um jogador que vai dez vezes ao banheiro antes de cada jogo importante? KKKKKKKK, isso é maravilhoso! Muitos podem achar Maradona maluco e inconsequente porque todo dependente químico é visto dessa forma. Passei por isso, mas entendo o que ele diz e de futebol ele sabe muito!
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Vocês acham que ex-jogadores de qualidade podem ser bons técnicos? Acho que devemos apostar nisso. Adoro ver o futebol argentino. Atualmente, o Boca é dirigido por Guillermo Barros Schelotto, atacante de seleção, muito inteligente, e o River tem Marcelo Gallardo, um meia excepcional que dava gosto de ver, da geração de Saviola e Ortega. Fantástico, o futebol tocado por quem entende do riscado! E o toque de bola é bonito de ver.
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Sou doido ou a qualidade dos jogadores trazidos de nossos países vizinhos está abaixo da média? Pouquíssimos, mas pouquíssimos mesmo, se salvam. Chará e Cazares, do Atlético Mineiro são bons, mas não são regulares. Bom D´Alessandro ainda estar em atividade. Gosto do Nico López e gostava do Cuevas. Seria bem mais vantajoso investir nos jogadores da base.
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Por falar em base por que só nas últimas rodadas o técnico do São Paulo lançou o jovem Helinho? Não suporto essa história de não lançar “meninos” por medo de queimá-los. Frescura!!! Quem sabe jogar bola já nasce com personalidade!
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O Cruzeiro quando levou a tríplice coroa, em 2003, ficou poupando time?
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Quem merece ser campeão brasileiro? Por mim, o campeonato podia acabar agora, sem vencedores. Seria mais justo com o futebol. A vitória do Palmeiras, claro, animará a sua torcida, mas será mais um retrocesso, afinal ninguém suporta mais time-canil, aquele em que os cães de guarda são as maiores atrações.
Ê, SAUDADE!!!!
por Sergio Pugliese
Da beira do campo 3, do Aterro do Flamengo, o pernambucano João Barbosa da Silva, de 76 anos, desabafou:
– O futebol está em crise…
Nosso atento fotógrafo, radar ambulante, Guilherme Careca Meireles, ouviu e freou, afinal a declaração partira de um dos maiores especialistas no assunto da cidade, João da Laranja, o vendedor mais antigo do parque.
– Por que tanto pessimismo, João? – questionou o lambe-lambe.
– Já assisti a grandes jogos aqui! O nível vem caindo muito – lamentou o tricolor, que há 45 anos vende laranjas e bebidas, no trecho entre os campos 3 e 5.
– Não tem visto nada de especial? – insistiu Guilherme Careca Meireles.
– Hoje tem uma garotada que corre muito e é tudo meio mecânico – respondeu.
O papo virou resenha e João da Laranja nos convidou para sentar. Perguntou se tínhamos visto o Embalo do Catete jogar. Naquela época, décadas de 60 e 70, os campeonatos do Aterro, organizados pelo Jornal dos Sports, atraíam milhares de torcedores. Todos queriam ver os chutes certeiros de Luisinho, bicampeão pelo Embalo, a técnica apuradíssima de Zé Brito, o lateral rechonchudo, campeão em 1972, e os dribles arrepiantes de Jacaré, do Xavier, da Tijuca, outro grande campeão.
– Não é exagero, mas as pessoas deixavam de ir ao Maracanã para assistir os jogos aqui – recordou João, que naquele tempo chegava a vender 500 laranjas por dia.
João chegou ao Rio com 26 anos e trabalhou como servente de pedreiro, mas logo passou a vender laranjas no Aterro. Morador da comunidade do Santo Amaro, no Flamengo, também encantava-se com o futebol do Ordem e Progresso, de Filé & Cia, um dos representantes do bairro, nos torneios.
– O que acha que mudou de lá para cá? – questionou o fotógrafo bom de bola.
– O campo era de terra. Esse sintético é um horror. Arriscavam-se mais dribles, os caras jogavam mais bola, sei lá…
Alguns desses caras eram Hugo Aloy, Xanduca e Roni, do Capri, Tonico, do Xavier, Joaquim e Cícero, do Naval, Álvaro Canhoto, do Milionários, e o goleiro Dinoel, do Pedra Negra. Segundo ele, o 10 do Baba do Quiabo também infernizava. Também lembrou do divertido time Morrone (Movimento dos Oito Rapazes que Vivem Rindo Onde Ninguém se Entende), do trio Hamilton Iague, Marcelo e Wilson Fragoso, o Onça. Levaram a maior goleada do Aterro, 47 x 0 do Embalo. Luisinho deitou e rolou!
– Sinto saudade, mas vai melhorar – apostou.
Enquanto isso, vai jogando seu dominó com os amigos, os também nostálgicos Shell, grande árbitro, Oscar, campeão pelas Drogarias Max, e o conterrâneo Zé Faria. Já não vende mais laranjas, só bebidas. Aproveita nossa equipe para reivindicar mais segurança e banheiros para o local. De repente, uma gritaria. Pênalti! Ele levanta-se para ver a cobrança. Na lua!!! Ele riu e comentou com os parceiros:
– O Luisinho jamais perderia.
Crônica publicada originalmente na coluna “A Pelada Como Ela É”, do Jornal O Globo, em 13 de junho de 2015.
OS VENTOS DO ÓDIO DENTRO DOS CAMPOS
por Paulo Escobar
Não é de hoje que se percebe o ódio nas pessoas, e não é de hoje que os preconceitos contra as ditas minorias (em direitos), mas maioria em quantidades, se faz presente. Podemos dizer que nos dias atuais somente tem se colocado mais para fora os ódios internos guardados, e no mundo do futebol não é diferente.
Em alguns países são toleradas atitudes totalmente desumanas e cruéis, opiniões que podem custar a vida de pessoas por conta de serem diversas, e jogadores que vêm de meios de pobrezas apoiando opressões e falas racistas, homofóbicas, xenófobas e estúpidas dentro e fora dos gramados.
Quando um jogador de futebol se manifesta a favor da intolerância e de posturas cruéis, ele reproduz ódios e frases que são escutadas em rede sociais ou televisão aonde crianças ouvem e imitam estas ideias e alimentam na cabeça de quem assiste os preconceitos defendidos, correndo o risco de tornar ódios como coisas normais e tudo em nome da tal democracia e liberdade de expressão.
Bom lembrar que muitos destes jogadores, através do futebol, saíram e saem de meios extremamente pobres e sofreram preconceitos dos mais variados, sentindo na pele a exclusão social por conta da condição financeira. Seria honesto talvez não esquecer do lugar de onde saíram, e começar a enxergar que o fato de terem dinheiro não apaga o lugar de onde vieram. Querer hoje defender ideias desumanas por estarem longe do meio que os viu crescer, das favelas ou quebradas, chega a ser bizarro tendo em vista que os seus amigos deixados para trás continuam sofrendo o peso da exclusão e preconceitos que eles sofreram um dia, e que ao que tudo indica serão as primeiras vítimas diante do massacre que estes discursos de ódio trarão consigo.
Como bem observou Angel Cappa, ex-jogador de futebol argentino:
“Eles são postos diante de uma armadilha. São levados a viver a ilusão de uma ascensão social, quando na realidade não é assim. São retirados de sua classe social e deixados no ar, são conscientemente apartados da realidade. Eles não se esquecem de onde vêm, mas se alienam. Adotam os costumes, o modo de falar, os restaurantes, os perfumes, a roupa do opressor. Ou digamos que de outra classe social, para não ser tão extremos. E ficam deslocados, perdidos, porque jamais são admitidos na elite à qual ilusoriamente são levados a acreditar que pertencem. As pessoas só se aproximam deles por causa da fama, e depois de seus quinze minutos eles ficam novamente no ar, não são nem do local de onde vieram nem da alta sociedade.”
Jogadores e ex-jogadores negros apoiando discursos de racismo, jogadores que têm companheiros gays apoiando discursos homofóbicos, jogadores ditos cristãos apoiando a apologia a tortura, jogadores que já tiveram problemas com vícios e que talvez estiveram nas bocas atrás de suas drogas apoiando o extermínio de pessoas com vícios chega a ser de uma desumanidade e hipocrisia sem tamanho.
Não podemos esquecer também que a estrutura que são submetidos pelos clubes, assessores e confederações também os colocam numa cegueira social, afastamento até intencional diria na qual são distanciados da realidade tal qual ela é. Como não enxergar que muitos dos torcedores que os acompanham nos jogos e que consomem o futebol e que são seus clientes, por assim dizer, são pessoas diversas em todos os sentidos.
O futebol que é um meio de socialização, de integração e até que dentro dos estádios muitas vezes juntou as diferenças não pode ser utilizado como meio de cultivo de ódio às diferenças ou reprodutor de atitudes injustas e cruéis como já foi no passado aonde serviu de ocultação de realidades duras e do desaparecimento de pessoas apoiando regimes nefastos (seja de direita ou esquerda).
Quando vejo um jogador defendendo o ódio, penso no poder que aquela atitude tem e como isso se multiplica, penso em como pessoas que torcem pelos times que eles mesmos defendem irão sofrer as consequências deste ódio e crueldade. E vejo uma desonestidade com o passado e sofrimento que muitos passaram até chegarem a ter uma vida mais estável economicamente falando.
Em alguns times pelo mundo jogadores de futebol que manifestaram apoio a discursos de ódio contra as diferenças foram apagados da história de seus clubes, e alguns até convidados a se retirarem em caso de continuidade destas atitudes. Aqui no Brasil muitos clubes se isentam de posicionamento e em nome da “democracia” manifestam que todos têm direito a manifestação mesmo que este ato seja uma reprodução de ódio e crueldade, o direito a expressão não quer dizer direito a ser desumano com o outro.
E pra finalizar não voto desde que nasci, acredito numa política construída no dia a dia com as pessoas mais prejudicadas e sofridas, na sobrevivência, no futebol como símbolo de alegria e de alivio daqueles que mais sofrem. Aos jogadores e ex-jogadores por favor sejam mais coerentes com suas histórias de lutas e vidas e com aquilo que o futebol é, um instrumento de alegria e socialização e não de ódio.
Diante do ódio o papel do futebol é resistir.