Escolha uma Página

FALTA DE GOL DE FALTA

por Rubens Lemos


Há cinco ou seis anos, estatística deixa para os nerds de resenha eletrônica, a seleção brasileira não faz um gol de falta. É um crime de lesa-futebol tão grave quanto um crioulo do Bronx em Nova York errar lances livres em quadra de basquete. Nada resume com tanta indignidade a falência técnica do nosso escrete.

Detesto o futebol brasileiro de hoje, abomino o estilo pobre, horroroso no domínio de bola, incapaz de um drible e sem charme de uma seleção bem comportada e dependente de um chato multimilionário que passa a mão na virilha aos cinco minutos da pelada de luxo sem o mínimo convincente de malandragem.

Neymar não precisa da profissão e seu desempenho em Copas do Mundo equivale ao do bom Valdo, meia recuado na Copa de 1990 ou ao esforço de Gilberto Silva em 2002, 2006 e 2010. Neymar entra no rol dos comunzinhos de paradas de homem, gladiador eficiente contra Portuguesas Santistas e timecos franceses.


Neymar, o camisa 10, não acerta uma falta, exercício poético de perícia pois é banal. Falta-lhe a folha-seca de Didi, a bossa de Paulo César Caju, a patada de Rivelino, a curva rebelde de Garrincha, o repertório variado e feiticeiro de Zico, a pontaria de Roberto Dinamite, os capítulos e versículos sagrados de Pelé. Todos pistoleiros de entrada de área.

Uma seleção que passa cinco anos sem fazer um gol de falta (cinco ou seis anos, matemáticos do scout irritante?), é a negação da matéria-prima prima peladeira dos gênios de ventre.

Um time treinado por um chanceler de prancheta que, volante à Caçapava, Chicão ou Ruço quando jogava, jamais acertou uma bola no ângulo do goleiro inerte. Tite é uma embalagem. Venceu 13 dos 15 jogos de 2018. Perdeu o que não podia, no chocolate belga da Copa do Mundo. Mais ou menos o cara que posa de pé-de-valsa e termina de cueca na gafieira, desmoralizado pelo otário de paletó xadrez.

SETEMBRO DE DOR EM 1986. O PALMEIRAS FAZ 10 ANOS

por Marcelo Mendez


A manhã de 03 de setembro de 1986 não existiu. 

Ela tanto poderia ser a madrugada do dia 02, ou a noite do dia 01, ou qualquer dia que possa haver no mundo dos sonhos, ou dos que anseiam por ter um sonho. 

As horas não faziam mais o menor sentido, eu simplesmente não dormi nesses dias todos. A minha cabeça estava toda voltada para o que aconteceria naquela quarta-feira a noite no Morumbi.

O Palmeiras entraria em campo para enfrentar a Inter de Limeira na decisão do titulo do Campeonato Paulista daquele ano. 

E os dias eram incrivelmente longos.

Minuto a minuto de tardes densas, muito quentes, outras, nordicamente geladas; E cada giro do ponteiro do relógio tinha o peso de um frame do Jaques Rivet. Era exasperador imaginar que toda aquela imensidão de espaço precisava ser preenchida. Não sei.

Como criar, como ordenar cada viagem que a cabeça fazia naquela imensidão de segundos intermináveis? Era uma angústia tamanha, que pouco me lembro da hora que o Pai chegou do trabalho. Mal deixei ele tomar banho, não quis esperar em casa pelo Tio Bida vir nos buscar, enchi o saco do Pai e fiz ele descer comigo até a casa de meu Tio, uns 10 minutos de casa.


Dalí embarcamos para o Morumbi. Abri o vidro do banco de trás do carro, deixei o vento soprar na minha cara. No toca fitas, o Tio colocou um cassete de um disco que ele amava incomensuravelmente. Era o “Roberto Carlos 1972” e a música que ele ouvia era “Agora eu Sei”, um puta dum funkão, movido a uma bandaça que entre outros, tinha o órgão envenenado do Lafayette na introdução da coisa. Meu pai, pra variar, reclamou:

 – Ô Bida, não da pra por outra coisa aí pra ouvir?

– Ué; Por que, Mauro?

– Ah por favor, né? Estamos em 1986, o cometa já passou, e você não larga essas cafonices!

Eu pouco me importava com eles. 

Quando chegamos no Morumbi, quase que fui correndo até o estádio. Me seguraram e pediram pra esperar eu guardar o carro. Depois rumamos para nosso lugar. A Velha numerada inferior do Morumbi. Sentando ali naquela noite, eu queria tudo, ma me contentaria com pouco. Queria apenas ver o Palmeiras ser campeão. Isso não deveria ser algo tão raro na vida de um menino de 16 anos.

Mas…

Roberto Carlos estava certo.

O jogo era duro e hipnótico até os 09 minutos do segundo tempo.


Éder, Mirandinha, Edmar, Jorginho, todos os nossos já haviam perdido chances na primeira etapa. O Palmeiras, diante de nós, 105 vozes a berrar pelas tribunas, foi melhor. Mas tudo mudaria radicalmente, quando Kita de costas, dominou uma bola e virou em cima do zagueiro Márcio. Na virada, apesar de caído, pegou bem na bola e estufou as redes de Martorelli.

A incrível Inter de Limeira abria o placar. 

E surpreendentemente, após outra infelicidade de Denys, o Palmeiras sofre o segundo gol marcado por Tato. 

Inacreditável! Ali diante de nossas fuças, o time do Interior metia 2×0 na gente e dava um baile de bola no Estádio do Morumbi.

Amarildo, nosso zagueiro, diminuiu o marcador que não mais se mudou, que ninguém queria saber, que era só a tristeza.  Com o apito final de Dulcídio Wanderley Boschillia, pouca coisa eu vi, pouca coisa eu quis ver. Sentei na numerada e simplesmente não conseguia sair do lugar. Não tinha forças, não tinha vontade, não tinha nada.

Era só vencer a Inter de Limeira em dois jogos, era só fazer o que todo mundo esperava que seria feito. Mas só uma triste repetição do que vinha acontecendo nos últimos 10 anos. Sim, 10 anos. Em 1986 completamos 10 anos sem títulos e isso parecia que não ia mudar. Não sei.

Sentado naquele lugar, vi toda a torcida do Palmeiras ir embora e o Morumbi esvaziar. Na arquibancada um pequeno punhado de torcedores da Inter fazia a festa. Pensei, “Como pode”? Até a Inter de Limeira, era campeã e nós, não.

Silêncio.

Na volta para o ABC, a única coisa que podíamos ouvir era o silêncio. Éramos três corações calados, em busca de algo que alivia-se um pouco do que a razão nos esfregou na cara. O Palmeiras perdeu de novo. Talvez na esperança de mudar as coisas, o Tio colou a fita pra tocar de novo e então, o Roberto nos falou:

“Mas agora eu sei, o que aconteceu, 

quem sabe menos das coisas 

sabe muito mais que eu”

O longo inverno de 1976 ainda perdurava E o Roberto Carlos estava certÍssímo.

EXTREMA LEVEZA

por César Seabra


O passado, algumas vezes, traz boas memórias e boas risadas. Depois do peso das eleições, leveza e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Então segue uma historinha.

Está perto de completar 25 anos uma pequena tragédia do futebol brasileiro. Aconteceu no velho Maracanã. Eu estava lá. Agora estou cá, para relembrar e relatar a vocês, amiguinhas e amiguinhos.

Era uma manhã calorenta de dezembro de 1993. Eu tinha 32 anos e carregava volumosa barriga para um cara tão jovem. Naquele dia, um time de jornalistas brasileiros enfrentaria uma equipe austríaca também de jornalistas. Não havia dúvidas: arrogantes que somos, na época ainda tricampeões mundiais, tínhamos a certeza de que seríamos lembrados, eternamente, por uma vitória avassaladora. Afinal, o que era (e ainda é) a Áustria para o futebol mundial?


Estavam no Maracanã cerca de cem torcedores. Sessenta austríacos; 30 operários que pararam o trabalho para ver a peleja; e apenas dez loucos e amorosos parentes nossos. Os rivais entraram em campo enfileirados, bem arrumados, com o uniforme da seleção austríaca. Pareciam profissionais. Nós pisamos a grama sagrada com 26 atletas, todos com calções, camisas e meias diferentes. Éramos um bando de esfarrapados.

Acreditem, a nossa camisa era a da seleção… holandesa. Aquilo era um pequeno sinal do infortúnio que se aproximava, com todo o respeito à Holanda.

O jogo começou, para a alegria dos torcedores austríacos e dos operários traidores da pátria, que dançavam e gargalhavam como se ouvissem música. Seguem alguns detalhes do que ficou conhecido, para alguns gatos pingados, como “A Desonra do Maraca”:

1) Nossos dois goleiros, o titular e o reserva, tinham assustadores 1,60 metros de altura;


2) Um de nossos zagueiros trocou as chuteiras por um par de tênis americano All Star;

3) Um de nossos atacantes arriscou um chute de longa distância. A bola sequer chegou à linha da grande área;

4) Em 90 minutos de jogo nosso artilheiro tocou na bola apenas uma vez – no apito inicial do árbitro;

5) Nosso lateral-esquerdo, com camisa laranja, calção azul e meias do Vasco, não sabia o que era a regra do impedimento. Passou o jogo colado à trave, tricotando com nosso goleiro verticalmente prejudicado;

6) Parado em campo, deslumbrado com o tamanho do estádio, outro atacante de cabelos enormes ganhou coro dos operários: “Cabeluda! Cabeluda!”;


César Seabra, o autor do texto

7) E o zagueiro que vos escreve levou um drible tão desconcertante que se estatelou com a cara e a pança no chão, parecendo um João-Bobo.

Ah, o resultado? A Áustria venceu por 7 a 0. Nosso sonho virou constrangimento. Graças aos deuses do futebol, tudo aquilo foi esquecido por conta dos 7 a 1 de 8 de julho de 2014, no Mineirão.

Muito obrigado, Felipão.

Texto publicado originalmente no site https://www.museudapelada.com/126

A Turma do Appel

a turma do appel

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Após muitas tentativas, finalmente conseguimos encontrar o goleiro e parceiro Valdir Appel, que atualmente mora em Brusque-SC. Aproveitamos sua vinda ao Rio de Janeiro, para um encontro anual com Joel Santana, Iata Anderson e outros craques do passado, e relembramos grandes histórias do passado.

– É o sétimo encontro nosso. Esse é em homenagem ao amigo Queiroz, que esteve presente ano passado, mas infelizmente nos deixou – lamentou Iata, lenda da comunicação.


Após uma breve apresentação do jornalista, começamos a resenha com o lendário Valdir Appel. Presidente do Paysandu de Brusque atualmente, o ex-goleiro, de cara, nos presenteou com uma camisa da equipe que comemora seu centenário em dezembro.

– Foi lá que eu iniciei minha história e agora eu tive a honra de me tornar presidente!

É claro que não poderíamos deixar de lembrar sua trajetória defendendo as redes. Mas como nem só de boas defesas se vive um goleiro, tivemos que relembrar um lance que ficou marcado na história.

No dia 16 de março de 1969, no Maracanã, o Vasco enfrentava o Bangu e, no último minuto do primeiro tempo, Appel foi tentar repor uma bola, mas acabou jogando contra o próprio patrimônio após escorregar e se desequilibrar.

– O curioso é que eu fiz uma defesa extraordinária no chute do Dé e o primeiro tempo poderia ter acabado na minha mão! – lembrou.


Com a personalidade de sempre, o goleiro não se abateu e contou com a ajuda de Parreira, na época preparador de goleiros, para dar a volta por cima na segunda etapa.

– Ele me pediu para lavar o rosto e bateu bola comigo o intervalo inteiro para que eu não ficasse pensando no lance. Voltei e fui o melhor em campo!

Como a vida de goleiro é feita de altos e baixos, apenas três partidas depois Appel já estampava as capas dos jornais por ter pego um pênalti de Eduzinho Coimbra, especialista no quesito.

Mudando a página da resenha, levamos uma foto de Joel Santana, zagueiro do Vasco, marcando Pelé. Segundo os vascaínos presentes, a partida terminou 5 a 2 para a equipe carioca com uma atuação impecável do xerifão.

– A gente estava nas últimas posições da tabela e o Santos era o segundo. O Santos tinha um timaço, mas com 20 minutos de jogo já estava 4 a 0 para a gente!


Ainda sobre a partida, Joel lembrou de uma passagem curiosa:

– O Pelé driblava todo mundo e o Alcir fazia carinho nele e reclamava de quem dava porrada. Depois fui entender que ele queria a camisa do Rei!

Por falar em rei, Joel Santana não titubeou ao ser perguntado sobre quem era o Rei do Rio.

– Tenho oito títulos cariocas: três pelo Vasco, dois pelo Flamengo, dois pelo Botafogo e um pelo Fluminense. Romário, Túlio e Renato Gaúcho podem ser príncipes. Eles foram campeões pelos quatro? Então como vão ser Reis? – gabou-se com muito bom humor.

Craques do Olaria da década de 70, Valinhos, Acelino e Mura também marcaram presença e lembraram os bons momentos do futebol carioca, assim como Freddy, ídolo do Columbia, do futebol de praia.

– Nós jogávamos contra a Seleção Brasileira de futebol de praia e era jogo duro. O Zico jogou no segundo time do Columbia. Esfriou areia! – brincou.
 

 

Renato

O MENINO DE OURO DO BUGRE

entrevista e texto: Marcelo Soares | edição de vídeo: Daniel Planel 

Campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani, Renato falou sobre sua trajetória no futebol e histórias curiosas que viveu durante a carreira.

Hoje, passando por outro momento no Guarani, nos conta que ao ver as fotos e conquistas expostas na sala, o que fica de tudo que construiu é uma eterna gratidão e muita felicidade.

Brilhante por onde passou e com um currículo recheado de times campeões como São Paulo, Botafogo, Atlético-MG e Seleção Brasileira, Renato recebeu o Museu da Pelada na sala de troféus do Guarani Futebol Clube. Conversamos sobre sua carreira, o título histórico de campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani, a Copa de 1982 e o momento político que viviam na época, até chegarmos a falar sobre a campanha do Brasil na Copa da Rússia.

Renato faz um contraponto entre futebol e política citando a seleção de 1982.

– Em 82, na época da ditadura militar, a seleção recebia apoio para que fosse bem e o povo acabasse esquecendo os problemas que o Brasil estava passando.

Confira agora no museu da pelada a resenha com um dos maiores jogadores do Guarani e do futebol brasileiro.