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ASCENSÃO E QUEDA DE UM CANHOTINHO

por Zé Roberto Padilha


Ser canhoto deveria ser uma anomalia. Melhor, uma heresia. Motivo de preocupações no desenvolvimento do Robertinho que certamente encontraria, no Colégio Entre-Rios, poucas carteiras disponíveis para escrever ao contrário da maioria. Só isto explicaria uma pessoa tão doce e católica como minha avó, América Fernandes Padilha, ter amarrado a mão esquerda do seu netinho durante as refeições. Um ato de extrema correção. Acho que deveria até ter vaga disponível e prioridade nos bancos e correios para quem nascesse escrevendo desse jeito.

Sorte a minha que ela não me viu jogar. Porque quem chegava na peneira batendo na bola ao contrário, tinha uma concorrência menor. De cada dez pontas que se apresentavam, sete eram destros. E fui aproveitando minha cota canhota e fui ficando na ponta esquerda, sendo aprovado e subindo de divisões, até estar concentrado, aos 19 anos, no Paraguai para enfrentar a Argentina.

A base da seleção brasileira para o Sul Americano sub-20, de 1971, era do Fluminense. E às vésperas do maior clássico sul-americano eu e o Marinho, nosso quarto-zagueiro, éramos dúvidas para a partida e dividíamos o quarto e as dores nos tornozelos. Muito inchados, passaríamos a noite fazendo tratamento e a palavra final sairia na revisão pela manhã do médico do Botafogo.


O massagista preparou os baldes de contrastes, um com água quente e outro com água congelada. Era o chamado tratamento de choque térmico. Iniciávamos pelo gelo e quando não suportávamos mais, aliviamos com a água quente e assim, sucessivamente, um balde amenizava a temperatura do outro até que ambos perdessem sua intensidade. Ao final, que terminava no quente já morno, passávamos Bálsamo Bengué, enrolávamos uma atadura de crepe e íamos dormir com a esperança de vê-los despertar desinchados.

Pela manhã, o médico chegou para a revisão e acabou vetando o Marinho e me liberando para a partida. O milagre só acontecera para o meu lado. Quase em êxtase por não perder aquela partida, levantei para comemorar e senti fortes dores no tornozelo. Ao me reexaminar, o doutor descobriu a razão: passara noite inteira tratando o tornozelo errado. A contusão era no direito, mas quando da contagem regressiva e aflitiva para enfiar o pé no balde congelado, a mente congelou junto e taquei o pé esquerdo como de hábito fazia com a bola e com tudo que não suportava. Além de não melhorar o tornozelo machucado, acabei queimando a pele do sadio.

Vetados, assistimos nossa derrota por 2×0 das arquibancadas do Estádio Centenário. E naquele instante só lembrava da minha vó querida e “terrorista”. E se ele tivesse amarrado os meus pés também? Daí seria uma outra história, daquelas que teriam um final feliz desde que ….tivessem começo. Pois jogando na ponta direita quem diria que fosse tão longe para fazer uma burrada dessas?

COLETIVIDADE ESPORTIVA: ILUSÃO OU REALIDADE?

por Eliezer Cunha


Esportes coletivos nos submetem ao raciocínio de uma alta dependência do exercício e desempenho da excelência da coletividade. Futebol, basquete, vôlei entre outros. Realidade ou ilusão? Bem, vamos aos fatos. Jogo decisivo, bola nos pés de um atacante, ponta, ala, etc. Oportunidade clara de gol, cesta de três pontos ou uma cravada de uma bola na quadra adversária, criada pelo coletivo, time ou equipe: Realidade.

Porém, alguém precisa decidir, definir e concluir a finalização com êxito. Está aí a grande oportunidade de glória de uma equipe ou atleta. Porém, nos pés ou mãos de apenas um, um. Como lhe dar com isso, louvando ou punindo, afinal foi o destino esportivo que o escolheu para tal e aí a expressão “E SE….” volta a atacar friamente. Vejamos a história: Copa de 82, Cerezo. Copa de 86, Zico. Copa de 90, Alemão. E por aí vai….

No Campeonato Brasileiro deste ano, temos o Palmeiras como grande campeão seguido do Flamengo. Flamengo…. Podia ter chegado? Sim. Voltamos ao destino escolhido: Paquetá’ faltando 8 minutos, desperdiça uma clara oportunidade de gol da vitória, em cima do concorrente maior, Palmeiras.

Vitinho instantes finais contra o São Paulo desperdiça o gol da vitória, quase debaixo da baliza, bola na arquibancada. Somados os pontos…Flamengo ultrapassaria o Palmeiras e poderia eternizar uma conquista valorizando o coletivo e confirmado por um só personagem.

Voltamos à ciência exata, sobretudo a estatística. A porcentagem de uma equipe de vencer uma partida devem ser medidas pelas quantidades de oportunidades que a equipe propicia durante os 90 minutos aliado à competência individual.

Treinos táticos e secretos, pranchetas, quadros, análises técnicas, todos esses recursos são dispensáveis se um apenas um atleta tem a responsabilidade de decidir uma partida.

Deixamos menos a valorização das ações coletivas e valorizamos mais o desenvolvimento individual.


Zico e Roberto aperfeiçoaram suas técnicas individuais de cobrar falta e pênalti treinando sozinho. Não dá para entender um jogador na pequena área efetuar uma cabeçada que não seja em direção ao chão, não dá pra aceitar que um jogador não consiga finalizar uma jogada porque não chuta bem de esquerda ou de direita. Com isso criamos deuses que ficam debaixo do gol e atribuímos a eles defesas incríveis, quando na realidade a suposta defesa “impossível”, se deu por falta de competência clara da aplicação dos fundamentos básicos do futebol.

Os treinadores brasileiros devem cobrar mais de seus operários.

Esporte coletivo: Realidade ou Ilusão..

O DIA DE LAVAR A ALMA DE VERDE E A NOITE MAIS LINDA DO MUNDO

por Marcelo Mendez

Era um dia frio em São Paulo.

Aos meus 23 anos de idade, já sem muita inocência, nada de pueril em mim, um homem que é santo sem abrir mão de seus pequenos pecados, de suas tantas heresias, de suas paixões avassaladoras que tantas madrugadas lhe custava.

Esse era eu, naquele 12 de junho de 1993. Um sábado pela manhã que acordei triste, mas que por conta de uma trajetória de fé, de vida toda, precisei trocá-la por uma ansiedade. Coisas da vida. Eu tinha um namoro capengante com Cecília, por culpa de todas as minhas cagadas, uma relação que beijou o vento do precipício, um domingo antes, no dia 06 de junho.


Pela primeira partida da final do Paulistão de 93 o Palmeiras perdeu para o Corinthians por 1×0, gol do Viola. Na comemoração, ele abaixou, imitou um porco, tirou sua onda e novamente os fantasmas todos na cuca, novamente a volta do trio, Eu, Meu Pai, Tio Bida, tristes, solitários nas emoções, sem ter o que fazer da vida.

Pedi pro Tio me deixar na casa dela. Cheguei, entrei, ele ouvia uma musica de uma banda inglesa, daquelas que num tinha saco pra ouvir; Inspiral Carpets. Entrei acabado e ela falou:

– Sério mesmo? Você tá assim por conta dessa porcaria desse jogo? Você, cara culto, bem informado, sujeito inteligente… Por causa de um jogo??

Foi o fim:

– O que? O que você tá me falando? Cê tá comigo há um ano e meio, sabe de mim, da minha história, do que eu sinto, do que eu sei… Porra; Olha pra minha cara, caralho! Você acha que se fosse só isso aí que você está dizendo, eu estaria assim, desse jeito?

A discussão foi grande demais para o relato. Basta saber que saí de lá com dois discos do Lou Reed, um livro do Paul Verlaine fui pra casa lamber minhas feridas.

Assim o fiz a semana toda, a pior semana para ser Palmeirense. Muita tiração, muita onda dos outros times, muita duvida. A semana de 06 até 12 de Junho de 1993 parece ter durado 20 séculos. Mas passou.

A manhã se inicia em 12 de junho. Naquelas primeiras horas, tudo era tão somente, incerto…


Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Na noite anterior, eu enchi a cara de campary, de dor de amor e de tudo para ver se conseguia dormir. Desmaiei. Mas quando o Velho me acordou eu nem tive tempo de ter ressaca:

– Toma (Me falou esticando meu ingresso em minha direção) Dessa vez a gente não vai junto.

– Como assim, Pai? Ta maluco? Vamo como sempre fomos já falei com Tio Bida…

– Não. Olha, filho, você me conhece, sabe que num acredito nessas coisas, mas não é possível, deve ser a gente. Dessa vez, vamos separados para não dar azar!

– Mas, Pai, isso é ridículo!

– Vindo o título, que seja assim ridículo!

Sem muito poder argumentar, meio que topei a coisa. Peguei meu ingresso da numerada inferior, com a promessa de por lá, não ver o jogo ao lado de meu Pai e meu Tio. Era uma agonia enorme, de um dia que não passava, de um tormento que insistia em existir. Mas mudaria.

Dessa vez, seria diferente.

Foda-se a Combinação!

Eu não quis sofrer com a espera do jogo.

Meti o fone de ouvido do Walkman, com uma fita cassete do Lou Reed no ouvido e entrei num transe que acabou quando a bola rolou. Que acabou quando o Antonio Carlos ganhou uma dividida com o Neto, que quase gritou gol numa jogada de fundo que o Edmundo não concluiu bem. Que viu o paraíso…

Quando a perna direita do canhotíssimo Zinho meteu a bola para o fundo das redes, eu fui feliz como poucas vezes na vida. Era um peso que saía das costas, uma perspectiva de felicidade no caminho, que carreguei ao longo do jogo que acabou 3×0.

Faltava apenas um empate na prorrogação para o Palmeiras ser campeão.

Ser campeão…

Edmundo sofreu um pênalti que ele não queria sofrer. Tentou ficar de pé de todas as formas, mas não deu. O zagueiro Ricardo o levou ao chão. Agora era vez e Evair, o nosso matador Evair fazer o que ele sempre fez muito bem. Na hora, pensei:

– Vai dar errado!

Sim. Eu era do Palmeiras que perdia para o Bragantino, Pra Inter de Limeira, pro Xv de Jaú, pra Ferroviária. Eu era parte daquele Palmeiras que nasceu para não dar certo. Tudo aquilo de bom não era pra mim. Abaixei a cabeça e sentei. Eu não queria ver, num queria sofrer de novo, até que no meio daquilo tudo, senti alguém me batendo no ombro. Levantei a cabeça e vi:

– Pai!


– Pênalti pra nós, filho!

– Mas a gente num tinha combinado…

– Foda-se a combinação! Agora é hora da gente ser feliz!

– Tá, mas eu num quero ver…

– O que? Depois de tudo que a gente passou, depois das tantas vezes que saímos daqui tristes, você não vai querer ver o Palmeiras ser campeão?

– Vai bater!!!

Era meu Tio Bida que também havia chegado, avisando a gente.

Naquele momento, Evair começou a corrida em direção a bola a impressão que tínhamos é que aquela corrida havia começado em 1976 e que ao chegar na bola, aí sim, em 1993.

“GOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL” o barulho em uníssono de uma torcida que cantava e vibrava pra valer. Um grito que eu não ajudei, não participei.

Na hora que Evair balançou a rede do goleiro Wilson, ao invés de gritar gol, eu abracei meu pai. Abracei Seu Mauro com força, com um choro que veio da alma, pra descarregar tudo aquilo que tava me doendo desde sempre. Tio Bida abraçou a gente e assim a gente comemorou aquele gol.

Depois dele, eu só chorei. Chorei até o fim do jogo, mas um choro de emoção pura, alegre, feliz.

O Palmeiras é campeão!

Como era gostoso gritar aquilo! Como foi boa aquela noite. Posso dizer seguramente que uma das maiores alegrias da minha vida.

Ao longo dos tempos tive outras, tantas outras. Mas peço licença a estas outras pra eleger o 12 de junho de 1993 como a noite mais importante da minha vida. Por conta de tudo, e por conta de algo que faltava:

Tendo a Lua…

Madrugada alta, 04h40min e eu bêbado na frente da casa da Cecilia:

– Ceciliaaaaaaa!!! – a luz se acendeu, a mãe dela me chamou pra dentro, mas não quis. Eu queria a rua e mundo todo para mim. Cecilia entendeu e saiu:

– Oi, Marcelo, que foi? – perguntou com um riso na cara:

– Cecília, olha só. Eu te amo. Não mais que o Palmeiras, claro. Mas te amo. Então cê me perdoa e fica comigo? Prometo nunca mais fazer merda!

– Marcelo, você ta bêbado…

– Claro que sim, caralho, o Palmeiras foi campeão! Que mundo cê vive?

– Um outro, bem diferente desse seu.

– Então deixa eu ser o ET da sua vida!

Ela gargalhou nessa hora e eu aproveitei:

– Para de brigar comigo e me amaaa. Beija eu, Ceciliaaaaaaaa!

Ela me abraçou rindo.

Bom, o que aconteceu depois disso importa sim, mas não pra esse momento. Não nos casamos, não ficamos juntos, somos grandes amigos até hoje, mas nada disso importa como falei.

Abraçados entramos na casa da Cecília. Assim ficamos. Os Paralamas do Sucesso cantavam “Tendo a Lua” no cd player e pronto.

A maior noite da minha vida em 1993…

OS SUPERCAMPEÕES DO BRASIL

por Fabio Lacerda


No gramado em que a luta o aguarda, no solo que tem suas cores, o Palmeiras mais uma vez chegou ao título de campeão brasileiro. Para os alviverdes, “tomar” a faixa do arquival, que havia “tomado” em 2017 do Palmeiras, é outro saboroso ingrediente na história do sexto título Brasileiro desde 1971. Pela primeira vez, o Palmeiras não conquistou o campeonato mais importante do país de forma consecutiva.

Dentro de campo, a redenção de Luiz Felipe Scolari, que por ironia do destino ou maldade, é lembrado pela goleada sofrida para a Alemanha, no Mineirão, na Copa do Mundo de 2014. Mas nossa memória é curta e não lembra do título de 2002 sobre a própria Alemanha. A chegada de Luiz Felipe Scolari reduz a zero qualquer distúrbio ou conflitos dentro de um grupo. Ele não permite. E diante de seus comandados, transforma a lealdade em padrão. A irretocável campanha verde deflagra uma gestão nos bastidores e dentro das quatro linhas sustentável.

Nesta campanha invicta desde a 17ª rodada, o Palmeiras rateou. Muito em razão do calendário, já que disputou muitas competições ao longo do ano como é de praxe para os grandes clubes bem geridos. As derrotas para Corinthians, Sport e Cruzeiro, nas 5ª, 7ª e 8ª rodadas, respectivamente, assim como os três empates consecutivos contra Ceará, Flamengo e Santos, e em seguida, a derrota para o Fluminense, na 15ª jornada, acenderam o sinal de alerta. Chega Luiz Felipe Scolari e arruma a casa. Uma característica marcante de um profissional vencedor. Um senhor do futebol brasileiro. Já colocado na mesma prateleira de imortais palmeirenses junto de Osvaldo Brandão. E por quê não, Vanderlei Luxemburgo? Aí é papo para mais de dois dias.


“Defesa que ninguém passa”. O primeiro verso da terceira estrofe do hino diz um pouco do sistema defensivo do clube, ainda mais após a chegada do Felipão que assumiu a equipe após a derrota para o Fluminense, e tem o privilégio de fechar o certame invicto. O Palmeiras tem a melhor defesa do Brasileiro, sofrendo 24 gols. Desde que Luiz Felipe Scolari assumiu na 16ª rodada, a defesa palmeirense, que fez rodízio de zagueiros e laterais em função da Libertadores da América. sofreu apenas nove gols. Outro informação interessante desconstrói a taxação de técnico defensivo pelo fato de ser da escola gaúcha. Dos 64 gols marcados pelo Palmeiras, 42 foram marcados sob o comando do técnico. Até ele assumir, a equipe tinha marcado 22 vezes.

Dentro de campo, o conjunto fez a diferença, e o plantel, idem. E ter no grupo jogadores acostumados a sagrarem-se campeões é um diferencial competitivo que faz a diferença na hora da decisão, na hora de separar os meninos dos homens, de separar os craques dos bons jogadores. Sem dúvida, Dudu fecha o campeonato como o melhor jogador da competição. O atacante Deyverson (oito gols sendo reserva), quando acionado, deu conta do recado além das expectativas. Felipe Melo e Bruno Henrique (oito gols), volantes que formam barreiras quase intransponíveis à frente da zaga, mas também são capazes de fazerem lançamentos de 50, 60 metros. Os gols do Borja, que apareceu muito bem na temporada, também foram determinantes.


Mas destaco três jogadores que estão comemorando o quarto título Brasileiro. E por coincidência, esses jogadores têm seus títulos em três clubes diferentes. Jean, o polivalente jogador que atua no meio de campo e lateral-direita, foi pelo São Paulo, Fluminense, e duas vezes no Palmeiras. Edu Dracena, aos 37 anos, também conquista o Brasileiro pela segunda vez pelo Palmeiras. Anteriormente, Cruzeiro, em 2003, na equipe que conquistou a Tríplice Coroa, e em 2015, pelo Corinthians. Nos últimos quatro Brasileiros, Edu Dracena conquistou três. Ano que vem, se por ventura for campeão Brasileiro novamente, pode ser o encerramento de uma carreira vitoriosa no seu 20º ano de carreira. E Willian Bigode, um dos jogadores mais versáteis do futebol brasileiro desde que ganhou seu primeiro Brasileiro pelo Corinthians (2011). Dois anos depois, chegou ao Cruzeiro para ser bicampeão Brasileiro nas temporadas 2013 e 2014, sendo determinante para o sucesso celeste das Alterosas. Agora, é campeão pelo Palmeiras. Este jogador ainda não teve a chance de vestir a camisa amarela da seleção brasileira. E uma oportunidade é merecida desde 2011.

Na próxima temporada, os três jogadores têm grande chance de escrever mais capítulos honrosos em suas carreiras. Podem juntar-se a Andrade e Zinho como os maiores vencedores de Campeonatos Brasileiros. Porém, Willian Bigode e Jean ainda têm lenha a queimar e, mediante uma estratégia planejada junto a seus staffs, podem tornar-se os maiores vencedores do futebol brasileiro em todos os tempos. É acompanhar para saber.


Então, Luiz Felipe Scolari, Edu Dracena, Jean e Wilian Bigode, têm motivos de sobra para sorrirem nessa reta final de ano. E Dudu, que pela segunda vez consagra-se pelo Palmeiras. Se em 2016 ele foi eleito o melhor jogador do Brasileiro que culminou com o título palmeirense, não resta dúvida quem será apontado como o craque do campeonato. Fez apenas sete gols. Mesmo assim será eleito. E é outro jogador que merece uma chance na seleção.

Wéverton, Luan, Diogo Barbosa, Cláudio Gomez e Borja, cinco dos 11 últimos titulares na partida que sagrou o Palmeiras campeão Brasileiro em São Januário, conquistam o Brasileiro pela primeira vez. Sendo que Weverton e Luan haviam sido medalhas de ouro nas Olimpíadas, e Diogo Barbosa conquistara um título nacional (Copa do Brasil) com o Cruzeiro. Ou seja, um time com cancha para grandes decisões.

DOIS ANOS DE UMA TRAGÉDIA

por Israel Cayo Campos


Dia 28 de novembro completamos dois anos do voo 2933 da LaMia que se acidentou na região de “El Gordo” na Colômbia, e que acabou por ceifar a vida e os sonhos de 71 dos 74 passageiros. Dentre esses estava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, a nossa querida “Chape”, que se preparava para o maior desafio de sua curta, porém vencedora, existência. Uma final de um torneio Sul-americano contra o atual campeão da Libertadores da América, o também verde e branco Atlético Nacional.

Uma tragédia esportiva brasileira que parou o mundo que eu me recorde, só em 1994. Quando em apenas 13 dias perdemos o Craque Dener, que poderia ter sido um gênio da bola se não fosse o triste acidente de carro no dia 18 de abril, e Ayrton Senna, maior esportista brasileiro em atividade, ídolo máximo com status de herói nacional, que acabou perdendo sua vida na fatídica Curva Tamburello em Ímola na Itália no dia 01 de maio do referido ano. Mas mesmo esses dias negros não se comparam ao que aconteceu naquela noite de 2016.

Não me cabe elencar culpados pelo ocorrido, mas quero homenagear todos que perdemos naquele fatídico voo. Pessoas que tinham uma vida toda pela frente. Pais de família! Seres humanos que não só comoveram o país, como o mundo todo. Se tratando do aspecto esportivo, essa foi e rezo para que seja eternamente, a maior tragédia ocorrida no país.

Ananias, meio campo da Chapecoense. Quem não se lembra da piada “Ananias Parque”? Por ele ter sido o autor dos dois primeiros gols da Arena do Palmeiras? Arthur Maia, de quem eu particularmente recordo atuando com a camisa do América de Natal (minha cidade), onde teve uma grande passagem, inclusive eliminando o Fluminense da Unimed em 2014 em pleno Maracanã pela Copa do Brasil com um expressivo 5 a 2 aplicados.


Bruno Rangel, um jogador rápido e goleador que tinha feito a maior parte de sua carreira no mundo árabe. Aílton Canela, um garoto que ganhava sua primeira chance em um clube de Série A. Cleber Santana. De um time formado com jogadores desconhecidos da grande mídia, era talvez o de mais “nome”. Entre Santos, São Paulo e Flamengo, também tinha passado algumas temporadas no Atlético de Madrid da Espanha.

Dener, que ainda tentava se firmar no futebol após passagem pelo Grêmio. Danilo, o goleirão que contribuiu demais para a vaga na final daquele torneio com defesas milagrosas em todas as partidas. Inclusive contra o tradicional San Lorenzo da Argentina nas semifinais. Ele já possuía 31 anos. Mas só naquele momento ele alcançava o auge e o reconhecimento por anos de trabalho duro em clubes menores. Filipe Machado e Sergio Manoel: Como gostaria de ter visto mais vocês em campo para tecer memórias importantes sobre suas promissoras carreiras.

Matheus Biteco. Formado no Grêmio, já havia visto alguns de seus jogos pela Seleção Brasileira sub-17 e sub-20. Junto com o irmão Guilherme, eram tidos como grandes promessas do futebol brasileiro, aos 21 anos não deu pra saber! Gimenez e Lucas Gomes. Dois jogadores formados no celeiro de craques do interior paulista, também estavam no auge de suas carreiras.

Kempes. O goleador do time no ano, com sua cabeleira cheia de estilo. Já tinha algumas passagens por outros clubes como o América de Minas Gerais. O volante Gil, o garoto Thiaguinho, e o volante Josimar, que teve passagem pelo Palmeiras.


O zagueiro Thiego, mais um formado pelo Grêmio, e que teve sua melhor fase no rival Figueirense. Marcelo, o jovem zagueiro que vinha se destacando na Sul-Americana. E Mateus Caramelo, formado no São Paulo, e que estava recuperando seu bom futebol exatamente na equipe da Arena Condá.

Além dos jogadores a comissão técnica: Caio Jr. Que antes de ser um técnico de respeito fora um atacante de destaque principalmente no Paraná Clube, na época que o mesmo estava na melhor fase de sua história. Com muitos títulos no mundo árabe, um Campeonato Baiano pelo Vitória e boas passagens por clubes como Palmeiras e Botafogo, o título da Sul-Americana seria o divisor de águas na carreira do técnico dentro do futebol brasileiro. Além de Caio, foram o auxiliar técnico Duca, o médico Márcio Koury, e o preparador físico Anderson Paixão, filho do famoso preparador da Seleção Brasileira Paulo Paixão. Todos deixando família e a sensação de que profissionalmente estavam a viver o melhor momento de suas vidas.

Além dos jogadores e da comissão técnica, os membros da imprensa que foram cobrir aquela final. Pessoas as quais estava acostumado a ver em minha casa até mais que os jogadores da Chape, pois estavam todos os dias a apresentarem seu trabalho para nós telespectadores.

É o caso de Deva Pascovicci, narrador da Fox Sports que começou na extinta TV Manchete (Na TV), e que ficara bastante reconhecido principalmente do pessoal de fora do sudeste brasileiro pela emocionante narração naquela semifinal contra o San Lorenzo, onde o “Espirito de Condá” esteve presente. Com ele partiram também o câmera Rodrigo Santana e o coordenador de externa Júnior Lilácio, este último descrito por seu companheiro de emissora Oswaldo Paschoal como tão dedicado e competente, que até subir em árvores para por um sinal de qualidade para os assinantes do canal ele fazia sem reclamar.


Ainda da Fox, três das figuras que mais senti a perda no meu dia a dia… Victorino Chermont, o Vitu… Repórter e comentarista acompanhava seu trabalho desde que o mesmo ainda era o “repórter carioca” da TV Bandeirantes, em seguida passando pelo grupo Globo e depois sendo o repórter América da Fox Sports, acompanhando todos os times brasileiros nos torneios disputados no continente. Sobre ele uma passagem muito comovente do colega Fábio Sormani. Que em uma conversa pessoal com Vitu ouvira (ou leu) do mesmo que se ele fosse antes, queria que um garçom que sempre o servia muito bem carregasse o caixão. Emocionado, Sormani fez o pedido ao mesmo que se estivesse vendo o programa, fosse ao enterro do mesmo prestar essa homenagem. Se o garçom em questão foi, não sabemos, mas que as tiradas inteligentes do rubro negro Victorino fazem falta… Há como fazem…

Paulo JulioClement. Lembro-me de acompanhá-lo via Facebook em seus comentários. O conheci enquanto jornalista com ele já na Fox. Mas o torcedor do Fluminense era bom em tudo que fazia. De edição ou como comentarista. 

Mario Sergio Pontes de Paiva. Admito, até ele trabalhar na Fox o achava um treinador (já peguei essa fase dele) muito arrogante! Como comentarista também tinha coisas que me desagradavam muito. Mas ao ir trabalhar no Fox Sports Rádio, que hoje é líder de audiência dos programas esportivos (e não estou fazendo jabá, rs), comecei a ver outro lado daquele Mario, que fora um craque de bola, campeão do mundo pelo Grêmio, campeão várias vezes pelo Internacional, pela máquina tricolor de meados dos anos 1970 do Fluminense, e até campeão com o meu São Paulo. Um lado humano, engraçado, sincero, mas sem perder a doçura. Como disse o ex-colega de clube Leão (o ex-goleiro), O Mario Sergio estava passando pela fase mais doce e serena da vida dele.


Dono de um amor por apostas em cavalos e um vício de limpar seus próprios óculos, Mario era garantia de meus risos certos quando participava do programa. E mesmo sendo campeão nos dois grandes do Rio Grande, me acabava de rir com as provocações que fazia ao Grêmio e também ao Internacional… “Tudo no Inter se pergunta lá no Posto Ypiranga antes de se tomar uma decisão dizia ele”, em referência ao ex-presidente colorado Fernando Carvalho. Mas tão grande era o amor pelo clube, que o mesmo fez uma aposta impossível de publicar aqui com o apresentador Benjamin Back se o Internacional aquele ano fosse rebaixado… O Inter acabou sendo rebaixado, mas Mario malandro que sempre foi, se despediu desse mundo antes para não precisar pagar a aposta! Infelizmente Mario Sergio…

Além deles, ressalto outros jornalistas que não conhecia, mas que com certeza tinham um grande futuro em sua profissão: Os repórteres Guilherme Marques e Giovane Klein, o câmera Ari Junior, o produtor Guilherme Laars todos da Rede Globo. O repórter André Podiacki do Diário Catarinense. O cinegrafista Djalma Araújo da RBS, o repórter Renan Carlos da Rádio Oeste Capital, LaionEspíndula, setorista da Chapecoense para o Globo Esporte, Gelson Galiotto narrador da Rádio SuperCondá, Ivan Carlos e Edson Luiz, ambos da mesma rádio! Fernando Schardong e Douglas Dornelles da Rádio Chapecó e JacirBiavatti da Rádio Vanguarda FM.

Além deles, também devemos citar o piloto Miguel Quiroga, RomelVacaflores (assistente de voo), Ovar Goytia, Arias Alex e Gustavo Lugo. Mesmo passado dois anos, alguns menos outros mais, mas todos deixam saudades, principalmente aos respectivos familiares.

Vale ressaltar em toda essa tragédia o lado humano. O apoio do povo colombiano nas buscas e nos cuidados com os corpos. O fato do Atlético Nacional abrir mão de qualquer vaidade e ceder o título daquele torneio a Chapecoense, as comoções pelo mundo todo de jogadores da mais alto garbo aos seus colegas de profissão, o sentimento único de que antes de nacionalismos somos seres humanos, brasileiros e colombianos nunca se gostaram tanto e que seja assim para sempre! Que não se precise outra tragédia para nos unir. Até eu que estava bravo com o Atlético Nacional por ter tirado o meu São Paulo das semifinais da Libertadores, se tenho um time internacional para quem torço incondicionalmente hoje, esse time é o Atlético Nacional de Medellin.

Vale ressaltar também o velório da Chapecoense. A força da mãe do goleiro Danilo ao abraçar um repórter que não aguentava a perca de seus colegas de profissão. Dona LLaides Padilha é a prova clara de que o filho batalhador e vencedor não foi por acaso. O grande capitão do Barcelona Charles Puyol, que fez questão de participar do cortejo, Ao Barcelona que fez um amistoso com a Chape com o objetivo de ajudar no reerguimento do clube (Que na minha torcida pessoal não cairá a segunda divisão esse ano!), E até a Galvão Bueno, o tão criticado Galvão Bueno… Que consegue nos passar emoção de um título mundial no futebol. Assim como transmitir uma tragédia inesquecível como essa da maneira mais humana e verdadeira possível.


Mas como milagres acontecem! Até mesmo em um momento tão triste como esse, podemos tirar boas notícias! Nesse caso além da já citada união dos povos e até de torcidas rivais que vivem a se digladiarem, também tivemos sobreviventes: Alan Ruschel, que voltou a jogar futebol, e continua a atuar pela Chape. O goleiro reserva Jackson Follman, que perdeu a perna no acidente mas que hoje é comentarista e que afirmou a pouco tempo ter feito dois anos que nasceu de novo. O zagueiro Neto, o último a ser salvo entre as ferragens, mas que se recuperou e voltou ao futebol e o narrador da Rádio Oeste Capital FM Rafael Henzel, que narrou o “jogo da amizade” entre Brasil e Colômbia ao lado de Galvão Bueno. Lançou um livro contando sua experiência e voltou a suas atividades de narração pela mesma rádio. Afinal, a vida continua…

Além deles sobreviveram a comissária de bordo Ximena Suárez que hoje atua como modelo e o mecânico Erwin Tumiri, de quem pouco se tem informações. Que todos a partir daquele dia possam ter vidas felizes e em paz! Enquanto aqueles que se foram, a pergunta eterna do ser humano para eles já fora respondida. Entretanto, todos eles nunca serão esquecidos, e nunca sairão não só dos corações dos torcedores da Chapecoense, como de todos nós que amamos futebol! Afinal, todos nós somos efêmeros no tempo e no espaço, mas o que deixamos de legado aqui é eterno. E o desses meninos/homens, ficará guardado enquanto existir esse esporte tão apaixonante.