Escolha uma Página

AFONSINHO: O LIVRE

por Paulo Escobar


Na cidade de Marília vem ao mundo talvez um dos jogadores mais livres que o futebol brasileiro viu nascer. Aquele que viria a jogar com os pés e a cabeça em conjunto e que por conta disso pagaria dentro e fora dos gramados.

Afonsinho, meio-campo daqueles clássicos, que sabia bem o que fazer com a bola nos pés, se negou a crer na ideia de que jogadores de futebol deveriam somente se ocupar dos assuntos relacionados à bola. Não fez aquela maldita separação entre futebol e política, como se um assunto não tivesse nada a ver com o outro.

Em tempos de torturas e desaparecimentos fora dos campos, dentro dos campos reinava a escravidão na qual os jogadores estavam submetidos, amarrados aos clubes, sem poder decidir ou escolher aonde viriam a jogar.

Existem aqueles que enxergam as correntes que os escravizam e se acostumam a carregá-las, e existem aqueles que se sentem desconfortáveis com arrastar as correntes que o prendem, percebem que andam de maneira mais pesada. Afonsinho, que desde muito cedo aprendeu a olhar a vida de maneira mais livre, ou libertária, não aceitou ser escravizado pelos poderosos do Futebol.


Um jogador com a técnica e habilidade que Afonsinho possuía não tinha como ficar de fora das Copas de 74 e 78, as ideias defendidas lhe custaram a não convocação. Imaginem um jogador que na época foi perseguido até pelo seu cabelo comprido e sua barba, pois era questionado pela aparência revolucionária que o mesmo tinha.

Para Zagallo foi um incomodo ter um jogador com a aparência do Afonsinho, e para muitos clubes era um problema possuir entre suas fileiras um jogador pensante, ou posicionado publicamente contra a ditadura militar. As suas ideias impediam que muitos enxergassem o seu futebol, pois o futebol é impiedoso em suas decisões quando do outro lado temos um jogador que questiona as estruturas do mesmo.

Muitos jogadores admiravam Afonsinho por ter sido o primeiro no mundo do futebol a conseguir o passe livre, mas poucos tiveram a coragem de tomar a mesma posição. Um meio-campo que se negou a viver uma vida afastada da realidade, e que não deixou nada a dever aos grandes meias dentro dos gramados.


Afonsinho não teve o reconhecimento devido, pois neste mundo as histórias oficiais são contadas por aqueles que detém poder. É melhor não deixar em evidencia os jogadores que foram marcantes dentro e fora dos campos. Afonsinho jogou no Santos de Pelé, alguns nem sabem disso, e em tempos de amarras foi mais livre que o Rei.

Nosso meia foi um anti-herói pois os heróis do mundo do futebol são aqueles que somente se dedicam a jogar com os pés e a calar a boca. Heróis são aqueles que decidem viver a vida distante das realidades que cercam seus povos, e que representam a moral e os bons costumes impostos, ou que aceitam serem modelados e escravizados pelos “donos” do futebol.


Os anos passaram e o tempo imparável chegou até Afonsinho, mas uma coisa não passou dentro dele, a vontade de ser livre e através do futebol proporcionar sentimentos de liberdade e ensinamentos profundos. O nosso craque continua ensinando a molecada mais pobre a ser antes de tudo bons das ideias e depois habilidosos com os pés. Não foi um ídolo momentâneo, continuou sendo grande até os dias de hoje.

Não sei se a escravidão deixou de ser uma pratica no futebol, não sei se existem jogadores realmente livres dentro das estruturas do futebol, não sei se eles realmente decidem aonde jogar ou o que fazer de maneira autônoma. Mas sei que Afonsinho foi livre e quem dera neste futebol carente de Afonsinhos tivéssemos mais craques livres e sem medo de se posicionar no que diz respeito as realidades que cercam os seus povos.

BRASIL, O REI DAS COPAS FORAS…

por Serginho 5Bocas


É raríssimo uma seleção nacional, de qualquer modalidade esportiva, ser tão adorada pelo mundo. Contra tudo e contra todos, o Brasil ainda é assim no futebol.

Americanos são imbatíveis no basquete, chineses dão aula quando o assunto é tênis de mesa, quenianos são pódios garantidos quando o assunto é provas de corrida de média e longa distância, jamaicanos deitam e rolam nas provas de corrida de velocidade, mas poucos tem o carisma e personificam tanto a arte em um esporte como o brasileiro no futebol.

O “X” da questão é que esta idolatria toda não se transforma em predomínio ou protagonismo na hora do “vamu ver”, o Brasil realmente não é bom nisso! Quando somos favoritos é uma desgraça, como damos mole!

Vi onze Copas do Mundo, contando com esta que acabou recentemente e posso afirmar que demos “doce” pelo menos numas cinco delas. Por isso tenho que concordar com o dono do bar que frequentava, quando ele dizia que o Brasil era o rei das Copas foras.

1978 na Argentina foi infame, o 6×0 dos hermanos sobre o Peru foi de doer. Sei até hoje o nome dos atacantes peruanos: Munhantes, Cubillas e Oblitas e do famigerado goleiro argentino Quiroga, mas se Coutinho tivesse levado Falcão e não tivesse feito tantas invenções como escalar Edinho como lateral esquerdo ou colocar em campo dois laterais direitos ao mesmo tempo (Nelinho e Toninho) contra a Argentina, entre outras esquisitices, não sei não…


Veio 1982 e a bruxa de Sarriá resolveu sacanear todo mundo, pois me desculpem os derrotistas de plantão, mas o nome “tragédia” só foi dado porque só mesmo uma tragédia para definir o que foi aquele time perder para os italianos naquele dia. Falem o que quiserem, mas o Brasil de 1982 jogou Copas foras naquele 5 de julho, foi de chorar lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues. Sem mais comentários para não chorar de novo.

1986 e o que poderia dar errado quando tínhamos um goleiro que não havia levado gol em quatro partidas seguidas daquela Copa, quando ainda no primeiro tempo do jogo das quartas de finais contra a França já tínhamos aberto o placar e estávamos sobrando na partida? Fim de jogo, mais posse de bola, muito mais chances de gols, perdemos nos pênaltis e mais uma vez, jogamos Copas foras novamente. Desta vez, enterrando uma geração de monstros que saíam de cabeça erguida para o mundo, mas sem a consagração que muitos daqueles craques mereciam.


1998, depois da final antecipada contra a Holanda em que Ronaldo teve talvez a sua maior atuação em Copas do Mundo, veio a final e todos dizem até hoje que o Ronaldo amarelou naquele jogo, que nos vendemos para a FIFA, enfim, cada versão escabrosa, mas o que sei é que os franceses entraram com sangue nos olhos e nos venceram de novo, consagrando os donos da casa, mas sei que foi mais uma Copa fora, molinho, molinho…

2006 e a seleção sensação. Havia tempo que não reuníamos tanta gente boa numa mesma seleção, tinha tudo pra dar samba, não deu. Veio um joelho na meia lua da entrada da grande área, uma bola alçada sem que o goleiro saísse para cortar e novamente os franceses, sempre eles, nos mandaram pra casa sem dó nem piedade. Outra geração maravilhosa de jogadores de baralho, de outra Copa fora…


Depois disso nunca mais chegamos com protagonismo na competição, nunca mais choramos com gosto, só ironizamos, rimos de nós mesmos, pois a cada Copa vamos banalizando as derrotas e pelo menos estamos aprendendo a entender que não somos mais os mocinhos do filme, que não jogamos mais Copas foras, agora só participamos…que fase!

Que pena…

Forte abraço

Serginho5bocas

VALORES ASTRONÔMICOS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Torcedor adora uma resenha e volta e meia ouço alguém perguntar “quanto valeria um Rivellino hoje, um Zico, um Evaristo?”. Se um Arrascaeta, que nem titular da seleção uruguaia é, vale todos esses milhões que o Flamengo está oferecendo, imagine um desses três!

O Flamengo está agindo como esses emergentes que ficam milionários de um dia para o outro e saem esbanjando. Só falta os dirigentes gravarem um clipe imitando os rappers americanos, em carrões de luxo. Dá-lhe, ostentação!! Também lembram o apresentador Silvio Santos transformando cédulas em gaivotas e arremessando ao público: “quem quer dinheiro???”, Kkkkk!!!!

Fico imaginando quanto valeria o saudoso Doval hoje. Narciso Horacio Doval, que aniversariou no dia 4 de janeiro. Não falo em técnica, mas de entrega e identificação com a torcida. Outro centroavante que incendeia a torcida como ele é Carlitos Tévez, agora em fim de carreira. Os argentinos tem esse poder. Isso não se ensina em treinos, é próprio de cada um.

Doval entrava em campo e se transformava, cansava os zagueiros com seus piques e não tinha medo de cara feia. Foi trazido do San Lorenzo para o Flamengo por Tim, após se destacar em um poderoso ataque batizado de Los Carasucias, Caras Sujas, expressão argentina para moleques. Ele era o El Loco e os outros Fernando Nano Areán, Héctor Bambino, Victorio Manco Casa e Roberto Oveja Telch. No Flamengo, encantou a torcida em poucas partidas.

Nos conhecemos nas noitadas da Montenegro, em Ipanema, onde morava. Eu estava no Botafogo. Aprontamos muito, ele com sua Honda 400 e eu com minha Fiat Spider conversível, abóbora e preta, importada da Itália. Ele era um galã e as mulheres ficavam enlouquecidas quando ele chegava aos eventos. Os homens odiavam porque não sobrava nenhuma para contar a história, Kkkk!!! Mas o negão aqui tinha swing e também não decepcionava, Kkkk! Mas o playboy argentino era imbatível!

Depois jogamos juntos no Flamengo e em um dos troca-trocas do Horta ele foi para o Fluminense e nos encontramos novamente. Até me enviaram outro dia o vídeo do lance em que bato o escanteio e ele faz o gol do título do Carioca de 76. Que saudade do gringo!!! Amava o Rio como poucos cariocas amam, se naturalizou brasileiro e era considerado o mais carioca dos argentinos. Não lembro de quem é a frase, mas diziam que Doval era para o Rio o que Pelé era para o Brasil.


Sandro Moreira contou uma vez que, durante um jogo, ele perguntou para um companheiro de time porque a torcida do Flamengo gritava o nome do zagueiro Tinteiro se ele, Doval, era o melhor em campo. “É com você mesmo, Louco, e não é Tinteiro, mas chincheiro”, Kkkk!! E ele não se drogava, só lança-perfume, de leve. Sua morte foi uma pancada em nossos corações. Passou mal em Buenos Aires saindo de um restaurante com a família.

Poucos meses antes, já veteranos, nos encontramos em um torneio de futebol de salão, na Argentina. Ele jogou no combinado entre Flamengo e Santos, contra Boca/River e Nacional/Penarol. No início do campeonato, me chamou e disse que não queria perder a artilharia para o Artime, rival histórico. Fizemos um pacto, pelos velhos tempos! Ganhamos a competição e, claro, Doval foi o artilheiro. À noite, levou nosso time para passear por Buenos Aires e rimos muito relembrando os tempos espetaculares na Cidade Maravilhosa. Foi uma noite inesquecível, como tantas outras que passamos nas boates de Ipanema e nas Noites Cariocas, no Morro da Urca.

Hoje ele não está mais entre nós, não tenho mais minha Fiat Spider, a Montenegro virou Vinicius e o Arrascaeta vale milhões.   

UMA FESTA DE FUTEBOL

por Claudio Lovato


Começou assim: havia uns meninos jogando bola no campo que ocupava a maior parte da praça. Era um bando de garotos de nove, dez, onze anos correndo atrás da bola numa bela manhã de sábado, como crianças devem fazer.

Em volta, nas mesas que cercavam o quiosque do Mazinho, os velhos jogavam dama ou dominó.

Encostado ao balcão do quiosque, tomando a segunda cerveja do dia, Albério de repente disse para o velho amigo Mazinho:

– Vou lá bater uma bola com os meninos.

Mazinho riu e disse:

– Rapaz, você não tem mais cinquenta anos… Nem sessenta nem setenta…

Albério já estava com quase oitenta. 

Lá no terrão, a criançada adorou quando viu o vovô se aproximando, e logo a bola lhe foi passada. Albério ainda guardava traços de sua antiga majestade e fez uma irretocável dúzia de embaixadas.

O pessoal que jogava nas mesas começou a fazer as piadas inevitáveis e, então, Carlinhos da Matriz, que havia sido contemporâneo de Albério nos tempos de profissional, calçou os mocassins e começou a trotar, as pernas tomadas pelas varizes, em direção ao campo. Quando chegou, logo recebeu a bola enviada por Albério, e os dois deram início a uma troca de passes, sem deixar a bola cair. 


(Foto: Wildes Barbosa)

A gurizada que estava por ali, em volta do campo, fazendo outras coisas, notou a movimentação. O mesmo ocorreu com os adultos – casais, grupos de amigos – que estavam em frente às casas, conversando, ouvindo música, tomando cerveja, e, em pouco tempo, vários deles se aproximaram do alambrado para assistir a brincadeira, da qual agora já participavam alguns adolescentes, rapazes e moças.

No campo, pelo menos três bolas já eram usadas, e foi então que os outros veteranos decidiram – uns mais entusiasmados que outros – se divertir também, e se juntaram a Albério e Carlinhos da Matriz, e depois quem veio foi o próprio Mazinho, que deixou o quiosque sob os cuidados do filho, mas o filho logo foi para o campo também, porque era o que todos estavam fazendo, até as mães e as avós estavam agarradas no alambrado, e uma delas era a mulher de Albério, Rosália, que não sabia se achava graça ou se ficava preocupada por causa do coração do marido, e lá pelas tantas o que se viu era que havia mais gente dentro do campo do que fora, as calçadas quase vazias, as casas deixadas para trás com as portas abertas, as mesas esquecidas com as peças de dama e dominó abandonadas sobre elas, e a folia corria solta no terrão, e tudo estava tão bom que ninguém se preocupou em fotografar ou filmar ou fazer relatos por WhatsApp, e dali a pouco um sapato voou, um pé de mocassin marrom, mas isso não impediu que Carlinhos da Matriz continuasse batendo bola, e as crianças corriam pra lá e pra cá, e os velhos trocavam seus passes, e os jovens tentavam organizar rodas de altinha, e então os mais jovens passaram a trocar passes com os mais velhos, e os mais velhos iam para as rodas de altinha, e a essa altura alguém já havia colocado para funcionar o sistema de som do quiosque do Mazinho, e aquilo virou uma festa que durou a tarde toda, varou a noite, invadiu a madrugada, e, para alguns deles, tornou-se lembrança que ardeu em chama linda e inextinguível pelo resto de suas vidas. 

 

 

 

 

 

BANGU 1985

por Marcelo Mendez


A história do time que vamos contar hoje começa nos sonhos do velho Senhor Eusébio de Andrade, nos teares das fabricas de tecido de Bangu, passa pelo Rio Maravilha dos anos 60, se consolida a partir dos anos 70 com um nababesco Chefão do Jogo do Bicho e termina com uma lágrima que não quer parar de escorrer pelos rostos da Zona Oeste.

Vamos ao ano de 1985 para tratar de um Esquadrão que ousou se formar para além da Zona Sul, longe do concreto Paulistano, afora das dinastias, Mineiras e Gauchas.

A série Esquadrões do Futebol Brasileiro vai até o subúrbio para falar do Bangu de 1985…

ZIRIGUIDUM 1985, UM TIME ESTRELAR

“Quero ser a pioneira

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

Nos meus devaneios quero viajar

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar

(Eu sou)

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar”

Quando Ney Vianna soltou a garganta para cantar os primeiros versos do samba “Ziriguidum 2001, Um Carnaval nas Estrelas”, o ano para Castor de Andrade pareceu ser bastante proeminente. Com um enredo luxuoso, metido à futurista e o escambau, a Mocidade Independente de Padre Miguel sagrou-se campeã do Carnaval de 1985


Castor de Andrade era só alegria.

O Barão do Jogo do Bicho, otimamente relacionado com todo primeiro escalão da Ditadura Militar, amigo pessoal do Presidente Figueiredo, havia tomado o comando tanto da Escola que acabara de sagrar-se campeã, quanto a frente do Bangu, time que outrora havia tido seu pai, o Velho Eusébio de Andrade, como Presidente.

Com a chegada de Castor, o Bangu deixou de ser um time mediano, coadjuvante no futebol carioca. Ele acabou com o Romantismo tanto nos negócios do pai, como também na gestão do clube. Com ele, o time passa a ser administrado de maneira profissional, firme. O time passa a ter investimentos e já no seu primeiro ano como diretor, em 1966, vem o titulo de campeão carioca daquele ano.

A partir da metade dos anos 70, Castor vira Presidente de Honra, tanto da Mocidade Independente, quanto do Bangu. Daí, chegamos na história que contaremos hoje…

O GIGANTE DA ZONA OESTE, DE VERDADE!

O Bangu havia sido um mero participante do Brasileirão em 1984.

Ali pelo meio da tabela, sem incomodar ninguém, sem chamar muito atenção. Mas o Seu Castor não era um homem muito dado à descrição e para 1985, muda isso pra valer.

Com a chegada de jogadores como Mario, Ado, Lulinha, Israel, o centroavantão João Claudio e o craque Marinho, o time de Moça Bonita entra no Campeonato Brasileiro para arrebentar e consegue de cara, com uma primeira fase irretocável.

Foram 14 vitórias, 5 empates e apenas 3 derrotas na primeira fase da competição.


Para a fase de classificação, um grupo enroscado com o Mixto do Mato Grosso, além de Vasco e Internacional. O Bangu jantou com todo mudno! Foi 3×0 no Vasco, 4×1 no Mixto, 2×1 no Inter em Porto Alegre e quando o País acordou, o Bangu estava numa das semifinais mais insólitas da história do Campeonato Brasileiro, contra o Brasil de Pelotas.

Foram dois passeios!

Em Porto Alegre, o Bangu venceu por 1×0 e no Rio, um baile de bola, 3×1 no Placar em um show de Marinho e Ado. Pois é:

Ado…

AO 11 COM AMOR

São muitos os mistérios que circundam as marquises de sonhos e odes do futebol.

Paradoxalmente, uma partida de futebol não se faz na exatidão de um ponto final, frio e calculista ao término de uma equação. Não se desvenda esses mistérios a partir de fórmulas, soluções, magias ou feitiços. O futebol tem para sim uma imprevisibilidade que o aproxima demais do que é a vida da gente. Por isso é algo grandioso, épico e também cruel.

Após aquele 1×1 da final em jogo único contra o time do Coritiba, o Bangu poderia ter sido campeão se o árbitro Romualdo Arpi Filho não tivesse feito a cagada de anular um gol de Marinho. Gol legitimo! Poderia ter virado o jogo, após o empate que veio com Lulinha. Ninguém mais lembrava do gol de Índio de falta.

O Bangu foi melhor o tempo todo. Mas o futebol tem os mistérios que falei, lembra? Ele se fez na disputa de pênaltis.

Prorrogação empatada, cobrança de pênaltis empatada, série alternada começando com o Bangu abrindo as cobranças; 5×5 no final, ninguém errou. Nas alternadas, o Bangu começa e aí chega a vez de Ado…

Era o melhor jogador do Brasil em 1985. Canhoto, habilidoso, inteligente, cotado para se transferir para grandes clubes, seleção brasileira, o camisa 11 de Moça Bonita estava voando. Quando o técnico Moisés o designou para a sexta cobrança, o craque, já sem ataduras, sem as chuteiras, sem o mesmo poder de concentração, veste todo o equipamento e vai.

Do centro do meio campo até a marca do Pênalti, Ado caminha para aquele que viria a ser o maior calvário da sua vida. A cobrança:


Rafael Camarota de um lado, bola ao lado da trave, explodindo nas placas de publicidade. Pra fora. Os mistérios todos que rondam o futebol são presentes aqui também. Não sabemos o que se passou na cabeça de Ado, a única coisa que vi dele naquela noite foi o tanto de lagrimas que desceu por seu rosto.

A dor de um cara digno, de um jogador que também é trabalhador, pai de família, torcedor e que ainda por cima tem que por fim jogar o jogo e decidir está aqui sendo respeitada por essa coluna.

O pênalti de Gomes, em seguida deu o caneco ao Coritiba. Sabemos. Mas a coluna Esquadrões do Futebol Brasileiro vai terminar hoje de uma maneira diferente, vai sair do protocolo, homenageando sim o ótimo time do Bangu de 1985, mas será dedicado para outro fim:

Ado, nós não podemos aqui dar a você o titulo de 1985. Mas com todo prazer do mundo, a série Esquadrões do Futebol Brasileiro homenageia você, glorifica as suas lágrimas, saúda a grandeza que tem em ti, para além de jogador, como pessoa ótima que você sempre foi e segue sendo.

Humildemente, esse jornalista dedica a coluna de hoje a você, Ado. Obrigado por tudo