Escolha uma Página

NOS TEMPO DO ONÇA

por Victor Kingma 


Nos anos 60, os campeonatos estaduais viviam o seu auge e os estádios estavam sempre lotados. No Rio, o Flamengo, que na primeira metade tinha sido campeão em 1963 e 1965, passou todo restante da década sem conquistar um título sequer.

O jejum de conquistas começou em 1966, ao perder por 3 x 0 a célebre decisão contra o Bangu, jogo que acabou em pancadaria, protagonizada pelo lendário Almir, o pernambuquinho.

Nos anos de 1967 e 1968, sua torcida teve que conviver com a impressionante hegemonia do Botafogo, que montou um dos maiores times de sua história, com quase todos os jogadores oriundos da sua base.  Realmente era difícil conter o ataque formado por Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Paulo César, comandados pelo novato técnico Zagalo, ainda com um “L” só no nome. Nesses dois anos o Flamengo sequer chegou à decisão, vencidas pelo alvinegro contra Bangu (2 x 1) e Vasco (4 x 0).

Em 1969 a seca de títulos continuou, quando os rubro-negros perderam por 3 x 2 a decisão para o Fluminense, cujo grande destaque era o centroavante gaúcho Flávio, o Minuano, o artilheiro do campeonato.

Naqueles sombrios anos sem conquistas para o futebol rubro-negro, as alegrias vinham de esporádicas e emocionantes vitórias.


A torcida vivia à procura de um ídolo, quando, no início de 1968, vindo da Bahia, aportou na Gávea um raçudo quarto zagueiro,  de nome Onça, que, vencida a desconfiança inicial pelo estranho apelido, logo foi alçado a essa condição.

E o bravo Onça, teve mesmo os seus dias de glória:

Numa partida contra o arquirrival Vasco, invicto há 10 partidas, pelo segundo turno do campeonato de 1968, o Flamengo perdia por 1 x 0 quando o zagueiro marcou um golaço de falta, da intermediária, empatando a partida e caindo de vez nas graças da torcida. Até porque, Dionísio, “o Bode Atômico”, e ainda, de letra, marcaria o gol da sensacional vitória, comemorada com euforia pelos rubro-negros, em tempos de vacas magras.  Isso diante de 134.185 mil pagantes, recorde nacional de público naquele ano.

As manchetes dos jornais do dia seguinte deram grande destaque, não só à vitória rubro-negra mas ao golaço de falta marcado pelo novo xodó da torcida.

Sem ser um craque consagrado, como tantos que vestiram a camisa rubro-negra, Onça era daqueles jogadores respeitados pela torcida do Flamengo, pela raça com que defendia as cores do clube.


Além do Flamengo, onde jogou 164 partidas e marcou 7 gols, de 1968 até 1971,  atuou ainda pelo Fluminense-BA, Sport de Recife, Bahia e Sergipe, onde encerrou a carreira, em 1978.

Mario Filipe Pedreira, o Onça, nasceu em 13 de julho de 1943, na cidade de Santaluz, Bahia, e faleceu em 7 de setembro de 2017, em Salvador, aos 74 anos de idade.

Sua raça e determinação o fez entrar para a história do clube e nas resenhas diárias com os amigos se vangloriava muito disso, antes de ser acometido pelo mal de Alzheimer, nos últimos anos de vida.

MEMÓRIAS DA AREIA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Como todos sabem sempre fui festeiro e adorava as noitadas cariocas. E quando chega essa época do ano é impossível não lembrar dos eventos que aconteciam na praia e reuniam milhares de pessoas. Era uma multidão para assistir os torneios de futebol de praia – beach soccer é o ca…. – e até mesmo nossos jogos festivos.

Posso dizer que joguei em todos os pisos porque, menino, corria atrás da bola no paralelepípedo da Aníbal Reis, em Botafogo, de lá fui para o futebol de salão – futsal é o ca… – e em seguida para o gramado do Botafogo, que conciliava com a praia. Sou Columbia F.C!

Logo após ser campeão do mundo, em 70, eu e meu irmão Fred organizávamos partidas sensacionais, que contavam com várias estrelas. Nelinho, Zico começando, Samarone, Dadá Maravilha e tantos outros. Mas, a areia também era recheada de estrelas… do mar, Kkkkk!!!!

Os anos 60/70 foram mágicos! Eu era do Leblon, mas Ipanema lançou Tom Jobim, Helô Pinheiro, Vinicius, o Píer, o fio-dental e os seis irmão boleiros do Lagoa: Gugu, Paulinho, Jonas, Dadica, Marcelo e Fernando. Foram campeões em 1964. Tempos depois ganharam pelo Montenegro.


Em 1965, quem papou o título foi o Copaleme, da famosa zaga Pellicano e Canolongo. O Columbia também teve seus dias de glória, assim como o Porongaba, o Juventus, de Junior, o Guaíba, de Leoni, o Tatuís, de Tuca, o Radar, de Eurico Lira, e o Maravilha, de Armando Monteiro.

O Lula, do Lagoa, foi o maior que vi! Pior que o levaram para um teste no Botafogo quando eu já estava lá! E éramos da mesma posição, fiquei preocupado, Kkkkk!!!! Mas não vingou na grama. Vários não se adaptavam ao piso e chuteiras.

O goleiro Renato saiu do Lá Vai Bola para o Atlético-MG e o cracaço Tubarão, do Copaleme, para o Santos. As partidas eram assistidas por vários técnicos do futebol profissional, jornalistas, como Fernando Calazans e José Trajano, e celebridades, como Chico Anysio, Miéle e Milton Gonçalves. As partidas eram apitadas por Arnaldo Cezar Coelho e há relatos de que em algumas ocasiões ele precisou fugir nadando da ira da torcida, Kkkk!!!

Ah, outro que treinou no Botafogo foi o lendário Geraldo Mãozinha. Raphael de Almeida Magalhães também jogou demais, assim como Santoro, do Lá Vai Bola. O campo do Columbia era o último da praia, na subida da Avenida Niemeyer. O mais bacana é que muitos jogadores eram do Vidigal. Essa integração morro e asfalto sempre ocorreu no futebol de praia. Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, Tabajaras, em Copacabana, e Cruzada São Sebastião, no Leblon. E o futebol era misturado com muita música e escolas de samba.


Os torneios de futebol de praia faziam parte do calendário carioca. Também tinha a linha de passe com goleiro e o famoso jogo dos brancos contra os pretos. Nunca perdi, Kkkkk!!!! Tudo sem maldade ou preconceito. A praia sempre me revigorou, me deu preparo físico e amigos.

Fim de ano é o momento de mentalizarmos positivamente e peço para Iemanjá, a Rainha do Mar, que traga toda essa pureza de volta porque nosso futebol depende dela para sobreviver. 

ATLÉTICO MINEIRO 1976

por Marcelo Mendez

"Não precisa medo, não
Não precisa da timidez
Todo dia é dia de viver
Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês não vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais"

Os anos 70 eram lindos em Minas Gerais.

O Estado crescia, os sonhos eram múltiplos e para além do futebol, o Brasil passou a ouvir umas vozes maravilhosas cantando letras épicas, canções belíssimas compostas por cabeludos talentosos

A rapaziada do Clube da Esquina, formada por Milton Nascimento, os irmãos Lo e Marcio Borges, Beto Guedes, Nelson Angelo, Fernando Brandt, Wagner Tiso, Robertinho Silva, fizeram os ouvidos do Brasil ficar atentos aos sons de Minas. Em campo não podia ser diferente.

Minas Gerais apresentava dois grandes rivais e toda a excelência de craques desfilando com arte em tardes ensolaradas no Mineirão. Porém, algo não estava bem para uma das metades do Estado.


Após ter vencido um Campeonato Brasileiro em 1971, o Atlético amargava uma fila em que seu maior rival, o Cruzeiro, nadava de braçada com um tetracampeonato entre 1972/1975. O técnico Tele Santana, escolhido para começar um trabalho a longo prazo, não contou com a paciência nem da torcida, muito menos da direção e foi demitido.

Na base, pouca atenção era dada e os jovens talentos do Galo eram espalhados para todos os rincões do País, para times como Nacional de Manaus, casos de Toninho Cerezo, Paulo Isidoro e Danival. Mas isso ia mudar.

No final de 1975, o técnico Barbatana assume. Os jogadores emprestados retornam e encontram Marcelo e Reinaldo, Heleno e Angelo. A magia estava pronta:

Surge então o Atlético Mineiro de 1976. Time que estrela hoje na série Esquadrões do Futebol Brasileiro.

"Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada"

Até 1976, em 11 Campeonatos Mineiros, o Cruzeiro havia vencido nove.

O implacável time de Zé Carlos, Tostão, Piazza, Evaldo, Raul, Nelinho, havia varrido as Minas Gerais com um caminhão de conquistas, entre elas, a Libertadores de 1976 e aquilo estava incomodando demais as Gentes do Galo.

Não dava mais para esperar.

Teria que ser “agora”


O Time da Molecada do Galo, sob comando de Barbatana, chegou invicto para a decisão contra a Raposa. Amassou geral, metendo goleadas implacáveis como o começo da competição; 6×1 no Sete de Setembro, 5×0 Nacional de Muriaé, 5×0 Esab, 5×0 no Guarani MG, 8×0 no Nacional de Uberada.

Eram espetáculos de bola em tardes que jamais seriam esquecidas por quem as viveu no concreto da arquibancada do Mineirão. Um timaço, rápido, habilidoso, inteligente, uns moleques abusadissimos como Heleno, Ziza, Reinaldo, Marcelo, Paulo Isidoro, Marcio e uma campanha primorosa. Mesmo assim, o Cruzeiro era tido como favorito para a decisão.

Mas isso também ia acabar…

"A espera na fila imensa
E o corpo negro se esqueceu
Estava em San Vicente
A cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
As mulheres e os homens
Coração americano
Um sabor de vidro e corte"

Em dois jogos com mais de 100 mil pessoas no Mineirão, o Brasil viu a máquina Atleticana amassar o Cruzeiro em duas partidas vencias pelo mesmo placar; 2×0. Nas duas, Reinaldo, o Rei, deitou na zaga cruzeirense, meteu gol, chapéu, caneta, fez o diabo!


O Atlético acabou com a hegemonia do rival e mais que isso; A partir de 1976 tomou conta do futebol mineiro e venceu tudo até 1983, sendo conhecido como o time do Hexa. Nesse período o Galo conquistou o respeito nacional com grandes campanhas no Campeonato Brasileiro, conseguindo dois vices, em 1977 e no controverso 1980.  Fez história.

E quem faz história, entra nessa série. Nossas odes ao Atlético Mineiro de 1976, time que começou uma dinastia e que figura aqui:

Com 31 jogos, 26 vitórias e cinco empates. 81 gols feitos e oito sofridos, o Atlético Mineiro de 1976, ganha seu lugar de honra em Esquadrões do Futebol Brasileiro.

Natal do Cortazio

NATAL DA FAMÍLIA CORTAZIO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Para o verdadeiro amante do futebol arte, a pelada do parceiro Carlinhos Cortazio é um paraíso. Por ali, reúnem-se craques que arrastavam multidões ao Maracanã em uma época que éramos respeitados mundialmente. Por isso, volta e meia marcamos presença para resenhas memoráveis e é claro que não ficaríamos de fora da festa de fim de ano da pelada!


Mendonça, Moreno, Mário Português, João Luiz, Dé Aranha, Nélio, Jair Pereira, Arthurzinho… Poderia ser a lista de craques que fizeram história pelos gramados, mas são nomes que não ficam uma segunda-feira longe da pelada ou, pelo menos, da resenha do Cortazio.

– Não podemos deixar de falar da maior referência de ser humano. É uma honra muito grande poder conviver com essa galera maravilhosa. O Carlinhos é realmente o cabeça disso tudo aqui! – exaltou Dé Aranha.

– O Carlinhos é que nem vinho: quanto mais velho, melhor ele fica! – emendou João Luiz.

Sabendo o que iríamos encontrar, levamos algumas Revistas Placar dos anos 80 e, logo de cara, nos deparamos com João Luiz e Mário, dois personagens que já estamparam uma capa de 1980, ao lado de Mozer e Dudu.

– Isso foi quando a gente foi para Toulon pela Seleção. Fizeram um duelo Seleção Principal x Seleção de Base e foi 7 a 1 para eles, mas eu não estava. Aí Telê fez uma reformulação para Toulon e na última chamada eu entrei – lembrou Mário!

Em sua defesa, João Luiz disparou:


– Mas também os caras eram brincadeira! Olha o meio-campo: Cerezo, Falcão e Zico! A gente tinha um timaço, mas era tudo novinho!

Demos mais alguns passos e esbarramos na dupla Mendonça e Moreno, meias que teriam espaço em qualquer time do planeta atualmente. Com a mesma humildade de sempre, o ídolo do América-RJ não mediu as palavras ao elogiar o craque do Botafogo

– O Mendonça veio antes de mim, então eu tive o prazer de vê-lo jogando. Depois nós chegamos também. Tive dois prazeres: um de ter visto essa fera jogar e outro de jogar contra. Eu procurava me espelhar nele.

Depois de retribuir os elogios, o camisa 8 agradeceu ao Museu e nos deixou ainda mais extasiados naquela festa:

– Vocês resgatam coisas que até eu não sabia. É tipo um baú, que vem trazendo coisas do passado. Você acaba se emocionando. As crianças que não tiveram a oportunidade de nos ver podem acompanhar através do Museu.

Se não bastasse tanta felicidade, a fera Carlinhos Cortazio ainda preparou uma surpresa daquelas para a gente. Na hora de produzir as camisas personalizadas para a festa de fim de ano, fez questão de estampar a logo do Museu da Pelada em cada uma delas.


– Vocês merecem!! – disse o anfitrião.

Receber tal tipo de homenagem em um lugar que reúne feras mundiais é motivo de muito orgulho para nós e mostra que estamos no caminho certo.

Passada a emoção, reunimos Paulinho Pereira (Vasco da Gama), Nélio (Flamengo), Mário (Fluminense), Moreno (América-RJ), Mendonça (Botafogo) e o mestre Jair Pereira que passou pelos quatro grandes. Exaltados por todos eles, Jair foi taxativo ao ser perguntado como seria uma preleção com essas feras.

– Pode ir que está tudo certo! Todo jogador gosta de uma preleção curta, objetiva e efetiva. Mas na realidade quem decide jogo é a técnica do jogador. Com esses aqui, não tem erro!

No fim da resenha, ainda encontramos o parceiro Anderson Loubach muito bem vestido com a nossa camisa e o parceiro Robinho, o Robgol, ídolo do Remo. Um dia para ficar marcado na história do Museu da Pelada!

Valeu, Carlinhos!!!
 

 

ARTISTAS SACODEM O MARACA

entrevista: Sergio Pugliese | vídeo e edição: Daniel Planel

A convite do parceiro Sérgio Ricardo, presidente da Loterj, a equipe do Museu da Pelada foi até o Maracanã para o lançamento da Raspadinha Raspa Rio Balanço Geral, que contou com uma pelada sob forte calor e reuniu artistas e grandes craques do passado.

Para a nossa surpresa, durante o discurso de Sérgio Ricardo sobre a novidade, fomos convidados para falar um pouco do Museu da Pelada, representado pelo nosso capitão Sergio Pugliese:

– O nosso objetivo é eternizar momentos maravilhosos do futebol. Depois do 7×1, a gente quis mostrar para as novas gerações que o nosso futebol não era aquele. Por isso, criamos esse espaço que traz de volta os jogadores do passado.

Recebido com aplausos, Edmundo era um dos mais aguardados pela galera e atendeu fã por fã com autógrafos e selfies.


Como a gente gosta mesmo é da resenha, partimos para o vestiário do Maraca e nos deparamos com a logo do Museu estampada nas camisas que seriam usadas pelas estrelas. Ao notar que usaria a mística camisa 7, Toni Garrido não se conteve:

– Não é todo dia que você chega ao Maracanã e tem seu nomezinho com uma camisa te esperando. Ainda mais com a camisa 7, vou ser o Toni Garrincha! – brincou.

Acostumado com todo aquele ambiente, Adílio preferiu exaltar o nosso trabalho e fazer nosso dia ainda mais feliz:

– Museu da Pelada é demais! A peladinha é a origem de todos nós. Antes de virar jogador, driblava a árvore que tinha no campinho perto de casa. A gente aprendeu a jogar na marra.

O goleiro Cláudinho Cunha, da Planet Globe, seguiu pelo mesmo caminho:


– O Museu da Pelada faz parte da nossa essência, da nossa infância. A maioria dos brasieiros, desde criança, imaginou ser jogador de futeobl. Então todos têm essa veia futebolística e nosso amigo Pugliese traz isso à tona para a gente recordar esses momentos maravilhosos.

Para completar, ainda entramos em campo ao lado de Adílio e não só não batemos uma peladinha porque nosso artilheiro Pugliese está sob cuidados do Departamento Médico!