Escolha uma Página

Zé Elias

ZÉ DA FIEL

entrevista e texto: Paulo Escobar | vídeo: Johnny Jamaica

Você já se imaginou entrando em um jogo no Mineirão com 16 anos de idade recém subido da base para encarar o Cruzeiro?

Bom é isso que aconteceu com Zé Elias quando Mario Sérgio o chamou para entrar e segurar aquele rojão. Mas Zé o encarou com raça e vontade, que sempre foram parte de seu traço dentro dos gramados.


É justamente esta raça que leva a ganhar o apelido ao qual a fiel cantava seu nome “Zé da Fiel”. Chamava a atenção a vontade e raça que colocava dentro de campo, como se um prato de comida estivesse em disputa. Pois a dura realidade na qual Zé cresceu deve ter levado ele a crer que era sua chance de não deixar faltar dentro de casa.

Mas sua capacidade não ficou restrita aos gramados brasileiros e ainda muito cedo foi aos campos da Alemanha, Itália ou Grécia antes de retornar ao Brasil.

Na Inter jogou do lado de Ronaldo, Zamorano e daquele que ele mesmo reconhece que ensinou muito, Simeone. Encarou aqueles clássicos pegados da Grécia, que não ficavam somente nas quatro linhas e cresceu do lado daquela geração casca grossa do Corinthians dos anos 90.


As dores que carregava o fizeram parar talvez muito cedo, mas mesmo assim, hoje como comentarista, não abandonou o futebol, trazendo suas análises e histórias dentro dos gramados a rádio e televisão.

Naquele dia que o encontramos no Pacaembu estava vestido como no seu dia a dia, cumprimentando as pessoas que passavam e o saudavam com uma humildade difícil de ver nos dias de hoje.

Podemos dizer que tivemos uma resenha daquelas que dá gosto de continuar o papo, e esticar mais daquelas histórias que o mesmo Zé conta com seu jeito único. A sua relação muito especial com Mario Sérgio, além das histórias dentro e fora das quatro linhas, a sua visão tática que muito nos chamou a atenção que fez com que a resenha ficasse rica em todos os sentidos.

Bom, sem alongar muito, deixamos vocês com essa pessoa gente boa demais e cheio de histórias. Zé da Fiel que continua fiel a suas ideias.
 

 

Lembranças de Vavá

LEMBRANÇAS DE VAVÁ

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Ir em busca da poesia perdida do futebol é a nossa principal missão, mas nem sempre aqueles que fizeram arte com a bola nos pés permanecem entre nós. Por isso, sempre damos um jeito de homenageá-los, seja através de reprodução de vídeos, depoimentos de familiares ou encontros com amigos.


Vavá, em hipótese alguma, poderia ficar de fora do seleto grupo de craques que já passaram pelo Museu. Bicampeão mundial pela Seleção, marcando gol nas duas finais, o artilheiro foi reverenciado com uma resenha de primeira no Zeca Bar F.C, em Ipanema, onde reunimos craques como Carlos Roberto, Moreira, Nilson Dias, Gaúcho, o goleiro Nielsen e Vavá Filho, o herdeiro da lenda.

– Ele era aquele jogador impetuoso. Tinha técnica, mas deixava a técnica de lado e ia para o corpo a corpo. Os zagueiros respeitavam demais! – lembrou Carlos Roberto.

Centroavante de respeito, o artilheiro Nilson Dias revelou toda a sua admiração pelo saudoso craque:

– Vavá foi uma referência para todos que jogaram nessa posição. Eu tenho a felicidade de ser muito amigo do filho dele.

Apesar de não ter visto o pai jogar, Vavá Filho tem o privilégio de ouvir as histórias contadas pelos amigos do artilheiro e volta e meia assiste a alguns vídeos na internet.

– É uma pena que tenha poucas imagens! – lamentou.

Antes de construir sua história na Seleção, no entanto, o Peito de Aço fez chover com a camisa do Vasco da Gama entre 52 e 58, para a tristeza dos rivais.


Durante a resenha, Carlos Roberto reforçou a idolatria dos brasileiros por Vavá ao relembrar a transferência do bicampeão mundial para o Atlético de Madrid.

– Era impressionante o número de brasileiros que passaram a simpatizar com o clube espanhol!

Quando já estávamos pedindo a conta, Gaúcho fechou o encontro com chave de ouro, contando histórias divertidíssimas de Gentil Cardoso, folclórico treinador brasileiro.

Assistam ao vídeo e sintam o clima desse encontro inesquecível!
 

 

SEXO, DROGAS E TONI SCHUMACHER

por Paulo Escobar


Num dia 6 de março de 1954, na cidade de Duren (Alemanha), nascia um dos maiores porteiros da história do Futebol. Harald Anton Schumacher, que com o tempo viria a ser conhecido como Toni Schumacher, sendo o Toni em homenagem a seu ídolo, um outro goleiro, Toni Turek que foi o primeiro arqueiro da seleção da Alemanha.

Schumacher começou a jogar no time local da sua cidade, mas não era só de futebol que conseguia viver, até porque ele não vinha de uma boa condição. Alternava suas pontes nos gols com seu serviço de Ferreiro, inclusive chega na seleção Juvenil alemã sendo ferreiro também. Somente em 1972 chega ao Colônia, onde por muitos anos foi seu porteiro e neste período conquistou títulos e glórias.

Toni queria ser o melhor da história, ficava inquieto debaixo das traves, pois se sentia preso. Imponente e sério, não aceitava as derrotas e treinava demais em busca de entrar para a história.


Claro que você que está lendo e viu aquela Copa de 1982 vai dizer que Schumacher foi aquele que acabou com os dentes de Battiston da França naquela dividida. Lance que o mesmo Toni ficou como se nada tivesse acontecido, mas que anos depois revelou que carregava uma culpa por aquela entrada. O que muitos não lembram é que, anos depois, num jogo amistoso, os dois se encontram e trocam camisas nos vestiários, mas tiveram que realizar um encontro público com a mídia em cima para o mundo acreditar.

A Copa de 1986 foi a última deste mítico goleiro alemão, mas última por ter sido expulso da seleção por conta do livro que escreveu em 1987, que no espanhol leva o titulo de “Tarjeta Roja” que seria “Cartão Vermelho”. Ali Schumacher traz a luz os dopings no futebol e as orgias nas cidades onde os times passavam, traz à tona o problema dos patrocinadores e os horários estipulados pela televisão nos jogos.

Na própria Copa de 1986, após reclamação de Valdano e Maradona, Schumacher protesta contra os horários dos jogos no México ao meio dia em pleno sol. Devido à transmissão das TVs europeias, no entanto, não teve jeito. As marcas exigiam, creio que não é diferente hoje, que os atletas aparecessem e cumprissem seus contratos a qualquer custo.


Toni destampa a panela e conta os inúmeros casos de doping, inclusive assume seu uso com drogas anabolizantes e estimulantes, em prol do alto nível e para se manter ativo, cumprindo os contratos. Os casos de companheiros de seleção ou de times que pediam para um jogador de nome não divulgado de apelido “farmácia ambulante”, que tinha certo conhecimento em medicina, receitar e trazer as drogas.

Schumacher traz à tona aquilo que deve acontecer até hoje em nome do alto nível, coloca a luz nos problemas de ter que se manter num nível exigido em nome do espetáculo. Além da capacidade humana ou do talento, as marcas pedem que seus produtos estejam ativos mesmo em meio a contusões, acelerando os processos de melhoras ou então sacrificando a níveis extremos.

Na Eurocopa da Itália em 1980, Toni teve que jogar com um dos dedos arrebentados e a sua marca de luvas fabricou uma com um suporte de gesso para que ele jogasse. Comprimidos para jogar, comprimidos para viver, comprimidos para dormir e assim era a rotina de muitos jogadores, segundo Schumacher.

O que não pode ser deixado de lado é que Schumacher foi um grande goleiro, um exímio pegador de pênaltis e de uma segurança dentro da área impressionante. Que do lado de fora apontou para a relação do nacionalismo, a politica e o futebol e as interferências externas que muitas vezes determinam os resultados do lado de dentro.


Jamais condenarei Schumacher por ter falado o óbvio ou por ter dito aquilo que até hoje deve acontecer, pois em prol do espetáculo, da vitória a qualquer custo, dos patrocinadores e mídias imporem seus horários e rotinas, Toni não teve medo de falar e trazer à tona as mazelas do chamado alto nível.

O futebol, a exemplo do mundo e das pressões e opressões sofridas, leva ao uso de substâncias variadas para encarar e conseguir satisfazer os resultados esperados. Alguns se utilizam das chamadas drogas “ilícitas” e outros das chamadas “lícitas”, mas ambas nos excessos arrebentam qualquer ser humano.

Sem hipocrisia, há mais do que um gramado com 22 correndo atrás de uma bola, há muita coisa rolando em prol do chamado espetáculo e há a vida daqueles que jogam e a opressão que sofrem aqueles que falam e pensam o futebol além das quatro linhas. Há situações a serem conversadas de forma mais humana, e Toni não teve medo de trazer à tona problemas reais mesmo que isso lhe custasse a expulsão da seleção alemã.

Futebol não é só um jogo e se mistura com muitas coisas externas a ele, e querer moralizar a sociedade através do futebol continua sendo um erro. As drogas são uma realidade no mundo do esporte e por uma série de motivos. Schumacher trouxe alguns dos motivos, não está na hora de discutir esta realidade de uma outra forma?

LIVRO RELATA A HISTÓRIA CENTENÁRIA DO NACIONAL ATLÉTICO CLUBE

por Leandro Massoni 


Fundado em 1919, o Nacional busca se reerguer e voltar aos tempos áureos, quando era o time da primeira companhia ferroviária de São Paulo /Foto: Leandro Massoni

O futebol pediu passagem pelos trilhos. Nas ferrovias, o esporte se desenvolveu com o “empurrãozinho” de notáveis personalidades do mundo da bola. Em São Paulo, mais precisamente em 1895, Charles Miller, filho de um pai escocês e uma mãe brasileira com ascendência inglesa, regressou de terras britânicas ao lugar de origem, nas proximidades onde ficava localizada a São Paulo Railway (SPR), companhia ferroviária instalada no país em 1867, através dos esforços de Irineu Evangelista do Nascimento, vulgo Barão de Mauá.

Ao ver que diversos funcionários de origem inglesa precisavam praticar um esporte como forma de recreação, Miller reuniu a “turma”, e ainda, convocou mais alguns ingleses que trabalhavam na companhia de gás local para realizar, em 14 de abril daquele ano, na região da Várzea do Carmo, a primeira partida de futebol organizada no país. O resultado foi 4 a 2 para o time da SPR diante do selecionado rival da “The São Paulo Gás Company”.

Passados quase 124 anos deste acontecimento e 100 anos após a fundação do SPR como clube profissional – em 16 de fevereiro de 1919 -, o atual Nacional Atlético Clube, nome que a antiga agremiação adquiriu após o vencimento da concessão de 90 anos da ferrovia com o governo federal, tem várias de suas histórias reunidas em um livro.


“Nacional – Nos trilhos do Futebol Brasileiro” (Editora Casa Flutuante), de autoria de Leandro Massoni, além de contar com o prefácio do jornalista Mauro Beting, traz em suas (a definir) páginas informações, dados, histórias, curiosidades e entrevistas com dirigentes do clube ferroviário, jornalistas, torcedores e pessoas ligadas à ferrovia paulista sobre os principais fatos que envolveram o time situado na Rua Comendador Souza, zona Oeste de São Paulo, durante quase um século.

De acordo com Leandro, a ideia de escrever a obra surgiu ainda quando estava na faculdade. “Estava iniciando um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e nosso grupo não tinha muita noção sobre o que fazer. Logo, um de nós falou sobre o Nacional. Mesmo descrente, comecei a fuçar e nisso, descobri que este clube é como se fosse o patrimônio do futebol brasileiro, devido a sua história e a presença de Charles Miller no jogo em 1895”, explica.

Na época, Massoni e companhia produziram um documentário audiovisual intitulado “O Futebol Nacional”, trazendo não somente o histórico do clube como também reportagens com profissionais da imprensa e antigos jogadores que marcaram época no time ferroviário. Após a faculdade, a ideia do livro começou a ganhar suas primeiras letras.


Leandro Massoni

“Depois que realizei vários cursos, como o de locução e a pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias, em 2017, decidi que já era hora de embarcar nesta aventura de escrever meu primeiro livro, que na verdade, era meu sonho desde quando comecei a tomar gosto pelo jornalismo”, disse Leandro.

Com orientação de Benedito Rodrigues, mestre em Comunicação e Mercado e professor universitário, o livro de Massoni tem a presença de ex-jogadores como Dodô (o “Artilheiro dos Gols Bonitos”), Índio (ex-Santos), Zé Carlos (ex-seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998), Magrão (goleiro do Sport Recife), Rubens Minelli (ex-técnico tetracampeão brasileiro), bem como dos jornalistas Milton Neves (TV Bandeirantes), Flávio Prado e Michelle Giannella (ambos da TV Gazeta), Luiz Ademar (comentarista esportivo), Odir Cunha (escritor de livros sobre o Santos), Celso Unzelte (TV Cultura) e dos historiadores John Mills (autor de “Charles Miller – O Pai do Futebol Brasileiro”) e Moysés Lavander Júnior (que escreveu a obra “SPR – Memórias de uma Inglesa”).

A obra “Nacional – Nos trilhos do Futebol Brasileiro” será lançada em 2019, na Livraria Martins Fontes (Avenida Paulista, 509), no dia 5 de fevereiro, a partir das 19h. Para mais informações, entre em contato com o autor pelo telefone (11) 99649-7828 ou pelo email: massoni.leandro@gmail.com.

CARLOS ALBERTO SILVA

por Rubens Lemos


Saber vender a própria imagem é artimanha fundamental para sobreviver hoje muito mais.

O competente retraído perde para o picareta. Morreu há dois anos (20/01), um exemplo carimbado do ermitão eficiente. O técnico Carlos Alberto Silva.

Caipirão, avesso à entrevistas, debates e almoços promocionais (o técnico pagando), com jornalistas. Para desdobrar gentilezas nas páginas e estúdios.

Fez do Guarani de Campinas (SP), em 1978, o primeiro clube do interior a vencer o Brasileirão. Derrubou como castelo de cartas, favoritos como Vasco, Internacional e finalmente o Palmeiras.

Revelou joias como o meia-armador Zenon, o meia-atacante Renato (brilhante na técnica, raridade para fazer gols) e um dos melhores atacantes da história: Careca, maior parceiro futebolístico de Maradona, no Napoli, década de 1980.

Na seleção brasileira, sempre esquivo, montou um esquadrão capitaneado pelo armador vascaíno Geovani, o último dos pensadores. Com Romário, Taffarel, Jorginho, Bebeto, João Paulo, André Cruz, ficou com a Medalha de Prata. Sem Geovani (suspenso), na decisão.

Perdeu o lugar para o abominável Sebastião Lazaroni, camelô de beira de campo.

Lazaroni formou, na Copa de 1990 um Brasil muito pior do que o do ameno Carlos Alberto nas Olimpíadas. Melhor meia da época, Geovani recebeu seu desprezo.

Carlos Alberto Silva consagrou a fragilidade dos silenciosos, dos tímidos, dos absolutamente verdadeiros. Perdeu a chance da vida, mantendo intocável o caráter.