VASCO DA GAMA SE RECONCILIA COM SUAS ORIGENS
por Luis Filipe Chateaubriand
O Club de Regatas Vasco da Gama é um clube de futebol que nasceu sob o signo da igualdade, da democracia e da inclusão social.
Ao ser um dos primeiros grandes clubes do país a ter jogadores negros, mulatos, pardos e miscigenados em geral a atuar sob o seu pavilhão, deu o exemplo que outros clubes ainda não haviam feito.
Ao ser o grande clube oriundo da quase sempre excluída zona norte carioca, mostrou ao mundo do futebol que o Rio de Janeiro não deve ser a cidade partida, mas sim a cidade unida.
Ao dar ensejo para que muitos garotos de origens modestas, ao longo do tempo, surgissem de suas categorias de base e melhorassem de vida, se mostrou um clube que propicia oportunidades de ascensão social a pessoas excluídas mas com talento para superarem a exclusão.
O clube passou por período obscurantista, durante algumas décadas recentes. Foram tempos de pranto e ranger de dentes, com o clube entregue a autoritarismo, desmandos, bravatas, truculência, falta de modos.
Mas, com as lindas a recentes atitudes de solidariedade em relação ao arquirrival Clube de Regatas do Flamengo, o Vasco recupera sua verdadeira dimensão: Gigante!
Querido Gigante da Colina: seja bem-vindo de volta às suas raízes, ao seu feitio, à sua identidade! Nós, seus torcedores de quatro costados, te recebemos de volta de braços abertos!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.
O TIME DAQUELE ANO
por Claudio Lovato
– Vocês estão malucos??? – o presidente rugiu em direção a todos e a ninguém em especial. O diretor de futebol imediatamente olhou para o gerente de futebol, que então virou-se para o técnico, que não tinha a quem se voltar e optou por olhar para o tampo da mesa.
– É o oitavo veterano que vocês contratam! Por acaso nós vamos disputar algum torneio de asilos? Hein? Hein??? – o presidente esbravejou, recostando-se em sua poltrona de espaldar alto, e depois fechou os olhos e usou os polegares para pressionar as têmporas latejantes.
– Oito jogadores em fim de carreira! E só um deles ganhou alguma coisa que mereça menção! Um bando de perdedores! Velhos e perdedores! Vocês querem me destruir! Só pode ser! – o mandatário prosseguia em seu desabafo repleto de fúria.
– Oito jogadores…! Ex-jogadores!!! Quatro jogadores com quase 40 anos! Vocês perderam o juízo??? Como que eu fui deixar isso acontecer??? Mas será que eu não posso nem tirar umas semaninhas de férias?!
O ano anterior fora um desastre, e o rebaixamento só não ocorrera por questão de um gol – que não aconteceu; o pênalti na última rodada defendido pelo jovem goleiro prata-da-casa Wilson Morais.
No fim desse ano tétrico e quase mortal, os comandantes do futebol do clube (o presidente excluído) decidiram que era hora de tornar o elenco mais cascudo. Seria necessário agregar experiência ao grupo. Deveriam ser acréscimos pontuais, mas uma combinação de fatores que envolveu indicações de conselheiros, esperteza de empresários e ansiedade dos dirigentes levou à formação de um time com excesso de veteranos. Nessa equação, porém, é fundamental incluir (e destacar) a insistência e o poder de influência do treinador Ary Santamaria.
Para o velho homem do futebol havia um objetivo subjacente: ele queria resgatar alguns dos guerreiros por ele comandados em outros tempos. Queria proporcionar-lhes uma última oportunidade de provarem seu valor e irem em paz para a aposentadoria, uma espécie de saideira que, para eles, fosse capaz de se tornar o melhor de suas festas individuais.
Os desafios começaram logo na pré-temporada, com a equipe da preparação física tendo que colocar em prática uma estratégia especial para a maioria do plantel – que resultou sem mortos nem feridos.
A imprensa fez a festa. Matérias pipocavam diariamente, a maioria delas num tom jocoso, piadístico. Uma das mais marcantes era acompanhada de uma charge que, mediante o uso de balõezinhos, mostrava Ary Santamaria cantando “Eu nasci há dez mil anos atrás”. O sarcasmo comandava o show da mídia.
O começo da campanha foi preocupante, confirmando as previsões (pessimistas? Realistas?) de muitos: uma derrota fora de casa na estreia e dois empates jogando em seus domínios.
O que aconteceu na sequência não foi um milagre e pode ser explicado em parte desta forma: Ary Santamaria armou seu time de uma maneira pragmática e eficiente. Seus antigos (e, fora de campo, problemáticos) atacantes Jaques e Mauro Carioca caíam pelos lados do campo e eram acionados o máximo de vezes possível por um meia-armador chamado Marcos David, que conseguira o feito de ter sido rebaixado jogando por três clubes diferentes em três anos consecutivos. O garoto da camisa 1, Wilson Morais, dava pinta de vir a se tornar, em breve, goleiro de nível seleção, e os dois zagueiros de área, cuja soma das idades chegava a 76 anos, deu à equipe uma segurança surpreendente. E também havia um lateral-direito de nome de Rossano, já grisalho, que parecia ter sido enviado ao mundo com o único propósito de bater faltas, mas que ao longo da carreira jamais dera a sorte de fazer farte de um elenco vencedor.
O time não foi campeão (este não é um texto de realismo mágico), mas o que ele conseguiu assombrou o país inteiro, incluindo sua própria torcida: um heroico quarto lugar no Campeonato Nacional daquele ano inesquecível.
Mas, talvez, de todas as explicações para o sucesso da equipe, a que causou mais impacto, pela sinceridade e pelo caráter didático e irrefutável, foi oferecida pelo técnico Ary Santamaria em entrevista logo após o último jogo da temporada, ainda sob o impacto da vitória por 3 a 1 sobre um rival histórico, ouvindo seu nome ser gritado pelo estádio lotado:
– Velho é o caralho!
NO BRASIL, SÃO TODOS INOCENTES
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Confesso que estou anestesiado e até para escrever essas poucas linhas preciso buscar ânimo onde ele não existe. O noticiário tem me provocado náuseas. O que é o Brasil? Se algum desavisado ainda não sabe basta uma lida rápida nos jornais. E se esse desavisado tiver problema com a Lei e quiser iniciar suas negociatas por aqui, venha logo, não perca essa oportunidade!
Se quiser investir as opções são variadas: abra uma boate sem saídas de emergência, construa um prédio com areia da praia, monte um centro de treinamento em contêineres inflamáveis. No Brasil, famílias são soterradas por lama, tudo é festa e a impunidade reina!
Doze mortos em Santa Teresa, guerra de quadrilha. Na mesa ao lado, a senhora comenta: “Eles que se matem!”. Em Ipanema, o bloco Simpatia é Quase Amor arrasta milhares de foliões! Vamos comemorar!!!
Um amigo me disse que a diretoria do Flamengo está vendo nessa tragédia uma oportunidade, afinal enquanto alguns choram outros vendem lenços. Teria sido encomendado ao departamento de marketing um plano para sensibilizar nossos corações, principalmente o dos promotores do Ministério Público.
A primeira ideia brilhante seria levar os sobreviventes do incêndio ao próximo jogo. Meninos, não aceitem isso, não deixem que esse caso seja transformado em teatro. O próprio Zico, maior ídolo do clube, pede que os culpados sejam punidos. Quem morreu não volta mais. Indenizações não podem servir de cala-boca, vidas não têm preço.
Desavisados, venham logo para esse país onde um belo dia de sol nos faz esquecer os desabrigados do Vidigal e da Rocinha, onde os temporais arrastam tudo menos os corruptos. Aqui o prefeito defende-se, o presidente da multinacional esquiva-se, o CEO do clube popular tira da reta. No Brasil, ninguém tem culpa, são todos inocentes. Aqui a democracia dá as cartas, país da opinião livre.
Na bancada do Sportv, a comentarista responde sobre o que achou da contratação do Cuevas pelo Santos: “É um jogador baixo, o Santos está cheio de jogadores baixos…”. Preconceito? Talento tem tamanho? E depois emenda sobre Carlos Amadeu, técnico da seleção sub 20: “É uma das maiores referências do mundo…”. Óbvio, mudei de canal.
Estamos desassistidos em todos os sentidos. No Brasil, memória é triturada em máquina de moer carne. Vanderlei Luxemburgo foi metralhado em um desses debates: “Não acha que está desatualizado?”. Que atualização é essa que tanto falam?
O técnico novo do São Paulo, de onde surgiu, o que trouxe de inovação, assim como todos esses novatos? Atualização não é ir para a Espanha e fazer um curso maroto, atualização é vivência! A imprensa constrói os perfis da forma que bem entende, caricato, herói, genial.
Meu perfil é marrento, reclamão, ranzinza. Qual é o seu? Não importa, venha para o Brasil porque aqui você vai dar um jeitinho de encaixá-lo em algum padrão e viver livre para sempre!
DE MADUREIRA SURGIU CAIO, O DO DECISIVO GOL GREMISTA
por André Felipe de Lima
Luiz Carlos Tavares Franco ficou conhecido como “Caio”. Foi centroavante e ponta-direita. Atuando nas duas posições tornou-se ídolo do Grêmio e do maranhense Moto Club. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de março de 1955. Foi criado no bairro de Madureira, no subúrbio carioca.
O pai de Caio, Valter Franco, era fotógrafo e deu um duro danado para criar os cinco filhos. Apesar das dificuldades, Caio, que tinha pinta de craque desde pequeno, ingressou no infantil do Brasil Novo, um time amador de Madureira do qual Valter era sócio. Um dia, o time da categoria “dente de leite” do Botafogo entrou em campo para enfrentar o Brasil Novo. A atuação de Caio impressionou Joel e Joca, os treinadores do alvinegro, que não perderam tempo, levando o garoto bom de bola para treinar no Botafogo. Valter não se opôs. Imediatamente aceitou o convite feito ao filho, afinal torcia ardorosamente pelo Botafogo.
Diariamente, Caio embarcava na estação de trem de Madureira até a Central do Brasil. Dali, para o campo do Botafogo, em General Severiano, na zona sul. Uma cotidiana “viagem” longa e cansativa, mas necessária para a evolução do Caio. Dos 11 aos 17 anos, esta foi a rotina do garoto. De Madureira a Botafogo, buscando um lugar ao sol.
O pai esforçava-se ao máximo para não deixar faltar nada aos filhos. Valter fez questão de que Caio estudasse em um bom colégio. Não abriu mão da educação. Se jogava no Botafogo, tinha de estudar. Por isso o matriculou no Colégio Piedade, vinculado à antiga Universidade Gama Filho, no bairro Piedade, bem próximo a Madureira.
Com boas atuações no time juvenil, jogando sempre como ponta direita, logo o escalaram entre os profissionais, em um time de “cobras”, craques da melhor estirpe. No dia 23 de março de 1975, Caio disputou seu primeiro jogo oficial, no Maracanã, contra o América, mas o Botafogo perdeu de 1 a 0, em jogo válido pelo primeiro turno do campeonato carioca. Foi a quarta derrota consecutiva do Botafogo para o América em campeonatos cariocas.
Semanas após o jogo contra o América, Caio se desentendeu com Neca, o técnico do time juvenil. Fim da linha no Botafogo e o sonho de defender o Madureira, time do seu bairro, concretizado, para onde Caio seguiu após ser dispensado pelo alvinegro.
A estreia no Madureira foi coincidentemente contra o Botafogo, que venceu o jogo por 3 a 0. “Eu morava perto do estádio. Ia a pé para os treinos, na saída ficava conversando com a vizinhança. E me sentia em casa. Jogadores e torcida eram como uma família”. Mas, embora fosse destaque do time, o clube o surpreendeu com o passe livre. “Não entendi. Peguei aquele papel e saí do clube chorando, fui correr mundo. Mas aqueles dois anos nunca mais esquecerei.”
Em maio de 1977, Caio aceitou o convite do Coronel Santana, que treinara o Maranhão Atlético Clube e que o conhecera no Rio, para jogar no futebol maranhense. Começara, portanto, sua trajetória no Moto Club, e a estreia não poderia ser mais apropriada… contra o rival Sampaio Corrêa, na decisão do terceiro turno do campeonato estadual. Embora tenha jogado bem, Caio não conseguiu evitar a derrota do Moto Club. Nascera ali, naquele jogo, uma relação de amor com a torcida rubro-negra, mas também, ao longo do tempo, a fama de “turista” porque vivia “fugindo” de São Luís para visitar a noiva, que morava no Rio de Janeiro. Uma situação que provocou uma indisposição com a diretoria do clube que acabou emprestando seu passe, no começo de 1978, ao Paysandu, que se reforçava para disputar a Taça de Ouro, o campeonato nacional. Mas o clube acabou eliminado logo no começo da competição e Caio regressou ao Moto Club, onde permaneceu até junho do ano seguinte.
No “Papão”, como o Moto Club é conhecido no Maranhão, Caio descobriu-se mais eficiente como centroavante do que como ponteiro. Foi o treinador Marçal quem percebeu o goleador nato em Caio e passou a escalá-lo no comando do ataque. Com Caio na frente, o Moto foi campeão estadual em 1977.
Caio construiu fama de craque no Maranhão. Era justo que ousasse voos mais altos. No começo do segundo semestre de 1979, o técnico da Portuguesa de Desportos, João Avelino, passeou em São Luís a procura de valores para a Lusa. Viu Caio jogar e se impressionou. Seria ele o novo atacante da Portuguesa. Não deu outra. Caio marcou 19 gols no campeonato paulista. Os anos se passaram e Caio tornou-se ídolo da torcida da Lusa.
Em janeiro de 1983, Caio voltou das férias que passou em São Luís. Ao retornar aos treinos da Portuguesa, discutiu com cartolas, que, como represália ao que consideravam rebeldia, não renovaram o contrato de Caio, que passou a treinar isoladamente, sem contato direto com os companheiros do time. Em março, a corda esticou de vez E Caio teve o passem emprestado ao Grêmio, pelo período de dez meses. Um personagem foi fundamental para a negociação: o preparador físico Wilton, que também acabara de trocar o São Paulo pelo clube gaúcho. Caio seria uma das esperanças de gols para o time que se preparava para a Taça Libertadores da América, que também contratara César. Ambos brigaram pela posição de titular, mas Caio levou a melhor. O destino reservava grandes surpresas. E não foram poucas.
Com o Grêmio, Caio teve o seu melhor momento na carreira em 1983, conquistando o Mundial Interclubes e a Taça Libertadores da América, da qual foi o segundo principal goleador. Ao longo de sua jornada no Grêmio, assinalou 48 gols. Um deles o primeiro da vitória de 2 a 1 na final contra o Peñarol, que garantiu a primeira “Libertadores” para o Grêmio.
Mas houve um momento no Tricolor gaúcho em que Caio aborreceu-se. O centroavante era titular absoluto do time que se preparava para a disputa do Mundial Interclubes, em Tóquio, contra o Hamburgo, mas a diretoria do clube contratou várias estrelas somente para aquele jogo. Uma delas, Paulo Cézar Caju.
Logo no segundo tempo, quando o placar estava 1 a 1, Caju cansou e o técnico Valdir Espinosa escalou Caio. Sorte gremista lançada. Caio entrou para mudar o rumo da partida. Com um lançamento preciso para a grande área do time alemão, a bola encontrou Renato Gaúcho, que driblou o zagueiro e marcou o segundo dele na partida e o gol do título de campeão do mundo para o Grêmio.
Em dezembro de 1984, Caio sofreu uma grave contusão na virilha durante um jogo pela Taça Libertadores daquele ano. O Grêmio tentava o “bi” e Caio era a esperança de gols, mas, infelizmente, a contusão o tirou de cena e o time perdeu a final para o Independiente, da Argentina.
Embora tivesse apenas 30 anos, Caio sentiu-se inseguro para continuar a carreira. Decidiu, prematuramente, parar. Santos, Palmeiras e o Benfica queriam contratá-lo. Caio manteve-se irredutível e informou à diretoria que não mais jogaria.
Desolado, Caio retornou a São Luís, cidade que aprendeu a amar tanto quanto o Rio de Janeiro, sua terra natal. Do futebol, partiu para o comércio. O que tinha, investiu em uma rede de farmácias. Foi nessa época que, durante uma pelada para lá de informal, Caio descobriu que não mais sentia a impertinente dor na virilha. Estava curado. Cartolas do Moto Club souberam do fato e decidiram convidá-lo para voltar aos gramados. O Grêmio ainda era detentor do passe de Caio, mas acabou liberando-o para o clube maranhense. Caio permaneceu até 1989, ano em que o Moto Club foi campeão estadual, brigou com o presidente do clube, Edmar Cutrim, e decidiu ir para o rival Sampaio Corrêa, com o qual foi bicampeão, em 1990 e 91. Após estas conquistas, Caio decidiu, definitivamente, pendurar as chuteiras.
Passou a trabalhar com escolinhas de futebol pelo Cohatrac [Conjunto Habitacional dos Trabalhadores Comerciários], famoso bairro de São Luís, e foi treinador e auxiliar técnico de muitos clubes maranhenses, entre os quais o Maranhão e o próprio Moto Club. Mas a carreira de treinador não decolou. Seu último estágio foi em 2000, no comando do Açailândia. “Cada ser humano é um ser humano… Nem todo bom atleta quer dizer que será um técnico. Prefiro ser torcedor.”
Caio foi se virando como pôde. Foi gerente de vendas de uma fábrica de pré-moldados e derivados, localizada no bairro do Anil, em sociedade com Paulo Figueiredo, técnico em engenharia. Sem experiência de ambos, o negócio não foi para frente. Nunca se omitiu diante dos fracassos como empreendedor, mas sempre fez o possível para ajudar, sobretudo, os parentes, inclusive os da ex-esposa Zelda, com quem teve os filhos Caio Rafael e Rafaela. E foram alguns destes familiares de Zelda de que Caio disse ter sido influenciado para investir em farmácias. “Fiz algumas coisas com o dinheiro, como comprar casa pra minha mãe e meus irmãos. Na hora que achei que era momento, montei cinco farmácias; achei que era ganhar ou perder. E foi isso [perder] que aconteceu. Montei uma coisa que não tinha nada a ver comigo; eu nunca havia vendido um remédio. O que eu ia fazer com farmácias? Mas acontece que não deu certo faz parte da vida, não é só eu que está assim que passou pelo futebol e poderia estar melhor.”
Na década de 1990, o dinheiro escasseara de vez. Caio encontrou como fonte de renda um táxi, que pertence a um amigo. Até novembro de 2014, o grande ídolo gremista, da Lusa e do Moto Club dirigiu seu carro, cujo ponto ficava no Aeroporto de São Luís, para sobreviver. “Não queria ser taxista, não. Mas, dentro do que ganho, vivo bem.”
Morando sozinho e com o desgastante e insalubre ofício aliado ao uso contínuo do cigarro por anos a fio, sua saúde degringolou. Uma trombose na perna esquerda há anos o impediu de trabalhar como taxista. Caio negligenciou a doença, que se agravou em 2014. Sem recursos financeiros para o tratamento, o risco de amputação, nestes casos, é iminente. Em novembro de 2014, para reverter a situação, Tarciso, ponta-direita com quem Caio jogou no campeoníssimo Grêmio dos anos de 1980, iniciou um mutirão solidário para arrecadar recursos e operar a perna de Caio. Renato Gaúcho, o capitão do Mundial de 83 Hugo De León e o presidente do Tricolor Fábio Koff foram alguns dos que colaboraram com a campanha que levou Caio a Porto Alegre para submeter-se a cirurgia.
A solidariedade entre heróis do futebol foi decisiva para salvar Caio, um ídolo genuinamente campeão mundial!
Mas o dia 12 de fevereiro de 2019 roubou Caio do carinho das torcidas gremista e do Moto Club. Mas jamais sequestrará da memória o que Caio fez pelas duas.
O QUE HÁ COM O MEU TRICOLOR?
por Israel Cayo Campos
Gostaria de enumerar como torcedor que ainda acho que sou alguns motivos do São Paulo Futebol Clube passar por sucessivos vexames, culminando na derrota do fim de semana para a Ponte Preta que pra mim é o limite de minha rasa paciência.
Desde 2012, quando o São Paulo conquistou a Copa Sul-Americana que o clube, antes tido como um modelo para os demais, é um acúmulo de insucessos dentro de campo com alguns vexames absurdos.
Cito aqui de cabeça derrotas em todos os torneios de mata-mata (Paulista, Copa do Brasil, Sul-Americana e Libertadores), para clubes como Audax, Penapolense, Juventude, Bragantino, Avaí, Ponte Preta, Libertad, Colón, Defensa Y Justicia, e agora uma iminente eliminação na Pré- Libertadores para o fraco Talleres de Córdoba. Sem contar eliminações para clubes tradicionais. O que virou uma rotina na vida do torcedor do São Paulo.
Culpar a direção, hoje na mão do ex-atleta Raí e num presidente inexpressivo como o Leco é algo que beira ao senso comum. Mas esse processo de ingerência não começou com eles. O que antes só ouvia de outros clubes sobre briga nos bastidores entre grupos políticos, agora é o normal no time do Morumbi.
O terceiro mandato de Juvenal Juvêncio, o presidente Carlos Miguel Aidar, envolvido em um caso de corrupção e de agressão física com um dos diretores do clube, deixaram a presidência no colo de Carlos Augusto de Barros e Silva, que estrategicamente se cercou de ex-atletas vitoriosos no clube e jogou a “bomba” em suas costas… Assim ocorreu com Pintado, Rogério Ceni, Ricardo Rocha, Lugano e Raí… Atletas que têm o nome na história tricolor, mas que não estavam no momento apropriado para cargos de diretoria do clube… Nessa linha de pensamento também veio o Hernanes, que se não tomar cuidado com quem lhe cerca será o próximo ídolo a ser jogado aos leões.
Além disso, “Leco” jogou pra torcida escolhas que deveriam ser dele e de seus conselheiros! Reuniões com Organizadas, Sugestões aceitas bovinamente enviadas por membros da mesma via documento público… O medo dos protestos parece maior que suas convicções. E com isso a política do “ruim e barato” encheu o clube de dívidas com jogadores medíocres. Enquanto as crias do São Paulo, muitos deles que hoje arrebentam no futebol europeu sem sequer terem conquistado um título profissional no clube, eram (e são) vendidos para tapar o rombo que o clube fez com ex-atletas em atividade e jogadores de nível técnico fraquíssimo.
Enquanto isso, os demais times foram evoluindo. O que o tricolor tinha de diferente agora todos têm igual. E a boa gestão de clube que o São Paulo já teve não possui mais… O único tricampeão do mundo se tornou um clube comum. Talvez até pior. Um modelo a não se seguir pelos demais times que tentam se profissionalizar… E cabe a pergunta: quando o São Paulo se dará conta de que ficou para trás no tempo?
Reitero: a culpa maior é dos dirigentes, por mais que me doa falar isso de grandes ídolos meus dentro de campo. Até porque se são convidados a jogar no tricolor com salários astronômicos, quem não aceitaria? Entretanto, alguns jogadores poderiam se esforçar com a camisa do São Paulo um pouco mais! E gostaria de dentro de campo fazer uma pequena análise do time atual que tanto anda em campo. Pois jogar pra mim é outra história.
1. O São Paulo fez uma aposta em um treinador sem experiência alguma no profissional. Alguns poderiam dizer que é o “Efeito Carille”. Mas o mesmo, que até agora foi o único bem sucedido nessa efetivação de jovens técnicos já possuía antes uma bagagem de auxiliar técnico de Mano e Tite de mais de sete anos! O que se observa no nosso fraco futebol atual é que técnicos com experiência têm se saído bem melhores que os novatos! Lembrando que até o Bauza pela experiência, mesmo sendo um técnico fraco, nos levou a uma semifinal de Libertadores em 2016 jogando mal!
2. O São Paulo vende os craques que estão despontando, e aposta em jogadores acima de 33 anos de idade. Caso de Nenê e Diego Souza. Além de outros que não possuem essa idade, mas jogam como se tivessem. Caso de Willian Farias e J. Gomez. Não é compreensível como a dita melhor base do Brasil com 69 títulos nas divisões inferiores não consigam formar um jogador que seja melhor e com mais fome de títulos que os atuais “trintões” do time principal. E quando demonstram esse talento aí vem a diretoria fazer caixa. Como torcedor, sinceramente prefiro títulos a balanços positivos! Se um dia trabalhar na Nasdaq, quem sabe mude de ideia!
3. O São Paulo que ganhava tudo na primeira década do século tinha um modo de jogar definido, – hoje o Corinthians é aplaudido por isso, e mesmo com enormes dívidas é campeão frequentemente – apostava demais numa dupla de volantes rápidos, brigadores, que sabiam sair pro jogo e que eram o primeiro muro para qualquer ataque chegar a defesa são-paulina, Caso de Mineiro, Josué e até Hernanes mais novo! Jogava com três zagueiros (sendo um mais técnico e os outros dois mais duros!), e liberava dois “alas” de muita qualidade que atuavam como pontas de lança. Ao estilo do futebol jogado hoje em dia por alguns atacantes que também sabem preencher o meio campo! Na frente três atacantes ou um meia e dois atacantes que só tinham o trabalho de empurrar a bola pra rede! Até jogadores medianos como Dagoberto, Borges e Leandro “Gianecchini”se destacaram nesse esquema…
Hoje o São Paulo aposta em dois jogadores lentos e um notoriamente fora de forma… Hudson e Jucilei. Por sinal, Hudson já tem 31 anos (mais um do time dos trintões), que nessa já extensa carreira só vi jogar no Cruzeiro do Mano Menezes, o que entra em outro ponto discutido mais à frente…
As laterais são avenidas há anos. Vivendo de jogos esporádicos! Sem uma sequência de sequer três partidas! Com um meio de campo nulo cabe aos homens de frente vir marcar. O resultado é sua ineficiência para o que foram contratados! O São Paulo parou de ganhar quando largou mão desse padrão de jogo (a única exceção foi em 2014 quando Kaká corria pra todo mundo mesmo em fim de carreira!). Hoje nem temos jogadores de qualidade para essas funções.
Fazendo um adendo sobre os volantes: Hoje por sinal faltam o Igor e o Luan que estão no Sub-20. Para a vergonha que a Seleção tá fazendo no torneio sul-americano, preferia eles de opção no time. O Luan joga mais que os dois volantes principais juntos!
4. O São Paulo aposta em jogadores que são notoriamente bons em clubes de menor porte. Até aí mal algum! É algo que sempre aconteceu! A questão é que os mesmos já foram experimentados e só jogam nesses clubes!
É o caso do Bruno Peres que só jogou na Torino, do Reinaldo que só jogou na Chapecoense, Everton Felipe no Sport, Carneiro no Defensor e por aí vai… Jogadores que custam milhões e não conseguem dar sequer um gol de retorno! Como o jogador uruguaio! Correndo o risco de ser grosso com os atletas, mas sendo franco, são jogadores de times pequenos, só se destacam neles! Não conseguem jogar no São Paulo!
5. Para o gol o São Paulo teve a chance de contratar nos últimos anos o goleiro da seleção argentina Armani e o goleiro da seleção uruguaia Campaña. Preferiu Sidão, devido a sua habilidade em jogar com os pés (o que não o ajudou em nada, pois isso deve ser o algo mais, e não a característica principal), e agora o Volpi, um goleiro que tava no México e que não quero chamar de fraco até porque a defesa tricolor não ajuda… Mas que ninguém sabia do nível técnico que ele vinha tendo até ele chegar. Para ser substituto de um dos maiores ídolos da história do clube, e eu entendo que o peso é grande para qualquer goleiro! O São Paulo me parece ter feito escolhas péssimas desde a aposentadoria de Ceni (A do Sidão escolhida pelo próprio Ceni).
6. Éverton e Liziero são bons. Mas vivem no DM. O que houve com o REFFIS? Que recuperava até jogador moribundo? A falta de jogadores desse nível no elenco em 100% de seu estado físico prejudica ainda mais o time! Os citados não são definidores. Mas hoje no elenco do São Paulo que como disse é carente em pontos chaves. Não podem ficar de fora!
7. Hernanes, a principal contratação do ano notoriamente está fora de forma. Mas esse decide! E Pablo parece jogar sozinho. Espero que não seja a volta de “Ricardinho trezentinhos” no Morumbi (Quem é são-paulino de pelo menos início dos anos 2000 sabe que história me refiro). Prefiro acreditar que o time é mal treinado.
É uma missão na próxima quarta muito dura para o São Paulo. Mesmo o Talleres sendo um time de menor expressão na Argentina, as atuações do São Paulo não me levam a num senso crítico crer que o time vá reverter o resultado. Há anos venho vendo esses fracassos. Claro que como torcedor vou torcer muito para que esteja errado. Mas se não estiver. Que o time ao menos aprenda a lição do rival Corinthians com o Tolima, que a partir daquela derrota encontrou de novo o caminho das conquistas!