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O CARIOCA ESTÁ SENDO DESRESPEITADO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Quem me conhece sabe o quanto odeio retranqueiros. Diego Simeone é um deles. Por isso, adorei os três gols de Cristiano Ronaldo e a classificação da Juve. Cristiano não tem swing e sabe disso, por isso é dedicado e de uma eficiência impressionante.

Retranca é vencida com técnica, a mesma que o saudoso Coutinho usava para furar defesas. No Maraca, vi um gol dele contra o Benfica espetacular. Balãozinho no zagueiro e rede estufada!

O futebol me deu muitas alegrias! Me orgulho de ter vestido as camisas dos quatro grandes clubes cariocas, assim como fui um privilegiado por assistir Bráulio, Ivo e Eduzinho esbanjando categoria no América. Foram áureos tempos! Fui xingado e endeusado, ganhei, perdi e aprontei muito nesse Maraca! O goleiro Andrada que o diga, Kkkkk!!! As bandeiras desfraldadas, os geraldinos, os tradicionais chefes de torcida, Jorge Curi, Waldir Amaral, Mário Vianna, os pontas endiabrados, o cachorro-quente da Geneal, as camisas sem patrocínio e os torcedores chegando de trem, a pé, para prestigiar seus ídolos.

Não posso admitir que o CAMPEONATO CARIOCA, em letras maiúsculas como deve ser, venha sendo tratado com tanto desrespeito pelos “profissionais” da área. É preciso que entendam que Botafogo x Fluminense é uma marca, assim como Flamengo x Vasco. Marcas fortes, construídas há anos.

Fiquei chocado com a postura de meu amigo Abel com essa história de poupar jogadores por conta de terem jogado na altitude dias antes. Peraí, antigamente dormíamos no aeroporto e estamos vivos até hoje.

Não se poupam jogadores em um Flamengo x Vasco. É desrespeito com a história do futebol, com a torcida e com tudo mais! E não e venha com essa lenga-lenga de time B só para se preservar diante uma possível derrota. Agora os jogadores deverão desfilar pelo clube com crachás “jogador A”, “B”, “C”. Vestiu a camisa do Flamengo é Flamengo. E além do mais o Flamengo entrou com Arrascaeta e Vitinho, os dois “cracaços” mais caros da história do clube.

Na coletiva, Abel teve uma postura ginasial, disse que estava ali para rir do que fizeram com o Flamengo. E os jornalistas ficaram lá, o acompanhando nas risadas, sem questioná-lo de nada. Tem que rir é do Rodinei que perdeu aquele gol feito e não dos dois pênaltis que existiram.


É bom deixar claro que o Flamengo não tem nem um time A pronto, redondo, entrosado, que dirá um B. Abel disse que na Libertadores “os árbitros não apitam qualquer faltinha”. Fez da coletiva o seu palco. Para Abel, a Libertadores, da Conmebol, é a competição mais correta do planeta.

A Libertadores virou competição para machos, futebol esquece. Viram a falta de Felipe Melo no jogo de ontem? Enquanto isso, o CAMPEONATO CARIOCA vai perdendo espaço para as Sul-Americanas da vida.

Na mesa ao lado, um jovem com a camisa rubro-negra, me aconselhou: “PC, esquece, estão todos de bolsos cheios”. Dei uma bufada, fechei os olhos e lembrei de Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim, Bangu de 66. Eles sempre me salvam nessas horas.      

UM DIA NO FUTEBOL PAULISTA PROFISSIONAL DA SEGUNDA DIVISÃO

por Luca Nieri


Semana que vem tem jogo da Briosa, vamos? Quando é, no final de semana? Sim, é domingo. contra quem é, você sabe? Sim, contra o Água Santa. Nossa, o time que botou 4 no Palmeiras. Vamos muito. Mas que horas é o jogo? 10h da manhã. Cedo, ein? Nossa senhora. É, realmente. Mas vai ser daora, pô. Vamo lá. Tá bom, vamos então.

E assim começa um aventura na segunda divisão do Campeonato Paulista. Excelente segunda divisão, aliás. Não necessariamente pela técnica, mas por tudo que envolve estar em um estádio às 10 horas da manhã de um domingo, debaixo de um sol de 40º para assistir a um time que, claramente, não dará o ar de sua graça.

A aventura se sucede à escolha do lugar. Vamos ao pacote completo, com arquibancada, sol na nuca e muito suor? Ou podemos dar o luxo de assistir na arquibancada coberta? Ah, vamos na coberta, melhor, né?


E fomos na coberta. Só não avisaram que não era coberta apenas do sol, mas sim daqueles personagens portugueses de dicionário. Bigodes, amendoins e palavrões eram maioria por lá. Desde torcedores fanáticos, passando por famílias mais tranquilas, até crianças brincando de pega-pega se viam presentes. Tudo faz parte do show. Uniformes de todos os tipos, tamanhos e épocas. Amarelados pelo tempo e pelo estresse do cotidiano de se torcer. Gastos pelas horas em arquibancadas e pelo excesso de lavagens, com lágrimas de choro e lágrimas de chuva. Cabelos brancos, cabelos pretos, longos, curtos, cacheados ou cortados na régua. Tem de tudo. Tem para todos. Camisas do Palmeiras, camisas do Santos, camisas do São Paulo e camisas da seleção. A série A2 do Paulista não veio para brincar: ela realmente é para quem quiser.

Por enquanto está tudo lindo, está tudo poético. Mas e quando o juizão autoriza o início da partida? Acho que era melhor ter continuado no plano do encanto. Culpado de tudo mesmo é o senhor árbitro, que deixou um jogo como aquele acontecer. O que falta na habilidade, sobra no absurdo. Jogo lento, linhas postadas parecendo colunas, e jogadores, digamos, medianos. Era realmente uma batalha de gladiadores. Havia muita garra! Isso não se pode negar. Mas futebol, às vezes, também é sobre técnica, não? Infelizmente sim. Fortunados seríamos se apenas precisasse de força de vontade para jogar bola. Seríamos, ainda com mais certeza, o país do futebol. Mas futebol é feito de gols. E gols são feitos de chutes, tabelas, cruzamentos e cabeçadas. E, pode-se dizer que a série A2 do Paulista deixa a desejar em alguns desses quesitos. Mas só alguns, eu prometo. As cabeçadas, caneladas e cruzamentos há de montão. Fiquem tranquilos!


Por isso, não ousem falar mal da minha segundona. Da nossa segundona! Time grande cai sim, lógico que cai. O que a Briosa está fazendo lá? E Juventus da Mooca, Nacional e Jabaquara? Não são times gigantes? É claro que são. Basta fazer um tour pelos estádios do interior. Vá a um jogo no Javari para entender o que é amor. Venha ao Ulrico Mursa, assistir à nossa gloriosa Briosa, para entender o que é paixão.

Assim, tentando eu entender o que é paixão, dentre todas as coisas que me passaram pela cabeça enquanto assistia ao jogo, um pensamento era o mais presente: por quê? Por que havia cerca de 3 mil pessoas lá? Por que alguém torce, grita e xinga pela Portuguesa Santista? Por que alguém apoia a Portuguesa Santista? Vale a pena?

Mas peraí. Desde quando o futebol precisou de um porquê para existir? Desde quando torcer para um time de futebol fez algum mísero sentido? Desde quando foi sobre “valer a pena”? Ora, tudo vale a pena se a alma não é pequena, já dizia o poeta. E a alma do esporte é gigante. A alma do torcedor é inabalável. A alma do estádio é inquebrável. E assim, o futebol respira. E sobrevive. Em domingos matinais ensolarados ou em fins da tarde nas novas arenas. Com 3 ou com 30 mil pessoas no palco do espetáculo. Fazendo o show. Assistindo ao show. Participando e torcendo. Sendo parte fundamental do todo. Sem precisar de um porquê.

Pois, no final, no meio das gritarias, dos xingamentos e dos “puta, mas esse cara não dá! ele não é jogador nem aqui nem na China”, há uma beleza quase que divina nisso tudo. Um sentimento inexplicável que move todo esse contexto. O futebol é maravilhoso por causa disso. Ele não precisa de glórias e conquistas para existir. A conquista somos nós. Os títulos são consequência dos nossos gritos. Da nossa paixão. Da nossa fidelidade. Afinal, a busca por um porquê nasce daqui, da literatura e da caretice. O torcedor não precisa de um porquê. Um torcedor não precisa de um gol. Um torcedor precisa do futebol. E o futebol precisa do torcedor.

viva o futebol de arquibancada de concreto&
viva o futebol de domingo de manhã&
viva o futebol do interior&
viva o eterno ódio ao futebol moderno.

TUA CAMISA, TEU TRAPO, TEU ESCUDO

por Claudio Lovato  


Sem bandeiras, sem trapos, sem música.

 

Foi uma decisão do Ministério Público para punir a Organizada. Todos sabiam que aquilo era resultado de uma velha rixa com a Polícia Militar. No último episódio, um integrante foi agredido sem que ninguém entendesse o motivo. Então vieram dois, três, 10, 30 companheiros em seu socorro. E, agora, é isto: sem bandeiras nem trapos nem banda na final do estadual contra o arquirrivalhistórico. 

 

Eles foram chegando em silêncio e ocuparam seu espaço atrás de um dos gols. 

 

O primeiro gol demorou a sair, mas, depois dele, logo vieram outros dois. E assim terminou o primeiro tempo: três a zero e um banho de bola. 

 

No segundo tempo, o baile continuou, e o time logo chegou aos quatro a zero.Então, aos 20 minutos de jogo do segundo tempo, uma movimentação diferente teve início no espaço destinado à Organizada.

 

Eles tiraram a camisa do time, abriram-nas ao lado (o lado em que, na noite anterior, haviam cortado com tesoura e costurado de novo, costura bem leve e propositalmente precária) e então tiraram os cintos e os passaram pela fenda que também haviam feito com tesoura, na altura da etiqueta, e depoiscomeçaram a girar suas improvisadas bandeiras sobre a cabeça, todos eles, girando suas camisas cortadas e descosturadas como se fossem bandeiras e quando o time fez o quinto gol eles começaram a entoar seus cantos com o máximo de potência que seus pulmões e gargantas e paixão permitiam e de repente surgiram trapos, um, dois, três, dez, camisas amarradas umas nas outras descendo do último ao primeiro degrau lá embaixo e então todos no estádio se levantaram e os aplaudiram e cantaram os cantos há muito tempo conhecidos de todos, e eles seguiram em festa de cantos, camisas, bandeiras, trapos, celebrando as cores e o escudo do clube que amam – celebrando o símbolo que é maior do tudo e que não pode ser, e jamais será, silenciado, adestrado, neutralizado.

INTER DE LIMEIRA 1986

por Marcelo Mendez


Não dá para falar de 1986 sem pensar no que aconteceu naquele setembro, naquele dia 03, na noite em que tudo aconteceu.

De repente, o Brasil descobriu que no interior de São Paulo existia a cidade de Limeira, que por lá se jogava futebol, que um time havia sido formado e que aqueles caras estavam voando no Campeonato Paulista.

Quando Dulcidio Wanderlei Boschi lia apitou o final daquele jogo, a dor que doeu no Palmeiras durou muito tempo, mas não estamos aqui para tratar da dor alheia. Viemos para falar de um Esquadrão que veio do interior…

Senhoras e senhores, o ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO traz hoje a Internacional de Limeira de 1986. 

SEU MACIA EM LIMEIRA

A história de tudo que rolou começou com a montagem do time.


Contando com a grande ajuda do Prefeito Jurandyr Paixão de Campos Freire, a Inter de Limeira teve tempo de pensar uma equipe forte para poder disputar o parrudo Campeonato Paulista. De primeira, vem a contratação de Pepe, o Seu Macia, o lendário Pepe, multi campeão pelo Santos, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial que agora se firmava como treinador.

A partir de sua chegada a Inter aproveita os bons jogadores do interior, casos de Juarez, João Luiz, aliado aos jovens Tato, Lê, Pecos, e mais um arsenal de jogadores experientes, com passagens por vários clubes. Casos de João Batista (ex-meia da Portuguesa), Bolivar (Zagueiro, ex-Grêmio, Portuguesa, etc..) Manguinha (Ex-Guarani, onde foi campeão brasileiro em 1978), Gilberto Costa (Ex-Santos), Kita (Ex-Juventude e Internacional) e Silas (Goleiro, ex-Santos).


Com todo esse time azeitando a máquina, a Inter fez um segundo turno primoroso, terminando em primeiro lugar com duas rodadas de antecedência. Na semifinal, duas vitórias em cima do Santos, 2×0 na Vila Belmiro e 2×1 em Limeira. Faltava apenas a hora da glória e ela veio… 

DIA DA GLÓRIA

Na verdade, a Inter já tinha feito uma grande partida no 0x0 da primeira decisão. Na noite de quarta-feira, com 105 mil Palmeirenses no Morumbi, aquele time que tinha voado no segundo turno tinha a certeza absoluta que faltava pouco, bem pouco. Uma obrigação quase protocolar.


O time de Pepe se segurou bem na pressão do começo do jogo sem quase sofrer sustos. Passou todo nervosismo para o Palmeiras que não vencia títulos há 10 anos e foi tocando o jogo. Na segunda etapa, quando Kita abriu o placar, ninguém mais se surpreendeu. O mesmo com Tato ampliando. O Palmeiras diminuiu, mas já era.

O ano de 1986 sacramentou a conquista de um time que se firmou por excelência e por querer jogar um belo futebol.

Esquadrões do Futebol Brasileiro homenageia este timaço. Inter de Limeira, campeã paulista de 1986.

Djalminha

DE LAMBRETA E TUDO

entrevista: Marcelo Mendez e Paulo Escobar | texto: Marcelo Mendez | vídeo: Johnny Jamaica 

A vida num era muito animada em 1996. O Palmeiras que havia vencido tudo no começo dos anos 90 começava a viver uma espécie de ressaca, o plantel estrelado tinha ido embora e a nós, torcedores, parecia que uma era pragmática e chata viria pela frente.

Mas aí, veio 1996.

Com ele, chegou o mago que veio da Gávea, que antes tinha tirado uma onda em Campinas e então tudo mudou.

Djalminha foi o camisa 10 que veio para o Parque Antártica para restabelecer o riso e o sonho. O verso e o lúdico estavam de volta, via a perna esquerda dele, que foi sem dúvida o último dos românticos.

O Museu da Pelada foi atrás dele e a resenha segue aí.

Grande Djalma!