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QUEM É GRANDE?

por Idel Halfen


Uma tese do jornalista Rodrigo Capelo causou enorme polêmica junto aos torcedores dos clubes de futebol. O ponto central de sua afirmativa era a de que o futebol brasileiro tem atualmente no máximo cinco clubes grandes, baseando essa segmentação na capacidade competitiva das equipes, a qual, por sua vez, é influenciada pelo faturamento dos clubes.

Antes de prosseguir com o debate, convém esclarecer que considero o jornalista em questão como um dos mais, se não o mais preparado do setor, sendo um dos poucos que estuda, pesquisa e que não fica preso a paradigmas ou preocupados em ter espaço na mídia popular, na maioria das vezes sensacionalista e ignorante acerca de temas ligados à gestão. 

Esse reconhecimento não significa que eu esteja de acordo com sua tese, aliás, nesse caso sou radicalmente contrário, devendo ficar claro que a minha contestação não tem relação com o fato de o meu clube ter ficado de fora da relação dos “grandes”, mesmo tendo se sagrado duas vezes campeão brasileiro  nos últimos 9 anos. A propósito neste período apenas quatro clubes conquistaram o citado título.

O que questiono é a definição do que é ser grande, visto existirem milhares de atributos de avaliação em qualquer segmento. Um sujeito grande pode ter essa qualificação em função da altura, do peso, do caráter e de uma série de características que assim o adjetivem. Uma empresa tem essa avaliação devido ao faturamento, número de colaboradores, abrangência regional, etc., contudo, todos esses indicadores necessitam de alguma parametrização.   Exemplificando, um cachorro da raça dog alemão é enorme até ser comparado com um elefante.

Entendo a alusão feita à competitividade, mas se seguirmos nessa linha poderemos concluir que não há nenhum time grande no Brasil, pois nenhum deles tem tido projeção reconhecida em campeonatos intercontinentais. 

Já a variável “faturamento” é coerente, sem dúvida, mas de que adianta faturar se o dinheiro não for bem aplicado? Avaliar o EBTIDA, o nível de endividamento e demais indicadores também ajudariam a entender esse mercado, mas não isoladamente. 

Outro fator importante é o tamanho da torcida, desde que, é claro, as pesquisas a respeito utilizem metodologias e amostragens confiáveis.

Como podemos ver, existe uma infinidade de possibilidades e critérios a serem adotados, valendo salientar que o próprio Capelo deixou claro que sua tese era fruto dos critérios que ele considerava pertinentes, ou seja, não se considerou o “dono da verdade” em sua conclusão.

Todavia, penso que em vista dessa gama de variáveis seria necessária a elaboração de uma modelagem que permitisse ponderar cada um dos indicadores e ainda assim surgiriam questionamentos, isso sem falar no tempo que levaria para se testar os modelos. 

Algo bastante complexo para se aplicar numa discussão que, no meu modo de ver, é pouco pragmática.

Dessa forma, minha sugestão é que não se despenda energia tentando segmentar instituições fortemente atreladas à paixão e que os resultados esportivos se encarreguem de proporcionar as devidas classificações aos clubes.

Para concluir, reforço a fala do Capelo acerca do perigo que corre a indústria do futebol com a crescente concentração de receitas, essa sim, digna de preocupação e carente de estudos que mostrem os indubitáveis grandes riscos envolvidos.

NÃO SUPORTO COVARDES

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Ainda estou me refazendo do susto de ontem, do efeito devastador do temporal que me obrigou a atravessar o Jardim Botânico com água no peito. Eu e centenas de pessoas se viraram como puderam para chegar em casa, enfrentaram água suja, fios desencapados, bueiros abertos e o risco de serem eletrocutadas.

Por falar nisso, não ouvi mais ninguém falar do acordo entre o Flamengo e os familiares das vítimas do CT. Não merecemos esse desleixo. Para piorar, o clube acaba de assinar um novo contrato milionário, junto com o Fluminense, pelo Maracanã. Quer dizer que o estádio é mais importante do que as vítimas? Somos um povo destemido, que não se acovarda. Por isso, não suporto os covardes.

É inevitável não trazer essa comparação para o futebol, afinal resolvi enfrentar a força da chuva logo após assistir Corinthians x Santos, uma aula de covardia de Carille. E depois ainda me questionam quando elogio Sampaoli e seu futebol ofensivo. Ontem, mesmo após fazer o gol, o jovem time de Rodrigol, Pituca & Cia continuou em busca do segundo para evitar os pênaltis enquanto a turma de Carille estava nas cordas, acuada, contando os segundos para a partida encerrar. Por favor, não chamem isso de estratégia, mas de futebol de quinta categoria. Pobre dos jogadores, como Pedrinho, que pegaram Carille como treinador.


Técnicos assim são cemitérios de talentos. Ainda bem que Cuca também superou seu temporal particular e voltou ao mercado. E eliminado Felipão o que é melhor ainda! Esses técnicos poderiam se juntar e lançar um manual chamado “Vença sendo Covarde”.

O Palmeiras é outro caso de cemitério de bons jogadores. Certamente Dudu renderia bem mais na mão de outro professor. O Bruno Henrique vinha fazendo gols, mas foi recuado porque em time de Felipão fazer mais de um gol é pecado. O meio-campo não é valorizado. O zagueiro bica para frente, um cabeçudo faz o gol e depois inicia-se a aula de covardia.

Por falar em covardia por que o valentão Felipe Melo não foi selecionado para bater pênalti? Vou torcer muito para o São Paulo porque o Cuca coloca o time para jogar, aposta na garotada. Carille vencendo continuaremos na mesmice, no retrocesso.

Já viram o Fortaleza, de Rogério Ceni jogar? Então, vejam! Tomara que ele continue seguindo a filosofia do futebol ofensivo e bom de se ver. Atacantes rápidos, que lembram os velhos pontas! Contra o Vitória, pela Copa do Nordeste, fez quatro, mas podiam ser dez!

Viram Barcelona x Atlético de Madrid? Simeone segue o manual dos covardes, mas a dupla Suarez e Messi são os palhaços que o circo do futebol precisa. Necessitamos cada vez mais de malabaristas, entortadores, magos e artistas. Nosso dia a dia já é muito turbulento para assistirmos espetáculos dirigidos por maestros que não deixam sua orquestra tocar. 

PELO SAGRADO DIREITO DE ERRAR

por Zé Roberto Padilha


Às vezes, confesso, tenho que tirar o meu chapéu para a FIFA. Reconhecer sua insuperável capacidade de retirar do futebol o que ele carrega de mais surpreendente, inesperado e irreverente. E que levava a diversidade de quem mais ousava praticá-lo, com arte e improvisações, a alcançar a hegemonia mundial.

Depois que Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, três bolas de ouro da entidade, levantaram nosso quinto título mundial, ela se aliou a Sony. E juntas decidiram, pela tecnologia, que todos os países deveriam jogar por igual em cada campo e telinha desse mundo. Ou dariam um jeito de tirar o Brasil da jogada porque não teria mais a menor graça. Mas com um mercado deste tamanho? Com uma paixão como a nossa? E começaram a igualar sua prática pelos estádios. Todos os torcedores tinham que se comportar nas cadeiras, nada mais de Arquibaldos, que carregavam isopores, Geraldinos, que expressavam de perto seus amores. Viraram Arenas frias, aqui e na Grécia, na Turquia e no Uzbequistão.

Lançaram videogames tão reais que muitos garotos deixaram nossos campinhos de pelada, onde inventaram uma arte única, lançaram dribles, construíram artimanhas, para se trancarem nos quartos e trocar passes laterais no lugar de arriscarem uma arrancada para o gol. Mesmo alcançando seu objetivo, nos levando a perder seguidos mundiais e passar a atuar tão previsíveis quanto a Croácia, e a ser eliminada por último pela mais comedidas das Bélgicas, resolveram nos punir ainda mais. E acabaram de nos roubar até o sagrado direito de errar. E criaram a praga do VAR.


Inventado pelos ingleses, rigorosos com o tempo, e administrados pelos suíços, precisos como seus relógios, jamais entenderão a paradinha que o nosso Rei Pelé criou para atrasar o tempo de bater uma penalidade máxima. E enganar o arqueiro adversário.

Quando, em 1995, Renato Gaúcho meteu a barriga, os braços e os testículos naquele cruzamento do Aílton, e tirou da Gávea o título estadual no ano do seu cinquentenário, aos 44 minutos do segundo tempo, não existia nem um VAR a julgar. Era o juiz, e seus bandeirinhas, com liberdade de escolha, de reflexos, para validar ou não, no ato da criação, no exato instante da comoção, a razão maior do futebol que é o seu grito de gol.


Agora, nem gritar o artilheiro pode, o torcedor comemorar, quem se habilita se há olhares e monitores a constranger a seguir quem ousou por ele vibrar? Se no pôquer não puder mais blefar, uma camisa discretamente na área não puder mais segurar, ao adversário nem uma artimanha empregar, o futebol deixará de ser um jogo emocionante, surpreendente e digno das paixões que carrega.

Se continuar a passarem corpo e alma a limpo a cada ato de sua criação, não será necessário mais ser jogado no Maracanã. Bastará levar a final para o confessionário do Mosteiro de São Bento. Sem as polêmicas que levamos para casa, que varam as madrugadas abastecendo nossas resenhas esportivas, e que carregam torcedores a discutir os lances horas depois nas mesinhas dos bares, que graça terá mesmo o futebol quando alcançar por aqui a sua mais completa e absoluta razão?

CRUZEIRO 1992

por Marcelo Mendez


O ano de 1992 foi muito louco aqui no Brasil.

Começou com um tal PC Farias lavando uma grana, depois pintou um motorista cheio das informações, passou por um irmão indignado, uma cunhada espetacular, esposa do irmão indignado, caguetando geral em Brasília e um Presidente elétrico mais bambo que jaca madura.

Brasília Burning se fosse o The Clash. Mas daí sou eu mesmo…

O Brasil do Collor e dos Collor era um terreno fértil para o noticiário de então. Ainda mais para mim, jovenzito, 22 anos, cheio de onda e beijando na boca pra caraca. Minha vida era os discos do Happy Mondays, os primeiros estudos e trabalhos no Jornalismo e ver futebol.

E naquele ano, um time vindo lá das alterosas me chamava por demais as atenções. Hoje falaremos dele:

O ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO traz aqui o Cruzeiro de 1992

A MONTAGEM


O final dos anos 80 até que vinha sendo bom para a Raposa.

Na disputadíssima Copa União, o Cruzeiro havia feito muito boa campanha em 1987 chegando até a semifinal em que foi eliminado em casa para o Internacional de Taffarel. Vinha fazendo bons campeonatos ao longo daqueles anos, chegando bem nos Campeonatos Mineiros, mas sentia-se por ali a vontade de ter um time realmente forte, parrudo e de respeito.

Para esse fim, começa o ano de 1992 com uma reformulação total em seu elenco. A Raposa foi até Portugal e de lá, repatriou Luisinho, ídolo do seu rival Atlético, e Douglas, ex-prata da casa, que havia se transferido para o futebol de além-mar. Em casa, sobe Cleisson, Célio Lúcio, traz Nonato, vai no Guarani e traz Roberto Gaucho e Marco Antonio Boiadeiro, abre os cofres e tira Renato Gaúcho do Botafogo para em Minas ter um dos melhores anos de sua vida!

O SURGIMENTO DA CHINA AZUL E O SUPERCAMPEÃO DA AMÉRICA

Ninguém sabe ao certo como aquilo aconteceu. Todavia, a torcida do Cruzeiro abraçou o time na Supercopa dos Campeões da América. Os públicos, sempre acima de 70 mil pessoas no velho Mineirão renderam para a torcida a alcunha de “China Azul”. E esse povo todo viu partidas épicas por lá.


O Cruzeiro passou por cima de Independente de Medelín, Venceu o árbitro e o River Plate, segurou o timaço do Olimpia do Paraguai e deu uma baile de bola no Racing, na primeira partida da final do campeonato no Mineirão. Um 4×0 impiedoso, sem a menor chance de qualquer susto para a Raposa.

Na partida de volta, o Cruzeiro perdeu por 1×0, mas ninguém se importou com isso. Outra história já estava escrita:

O Cruzeiro de 1992 ganha aqui seu lugar de honra na galeria dos Esquadrões do Futebol Brasileiro.

NEYMAR É UM PRODUTO

por Paulo Escobar


Desde sua infância foi moldado para ser um produto, desde muito cedo os valores que eram movimentados em torno de Neymar eram muito maiores se comparados aos de muita gente que levanta às 04 da manhã para pegar ônibus lotado. E sei que muitos virão com a história da “figura pública” ou “merece o que ganha”, não faço parte desse time que diferencia os que se lascam todos os dias para a riqueza de poucos e os que vivem da bola.

As pessoas a sua volta, entre os maiores beneficiados, seu pai, encheram os bolsos de grana e aproveitaram e aproveitam bem a vida que o produto Neymar lhes oferece. Desde festas com celebridades e viagens em vários lugares do mundo.

Neymar sempre foi blindado, inclusive as criticas que ele recebe são filtradas para não atingirem o menino, que pelo visto será menino com 40 anos. Incrível é observar como é blindado pela grande mídia inclusive e pela comissão técnica da seleção brasileira, que também o trata de forma infantil. Nesta sociedade aonde menores de 16 anos são condenados por roubo por fome, Neymar é poupado de toda realidade que o cerca.


O menino produto não pode ser atingido, pois pode influenciar seu desempenho mais fora do que dentro de campo, e vir a diminuir contratos e propagandas. Neymar tem sido poupado até das criticas no que diz respeito ao seu futebol, coisa que poderia ajudar ele, ou se alimentar disso para melhorar aquilo do qual é alvo de criticas.

Não espere de Neymar o amor a uma camisa, ou dele beijar um símbolo pensando na torcida por trás ou que leve em conta a história do time defendido, sei que isso é raro há décadas, mas nele isso é mais utópico ainda. Só no Brasil já declarou paixão pelo Santos, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e por aí vai. Procura ficar bem com todos seus clientes, e não é diferente dos clubes por onde passou.

As entrevistas de Neymar sempre são mais do mesmo, o padrão que um produto com contratos milionários deve ter, essa chatice robótica que fala aquilo que não venha a desagradar as marcas esportivas. Inclusive as “desculpas” pelas marmeladas na seleção foram claramente escritas e pensadas numa propaganda, por que não fazer isso nas suas redes de graça?

Quando toma posição política é das mais deploráveis possíveis, apoia governos que promovem verdadeiros extermínios, vide esta semana com o primeiro ministro de Israel ao lado do presidente nefasto que temos aqui. Neymar sempre do lado dos que detêm o poder, dificilmente será coerente com aqueles que mais sofrem.


Este produto, cercado e mimado por aqueles o blindam inclusive pelo Tite, vive um mundo diferente e mais distante ainda que o de Cristiano Ronaldo e Messi, só ver seus comentários quando precisa se referir a algo que fuja da bolha que vive, seja politica ou cotidiano (vide as pérolas deixadas a cada fala). Seria pedir demais que ele fizesse menção durante a Copa, por exemplo, ao menino assassinado a tiros pelo Estado na favela da Maré em tempos de Copa e que deve ter sido fã de Neymar. Ao menos os dois chamados “melhores” do mundo pelo visto sabem das crianças palestinas assassinadas por Israel, uma posição mínima tomam.

Arrisco-me a dizer que Neymar é mais produto que jogador de futebol, não sou inocente, é claro que este futebol moderno é contaminado pelos contratos e pela grana, mas em cada lance e movimentos os empresários deste “menino” produto enxergam uma oportunidade. Só na Copa da Rússia levou aproximadamente 16 marcas (poder dar um Google). Você cansou de ver Neymar na TV nas propagandas durante a Copa, inclusive acredito que você o tenha visto mais fora do que dentro de campo, se esforçou mais pelo time das marcas que pela seleção.


Neymar é um produto trabalhado e cercado por gente que o vê como produto, e ele mesmo se aceita como tal, pois na idade que tem não é mais menino e já poderia pensar por si só. Para os que gostamos de futebol esperamos o dia que Neymar vire um jogador de Futebol e que o “menino” produto fique em segundo plano.

Infelizmente hoje temos um produto numa prateleira chamada futebol moderno, pensado e moldado para ser isso que ele é, e de um produto não pode se pensar nada de diferente disso que ele apresenta. Todo movimento em volta do produto é friamente calculado visando apenas o lucro, o futebol é apenas um detalhe.