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EMOÇÃO E RISOS NA PELADA DE 70 ANOS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Domingo passado, os amigos me prepararam uma surpresa para comemorar o meu aniversário de 70 anos. A ideia era ficar quietinho, em casa, na minha, mas acabei topando o convite de ir ao Caldeirão do Albertão, no Grajaú, campo de pelada de meu amigo Alberto Ahmed.

Já assisti várias peladas lá e sempre me divirto com as gozações de Sergio Sapo, com o arisco Joãozinho infernizando a defesa e com a resenha que não tem hora para acabar. Mas nesse domingo a casa estava mais cheia do que o normal, lotada de parceiros da vida toda.

Impossível não fazer uma retrospectiva, me imaginar no barraco onde cresci, em uma favela de Botafogo. Quando chovia tínhamos que abrir o guarda-chuva dentro de casa. Eu fugindo para jogar bola, arrebentando a cabeça do dedão do pé, ouvindo os berros de minha mãe. Certa vez, quebrei o braço tentando pular um muro para pegar a bola. Cheguei em casa chorando, o que não me livrou de uma surra de vara de marmelo, Kkkkk!!! “Futebol é para vagabundo!!!”, costumava gritar minha mãe, Dona Esmeraldina.

Não dei ouvidos, entrei para o futebol de salão do Flamengo, conheci Fred e fui adotado por sua família. Minha mãe não tinha condições de me sustentar. Marinho, pai de Fred, era treinador de futebol, e apostou em meu potencial. Aos 15, viajamos para Honduras e depois para Colômbia, onde, ao lado de Fred, fui titular do time principal do Atlético Junior de Barranquilla. Cheguei ao Botafogo com 17 anos e, em minha estreia, meti três no América.

Depois veio seleção brasileira, Flamengo, Olympique, Fluminense, Vasco, França novamente e chuteiras penduradas. Depois, me envolvi nas drogas e durante 15 anos vi meus amigos e bens materiais se esvaindo. Estava debilitado e por pouco não virei um vagabundo. Mas os amigos, verdadeiros anjos da guarda, me estenderam as mãos e consegui ficar fora das estatísticas dos que foram derrotados por esse vício maldito.

Por isso, me emocionei quando vi tantos amigos ao meu redor. Caramba, em uma época de escassez de centroavantes dou de cara com Roberto Miranda e Nilson Dias!!! E na meiúca, Carlos Roberto, Nei Conceição e Afonsinho!!! É muita qualidade!!! Meu Deus, Moreira!!! E Galdino, que me arrancou dezenas de gargalhadas!

Não há espaço na coluna para listar todos e nem para expressar o tamanho de minha felicidade! Marquinhos de Osvaldo Cruz animou a resenha com os seus acordes. Juntos, cantamos muitos sambas, parabéns e o hino do Botafogo.

Tive vontade de pedir uma canção, mas preferi guardá-la para mim, pois ela embala essa minha guerra diária, esse meu inconformismo. E a cantarolei “Daquilo que eu sei”, de Ivan Lins, sozinho, no Uber, no caminho de volta para a casa: “Daquilo que eu sei, nem tudo me deu clareza, nem tudo foi permitido, nem tudo me deu certeza…não fechei os olhos, não tapei os ouvidos, cheirei, toquei, provei, usei todos os sentidos, só não lavei as mãos e é por isso que eu me sinto cada vez mais limpo, cada vez mais limpo….”.

FACÃO

por Claudio Lovato


 Quantas vezes, rapaz, te sentiste completamente sozinho? 

Quantas vezes, quando ainda eras apenas um menino, achaste que não poderia existir neste mundo uma pessoa mais solitária que tu? 

Eras tão novo e já estavas tão longe das coisas que te davam noção (noção por vezes precária e difusa, porque assim é quando somos crianças e adolescentes, mas ainda assim uma noção) de segurança e pertencimento e proteção e, portanto, felicidade. 

Tua família. Teu lar. 

Atravessaste o país de Nordeste a Sul quando ainda praticamente sequer havias ultrapassado os limites territoriais do teu bairro de nascimento, o lugar das tuas brincadeiras de infância e dos teus primeiros jogos no meio da rua e depois no campinho, no qual, um dia, alguém te viu jogar e tomou uma iniciativa que mudaria definitivamente a tua vida.

Quantas vezes, tu, ainda um garoto – ou talvez então já fosse mais apropriado dizer um guri – sonhaste de olhos abertos deitado na cama de um dos beliches do alojamento do clube que te acolheu? 

Teu sonho: brilhar na base e subir para os profissionais e assim realizar o teu maior desejo e dar sentido a tudo pelo que estavas passando. 

O tempo passou e deixaste para trás o rapaz, o menino, o garoto e o guri – mas não totalmente, nunca é totalmente, porque isso não pode ser. 

Teu futebol foi sendo lapidado, te dedicaste, avançaste em todos os quesitos necessários e então te tornaste aquilo que tanto querias: um jogador de futebol. 

Mais tempo se passou – porque o poeta já disse: o tempo não para –, conquistaste teu espaço no clube que transformaste também em teu lar, e hoje estás aí, brilhando na Seleção, fazendo com que todos no estádio se levantem assim que dominas a bola e partes para cima do teu marcador. Esperam o teu drible, o facão, o chute cruzado, o gol. 

Quem pensa na solidão que enfrentaste? Quem pensa nos momentos sombrios de medo e desamparo e dúvida que encaraste?

Já não importa. Isso passou. Agora tens tua própria família e teu lugar no mundo, que carregarás contigo aonde quer que vás. 

Venceste. 

Sim, ainda há muito o que queres e deves fazer. Há muito a reiterar e provar. Tudo o que fizeste até agora ainda é, de certo modo, só o começo.

Mas venceste, e não há nada nem ninguém que possa tirar isso de ti. 

Venceste por teus méritos, teu sacrifício, tua luta.

Venceste.

VAR OU NÃO VAR, EIS A QUESTÃO!

por Jonas Santana Filho


Parafraseando a célebre “ser ou não ser, eis a questão” eis que surge imponente e lampeiro o VAR – sistema de vídeo-arbitragem (sigla em inglês de videoassistant referee ou árbitro assistente de vídeo). Este, que era para ser uma solução às eternas polêmicas do futebol desde o célebre “passo à frente do Nilton Santos (1962) à “mão santa” de Maradona em 1986, tem demonstrado ser na verdade um grande causador de novas celeumas.

De um lado a corrente do modernismo tecnológico considera o VAR como a inovação, a atualização, o Up do futebol que, para alguns, precisa se adaptar aos novos tempos no esporte, embora as transformações ocorridas no âmbito desportivo mundial também alcançam o futebol e demonstram este continua sendo o mesmo esporte contagiante desde sua aparição, caracterizado pela sua contradição, pelo inusitado e pelo improvável.

Do outro lado vemos os defensores do “autêntico e imutável futebol, que acreditam que, ao introduzir-se o VAR no esporte, estará sendo tirada sua identidade e sua plasticidade, tornando o esporte bretão algo engessado, sem emoções, mais previsível que cabeçada de Jardel ou falta batida pelo Zico. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.


O VAR faz parte dos recursos tecnológicos criados para auxiliar aos árbitros (ainda humanos) nos lances mais duvidosos. O problema é que a ferramenta tem sido usada indiscriminadamente, sem critérios ou no mínimo, sem bom senso. Já vimos jogos onde até lateral tem sido questionado pelo VAR. Isto tira a beleza do espetáculo, transformando os juízes antes autoridades em simples coadjuvantes… Além de que, em determinados momentos o suspense em torno do lance (se válido ou não), principalmente no tocante ao gol, assemelha-se a um episódio estilo “hitchcockiano”, onde a ansiedade de uns se alimenta do medo do outro, ou seja, quem fez o gol fica ansioso pelo sim e quem levou com desejo de seja não. E é nessa salada de emoções que o VAR se enquadra.

Ainda assim o uso dessa ferramenta é de primaz importância, desde que usada com o devido cuidado. Não se pode, numa partida de futebol, levar os torcedores, espectadores, participantes, atores e coadjuvantes ao extremo das emoções, onde a ação do VAR represente a plenitude do evento, tão cientificamente comprovada a lisura do lance, mas também não se pode deixar que o VAR seja usado indiscriminadamente, onde qualquer lance que não seja capital tenha que ser decidido por ele. Para isso existe o juiz de campo, bandeirinhas e quejandos.  

Não se pode desmerecer a ação do árbitro de vídeo, mas o certo ainda é, e deve ser, do juiz de linha. Sempre  com a devida proporcionalidade. 

VAR ou não VAR? Eis a questão.

 

Jonas Santana Filho, Gestor Esportivo, Escritor, Funcionário público, apaixonado por futebol,   whatsapp, (61) 999047599, linkedinjonassan40, Skype jonassan50

VOLTAMOS A TORCER

por Leandro Ginane


Depois de muitos anos os brasileiros se entregaram de corpo e alma durante cento e vinte minutos a um jogo da seleção brasileira. O sentimento que parecia adormecido com a seleção masculina parece ter despertado com as mulheres brasileiras em campo na Copa do Mundo da França.

O grito uníssono que ecoou por todo o Brasil quando a bola balançou a rede francesa empatando o jogo em um a um trouxe um sopro de esperança de que ainda há algo que possa unir um povo tão dividido nos últimos anos!

Há de fato uma conexão especial entre essa seleção e o torcedor brasileiro, que vai muito além do esporte. Torcer pelas mulheres brasileiras foi um ato feminista que despertou um sentimento de nostalgia de um futebol que não existe mais: sem vaidades; onde suas jogadoras não caem ao gramado a cada contato com o adversário e que emocionou a cada cena de seus familiares na torcida durante o jogo. Uma seleção que joga por amor, um sentimento raro atualmente no futebol e que transbordou na entrevista da Marta logo após a eliminação brasileira ( https://glo.bo/2X39px6 ) e no narrador que, mesmo com o gol que parecia ter sido anulado, não parou de gritar e acertou!

Ao mesmo tempo em que a Copa do Mundo de futebol feminino está acontecendo na França, aqui no Brasil está sendo jogada a Copa América masculina de futebol com estádios vazios e rendas milionárias, onde o preço médio para assistir ao jogo de estréia da seleção brasileira foi de quatrocentos e oitenta e cinco reais e com isso atraiu uma torcida irreconhecível que entoou o canto “Defense!” durante a partida, numa referência ao tradicional grito das torcidas americanas em jogos de basquete.

Em meio a escândalos no judiciário, páginas policiais e estádios vazios, o Brasil se uniu novamente em torno do futebol, dessa vez representado pelas mulheres que puderam mostrar mais uma vez o quanto os homens precisam aprender com elas.

BOTAFOGO 1989

por Marcelo Mendez


O ano de 1989 foi o ano do Bragantino na minha vida.

Meu Palmeiras voando, 23 partidas invictas para dinamitar o final dos 13 anos sem títulos que amargávamos. Eis que num sábado à tarde aparece um tal de Bragantino, metendo um 3×0 inapelável nos nossos sonhos e então já era; Mais um ano de fila.

Talvez por isso eu tenha me solidarizado com o time de hoje, aqui em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.

Para acabar com 21 anos de sofrimento, vamos voltar para 1989 para encontrar o Botafogo que tirou o alvinegro da fila.

O Fogão 89 

As paixões de Seo Emil

A segunda metade dos anos 80 marca a fase mambembe do futebol Brasileiro.

A CBF quebrada, os times à míngua, estádios vazios, os campeonatos deficitários que eram uma zona em seus regulamentos e tudo de pior pela frente. Um horror. O Botafogo, que não vencia títulos desde 1968, era uma dessas equipes vitimadas por aquela bagunça.

Ao longo da década dá para dizer que o Botafogo teve um ano bom, 1981, quando foi garfado no Morumbi contra o São Paulo, pela semifinal do Campeonato Brasileiro. Dali pra frente, só derrocada. O Clube tinha sua sede em Marechal Hermes em plenas ruínas. Não tinha estádio para jogar, lugar pra treinar, material de treinamento, nada. Uma desgraça só.

Eis que chega então um homem, sua loucura e seu intrínseco amor pelo Fogão, para mudar isso. Emil Pinheiro chega e então, a luz que havia no fim do túnel ganha uma força considerável… 

Botando a Casa em Ordem


Da maneira como foi possível, Seo Emil mete a mão no seu bolso para resolver os problemas urgentes do Botafogo. Paga os funcionários, estrutura minimamente o departamento de futebol, traz o técnico Valdir Espinosa e então, vai às compras e monta um time forte.

Paulinho Criciúma, Mauricio, Luizinho, Carlos Alberto, Wilson Gottardo e Mauro Galvão se juntam ao ótimo lateral Josimar e ao eficiente Marquinhos para formar uma base sólida que vai classificar o Botafogo no Campeonato Carioca daquele ano. O time chega à decisão e então começa a noite que vai lavar a alma Botafoguense… 

A maior das noites 21…

Muito já foi dito daquele 21 de junho de 1989 nesses 30 anos.

Na arquibancada no Maraca, entre as 56 mil pessoas que pagaram ingresso, Botafoguenses ilustres como Zagallo, Saldanha, Afonsinho, Beth Carvalho e tantos outros corações. Dá pra dizer que o Flamengo tinha uma seleção, com Zico, Leonardo, Andrade, Bebeto, Renato Gaúcho, Jorginho. Mas os olhos da poesia não estavam nestes, naquela noite.

Foi Mazolinha que virou verso…


Saído do banco para arrancar pelo lado esquerdo do ataque botafoguense, o camisa 14 foi ao fundo do campo com o mesmo afã o qual um adolescente virgem vai atrás do seu primeiro beijo na boca. Nada o pararia. Nenhum mortal seria capaz de interceptar aquele cruzamento que por magia, chegou até Mauricio.

Quando o ponta, com a lendária camisa 7 do Fogão, empurrou a bola e Leonardo para o fundo das redes, o que se viu no Maracanã foi o encanto voltando de onde jamais poderia ter saído. Era o título, era a vitória, era glória.

Ricardo Cruz, Josimar, Gottardo, Galvão, Marquinhos, Carlos Alberto, Luizinho, Mauricio, Gustavo e Paulinho Criciúma são os 11 que formaram a base que fez esse, entre tantos times lendários do Botafogo, entrar para a história do nosso futebol.

É de direito, portanto, sua vaga em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.