DUELO HISTÓRICO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Há tempos não me emociono tanto com um jogo! Estava cansado, mas quando ameaçava dormir acontecia mais uma bonita tabela, um drible, um gol. Achei que estivesse sonhando e me belisquei. Um jogo sem violência, sem chutões, sem retranca. Uma partida para os amantes do futebol de verdade reverem mil vezes. E para os comentaristas reverem e se envergonharem, mas se envergonharem muito!!!
O que ouvi de atrocidades quando estava 3×0 é melhor esquecer e focar apenas no jogo, espetacular e acima de tudo emocionante, de arrancar gritos e lágrimas. Estava na sala, sozinho, mas em determinado momento fiquei de pé. Quem me acompanha sabe o quanto torço para que Fernando Diniz consiga levar adiante sua filosofia, que nada mais é do que uma tentativa de resgate do nosso futebol. Ele e Sampaoli precisam de novos seguidores.
Com a volta de Pedro a missão fica facilitada. Ainda estou muito feliz! Esse jogo entra para a lista dos históricos, como Vasco x Palmeiras, na Mercosul, e aquele Flamengo x Santos, com atuação de gala do Ronaldinho Gaúcho. No dia anterior, Felipão e Odair Hellmann nos brindaram com mais um festival de horrores e, se não assistiram, precisam ver o VT de Grêmio x Fluminense.
O Palmeiras fez mais um gol de bola parada, mas se venceu é o que importa. E é justamente esse pensamento pequeno que está contaminando a cabeça da torcida. O próprio Cássio, goleiro do Corinthians, sugeriu perguntarmos aos torcedores se eles não preferem jogar feio e ganhar. Está errado! O torcedor do Grêmio tem que ter saído feliz do estádio porque o time nos presenteou com futebol.
Como joga esse Jean Pyerre! E que tabelinha linda em seu gol! Não é possível que os professores não entendam que o caminho é esse!!! Impossível não voltar a 82. Aquela derrota fez nascer o futebol de resultado, da eficiência. Ganhamos duas Copas, e daí? Em troca, enterraram um estilo.
O Barcelona perdeu uma final para o Internacional, com gol de Gabiru. O Barcelona seguiu em frente, não mudou o estilo e continua reinando no futebol atual. O Inter parou no tempo e insiste nesse modelo ultrapassado de jogar bola. Hoje, os times brasileiros com mais dinheiro não empolgam. Enchem estádios _ se 50 mil é considerado muita gente _ mas não tocam o coração.
Minha alegria só não foi completa por conta do acidente de Mendonça, que continua sua luta contra o alcoolismo. Esse é um representante legitimo do futebol arte, camisa 8 que marcou seu nome no Glorioso mesmo sem ganhar títulos. Seu estilo romântico e poético de jogar bola também foi soterrado pelos novos astros, os velocistas e brucutus.
Também queria que Mendonça tivesse assistido a esse Gremio x Fluminense. Sei do desgosto que sente com o futebol atual. Se Deus permitir que meu amigo supere mais essa vamos rever esse jogo e celebrar juntos o seu renascimento e o do futebol.
INTERNACIONAL 1975/1979
por Marcelo Mendez
O ano era 1969 e o Brasil não era nem de longe, algo que poderia ser exemplo de integração.
Um país de dimensões continentais sim, mas que também não fazia o menor esforço para se conhecer, para se falar e se frequentar. Era o Brasil da ditadura militar, do chumbo do AI-5, das mortes e sangues espancados em paredes de masmorras muquiadas por todas as capitais.
Era uma época que o Brasil não fazia questão de se conhecer, em linhas gerais.
Dessa forma, dá pra dizer que o Sul do Brasil era longe demais de Rio e São Paulo. Explica-se por aí, o fato de um time enorme construir um estádio gigante, à beira do Rio Guaíba e ainda assim, não ser noticia nesses grandes centros da vez.
Pois…
Foi nesse ano, que nasceu um estádio chamado pelos seus como O Gigante da Beira Rio, de onde se formou um time que uns anos depois viria a ser o melhor time do mundo. Viemos para falar desse time hoje.
O ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO vem para falar do Internacional dos anos 70. O Colorado de 1975/1979
A FORMAÇÃO
Lógico que o começo foi uma beleza.
Em 1969 com a construção de seu estádio, o Internacional quebrou uma hegemonia que era do Grêmio, interrompendo o hepta e começando a fila de títulos gaúchos que viriam a dar no octacampeonato de 1969/1976.
Consta ainda como sendo dessa época, a chegada de um moço catarinense para o time de cima, estreando por lá em 1973, de nome Falcão. As canteiras também trouxeram Batista, também surgiu Jair, Flavio, o lendário Valdomiro, o bom ponta esquerda Lula que veio do Rio, a zaga forte com Elias Figueroa e um jeito de jogar futebol extremamente moderno para a época, comandado por Rubens Minelli.
Não poderia dar errado e não deu.
Com Minelli, o Colorado deixa de ser apenas regional e vence de braçada dois Brasileiros, o de 1975 contra o Cruzeiro e o de 1976 sobre o surpreendente Corinthians. Do sul do país surgia um gigante, forte, jogando pra frente, dando shows em cima de shows.
O Internacional era uma realidade no Brasil.
PARA SER O MELHOR DO MUNDO
Em 1979 tudo era uma incógnita para o Colorado.
Há de se pensar que o Grêmio já havia quebrado a série de títulos colorados em 1977, que novas forças como Santa Cruz e Guarani se apresentavam para o Brasil e uma renovação tendo que ser feita deixou tudo em suspense no Sul.
Rubens Minelli deixa o comando técnico para Enio Andrade que passa a ter Benitez para o gol no lugar de Manga. Para a lateral, João Carlos, zaga composta por Mauro Galvão com 18 anos e Mauro Pastor. Lateral esquerda era de Claudio Mineiro e dele pra frente, pouco havia mudado; Falcão, Batista, Jair, Valdomiro, Bira e Mário Sérgio.
Um timaço!
O Inter não só venceu 1979, mas com requintes de máquina, amassando todo mundo e chegando de forma invicta ao título em cima do Vasco com duas vitórias, nas decisões.
Naquele final de década as forças do futebol mundial se equivaliam e tudo estava mudando. Os Alemães e Holandeses de Bayer e Ajax davam lugar a supremacia inglesa que viria com Liverpool, Notinghan Forest e Aston Villa. Pensando nisso não é loucura dizer isso que afirmarei agora:
O Internacional de 1975/1979 era um dos maiores times do mundo.
Manga, Claudio, Marinho Perez, Figueroa e Vacarria. Batista, Falcão e Jair. Valdomiro, Dario Maravilha e Lula formam a base dessa máquina.
A eles nossa homenagem.
MUSEU, MALOCA E BOTECO #5
Lá vamos pro nosso quinto programa, apesar dos sacrifícios e dificuldades para conseguir entrar ao ar em cada edição, continuamos na resistência por fazer a nossa resenha com os ídolos.
Nesta quinta, 09 de Maio, estaremos de novo no nosso boteco resenheiro, Repancho’s Bar, na Rua André de Leão, 330, na Mooca. O programa vai ao ar pela página do Museu da Pelada pelo Facebook a partir das 20 horas e quem quiser comparecer no bar para assistir a gravação será um prazer fazer aquele brinde com uma gelada.
Nesta edição estaremos com:
Gerd Wenzel: jornalista e especialista em futebol alemão.
Silvio Valente: jornalista e diretor de rádio.
Além dos nossos convidados, contaremos com nosso time com Helvidio Mattos, Marcelo Mendez e Paulo Escobar.
Assista, espalhe, nos ajude e compareça na gravação se estiver em Sampa.
LÁGRIMAS POR FOLHAS. E PELO PAPEL
por Zé Roberto Padilha
A Bienal do Livro significa, para todo autor pouco conhecido, o mesmo que a Taça São Paulo para jogadores desconhecidos: uma enorme vitrine para mostrar o seu trabalho. E em 2013, ela abriu um espaço para mim. Pela primeira vez em suas edições um clube de futebol, o Fluminense FC, montaria um estande. E como sou seu jogador que escreve livros, recebi o convite. Com quatro livros publicados, até então, descobri, decepcionado, que não tinha um só exemplar em minha casa. Faltavam três semanas para a Bienal e tratei de correr a reunir textos. E correr atrás de patrocínio.
A Copa do Mundo de 2014 estava se aproximando e saiu do forno “Arquibaldo, o Saudosista”, aquele que era do tempo em que a FIFA não mandava nos estádios da gente. Pela programação, a abertura seria na quinta feira, e mesmo fazendo plantão na Gráfica Boa União, da minha cidade, só consegui retirá-lo do forno às 15h00 da sexta feira. Entre busca de patrocínios, revisões, capa, formatação, fotos e licença junto ao jornalista Washington Rodrigues para dar vida a um personagem seu, não foram semanas de Paulo Coelho. Que apenas experimenta o terno e manda aparar o cavanhaque. Quando recebi as quatro caixas, coloquei no carro e parti para o Rio de Janeiro, estava uma pilha porque perdera justamente a festa de abertura.
Após enfrentar aquele engarrafamento na chegado do Rio, consegui estacionar no Riocentro às 18h00. E bem longe da entrada. E sai carregando uma caixa nos braços até a entrada em busca de um crachá. Quando o afixei, e perguntei pelo estande tricolor, me disseram que era no setor amarelo. O penúltimo naquela imensidão de editoras. E de livros. Após uma longa travessia, pedi desculpas à organização, deixei a caixa e voltei para buscar as outras três. Já duvidava ali se conseguiria. Ao retornar pela portaria, notei uns carrinhos de criança para alugar, e perguntei se era permitido carregar crianças-livro. Ao concordarem, coloquei duas caixas em cima e fui atravessando multidões, e alguns curiosos ainda paravam para ver se havia crianças nas caixas. Como eram duas, deveriam pensar que eram gêmeos pequeninos.
Livros entregues, carrinho devolvido, faltava ainda buscar a ultima caixa. Quando retornava e me aproximava da entrada, já não tinha nem pernas nem equilíbrio emocional. E pensava: o que é que estou fazendo aqui? Ninguém, absolutamente ninguém, foi capaz de entender minha luta para colocar aqueles livros ali. Sonhos de escritor são de uma solidão só. “-Vá vender hambúrgueres! Já me dizia um tio.” “Escrever livros? E de futebol que só tem leitores…? Esta ouvi de vários amigos.” E as despesas? Minha sábia esposa, vivendo realidades em meio a meus devaneios, sempre disse: “Você nem precisa dar mais lucro, mas já passou da idade de dar prejuízo”. Quando fiz a conta, a gasolina, o pedágio, o estacionamento,….daí me veio, ao me reaproximar da entrada, uma imensa vontade de sentar no meio fio e chorar em meio aquela confusão. Nelson Rodrigues, tricolor como eu, que estava com seus livros expostos por lá também, já havia escrito que era uma honrosa solução. Era o que me restava com aquela ultima caixa na mão, que parecia pesar 100 quilos, quando avistei a família do goleiro Félix, meu companheiro das Laranjeiras, ,recém falecido, saindo da Bienal.
Corri em direção da sua mulher e filhas e desabei. Quase em uma convulsão. Nunca chorei tanto em minha vida. Gostava dele, do Papel, seu apelido, mas, confesso, pegava ali uma carona na dor da perda e juntei a conta das minhas perdas e despesas. Lembram-se? Não havia vendido um só livro para amenizar e justificar minha presença por lá.
Quem passou naquele momento, pensou diante da cena, e as filhas imaginaram ante tamanho soluços: “Este gostava mesmo do meu pai!”. Me perdoe, Papel, o Gato Félix, por ter chorado um dia, embaralhado sentimentos, por nós dois. Você, tricampeão mundial, goleiro da nossa Máquina Tricolor, deve entender, com a visão aí de cima, o que é defender um sonho. Como se não bastasse ter defendido tantos sonhos de um ponta esquerda, se postara ali, através da sua família, a impedir que sucumbisse perante meus sonhos de escritor de esquerda. De verdade? Tenho saudades de você, das suas defesas, do cara bacana que foi e será sempre nas lembranças dos livros sofridos de um jogador que tanto lutou para ser um escritor.
• Esta crônica está no livro “Crônicas de um fracasso anunciado”, 2014, publicado logo após “Arquibaldo, o saudosista!”, de 2013. Oito livros depois feitos à mão, carregados em carrinhos, desde 1988, até que o Museu do Futebol, em São Paulo, resolveu conhecer esta história. De um ex-jogador de futebol insistente, que se formou jornalista e que mais livro publicou. Será neste sábado, dia 13/04, das 09h30 às 12h30, anexo ao Estádio do Pacaembú, na 109ª edição do MEMOFUT. Espero vocês porque a Luta não apenas vale a pena, como continua.
Copy of Zico e as Mulheres
O CANALHA MAIS QUERIDO
entrevista: Marcelo Mendez e Paulo Escobar | texto: Paulo Escobar | fotos e vídeo: Luiz Ricas
João Carlos Albuquerque, mais conhecido como Canalha, foi o nosso resenheiro desta semana.
Ao chegarmos no bairro do Sumaré, nos encontramos com aquele que sem dúvida deve ser um dos últimos resenheiros raiz. De bermuda, chinelo e óculos escuros aparece nosso canalha.
Com sua voz inconfundível, nos abraça e na promessa de uma cerveja pós resenha é que sentamos no parque Sabesp para conversarmos com João.
O que você vai assistir é sem dúvida a lembrança de um futebol mais alegre, dos campos mais acessíveis, dos tempos do rádio e dos boleiros mais próximos aos torcedores.
As histórias do rádio, os bastidores da televisão e claro um pouco do clube de seus amores, o Santos do rei.
Deixamos vocês com uma das resenhas mais descontraídas e à vontade que tivemos. E esperamos que sintam o prazer de relembrar os tempos que futebol era mais alegre, ao lado do nosso Canalha!!!
Divirtam-se!