PAIXÃO QUE ARREBATA
por Henrique Brandão
Três momentos, esta semana, reforçaram a convicção de que o futebol é o mais democrático dos esportes. É exatamente a possibilidade de reviravoltas, a imprevisibilidade do resultado, que faz do velho e violento esporte bretão essa paixão que arrebata mentes e corações no mundo inteiro.
As partidas entre Liverpool 4 x 0 Barcelona e Tottenham 3 x 2 Ajax pela semifinal da Champions League foram dois belos exemplos disso. O terceiro momento foi a partida entre Fluminense 5 x 4 Grêmio pelo Brasileirão. Em todas elas, mais que nunca, um jargão do futebol esteve em alta: o jogo só acaba quando termina. Todos os jogos foram decididos no segundo tempo. Os favoritos desceram para o vestiário no intervalo como vencedores (mesmo o Barça, que podia perder de 1×0) e terminaram a partida como derrotados.
O futebol é uma “caixinha de surpresas” , para usar outro clichê dos boleiros. Aí mora seu segredo: na possibilidade de David derrotar Golias, do fraco derrubar o forte, do improvável prevalecer. Nenhuma outra modalidade esportiva carrega consigo esta dose de incerteza. Por isso se rói unhas até o minuto final. Por isso as lágrimas escorrem ao fim do jogo, seja na vitória ou na derrota, como foi visto na partida entre o jovem time holandês e a milionária equipe inglesa.
São momentos como estes que ressaltam a magia do futebol. Os lances de improvisação acabam por superar a organização tática e decidem uma partida (como foi Lucas Moura hoje para o Tottenham) ou o capricho de uma bola que acaba acertando a trave (como o chute de Ziyech, do Ajax) transforma o esplendor do triunfo em agonia da derrota.
È isso que nos faz amar o futebol, para além do nosso time de coração. Nada supera o encanto de ver uma partida bem jogada, carregada de emoção.
Se for com as cores da nossa camisa, aí é a glória. Viva o futebol!
O FUTEBOL SOBREVIVE
por Luis Filipe Chateaubriand
Este signatário não costuma, normalmente, escrever sobre o futebol da atualidade, prefere proceder narrativas sobre o futebol do passado. Considera o futebol dos tempos atuais chato, enfadonho, monótono.
Contudo, vimos, nos últimos dias, jogos que trouxeram alento aos amantes do futebol bem jogado.
Em Porto Alegre, jogaram Grêmio x Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Na casa do adversário e perdendo por 3 x 0 com 21 minutos de jogo, o Fluminense foi buscar uma improvável virada, ganhando o jogo por inacreditáveis 5 x 4.
Em Liverpool, jogaram Liverpool x Barcelona, o segundo jogo de uma das semifinais da Champions League. Precisando vencer por quatro gols de diferença para se classificar à final, o Liverpool “sapecou” um contundente 4 x 0 em Messi em companhia, promovendo um triunfo quase que milagroso na terra do Beatles.
Em Amsterdã, jogaram Ajax x Tottenham, o segundo jogo da outra das semifinais da Champions League. Ao estar perdendo por 2 x 0 ao final do primeiro tempo, o clube londrino fez, no segundo tempo, os três gols que precisava para ir à final, virando o jogo para 3 x 2, na casa do adversário, com o gol decisivo no último minuto, em jogo que envolveu técnica, emoção, deslumbramento, surpresa e encantamento.
Em quatro dias, presenciamos três jogos de futebol inesquecíveis. Desses que ficarão lembrados pelas próximas décadas, certamente.
É pena que poucas vezes o futebol do presente seja assim, pois se puder sê-lo mais amiúde, essa invenção extraordinária do ser humano terá, certamente, vida eterna!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.
O GIGANTE DO FUTEBOL ESPANHOL
por Marcelo Soares
Multicampeão, peça chave de um dos maiores times de todos os tempos e campeão do mundo por sua seleção na África do Sul. Você já deve estar se perguntando, quanto um clube paga por um jogador como esse, já que as cifras atualmente são estratosféricas se tratando de grandes jogadores. Mas com Xavi Hernandez a história é diferente.
Formado em casa pelo Barcelona, foi lapidado com muita calma e quando estreou, a técnica apurada encantava a todos.
Dono de um pensamento tão rápido que velocidade física nunca foi tão necessária. No alto de seus 1,70cm, com apenas um toque na bola ou às vezes simplesmente por não tocar nela, deixava todos os adversários para trás e seus companheiros de frente para o gol.
Durante tantos anos vestiu azul e grená, cérebro de Pep Guardiola dentro de campo, peça chave do Tiki Taka espanhol, formou um dos melhores times de futebol de todos os tempos e comandava o meio-campo ao lado de Iniesta, tanto pelo clube como pela seleção espanhola. Conquistou tudo que podia, levou sua seleção ao inédito título da Copa do Mundo e fez algumas pessoas falarem que, sem ele, Lionel Messi não seria o mesmo.
Após anos desfilando sua arte e maestria, Xavi pendurou as chuteiras ou podemos dizer que ele aposentou o seu terno? Antes de sair de cena, ajeitou a gravata de seu uniforme de trabalho, mostrando a todos que para jogar futebol precisa-se mais de inteligência do que de força. Um dos melhores jogadores espanhóis, deixará saudades para os amantes de futebol.
DUELO HISTÓRICO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Há tempos não me emociono tanto com um jogo! Estava cansado, mas quando ameaçava dormir acontecia mais uma bonita tabela, um drible, um gol. Achei que estivesse sonhando e me belisquei. Um jogo sem violência, sem chutões, sem retranca. Uma partida para os amantes do futebol de verdade reverem mil vezes. E para os comentaristas reverem e se envergonharem, mas se envergonharem muito!!!
O que ouvi de atrocidades quando estava 3×0 é melhor esquecer e focar apenas no jogo, espetacular e acima de tudo emocionante, de arrancar gritos e lágrimas. Estava na sala, sozinho, mas em determinado momento fiquei de pé. Quem me acompanha sabe o quanto torço para que Fernando Diniz consiga levar adiante sua filosofia, que nada mais é do que uma tentativa de resgate do nosso futebol. Ele e Sampaoli precisam de novos seguidores.
Com a volta de Pedro a missão fica facilitada. Ainda estou muito feliz! Esse jogo entra para a lista dos históricos, como Vasco x Palmeiras, na Mercosul, e aquele Flamengo x Santos, com atuação de gala do Ronaldinho Gaúcho. No dia anterior, Felipão e Odair Hellmann nos brindaram com mais um festival de horrores e, se não assistiram, precisam ver o VT de Grêmio x Fluminense.
O Palmeiras fez mais um gol de bola parada, mas se venceu é o que importa. E é justamente esse pensamento pequeno que está contaminando a cabeça da torcida. O próprio Cássio, goleiro do Corinthians, sugeriu perguntarmos aos torcedores se eles não preferem jogar feio e ganhar. Está errado! O torcedor do Grêmio tem que ter saído feliz do estádio porque o time nos presenteou com futebol.
Como joga esse Jean Pyerre! E que tabelinha linda em seu gol! Não é possível que os professores não entendam que o caminho é esse!!! Impossível não voltar a 82. Aquela derrota fez nascer o futebol de resultado, da eficiência. Ganhamos duas Copas, e daí? Em troca, enterraram um estilo.
O Barcelona perdeu uma final para o Internacional, com gol de Gabiru. O Barcelona seguiu em frente, não mudou o estilo e continua reinando no futebol atual. O Inter parou no tempo e insiste nesse modelo ultrapassado de jogar bola. Hoje, os times brasileiros com mais dinheiro não empolgam. Enchem estádios _ se 50 mil é considerado muita gente _ mas não tocam o coração.
Minha alegria só não foi completa por conta do acidente de Mendonça, que continua sua luta contra o alcoolismo. Esse é um representante legitimo do futebol arte, camisa 8 que marcou seu nome no Glorioso mesmo sem ganhar títulos. Seu estilo romântico e poético de jogar bola também foi soterrado pelos novos astros, os velocistas e brucutus.
Também queria que Mendonça tivesse assistido a esse Gremio x Fluminense. Sei do desgosto que sente com o futebol atual. Se Deus permitir que meu amigo supere mais essa vamos rever esse jogo e celebrar juntos o seu renascimento e o do futebol.
INTERNACIONAL 1975/1979
por Marcelo Mendez
O ano era 1969 e o Brasil não era nem de longe, algo que poderia ser exemplo de integração.
Um país de dimensões continentais sim, mas que também não fazia o menor esforço para se conhecer, para se falar e se frequentar. Era o Brasil da ditadura militar, do chumbo do AI-5, das mortes e sangues espancados em paredes de masmorras muquiadas por todas as capitais.
Era uma época que o Brasil não fazia questão de se conhecer, em linhas gerais.
Dessa forma, dá pra dizer que o Sul do Brasil era longe demais de Rio e São Paulo. Explica-se por aí, o fato de um time enorme construir um estádio gigante, à beira do Rio Guaíba e ainda assim, não ser noticia nesses grandes centros da vez.
Pois…
Foi nesse ano, que nasceu um estádio chamado pelos seus como O Gigante da Beira Rio, de onde se formou um time que uns anos depois viria a ser o melhor time do mundo. Viemos para falar desse time hoje.
O ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO vem para falar do Internacional dos anos 70. O Colorado de 1975/1979
A FORMAÇÃO
Lógico que o começo foi uma beleza.
Em 1969 com a construção de seu estádio, o Internacional quebrou uma hegemonia que era do Grêmio, interrompendo o hepta e começando a fila de títulos gaúchos que viriam a dar no octacampeonato de 1969/1976.
Consta ainda como sendo dessa época, a chegada de um moço catarinense para o time de cima, estreando por lá em 1973, de nome Falcão. As canteiras também trouxeram Batista, também surgiu Jair, Flavio, o lendário Valdomiro, o bom ponta esquerda Lula que veio do Rio, a zaga forte com Elias Figueroa e um jeito de jogar futebol extremamente moderno para a época, comandado por Rubens Minelli.
Não poderia dar errado e não deu.
Com Minelli, o Colorado deixa de ser apenas regional e vence de braçada dois Brasileiros, o de 1975 contra o Cruzeiro e o de 1976 sobre o surpreendente Corinthians. Do sul do país surgia um gigante, forte, jogando pra frente, dando shows em cima de shows.
O Internacional era uma realidade no Brasil.
PARA SER O MELHOR DO MUNDO
Em 1979 tudo era uma incógnita para o Colorado.
Há de se pensar que o Grêmio já havia quebrado a série de títulos colorados em 1977, que novas forças como Santa Cruz e Guarani se apresentavam para o Brasil e uma renovação tendo que ser feita deixou tudo em suspense no Sul.
Rubens Minelli deixa o comando técnico para Enio Andrade que passa a ter Benitez para o gol no lugar de Manga. Para a lateral, João Carlos, zaga composta por Mauro Galvão com 18 anos e Mauro Pastor. Lateral esquerda era de Claudio Mineiro e dele pra frente, pouco havia mudado; Falcão, Batista, Jair, Valdomiro, Bira e Mário Sérgio.
Um timaço!
O Inter não só venceu 1979, mas com requintes de máquina, amassando todo mundo e chegando de forma invicta ao título em cima do Vasco com duas vitórias, nas decisões.
Naquele final de década as forças do futebol mundial se equivaliam e tudo estava mudando. Os Alemães e Holandeses de Bayer e Ajax davam lugar a supremacia inglesa que viria com Liverpool, Notinghan Forest e Aston Villa. Pensando nisso não é loucura dizer isso que afirmarei agora:
O Internacional de 1975/1979 era um dos maiores times do mundo.
Manga, Claudio, Marinho Perez, Figueroa e Vacarria. Batista, Falcão e Jair. Valdomiro, Dario Maravilha e Lula formam a base dessa máquina.
A eles nossa homenagem.