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AS NOSSAS MULHERES FORMIGAS

por Zé Roberto Padilha


Apesar do descaso das pessoas daquele lugar, do abandono em que são constante vitimadas, as mulheres formigas não são uma espécie em extinção. Elas desaparecem e surgem em igual tempo e espaço pelas principais arenas do mundo. Seja durante uma Olimpíada ou em uma Copa do Mundo. As mulheres formigas do futebol brasileiro são espécies para serem estudadas pela Nasa. Pois são todas sobreviventes heroínas. E parecem surgir do nada com a missão de dar a seu povo orgulho demais.

Sem campeonatos municipais para realizar sua preparação de base, raras ligas desportivas à disposição, poucos estaduais e fora do calendário nacional, não contam com uma formação básica nos colégios. Como as americanas, as inglesas e as suecas. E ainda enfrentam um preconceito dentro de suas tocas que não cabem debaixo das suas saias. Jogar futebol? Escutam dentro de casa: isto é coisa para homem!

Assim pensam os habitantes do lugar aonde sobrevivem ocupando diversas profissões para sustentar a família. E comprar a própria chuteira. Quem pensava diferente, o jornalista Luciano do Valle, precocemente deixou sua espécie sem o único meio de comunicação que lhes dirigia atenção, campeonatos e oportunidades. Bandeirantes, o canal do esporte.

Durante a hibernação, algumas espécies saem pelo mundo em busca de uma equipe que as mantenha com os pés em movimento. Mas a maioria fica mesmo por aqui, jogadas à própria sorte. Vendo isto, Deus, sempre justo, fez de uma mulher formiga daquele ingrato lugar a abelha rainha. E Marta se tornou a melhor do mundo. Pouco adiantou. Continuaram esquecidas.

Domingo, as mulheres formigas do futebol voltaram a campo. Os cartolas do futebol brasileiro mal sabiam os seus nomes, de onde vieram, que equipe defendiam e desconhecem a superação que as fizeram chegar até ali. Devem achar que elas surgem de um toque de Marta, digo, de um passe de mágica, e mesmo assim, estavam sorrindo na Tribuna de Honra porque receberam um mês em Paris com tudo pago. Com o suor que não foram seus mas com a cara de pau que tem a cara, a marca e o descaso da CBF com o futebol feminino.

Liberdade, de jogar bola no colégio. Igualdade, nos clubes de futebol do país. Fraternidade, de uma sociedade machista que passe a reconhecer sua vocação e talento. Inaugurado pelos antepassados de suas adversárias durante uma revolução social, quem sabe um dia tais conceitos, de solidariedade e respeito, sejam também lhes concedidos?

Mulheres formigas do futebol brasileiro, nós temos orgulho de vocês.

Bráulio

O GAROTO DE OURO

entrevista: André de Oliveira | texto: Freddy Paz | vídeo: Alex Racor

Marcamos o nossa entrevista na Federação Gaúcha de Futebol, local onde o Bráulio trabalha, nos recebeu super sorridente, enquanto a equipe arrumava os equipamentos para a captação já íamos conversando, estava bem empolgado com a entrevista.

Nossa conversa fluiu super bem, as vezes nem precisava fazer a próxima pergunta para o ex-jogador, ele mesmo já ia contando com todos os detalhes. Na conversa falou do seu gol antológico no antigo estádio dos Eucaliptos e que por esse feito recebeu o apelido de Garoto de Ouro, falou também das suas sequências de campeonatos gaúchos, das passagens pelos times do Rio de Janeiro, América-RJ e Botafogo, e da sua rápida passagem pelo Universidade do Chile.

No final da entrevista nos mostrou todas as salas da Federação, um anfitrião completo.

Assistam!
 

 

O ACERVO PRECIOSO DE ORLANDO PINGO DE OURO

texto: Breno Mulinazzi | vídeo e edição: Daniel Plael

Com a ajuda da encadernadora Chris Lee, da Manufatura, e da colaboração de amigos Mauro Magalhães, Luis Fernando, Heraldo Nunes e André Paraizo, a equipe do Museu restaurou o acervo precioso de Orlando Pingo de Ouro, o segundo maior artilheiro da história do Fluminense, e entregou a caixa para Breno Mulinazzi, neto do craque.

Nunca tive muito contato com o meu avô. Ele morreu quando eu era muito novo, então o que eu sei dele, é por meio de historias, geralmente contadas pela minha vó e pela minha mãe. Dessa forma, a experiência que tive com o Museu da Pelada foi muito importante para conhecer o meu avô melhor. Todo o material que eles resgataram estava há muito tempo guardado e eu nem sabia da existência de algumas coisas. Vi contrato, cartões de colecionador, além de fotos que nunca tinha visto antes. Tudo muito bem restaurado e com um acabamento muito bem feito.

Então, eu só tenho a agradecer ao Museu da Pelada, por me permitir vivenciar isso, por preservar todo um passado. Muito obrigado a todos.

VINTE E UM DE JUNHO, O FIM DO JEJUM

por Leandro Costa


Vinte e um de junho de 1989, o Botafogo entra em campo para a segunda partida das finais do Campeonato Carioca contra o Flamengo. 

Nas mãos de Ricardo Cruz, a segurança de não ser vazado.

Na tranquilidade de Josimar, a certeza de boas jogadas.

Na raça de Gottardo, a vontade de dar fim à agonia.

Na classe de Mauro Galvão, a tranquilidade de um craque de Seleção.

Na regularidade de Marquinhos, a confiança em uma boa marcação.

Na categoria de Carlos Alberto, a saída de jogo com qualidade.

Na força de Luisinho, a paixão do torcedor em campo.

Na alma de Vitor, a garantia de muita entrega.

Nos dribles de Maurício, a mística da camisa 7.

No oportunismo de Paulinho Criciúma, a chance do gol.

Na habilidade de Gustavo, a força do ataque.

No comando de Espinosa, a estratégia da vitória.

Em casa, na geral, nas cadeiras ou nas arquibancadas, a esperança de toda uma torcida que há vinte e um anos não via seu time ser campeão. 

Os corações alvinegros disparam Brasil afora. Jogo duro, pegado, o adversário chega mais perto do gol. Gustavo sai contundido no final do primeiro tempo. Mazolinha entra em seu lugar com um ímpeto de incendiar a partida.


No intervalo, Maurício, com 40 graus de febre, pede para sair. O comandante Espinosa convence o ponta a continuar no jogo dizendo que havia sonhado que o Glorioso venceria com um gol dele. Anos mais tarde Espinosa revelou que não sonhou mas que não poderia perder Maurício naquele jogo. Realmente seria impensável o Botafogo sem o seu camisa 7 no jogo mais importante do clube em 21 anos.

Começa o segundo tempo e logo aos 12 minutos, Mazolinha, aquele mesmo que havia entrado no final do primeiro tempo, cruza para Maurício, o sete, que apesar da febre não saiu no intervalo, escorar a bola para o fundo das redes do adversário. 

Quando finalmente o árbitro encerra a partida, chega ao fim um jejum de 21 anos sem títulos. Vibra a criança, chora o homem, ri a mulher, se abraçam os jogadores, se liberta uma geração que não sabia o que era ser campeão. Comemora a torcida, por vinte e um dias, vinte um meses, vinte e um anos, ou trinta, como fazemos agora. Comemora porque não há nada mais Botafogo do que renascer. E se o clube tem três datas especiais para comemorar seu aniversário (dia da fundação do Regatas, dia da fundação do Football e dia da fusão dos dois clubes) por que não comemorarmos para sempre o dia do fim do jejum? Parabéns, Botafogo!! Ah, obrigado pelo presente de aniversário para o menino que acabara de completar nove anos na véspera da decisão. Inesquecível e incomparável a qualquer brinquedo da época ou de qualquer época. Coisas da bola, coisas do Botafogo.

SAMPAOLI: O RESGATE DE SI, DA LEVEZA E ALEGRIA DO FUTEBOL SANTISTA

por Ivan Gomes


Estamos nos dias finais para encerrarmos o primeiro semestre de 2019. Nesse quase meio ano, quem torce para o Santos Futebol Clube pode acompanhar o renascer de um técnico que, com seu renascimento, resgatou a alegria e a leveza da prática do futebol no alvinegro praiano, algo que não víamos há alguns anos.

Um dos clubes mais vitoriosos e respeitados do futebol brasileiro e mundial precisou que um argentino, deixado quase no ostracismo após mau desempenho na Copa do Mundo de 2018 com sua seleção, resgatasse aquilo que todo santista sempre gostou: ousadia, gols e belas jogadas. 

Desde as primeiras apresentações do time de Sampaoli notamos que poderíamos ter algo diferente. Muitos disseram, após alguns jogos, que ele não havia inventado a roda. Óbvio que não! Sampaoli fez somente o básico. Estudou, buscou se aprofundar na história do clube. E o que ele fez não é invenção, mas sim o resgate dos bons tempos, que todo torcedor sente falta. E esse jeito que gostamos de ver nosso Santos jogar, encaixa perfeitamente com o estilo de jogo que o argentino gosta de proporcionar ao torcedor/espectador.

Quem acompanhou o moribundo Santos de 2018 e vê o Santos em 2019 não acredita que o time é quase o mesmo, sem citar que perdeu dois atacantes considerados importantes: Gabriel e Bruno Henrique. A diferença de um ano para outro é abissal. O alvinegro praiano, se não me falha memória, estava na zona de rebaixamento na nona rodada do Brasileiro passado, este ano é vice-líder.

Com reposição de algumas peças e o trabalho no dia a dia, Sampaoli transformou aquele time que teve somente apresentações pífias com Jair Ventura e Cuca em um time que pratica um futebol leve, que ataca, que não se dá por satisfeito, mesmo quando o placar aponta vantagem considerável. Não tem esquema de atacar em casa e jogar fechado fora, é sempre o padrão de busca pelo gol, não há qualquer custo, mas com um jeito que foi muito difundido nos primeiros meses dele na Vila: amor pelo balón. 


Outra obviedade é que não se consegue mudar tudo de hora para outra, a aposta no tempo é essencial. Críticos dirão que o Santos foi eliminado de quase tudo neste ano. Que a equipe sofreu algumas goleadas. Não negamos isso. Mas acreditamos que são percalços inerentes ao crescimento e mudança de estilo e padrão de jogo. 

Talvez as sementes plantadas por Sampaoli este ano ainda não rendam frutos. Espero que a torcida não seja tão imediatista, assim como a diretoria, e deixem o argentino trabalhar e lhe deem condições para isso. O próximo ano pode ser melhor, um exemplo, apenas uma analogia, o Liverpool investiu no tempo quando contratou Klopp. O retorno começa a ser dado algumas temporadas e derrotas depois.

Claro que queremos ver nosso time campeão todo ano se possível, mas não é assim que “a banda toca”. Quem acompanhou o Santos ano passado pela TV, rádio, internet ou arquibancada, sabe o quanto foi sofrido. Este ano, ao menos, vemos um time com vontade, com ímpeto, que se impõe, que respeita a camisa e toda história feita pelos gigantes que um dia passaram e fizeram história na Vila Belmiro.

A Sampaoli fica o agradecimento por tudo que ele fez. Enquanto ele resgatou nosso futebol, nós o resgatamos como técnico. Que a partir de agora, o alvinegro não saia dessa trajetória, pois como bons santistas que somos, não nos basta apenas vencer, mas sim convencer, assim como foram nossos títulos à época do rei Pelé, assim como em 2002 com os Meninos da Vila.