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QUE HINO É ESTE QUE TOCA E NÃO NOS TOCA?

por Zé Roberto Padilha


Retirem as crianças da sala, para não que elas não reparem a distância que eles tomaram. E poupem nossos pais, saudosos, para que eles não percebam que nossos ídolos, até então tão próximos, ficaram tão distantes e diferentes de nós. No Globo Esporte, um helicóptero, último modelo, fretado, saía da Granja Comary levando nossos jogadores, em seu dia de folga, para o Rio de Janeiro. Tão perto Teresópolis da Cidade Maravilhosa, com suas pavimentadas e belas estradas esculpidas em torno de um visual tão bonito, carregado de hortênsias e admiradas por um dos dedos de Deus, por que não voltaram de lá naquele luxuoso ônibus da CBF pago com o dinheiro dos nossos impostos?

Você começa a perder um grande amor quando deixa de tocá-lo. Quando um da relação chega cansado e mal tem tempo para lhe conceder um abraço. O que dirá se não lhe for servida uma taça de vinho. E ainda ganhar um beijo de tia, na face. É hora, definitivamente, de começar a desconfiar desta paixão esportiva. Não há como alimentá-la quando todos eles, jogadores da seleção brasileira, cercados de segurança para não serem assediados, com fones de ouvidos para não perceberem o clamor da massa que ainda os idolatra, passam um definitivo recado quando desembarcam diante das suas invioláveis armaduras da Nike: “Por favor, Não me toques!”.

Há dois anos, Richarlison chegou ao Fluminense, em seu Toyota 2017, pela BR 040. Veio dirigindo desde Belo Horizonte, onde defendia o América FC. Dois anos depois, na segunda-feira passada, foi o primeiro a chegar na Granja Comary. E desembarcou de uma limousine tão grande e blindada, que nenhum torcedor por lá de plantão se sentiu seguro a aproximar. E lhe dar um abraço de boas-vindas ao seu país e a sua seleção. Lhe desejar boa sorte e pedir um autógrafo. Seria a Carmem Lúcia que chegava? O Governador do Estado? Ou seria o próprio presidente Jair Bolsonaro?


Em um país tão desigual, nossos jogadores cada vez mais deixam suas origens, sua língua, seu hábitos e cultura para ser tornar, diante da primeira Champions League, mais um cidadão desigual. Do real para o euro, do Flamengo para o Real Madrid, do Fluminense para a zaga do Paris St. Germain, se distanciam dos seus torcedores trabalhadores que acordam às 4 da madrugada de Caxias, Mesquita e São João de Meriti para pegar uma composição da Supervia. E que retornam espremidos às 18h, mal veem seus meninos acordados, mas que tinham orgulho de economizar um pouquinho da feira para vê-los atuar no domingo. E na outra quarta também. Como ter time e trabalho misto se jamais na construção civil surgiu o Diego, o operário Arrascaeta misto a os poupar?

Na preparação das maiores competições oficias, ficávamos colados aos alambrados do Hotel de São Lourenço, da cidade de Caxambu, do clima ameno e das Águas de Lindóia, onde se preparavam para uma Copa do Mundo. Todos iam buscar um calor, um carinho e um autógrafo com a humildade de Mané Garrincha. Com a cumplicidade de um Carlos Alberto, do Santos, do Brito, que defendia o Vasco, do Piazza, ídolo do Cruzeiro, e Everaldo, a simplicidade convocada junto ao Grêmio. Hoje, protegidos pelo Daniel Alves, da Juventus, Thiago Silva e Marquinhos, do Paris St Germain, e Marcelo, do Real Madrid, nossa seleção não respira mais o cheiro da segurança e esperança das quais almejam seus compatriotas.

Quando aquele helicóptero subiu na telinha do Globo Esporte, e estragou nosso almoço de tão soberba a aparição, parecia um aviso que vinha dos céus e que iria percorrer cada pensamento dos nossos ídolos alienígenas antes do começo de cada partida da Copa América: “Que hino é este que toca e não mais nos toca?”

CAREQUINHA, O BOTECO E O FUTEBOL

por Paulo Escobar


Num boteco de madeira debaixo de um viaduto na radial leste é possível ver a paixão nas paredes daquele canto. Sentado no seu sofá, olhando aquela TV de tubo é possível pedir um cigarro solto ou uma dose de cachaça.

Carequinha, como é conhecido, serve cada maloqueiro daqueles quase 300 que passam por dia, alguns para desabafar e outros para pedir fiado, apesar da placa: “Fiado nem na bala”.

Ali foi construído um verdadeiro altar ao Palmeiras, ali é sofrimento e alegria rolando solta. Naquela radial leste sentido Itaquerão, muitos corintianos já gritaram alguma provocação a caminho do estádio.

E justamente nos clássicos que Carequinha não permite que os rivais assistam o jogo no seu boteco, pois dá azar o rival no mesmo ambiente.

A seleção da CBF naquele espaço não é tão importante quanto os jogos do Brasileiro. Sagradas são as rivalidades e zoeiras em dias de jogos.

Para Carequinha, Palmeiras tem mundial, e naquela parede de madeira encontra-se uma foto de revista com Ademir da Guia, pois cada um tem seu Deus e nós, como inter religiosos, o respeitamos.

Um dia, um ônibus da Mancha Verde a caminho do estádio parou naquele boteco, e levou Carequinha ao estádio. Foi o dia que Carequinha conheceu a Arena. Lugar no qual só poderia estar graças a essa atitude.

Em dias de jogos decisivos, os moradores de rua da maloca prestam atenção ao que ocorre no boteco. Acontece que em dias de jogos decisivos ou de títulos, Carequinha abre uma caixa de corote e distribui para a geral. Acredito que mais de um torcedor rival torceu pelo Palmeiras, pois cachaça de graça pra quem tem dificuldade em comprar não é todo dia.

No bar do Carequinha debaixo do viaduto Alcântara é vivido o futebol da forma mais raiz possível, ali aonde os deixados à margem dos estádios e canais fechados ainda vivem suas paixões no rádio.

Sim ali no boteco da maloca ouvir jogo no rádio ainda é tradição. Ali a paixão é vivida de forma muito intensa, pois muitas vezes debaixo de um viaduto de uma cidade rica, que destina milhares à pobreza, a única coisa que não se tira é a paixão.

Por mais que muitos insistam em transformar o futebol em esporte de gente rica, nas malocas a paixão intensa e de coração não será roubada.

 

PORTUGAL CAMPEÃO DA EUROPA

por Luis Filipe Chateaubriand


Muitos não imaginam isso, mas não sou brasileiro. Embora more no Brasil há 45 anos, dos meus 48 de vida, nasci na cidade do Porto, em Portugal.

Assim, as raízes portuguesas fazem parte de meu ser. Isso me levou, por exemplo, a ser torcedor do Vasco da Gama, o clube da maioria dos portugueses do Rio de Janeiro.

Fã, amante e apreciador das coisas de Portugal que sou, em 2004 me direcionei para assistir à final da Copa Europeia de Seleções. Na casa do meu pai, nos preparamos para ver Portugal x Grécia, a final, realizada em Lisboa, pela TV.

A jornada não foi feliz: Portugal perdeu. Fomos vices, derrotados jogando em casa. Gosto amargo na boca, para mim e para meu querido pai.

Se passaram 12 anos e, em 2016, Portugal chega novamente à final da Copa Europeia de Seleções, em uma final em Paris contra a França.

Jogamos na casa dos anfitriões, o time deles era melhor, perdemos Cristiano Ronaldo ainda no início do jogo. Ainda assim, contra tudo e contra todos, vencemos de 1 x 0.

Ao momento que Helder faz o gol que viria a ser o do título, grito e choro como uma criança! Ao apito de fim de jogo, danço de alegria!


E penso em meu pai, falecido em 2015, ano anterior, e falo a ele mentalmente: “Meu velho, essa é para você!”.

É curioso, pois há muito tempo não tenho esses arroubos com glórias ou decepções futebolísticas – seja quando o Vasco da Gama está em ação, seja em relação à própria Seleção Brasileira. Mas, quando Portugal vence e se sagra campeão, é como voltasse a ser criança. Por que será? 

Sem dúvida, homenagem ao meu velho, por quem choro de saudades enquanto escrevo estas linhas. Ao povo português, do qual tenho honra de fazer parte. E a Portugal, nação valente e imortal!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

A TAÇA DE CRISTAL

por Zé Roberto Padilha


Nielsen Elias foi um grande goleiro. Chegou em 1968 às Laranjeiras com 16 anos. E foi ficando junto comigo, Abel Braga, Marinho, Rubens Galaxe, Silvinho e Marco Aurélio até 1975. Ganhamos muitos títulos, perdemos outros e nos tornamos grandes amigos. Mas o que nos chamava a atenção era a sua dificuldade de jogar na linha. Não sabia driblar, chutava mal, tinha mesmo que ser goleiro. E que goleiro. Nos treinos recreativos divertia a gente jogando de centroavante. O gol não era mesmo a sua praia. Em compensação lá, debaixo de paus, vi poucos arqueiros parecidos.

Dezoito anos depois nos reencontramos nas Laranjeiras. Era o treinador de goleiros dos profissionais e eu técnico dos Juniores. E ao vê-lo bater bola com o Wellerson, fiquei impressionando: já chutava tão bem ou melhor que o treinador profissional, que era nada menos que o Edinho. Nielsen se aprofundou neste fundamento, essencial para sua nova profissão e importante nos dias de hoje na vida de um grande goleiro.


Foram dezoito anos, não seis meses. É neste exíguo tempo que o Fernando Diniz quer exigir que aquele cara ruim de bola, que desde criança, por falta de habilidade com os pés, foi convidado a ir para o gol e usar as mãos, se adapte ao seu sistema de jogo. E saia jogando com os pés. O resultado? São obrigados a fazer o que não sabem.


E os treinadores, como o do Bahia, orientam seus Gilbertos para dar o bote. Uma vez perdida a bola, não há cobertura. Eles, os goleiros, são nossas ultimas fortalezas.

Não culpem nossos goleiros tricolores. Esta nova função precisa ser repassada, em Xerém, aos treinadores de goleiros dos infantis, juvenis e juniores. Iniciar tal jogada pelos profissionais, é como entregar nas mãos de seu neto, de 3 anos, uma taça de cristal inglesa que pertenceu a seus avós. Como em toda bola atrasada pelos zagueiros tricolores, vamos ficar rezando na sala para que eles não a deixem cair.

PALMEIRAS 1993/1994

por Marcelo Mendez


Domingo, 19h15min da noite, Vale do Anhangabaú, numa boca da noite de 1992. Triste.

De rosto colado na janela de um velho ônibus da Cmtc caindo aos pedaços, eu ouvia o silêncio. Talvez o único barulho que pudesse ser escutado ali era nosso orgulho alviverde despencando por mais um ano de fila. Eu voltava do Morumbi após mais uma derrota.

Havia sido um ano duro.

O Brasil passava por transformações, a pátria verde amarela acabara de sofrer um impeachement, um governo caiu de podre e de tudo mais. A nossa moeda chamava cruzado novo, viraria uma outra coisa que a gente não sabia o nome, os amores eram de plástico e o time, meu Palmeiras… Ahhhh o Palmeiras…

Naquele domingo, o Palmeiras tinha acabado de levar um passeio do São Paulo que voltava do Japão campeão do mundo, para fazer a festa em cima da gente. Perdiamos a decisão do Campeonato Paulista e mais um ano de fila havia sido somado à nossa conta. Já eram 17 ao todo. Tava doendo.

Ali, naquele bar do vale, eu afogava minha dor num balde de Dreher com cacau, ouvindo músicas suspeitas e vendo rostos pouco receptivos à minha pessoa. Não sabia o que podia acontecer, o que viria pela frente, a sensação era que aquela dor jamais ia acabar. Mas eis que chega 1993 e pra nossa alegria, as coisas mudariam por conta desse time que falaremos hoje.

ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO traz a vocês a máquina verde do Palmeiras 1993/1994

FUTEBOL E FÁBRICA DE LEITE?


Ninguém sabia muito bem que diabo era aquele troço, “Parmalat”.

Sabíamos que vendiam leite e tal, mas no futebol? O que queriam? Nos falaram de uma nova concepção de gestão esportiva, uma melhora na administração do futebol do clube e tudo mais, todavia, os primeiros indícios foram estranhos.

Começa pela mudança na camisa do Palmeiras, que deixou de verde da cor do mar de Amalfi, para ser uma camisa riscadinha, verde clara, meio triste, estranha. Depois os jogadores, tudo bem, Jean Carlo, Maurilio, Carlinhos, Edinho, bons jogadores, mas caramba, era isso que queriam que acreditássemos?

Pois bem. 1992 acabou com um honroso segundo lugar no Paulista, mas precisávamos de mais. Sendo assim 1993 veio para o patrocinador abrir o bolso. Chegam no Parque Antartica, Roberto Carlos, lateral esquerdo vindo do União São João de Araras, Antonio Carlos voltando da Espanha, Edmundo do Vasco, Edilson do Guarani, para se juntar a Mazinho, Sampaio, Zinho. O time encorpava e o resultado não podia ser diferente…

ACABOU A MISÉRIA

A final do Paulista 1993 foi o titulo para lavar a alma.

A fila acabava com o Palmeiras voando para cima do Corinthians, foi um 4×0 inapelável. Dessa forma, o time cria casca e com os reservas, vence o Corinthians novamente no Rio-São Paulo e entra com tudo no Brasileirão.

Campeão em cima do Vitória, nadando de braçada. Acabava a miséria; O Palmeiras voltava a ser campeão.

1994, A MÁQUINA VERDE!


Fernandez, Claudio, Antonio Carlos, Cleber e Roberto Carlos. Cesar Sampaio, Mazinho, Rincon e Zinho. Edmundo e Evair.

!!!!

Esse time do Palmeiras de 1994 no primeiro semestre daquele ano, foi um espetáculo.

Passearam em cima de todo mundo, venceu o Campeonato Paulista, amassou o Boca Juniors na Libertadores e mesmo após a débâcle após a Copa, seguiu firme e venceu o Campeonato Brasileiro daquele ano, conquistando um bi com sobra, com elegância, com força.

Passou por todas as fases jogando um futebol com excelência, venceu o Corinthians na decisão e marcou o seu lugar na história com 5 títulos conquistados em 18 meses. Passa a fazer parte do seleto grupo de grandes times do Palmeiras e aqui nesse humilde espaço também.

Esquadrões do Futebol Brasileiro saúda aqui o Palmeiras de 1993/94