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M DE MARADONA, DE MESSI E DE MORDILLO

por Marcos Vinicius Cabral


“As pessoas às vezes me perguntam como surgem as ideias. Para mim, está claro: elas são como borboletas, que voam de uma forma fugaz e eu tento capturá-las”, disse numa ocasião, Guillermo Mordillo, cartunista argentino e falecido no último sábado (29), aos 86 anos.

Argentino de Buenos Aires, onde nasceu, em 1932, Mordillo foi catapultado para o sucesso em Paris, no comecinho de 1963.

Por não ser fluente em francês, a ausência de legenda nos cartuns foi introduzida no seu traço firme e visualmente marcante no humor gráfico, tornando este estilo a marca registrada que acompanhou toda sua carreira.

Seus personagens de nariz grande arredondado ou a inserção de animais, especialmente a girafa em seus desenhos, não eram tão notados quanto à sua mensagem.

Toda uma geração de cartunistas foi privilegiada em ter podido ver na infância, muitos de seus maravilhosos trabalhos.

Beber desta fonte inesgotável e imitá-lo, não seria de se estranhar como muitos deles fizeram.

Assim como os conterrâneos Maradona e Messi, Mordillo foi nos campos de futebol, o camisa 10 de uma geração de cartunistas mundo afora.

Cracaço na acepção da palavra, sua genialidade não era nas jogadas, ou dribles desconcertantes, ou ainda gols inesquecíveis, mas sim em fazer o leitor ver, pensar e entender seu desenho.

E ele comemorava com uma ironia silenciosa.

Acreditamos que todos nós cartunistas, estamos sempre sozinhos e a criatividade é a única forma de nos fazermos menos isolados.

Portanto, Mordillo, com sua arte, dominou toda a extensão do gramado e fez a sua criatividade brilhar dentro das quatro linhas.

Não chutava uma bola mas a desenhava com riqueza incomum nos detalhes.

Neste esporte coletivo, chamado futebol, que continua com o poder de alcançar multidões, seu trabalhou alcançou o mundo.

E talvez tenha sido sua última vitória, em um país que produz extrasséries com a letra M de Maradona, de Messi e de Mordillo.

* Marcos Vinicius Cabral é jornalista, chargista, cartunista, caricaturista e artista plástico.

TODO MUNDO TENTA, MAS DEZESSETE ANOS DEPOIS…

por Israel Cayo Campos


30 de junho de 2002. Última vez que o futebol brasileiro se sagrava campeão mundial! Era o quinto título do Brasil em Copas do Mundo! 

O Jogo contra a Alemanha sem o astro Ballack, que estava suspenso por dois cartões amarelos, teve na maior parte do tempo a superioridade da Seleção Brasileira.

A Alemanha que fora até aquela final em Yokohama de vitórias de 1 a 0 em 1 a 0 se fechou de início.

No primeiro tempo em passe “açucarado” de Ronaldinho, o Fenômeno perdeu um gol na cara do temido goleiro Óliver Kahn. 

Poucos minutos depois, Kléberson, um desconhecido que havia ganho a titularidade de Juninho Paulista quase entra para a história das Copas. Com um drible seco e um chute com efeito, balançou o travessão do goleiro alemão! 

Mas o primeiro tempo terminava sem gols… Desde 1970 que o Brasil não marcava em uma final de Copa…

No segundo tempo o tabu caiu. Ronaldo perde e recupera a bola, passa para Rivaldo que chuta, o “intransponível” Kahn falha bisonhamente! Ronaldo como um bom camisa nove coloca o Brasil na frente aos vinte e um minutos da segunda etapa.

Faltando onze minutos para o fim, Kléberson que estava predestinado a brilhar naquela final, arranca pela direita, passa para “O Fenômeno” que ajeita e bate no cantinho do goleiro alemão. 


A primeira Copa disputada no continente asiático, e em dois países, era nossa! Brasil dois a zero! 

Ronaldo seria eleito o melhor da partida e um exemplo de superação para milhões de brasileiros.

“O Fenômeno” vinha de duas lesões no joelho que praticamente eram o fim de sua carreira, mas não foram!

A Alemanha pressionou no fim do jogo, mas aquela era noite (ou dia aqui no Brasil) da seleção verde e amarela! São Marcos e a trave garantiram a vitória tranquila! 

Contudo, o melhor jogador da Copa fora Óliver Kahn, que cometera uma falha ao nível Schroif da Tchecoslováquia para Vavá em 1962. 

Um dos absurdos que os jornalistas contratados pela FIFA cometeram antes de ver o jogo final.

Mesmo com os dois na final e a artilharia da Copa, esse prêmio não deveria ser dado a Ronaldo, mas a Rivaldo. Que fez seis tentos e a ainda participou diretamente de mais quatro importantes gols do Brasil naquela campanha! 

Ao som de Ivete Sagalo e de Zeca Pagodinho, a Seleção do capitão Cafu, 100% Jardim Irene, levantava o quinto título mundial do Brasil…


Já se vão dezessete anos, mas o Brasil continua sendo o maior vencedor do maior evento esportivo do mundo graças aos gols de Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Cia na Copa do Japão e da Coréia do Sul em 2002. 

Na volta, vale lembrar a alegria do Vampeta, que só um “pouquinho” embrigado deu cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto na frente do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso! 

Vampeta não ficou milionário com aquela conquista como os jogadores de hoje são. Claro, está muito longe de estar pobre como os campeões do passado. Mas ele sabia o que talvez a maioria dos jogadores atuais não saibam.

Que o respeito por um jogador não se mede pelo o quanto ele ganha, mas sim pelo que ele ganha dentro dos gramados! 

Ainda mais uma Copa do mundo! Ficar marcado para história é algo que talvez essa geração não se importe muito!

Mesmo vencendo três Copas das Confederações, duas Copas Américas (talvez esse ano a terceira!) e sendo líder de Eliminatórias e do Ranking da FIFA várias vezes após 2002, o grande título do Brasil nesse século foi o penta no Oriente!

O QUE VIER DOS SEUS PÉS É LUCRO

por Zé Roberto Padilha


Meus netos, Eduardo e Felipe, foram ao Maracanã assistir Argentina x Venezuela. Na verdade, foram mesmo ver o Messi. Aos 12 e 8 anos, quatro de escolinhas de futebol e seis de Playstation da FIFA, não voltaram tão felizes do que assistiram. O camisa 10 argentino não estava em seus melhores dias dentro de campo. Mal sabiam, porque só o tempo vai mostrar a eles, que estavam diante do maior exemplo que um avô gostaria de mostrar aos seus netinhos. Porque o futebol vai passar pela vida deles. A formação, desportiva e cidadã, esta ficará para sempre.

Lionel Messi não perde tempo olhando seu cabelo no telão para não desviar sua atenção da partida. Seu impressionante foco, durante os noventa minutos, é se deslocar para receber um tijolo, lapidá-lo e transformá-lo em uma obra de arte. Se apanha e cai, levanta e não reclama. Pior, nem olha na cara do seu agressor. Será apenas mais um. Se o juiz não marca a falta, mesmo com a canela doída, não reclama. Não sorri, não chora, não faz beicinhos, cera ou catimba. Ele quer a bola. E nós queremos admirar seu exemplo, de atleta que acaba o jogo e vai jantar com sua família, que acompanha cada jogada que produz.

De que adianta ser um ídolo se ele embaça sua idolatria envolvido em baladas e acusado de estupro? De que adianta fazer um gol de bicicleta se dia seguinte, cultuado em álbuns de figurinhas, abre sua mansão para exibir suas 12 limusines enquanto poderia abrir uma fundação e retribuir o carinho aos que mais o idolatram e precisam?

Amanhã, dia de Brasil x Argentina, coloquem seus filhos de castigo na sala. Se for possível, levem-nos até o Mineirão. Porque um professor, um guia espiritual, um psicólogo, um empreendedor, uma tia carinhosa e uma babá cuidadosa estarão todos juntos dentro dos atos de um camisa 10 argentino. Pelo que já mostra de corpo e alma para as novas gerações, o que vier dos seus pés é lucro.

APLAUDIDO POR 40 MILHÕES

por Marcos Vinicius Cabral 


Em novembro do ano passado, um busto rubro-negro do imortal camisa 5 – que atualmente faz parte do staff de comentaristas da Rede Globo de Televisão – foi inaugurado no Centro de Treinamento George Helal, em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. 

– Muito obrigado a todos que ajudaram a realizar o sonho em ter uma estátua no lugar onde nascerão muitos craques  – disse na ocasião com o neto João no colo.

Idealizado pelo semovente Sandro Rilho e o Fla-Nação, a escultura do artista Luiz Eduardo dos Santos, ficou à altura da representatividade do Capacete para o clube e casou perfeitamente com o texto assinado por Bruno Lucena. 

Mas sobre o busto, mostra um Júnior estilo “Black Power” anos 1970 e 1980, que as gerações tiveram o privilégio de ver e ser locupletados com as conquistas da Libertadores e do Mundial, bem diferente do “Maestro” de 1992 com cabelos prateados que outras gerações seguintes viram na conquista do Campeonato Brasileiro daquele ano.

O registro fotográfico que acompanha esse artigo, em si, já dispensa comentários ou palavras para expressar o quão grande foi esse atleta.

Tão grandioso que se tornou um grande exemplo ao lado do saudoso Carlinhos (1937-2015), dando luz própria e brilho intenso às carreiras de Rogério, Júnior Baiano, Djalminha, Marcelinho, Piá, Nélio, Marquinhos, Paulo Nunes e Zinho, todos campeões nacionais ao seu lado em 1992.

Júnior não chegou à Gávea craque em 1973, mas foi sendo preparado para sê-lo.

Ao ingressar no clube à beira da lagoa, adentrou bruto pelos portões imponentes e teve a sorte de ter bons lapidários dentro e fora das quatro linhas: Modesto Bria, Jayme Valente, Pavão e Carlinhos, apenas para citar alguns.


Foi ganhando forma, se aperfeiçoando com tamanha habilidade, fascinando com sua elegância – ainda que precocemente – e como um diamante, foi desnudado e teve seu brilho mostrado nos gramados.

Deu a sorte – e que mal há nisso? -, pois ela caminha junto com quem é merecedor e trabalhador.

Vaidoso com a aparência ao extremo, fez o seu jogo se transformar em agradável aos olhos daqueles que torciam o nariz ao saber que com o nome de Leovegildo, poderia ser qualquer coisa, menos jogador de futebol.

Mas foi!

E foi também os poucos aprendendo a desvendar os mistérios da bola ao se arriscar, como aves marinhas costeiras ou oceânicas – essas que mergulham em alto mar à procura de alimento para sobrevivência e emergem com o peixe agonizando em seus bicos.

Sua maneira de sobreviver num esporte tão inóspito, foi através da dedicação, do amor e dos treinos exaustivos até o escurecer, onde apenas a lua e as estrelas presenciavam todo seu esforço.

Se privou de muita coisa enquanto suor e lágrima eram confundidos no rosto áspero daquele paraibano que ainda não tinha o famoso bigode, sua marca registrada – além do número 5, é lógico – até hoje.

Foi nas areias das praias cariocas, sua fiel companheira – além é claro, de dona Helô, mandatária do seu coração há 36 anos – que ia se reabastecendo para enfrentar os desafios.

Porquanto a praia foi local de hibernação do Leovegildo nas folgas, o campo, redenção de quem queria que o Júnior se transformasse em alguém na vida.

Batalhou, lutou, conquistou e se tornou verbo obrigatório terminados em “ar” de amar, que todos flamenguistas, conjugam em uma só voz: nós te amamos, senhor Leovegildo Lins Gama Júnior!

E não há de esquecer que Deus escreveu cada capítulo especial nas páginas de sua vida profissional dentro do Flamengo.

Exemplo?

Como explicar ele  lateral-direito em começo de carreira (lembram do gol contra o América/RJ na final do Carioca em 1974 do meio campo?), não ter que disputar posição com Leandro, recém chegado de Cabo Frio (e aprovado) em 1978 como lateral-esquerdo por Américo Faria?


“Obrigado, Senhor”, diriam os torcedores mais torcedores de todos os torcedores, por não vê-los disputar posição no mesmo Flamengo que ganhou tudo a partir de 1980.

E convenhamos, tanto Leandro como Júnior, foram monstros em sua pluralidade como jogadores.

Sobretudo enquanto um foi fazer sua independência financeira na Itália, por onde encantou os italianos do Torino e Pescara em cinco temporadas – daí vem o apelido de “Maestro” -, o outro permaneceu aqui desfilando sua elegância vestindo as camisas 2 e 3 e assombrando com suas pernas tortas e joelhos deteriorados.

Não obstante a isso, as homenagens nada mais são do que merecidas de quem foi e continuará sendo ao lado de Zico e Leandro – ambos reconhecidamente em estátuas também – a divina trindade rubro-negra nesses quase 124 anos.

O Museu da Pelada dedica um feliz aniversário para você Júnior, que completa hoje 65 anos de vida.

Lembranças de Mário Vianna

MÁRIO VIANNA, O VAR RAIZ

Em tempos de discussões infinitas sobre o VAR, a equipe do Museu da Pelada foi atrás da história de Mário Vianna, um dos árbitros mais famosos do futebol brasileiro! Para isso, reunimos Marcello Vianna, neto do saudoso juiz, e Léo Feldman, o homem que apitou a decisão entre Flamengo x Vasco com gol do Pet, na Federação de Futebol do Rio de Janeiro.

Por lá, o respeito pelo avô famoso está estampado pelas paredes. E Léo Feldman não escondeu sua felicidade por ser escalado para relembrar a história do árbitro:

– Ele sempre foi conhecido pela honestidade. Isso traz orgulho aos parentes e aos amigos! Estou muito alegre por estar participando desse momento. Muito obrigado por essa oportunidade! – agradeceu Feldman.

Apesar de jovem, Marcello chegou a pegar o final da carreira de Mário Vianna e teve o privilégio de estar com que construiu a história do nosso futebol:

– Ele morreu em 89. Cheguei a visitar cabines de rádio e até hoje ouço muitas histórias dele porque meu pai era fã número 1!

Entre as inúmeras histórias, uma despertou a risada de todos: tratava-se de um soco dado pelo árbitro em um italiano que não gostou de uma marcação durante a Copa do Mundo de 1954, no duelo entre Itália x Suíça! O mais curioso é que, após o golpe, Mário Vianna disparou: “Pode mandar ele voltar, se estiver em condições de jogo”.

Depois que pendurou o apito, se tornou comentarista de arbitragem e, com seu inseparável binóculo, não hesitava na hora de dar a sua opinião sobre os lances.”ERRROOOU” e “GOOOL LEGAAAL” eram alguns dos clássicos bordões que ecoavam no Maracanã de 150 mil pessoas!

– O que vocês estão fazendo não tem preço. Estão dando dignidade a história de um dos grandes árbitros do futebol brasileiro! – nos parabenizou Feldman.

A resenha terminou com chave de ouro, com um abraço de Feldman e Marcello Viana!