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GOLAÇOS

por Rafael Case


Hoje é dia de pergunta difícil.

Qual o gol mais marcante da sua vida? Tenho certeza de que você não vai precisar de muito tempo pra pensar. Todo mundo tem um gol assim guardado na memória e no coração.

Você estava lá? Viu pela televisão? O que foi que mais marcou, um drible sensacional, uma bomba no ângulo, um gol no último minuto ou até mesmo um gol sem muito glamour, mas que garantiu um título? E como é que você descreveria o lance?

Cada gol é diferente, mesmo sendo o mesmo gol. A bola vai estufar a rede do mesmo jeito, mas a emoção de cada um é que vai fazer com que o lance seja visto por diversos pontos de vista e não estou falando do local onde cada um estava sentado no estádio, falo de emoção à flor da pele, daquela expectativa no nascer do lance, no olhar vidrado a cada passe trocado, na respiração suspensa no momento do arremate e na explosão do grito quando a bola vence o goleiro. Nunca é igual. Uma sensação, ao mesmo tempo, única e coletiva

Em tempos multimidiáticos como o que vivemos, os gols são registrados por vários ângulos, do alto, de lado, de perto, de longe ou até com microcâmeras dentro do gol. Não me espantarei se, em breve, cada jogador portar sua própria câmera para que o espectador possa ter uma visão ainda mais “realística” do jogo. Além do mais, hoje é possível acompanhar campeonatos do mundo todo, de torneios de pelada a decisões da Champions League. Cada vez que alguém altera o placar, mais um gol é registrado. Arquivos digitais que, mais facilmente do que os antigos filmes ou videotapes, vão construindo a história do futebol mundial.

O acesso a esses momentos também ficou bem mais fácil. Está aí o YouTube para nos auxiliar. Foi-se o tempo em que para assistir gols de partidas antigas e marcantes tínhamos que assistir ao programa “Gol, o grande momento do futebol”, com a narração clássica de Alexandre Santos, na Band. E como era bom ver nossos ídolos de novo em ação…

Pode parecer estranho para quem não viveu esses tempos, mas a limitação das emissoras de TV fazia com que apenas os jogos mais importantes ou de maior apelo popular fossem transmitidos, muitos não tinham seus lances nem mesmo registrados. Sendo assim, para acompanhar seu clube você tinha duas opções: comprar um ingresso e sentar na arquibancada ou ouvir pelo radinho de pilha.

O Rádio ainda tem sua importância no futebol, até por sua mobilidade. Dá pra dirigir e acompanhar o desenrolar de uma partida, mesma possibilidade tem quem está longe de um televisor ou sem acesso à Internet. Mas há muito tempo um dos slogans da Rádio Globo, que já foi campeã de audiência nos tempos de Jorge Cury, Waldir Amaral, João Saldanha e Mário Vianna, é: “Veja o jogo ouvindo a Rádio Globo”.


E se voltarmos ainda mais no tempo, a coisa complica. Saber os detalhes de uma contenda futebolística, só mesmo nos jornais. Os repórteres ou cronistas da época é que levavam ao torcedor as “emoções” de uma partida e só no dia seguinte.

Foi assim em 1919, quando o Brasil derrotou o Uruguai no recém-inaugurado Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro e conquistou seu primeiro título internacional, o Sul Americano de seleções, hoje, Copa América. Oito jornais descreveram o épico gol de Friedenreich, na segunda prorrogação, que deu a vitória e a taça ao Brasil. Foram oito jornais e oito descrições diferentes do lance.

Para marcar o centenário dessa conquista, o jornal O Globo lançou, nessa quarta-feira, 29 de maio, um documentário de 30 minutos sobre aquele campeonato, aquela partida e, principalmente, sobre aquele gol. Um feito que só quem estava lá naquela tarde pôde realmente saber como aconteceu e que mexeu com o imaginário de uma população inteira. Um gol que rendeu até música; o chorinho 1×0 de Pixinguinha foi composto depois daquela vitória. No documentário, com o auxílio de altíssima tecnologia, o tento anotado por “El Tigre”, como Friedenreich passou a ser chamado a partir daí, foi recriado. Através da realidade virtual, toda aquela narrativa tomou forma e com a locução de Luiz Penido, o gol se materializa de forma atual na tela. Uma belíssima homenagem. (Só pra ser chato, há um pequeno erro quando, ao mostrar o estádio, a animação coloca edifícios de apartamento ao redor, coisa que simplesmente não existia, na época, naquele local. Mas, de modo algum, isso desmerece o trabalho maravilhoso).

Link: https://oglobo.globo.com/esportes/video-documentario-sobre-centenario-do-sul-americano-refaz-gol-decisivo-de-friedenreich-23701180

Essa não foi a primeira vez que um gol importante que quase ninguém viu foi recriado por computador. Falo daquele que é considerado o gol mais bonito dos mais de mil marcados pro Pelé. Ele aconteceu em 1959, no acanhado estádio do Juventus, no bairro da Mooca, em São Paulo. Registros, só através dos jornais, como nesse texto de Ari Fortes: “Aos 42 minutos ocorreu o tento-jóia de PELÉ, que fez vibrar a grande assistência. Em manobra de Dorval e Coutinho, a pelota se ofereceu ao ‘scrathman’ que, num de seus lances característicos, encobriu Homero, colhendo a bola à frente. Clóvis interveio e também foi superado com idêntico golpe. Por último saiu da meta o arqueiro Mão de Onça e, igualmente Pelé o encobriu, ficando com o arco vazio à sua disposição. Antes da aproximação de qualquer outro defensor juventino, o atacante santista lançou o corpo ligeiramente para diante e, com sutil golpe de testa atirou a esfera às malhas. Lance realmente espetacular que valeu ao autor do tento. Como se disse, os cumprimentos de vários elementos do próprio conjunto antagonista e os aplausos em massa de todo o estádio!”. De Vaney, outro importante jornalista, sintetizou bem a sensação de quem presenciou o feito: “O gol de Pelé fez lembrar, até, a anedota do cidadão que após olhar demoradamente para a girafa, no jardim zoológico, comentou: ‘Isso não existe’”. A recriação desse gol foi incluída no DVD Pelé Eterno.

As duas inciativas são sensacionais e válidas, claro, mas um gol é uma experiência única. O gol que emociona você não necessariamente vai causar a mesma sensação em outro torcedor e, por isso mesmo, é mágico. Com o passar dos anos, vamos criando em nossa cabeça o nosso próprio acervo afetivo, nossa galeria de momentos inesquecíveis. Aqueles que lemos, ouvimos ou vimos, mas que para sempre vão nos vão fazer arrepiar só de lembrar.

Gol é, mesmo, o grande momento do futebol.

O VAR NÃO TEM CREDIBILIDADE


Não aguento mais toda hora alguém me perguntando o que acho do VAR. Vou direto ao ponto. Árbitro de vídeo pode funcionar em países civilizados e o Brasil não se inclui nesse caso. É óbvio que ninguém gosta de perder injustamente, mas se o VAR era para reduzir injustiças e polêmicas, esquece, essa tecnologia piorou tudo. E podem anotar, os tais ajustes que precisam ser feitos não resolverão o problema.

Existe uma briga clara entre as federações e o VAR está nesse fogo cruzado. Os árbitros viraram vedetes e adoram fazer o sinal da tela da tevê e correr apontando para a marca do pênalti ou sei lá para aonde.

Não sei quantos minutos para resolver questões simples, um monte de árbitros dentro de uma cabine para nada. E comemora o gol, e não comemora mais o gol, uma chatice tremenda. Duvido que, desde a instalação do VAR, outros goleiros não tenham se antecipado na batida do pênalti.

Faltam critérios, regras claras e, acima de tudo, credibilidade. Se muitos ministros do Superior Tribunal de Justiça perderam a credibilidade, imagine uma máquina cercada por pessoas nem sempre bem intencionadas. Se fosse apenas a máquina eu até confiaria, kkkk!!! Mas é assim que tudo funciona no Brasil.


Normalmente a tecnologia e os robôs são usados para reduzirem custos. Basta pegar o exemplo de várias fábricas automotivas. Claro que não sou a favor do desemprego, mas no caso do VAR o número de técnicos foi quadruplicado. Qual o custo disso?

Deveriam investir esse dinheiro em educação. Dessa forma, talvez o diretor do Flamengo, totalmente despreparado, não falasse o que falou. Uma coisa é a pessoa escrever errado pelas condições proporcionadas pela vida e a outra é não ter educação, postura e sensibilidade. Tratar a torcida do Flamengo de analfabeta é nauseante.

Os clubes estão se lixando para a educação de seus jogadores e é muito comum assistirmos erros grosseiros de português durante as coletivas. Os erros acabam virando chacota nas redes sociais e nenhum dirigente toma uma atitude. Falam errado usando a camisa do clube e a marca do patrocinador, mas educar para quê se já já ele vai para outro clube? Os empresários também não estão nem aí, o que importa é o dinheiro no bolso.

O Brasil é o país das mutretas, do incêndio no CT, do balcão de negócios. Como querem o VAR funcionando em um país onde os dirigentes fecham os olhos o tempo todo?

Sobre a decisão do Tite, nada mudou! Escolheu Daniel Alves para ser o novo capitão da Seleção Brasileira porque ele é da patota do Neymar. Ou seja, não evoluímos nada! Que venha a Copa América e as atuações “empolgantes” dos comandados do Tite!

ENTRE DIEGO E ARRASCAETA, MELHOR DEIXAR NO BANCO A DEPRESSÃO

por Zé Roberto Padilha


Como treinador do Entrerriense FC, chegamos a nos enfrentar no estadual de 1995. Ao levantar a divisão intermediária um ano antes, e nos classificar entre os oito finalistas daquele ano, já sabia, mas não imaginava, o sofrimento que viria. Para vocês terem uma ideia do poder de cada um, o Flamengo, no ano do seu centenário, vinha para cima com Edmundo, Romário e Sávio. O Botafogo, de Túlio e Vagner, seria o campeão brasileiro, o Fluminense, de Renato Gaúcho levantaria o estadual e o Vasco….

Bem, o Vasco, dirigido pelo meu amigo Abel Braga, fomos enfrentar na última rodada. Heroicamente, com uma folha salarial que não pagava o artilheiro Valdir, perdíamos de 4 no quarta-feira e de 5 no domingo. E acordávamos na segunda para curar as feridas que seriam reabertas na quarta seguinte. Foi, naquela ocasião, como ganhar a segunda divisão do UFC e de repente cair numa chave com Anderson Silva, Cowboy e o José Aldo.

Antes de enfrentar cambaleando o Vasco, fui visitar o meu amigo na concentração do Hotel Salutaris, em Paraíba do Sul. Abel nos parabenizou pela campanha, estávamos todos de olheiras, hematomas generalizadas, mas nunca um time do interior tinha chegado tão longe. Como se fosse hoje, lembro do Carlos Germano, então o melhor goleiro do país, se dirigir às 9h45 para o seu quarto. E o Abel nos apresentou. E voltei para casa sabendo que mais do que evitar uma outra goleada, seria fazer gols na defesa vascaína. Mesmo jogando em casa.

Nosso time não concentrava. Um ano juntos, a cidade de Três Rios tomava conta de cada um soldado seu e o dinheiro da concentração era revestido na premiação. Que foi pouca, apenas empatamos com o América e só vencemos o Bangú.


Reapresentávamos às 10h00 para uma palestra, almoço e descanso até a hora do jogo. E quando cheguei ao clube, seu Carlos, o porteiro, foi logo nos dando a grande notícia: nosso goleiro tinha ido a Exposição Agro Pecuária e Industrial e chegara bem tarde na concentração do clube. Onde alguns moravam. Virei para ele, seu Carlos, e disse: vai ser um jogo interessante, pois se o melhor goleiro do país se recolheu cedo aos seus aposentos e o pior, que é o meu, que poucos conheciam, sequer dormiu, acho melhor me recolher também. E ir para casa.

Posso dizer a vocês, de carteirinha, que é a profissão mais difícil do mundo. Aquela em que você é julgado não pelo que produziu em campo. Mas por aqueles que deveriam produzir, ou não, por você. Não são máquinas que escalamos num complexo industrial, e só trocamos o fusível, o reator ou a pilha. São seres humanos que acordam inspirados ou não. Como entrar dentro do seu inconsciente e descobrir que teve um conflito em casa? Que mesmo morando em uma cobertura, cortaram sua luz porque o salário do clube atrasou mais de quatro meses.

O jogo foi Vasco 3 x 0 Entrerriense. Por não ter outro goleiro à altura, escalei o galã da exposição, o amante do rodeio. Aos dez minutos, Bismarck soltou um torpedo de fora da área, e ele caiu com bola, sol e tudo para dentro do gol. Após o jogo, fui atendido no Hospital de Clinicas N. Sra. Da Conceição. A competição havia acabado e a depressão foi o último adversário que enfrentei. Para, oito anos depois de muita luta e entrega, deixar a profissão aconselhado por uma junta médica.

Fui quase Ricardo Gomes, senti um pouco do Muricy passou e sei das dores que o Abel sentiu quando deixou o Maracanã e foi levado para o hospital. Se quem treinava um time do interior quase foi para o tombo, imagino meu amigo o que sentiu ao defender, sob pressão, uma nação. Sendo assim, parabéns pela decisão. Entre o Diego e o Arrascaeta, melhor deixar mesmo no banco a depressão.

QUE HINO É ESTE QUE TOCA E NÃO NOS TOCA?

por Zé Roberto Padilha


Retirem as crianças da sala, para não que elas não reparem a distância que eles tomaram. E poupem nossos pais, saudosos, para que eles não percebam que nossos ídolos, até então tão próximos, ficaram tão distantes e diferentes de nós. No Globo Esporte, um helicóptero, último modelo, fretado, saía da Granja Comary levando nossos jogadores, em seu dia de folga, para o Rio de Janeiro. Tão perto Teresópolis da Cidade Maravilhosa, com suas pavimentadas e belas estradas esculpidas em torno de um visual tão bonito, carregado de hortênsias e admiradas por um dos dedos de Deus, por que não voltaram de lá naquele luxuoso ônibus da CBF pago com o dinheiro dos nossos impostos?

Você começa a perder um grande amor quando deixa de tocá-lo. Quando um da relação chega cansado e mal tem tempo para lhe conceder um abraço. O que dirá se não lhe for servida uma taça de vinho. E ainda ganhar um beijo de tia, na face. É hora, definitivamente, de começar a desconfiar desta paixão esportiva. Não há como alimentá-la quando todos eles, jogadores da seleção brasileira, cercados de segurança para não serem assediados, com fones de ouvidos para não perceberem o clamor da massa que ainda os idolatra, passam um definitivo recado quando desembarcam diante das suas invioláveis armaduras da Nike: “Por favor, Não me toques!”.

Há dois anos, Richarlison chegou ao Fluminense, em seu Toyota 2017, pela BR 040. Veio dirigindo desde Belo Horizonte, onde defendia o América FC. Dois anos depois, na segunda-feira passada, foi o primeiro a chegar na Granja Comary. E desembarcou de uma limousine tão grande e blindada, que nenhum torcedor por lá de plantão se sentiu seguro a aproximar. E lhe dar um abraço de boas-vindas ao seu país e a sua seleção. Lhe desejar boa sorte e pedir um autógrafo. Seria a Carmem Lúcia que chegava? O Governador do Estado? Ou seria o próprio presidente Jair Bolsonaro?


Em um país tão desigual, nossos jogadores cada vez mais deixam suas origens, sua língua, seu hábitos e cultura para ser tornar, diante da primeira Champions League, mais um cidadão desigual. Do real para o euro, do Flamengo para o Real Madrid, do Fluminense para a zaga do Paris St. Germain, se distanciam dos seus torcedores trabalhadores que acordam às 4 da madrugada de Caxias, Mesquita e São João de Meriti para pegar uma composição da Supervia. E que retornam espremidos às 18h, mal veem seus meninos acordados, mas que tinham orgulho de economizar um pouquinho da feira para vê-los atuar no domingo. E na outra quarta também. Como ter time e trabalho misto se jamais na construção civil surgiu o Diego, o operário Arrascaeta misto a os poupar?

Na preparação das maiores competições oficias, ficávamos colados aos alambrados do Hotel de São Lourenço, da cidade de Caxambu, do clima ameno e das Águas de Lindóia, onde se preparavam para uma Copa do Mundo. Todos iam buscar um calor, um carinho e um autógrafo com a humildade de Mané Garrincha. Com a cumplicidade de um Carlos Alberto, do Santos, do Brito, que defendia o Vasco, do Piazza, ídolo do Cruzeiro, e Everaldo, a simplicidade convocada junto ao Grêmio. Hoje, protegidos pelo Daniel Alves, da Juventus, Thiago Silva e Marquinhos, do Paris St Germain, e Marcelo, do Real Madrid, nossa seleção não respira mais o cheiro da segurança e esperança das quais almejam seus compatriotas.

Quando aquele helicóptero subiu na telinha do Globo Esporte, e estragou nosso almoço de tão soberba a aparição, parecia um aviso que vinha dos céus e que iria percorrer cada pensamento dos nossos ídolos alienígenas antes do começo de cada partida da Copa América: “Que hino é este que toca e não mais nos toca?”

CAREQUINHA, O BOTECO E O FUTEBOL

por Paulo Escobar


Num boteco de madeira debaixo de um viaduto na radial leste é possível ver a paixão nas paredes daquele canto. Sentado no seu sofá, olhando aquela TV de tubo é possível pedir um cigarro solto ou uma dose de cachaça.

Carequinha, como é conhecido, serve cada maloqueiro daqueles quase 300 que passam por dia, alguns para desabafar e outros para pedir fiado, apesar da placa: “Fiado nem na bala”.

Ali foi construído um verdadeiro altar ao Palmeiras, ali é sofrimento e alegria rolando solta. Naquela radial leste sentido Itaquerão, muitos corintianos já gritaram alguma provocação a caminho do estádio.

E justamente nos clássicos que Carequinha não permite que os rivais assistam o jogo no seu boteco, pois dá azar o rival no mesmo ambiente.

A seleção da CBF naquele espaço não é tão importante quanto os jogos do Brasileiro. Sagradas são as rivalidades e zoeiras em dias de jogos.

Para Carequinha, Palmeiras tem mundial, e naquela parede de madeira encontra-se uma foto de revista com Ademir da Guia, pois cada um tem seu Deus e nós, como inter religiosos, o respeitamos.

Um dia, um ônibus da Mancha Verde a caminho do estádio parou naquele boteco, e levou Carequinha ao estádio. Foi o dia que Carequinha conheceu a Arena. Lugar no qual só poderia estar graças a essa atitude.

Em dias de jogos decisivos, os moradores de rua da maloca prestam atenção ao que ocorre no boteco. Acontece que em dias de jogos decisivos ou de títulos, Carequinha abre uma caixa de corote e distribui para a geral. Acredito que mais de um torcedor rival torceu pelo Palmeiras, pois cachaça de graça pra quem tem dificuldade em comprar não é todo dia.

No bar do Carequinha debaixo do viaduto Alcântara é vivido o futebol da forma mais raiz possível, ali aonde os deixados à margem dos estádios e canais fechados ainda vivem suas paixões no rádio.

Sim ali no boteco da maloca ouvir jogo no rádio ainda é tradição. Ali a paixão é vivida de forma muito intensa, pois muitas vezes debaixo de um viaduto de uma cidade rica, que destina milhares à pobreza, a única coisa que não se tira é a paixão.

Por mais que muitos insistam em transformar o futebol em esporte de gente rica, nas malocas a paixão intensa e de coração não será roubada.